Olá, aluno(a)! Nesta lição, você aprofundará seus conhecimentos em relação à caprinocultura, nome atribuído à criação de cabras, com o intuito de produzir carne, pele, leite e seus derivados.
A criação de caprinos possui grande potencial para crescimento e aumento de seu potencial produtivo, pois, além da produção de carne e leite, sua pele e seus pelos podem ser utilizados na indústria de roupas, calçados e acessórios. Essa produção pode suprir o mercado interno e, dependendo da organização da cadeia produtiva, também, o mercado externo.
Imagine que você possua uma pequena propriedade e queira iniciar uma criação de caprinos. Por serem animais menores, pode-se criar maior número de animais em menor espaço e, também, tem a questão desses animais serem relativamente menos exigentes que os bovinos, especialmente a nível nutricional. Porém, como toda criação animal, cuidados precisam ser tomados e, claro, a cadeia produtiva da região precisa ser estudada! Por onde você começaria? Qual o produto final a ser comercializado e quais os investimentos necessários para viabilizar essa produção?
Você, provavelmente, já consegue responder a algumas dessas perguntas, além de imaginar possíveis desafios a serem enfrentados, de acordo com o que já foi estudado neste curso. Porém, como sempre dizemos, como produtor(a) ou Técnico(a) em Agronegócio, você precisa conhecer as particularidades de cada criação!
André, Técnico em Agronegócio, foi chamado para auxiliar um pequeno produtor rural, que planejava iniciar uma criação em sua propriedade, cuja espécie ainda não havia sido escolhida. Ao conversar com esse produtor, este lhe disse que gostaria de iniciar uma produção leiteira.
André propôs, então, a criação de cabras leiteiras pelos seguintes fatores: (I) a criação seria familiar e com a ajuda de seus pais que eram idosos, então, animais menores facilitam o manejo; (II) pela propriedade ser de pequeno porte, consegue-se criar maior número de animais em menor espaço; e (III), mas não menos importante, a região apresentava comércio para a produção de leite!
O sistema de produção escolhido foi o semi-intensivo, com alimentação a pasto e, também, suplementação. Os animais foram vermifugados periodicamente, pois, assim como ocorre com os ovinos, as verminoses são um grande problema também para a caprinocultura. Escolheu-se uma raça de aptidão leiteira, realizando a estação de monta e todos os cuidados durante as fases de vida do animal. Todos esses cuidados resultaram em animais produtivos e com ótima produção leiteira!
Apesar de fictício, relatos como esse mostram a importância de um(a) Técnico(a) em Agronegócio na criação animal, para que possa auxiliar o produtor desde a implementação de uma criação até o alcance de melhorias e aumento da eficiência da produção por meio de uma gestão eficiente dentro da Produção Animal!
Caprinocultura é o nome que se dá à criação de cabras com o objetivo de explorar os seus produtos derivados, como a carne, a pele e o leite. Nas regiões Sul e Sudeste, está concentrada a maioria dos rebanhos leiteiros, sendo que, nessas regiões, geralmente, não há a produção de carne, pois faltam abatedouros e mercado para a venda desses produtos. Entretanto, na região Nordeste, a demanda por carne caprina é alta, devido ao hábito de consumo, que é tradicional da região (SENAR, 2020). As cabras são adaptáveis a todos os climas, porém o ideal é sempre escolher a raça que se adeque melhor ao clima de uma região.
Como sempre dito, é indispensável, antes de iniciar uma produção de caprinos (e qualquer outra produção!), definir o objetivo, o tamanho, a infraestrutura, a mão de obra necessária, o tipo do animal, a demanda de insumos e o mercado necessário para o sucesso da produção e inserção na cadeia produtiva da região (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Querido(a) aluno(a), para que você possa aprender mais sobre a caprinocultura, primeiramente, precisa saber quais as categorias animais existentes, sendo elas:
Cabrito(a): nome dado ao animal jovem. A fase de amamentação dos cabritos, geralmente, dura até os dois meses de vida. Logo após o desmame, os filhotes podem ser chamados de cabritos desmamados, terminologia utilizada até os seis meses de vida (ROVAI, 2017).
Marrã, ou Cabrita Jovem: fêmea, de seis a 15 meses, que, ainda, não iniciou sua atividade reprodutiva.
Bodete, ou Cabrito Jovem: macho, de seis a 15 meses, que, ainda, não iniciou sua atividade reprodutiva.
Bode: macho adulto, após o início da atividade reprodutiva.
Cabra: fêmea adulta, após o início da atividade reprodutiva.
A incidência de raças caprinas varia de acordo com a região. Na região Nordeste, predominam raças, como Moxotó, de aptidão de corte, Repartida, com aptidão para pele e carne, Marota, considerada uma das melhores produtoras de pele do país — mas podendo também ser utilizada para produção de carne e leite —, e Canindé, que apresenta tripla aptidão, carne, leite e pele.
De acordo com CODEVASF (2011), essas raças originaram-se dos caprinos trazidos da Europa pelos colonizadores e, por meio da seleção ocorrida durante o decorrer dos anos, suas principais características são a rusticidade e a adaptabilidade. Há, ainda, outras raças muito utilizadas, como Saanen, Toggenburg e Parda Alpina, de origem suíça e de aptidão leiteira, com lactação (produção de leite) de, aproximadamente, 300 dias de duração.
A criação de caprinos pode ser realizada nos sistemas extensivo, semi-intensivo e intensivo, de acordo com a perspectiva do produtor. No sistema extensivo, ocorre apenas a construção de instalações simples para ordenha e manejo dos animais. No sistema semi-intensivo, há a suplementação dos animais, além do controle sanitário. Nesse sistema, os animais passam o dia no pasto, geralmente, subdivididos em piquetes, e são recolhidos à noite. Por fim, no sistema intensivo, os animais recebem toda a alimentação no cocho, além de todos os cuidados necessários em total confinamento. Para esse sistema, é necessário a construção de um estábulo (área coberta para abrigo) e de uma área destinada à produção de silagem e ao armazenamentos dos alimentos (você pode revisar os conhecimentos sobre sistemas de produção na Lição 2!).
De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), o sistema extensivo é o mais utilizado para a exploração da pele e carne, enquanto o sistema intensivo é utilizado para produção de carne e/ou leite.
A estação de monta das cabras ocorre da mesma forma que na criação de ovinos (Lição 10), e o seu período de gestação é de cerca de 150 dias. Assim como os ovinos, os caprinos apresentam Estacionalidade Reprodutiva, ou seja, o cio das fêmeas é estimulado pelo decréscimo de luz. Por isso, a estação de monta costuma ocorrer entre março e abril, início do outono, para que os nascimentos ocorram entre agosto e setembro, quando as temperaturas já estão aumentando.
Durante a gestação, especialmente no início, as cabras necessitam ter acesso a piquetes com sombra, pois o estresse térmico pode aumentar a mortalidade embrionária (aborto), e fêmeas em confinamento precisam ter acesso a um espaço extra para que possam se exercitar. Durante toda a gestação, a fêmea deve ser suplementada, para que o embrião possa se desenvolver adequadamente, além de garantir bom desenvolvimento da glândula mamária, importante para boa produção leiteira. Por fim, qualquer fonte de estresse deve ser evitada, como transporte e mudanças (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
É importante manter, como sempre, as vacinas sempre em dia, além da limpeza das instalações, dos comedouros e dos bebedouros, com alimentação adequada para a fase de vida do animal. Os animais necessitam ter acesso à sombra e a ambientes limpos e sem superlotação, para atender aos requisitos de ambiência. Por fim, o casqueamento e o pedilúvio devem ser realizados regularmente, o que previne afecções nos cascos.
Esses pequenos ruminantes podem se alimentar com forragens de menor qualidade e, muitas vezes, desprezados pelo gado e pelas ovelhas (que são mais exigentes nesse quesito), como palha de cereais e subprodutos da horta (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019). Entretanto, como em toda criação, necessitam de boa alimentação para sustentar uma produção satisfatória.
Dentre as espécies recomendadas para os caprinos, estão os capins Coastcross, Tifton, Aruana, Massai, Tanzânia, Estrela, entre outros, de bom valor nutritivo e boa produção por área. Plantas do gênero Brachiaria, por sua vez, não são indicadas devido ao seu baixo valor nutritivo e baixa produção. Ademais, a espécie Brachiaria decumbens pode, ainda, causar intoxicação nos animais (SENAR, 2020). Os animais criados nos sistemas semi-intensivo e intensivo recebem suplementação, com silagem, feno e concentrados (vide Lição 7).
Castro e Vasconcellos (2019) citam diversas vantagens e algumas desvantagens da caprinocultura no Brasil. Dentre as principais vantagens, está o ciclo reprodutivo curto, o que permite, com o manejo e o desenvolvimento adequado, o início da reprodução aos sete meses e o início da lactação com um ano de idade, o que garante rápido retorno da criação, além de facilitar o melhoramento genético devido ao curto intervalo entre gerações. Outra vantagem é o tamanho dos caprinos, que são pequenos, o que facilita o manejo por crianças e idosos e otimiza o espaço em propriedades menores.
Conforme dito anteriormente, os caprinos adaptam-se bem aos diferentes sistemas de criação e a diferentes condições, sendo capazes de pastejar, inclusive, em regiões montanhosas. Entretanto as desvantagens são que seus produtos, ainda, não são totalmente aceitos no mercado, por não fazerem parte da cultura de muitas regiões brasileiras, e, assim como ocorre na ovinocultura, a Cadeia Produtiva dos Caprinos, ainda, está em processo de organização.
De acordo com Martins (2008), a cadeia produtiva atua como um recorte dentro de um complexo agroindustrial mais amplo, assim, inserido no agronegócio. Como visto na Lição 1, ao analisar uma cadeia produtiva, podemos encontrar diversos elos dessa cadeia, desde o início, com os insumos (em que estão os fornecedores de rações, sementes para o pasto, medicamentos veterinários, entre outros), até o elo final da cadeia, o consumidor final. Nesse contexto, devemos sempre estarmos atentos aos elos da cadeia, para que a produção seja econômica, eficiente e lucrativa.
De acordo com Castro e Vasconcellos (2019), o maior rebanho de caprinos de corte está concentrado na região Nordeste, abrangendo, aproximadamente, 94% da produção nacional, sendo que os maiores consumidores estão na região Nordeste e em São Paulo, principalmente entre a comunidade árabe. Entretanto o consumo no país, ainda, é baixo (700 g/pessoa/ano) em relação a outros países (20–28 kg/pessoa/ano).
Em relação aos couros e à pele, suas características são a resistência, a textura fina, a elasticidade, a maciez e a uniformidade, sendo uma parte de sua produção exportada, apesar de a maior parte ser consumida no mercado interno. Seus pelos, ainda, podem ser utilizados na fabricação de tecidos, tapetes, pincéis e escovas. Por fim, a produção de leite caprino está em desenvolvimento, com raças leiteiras, como Saanen e Toggenburg, predominantes nas regiões Sul e Sudeste do Brasil (CASTRO; VASCONCELLOS, 2019).
Um dos principais gargalos da criação de caprinos é semelhante à produção de ovinos, que é a falta de políticas públicas, como legislações e apoio financeiro, e de uma cadeia produtiva forte e estruturada, como a da bovinocultura. Outro ponto é em relação à cultura da população, visto que o consumo de produtos oriundos da caprinocultura não é comum, especialmente fora da região Nordeste. Apesar desses percalços, a caprinocultura possui capacidade para expandir a sua produção, primeiramente, por meio da capacitação de profissionais que atuem, de forma eficiente, nesse ramo, e, depois, pela tecnificação das criações, pelo melhoramento genético, entre outros pontos da cadeia.
Se Liga!
Um termo muito falado na Produção Animal é o chamado Gargalo de Produção. O gargalo pode ser definido como um ponto de dificuldade na produção, o que pode afetar a dinâmica e o escoamento da produção. Não por acaso, também, é chamado de ponto de estrangulamento. Na caprinocultura, por exemplo, podemos observar alguns gargalos de produção devido à alta taxa de verminoses nessa espécie, que, assim como na ovinocultura, pode levar a grandes perdas econômicas. Caberá ao profissional responsável pela criação auxiliar o produtor na identificação e resolução de todos os gargalos da produção!
Caro(a) aluno(a), a caprinocultura, apesar de ser uma criação antiga em nosso país, ainda, não é uma produção totalmente consolidada, e muito ainda deve ser trabalhado tanto a nível de criação como a nível cultural e comercial, para que o consumo de seus produtos entre, a cada dia mais, na rotina dos brasileiros.
A partir desse ponto e com a organização de sua cadeia produtiva, o Brasil pode abrir portas não apenas para o mercado interno, mas também para exportações especialmente para países do Oriente Médio, onde o consumo dessa carne é muito apreciado. Para isso, muito trabalho ainda deve ser feito, sendo que a presença de profissionais qualificados e que auxiliem na resolução dos gargalos dessa produção é o primeiro passo para um futuro de sucesso!
CASTRO, F. S.; VASCONCELOS, P. R. E. Zootecnia e produção de ruminantes e não ruminantes. Porto Alegre: Grupo A, 2019.
CODEVASF. Manual de Criação de Caprinos e Ovinos. Brasília: CODEVASF, 2011. Disponível em: https://www.codevasf.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/biblioteca-geraldo-rocha/publicacoes/manuais/manual-de-criacao-de-caprinos-e-ovinos.pdf. Acesso em: 16 mar. 2023.
MARTINS, E. C. A dinâmica das cadeias produtivas de caprinos e ovinos. In: ZOOTEC, 2008, João Pessoa. Anais [...]. João Pessoa: Associação Brasileira de Zootecnia, 2008. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/28614/1/AAC-A-dinamica-das-cadeias-produtivas-de-caprinos-e-ovinos.pdf. Acesso em: 16 mar. 2023.
ROVAI, F. M. de O. Caprinocultura e ovinocultura. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017. Disponível em: http://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/201701/INTERATIVAS_2_0/CAPRINOCULTURA_E_OVINOCULTURA/U1/LIVRO_UNICO.pdf. Acesso em: 16 mar. 2023.
SENAR. Caprinocultura: criação e manejo de caprinos de corte. Brasília: Senar, 2020. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/267_Caprinocultura_criacao-e-manejo-de-caprinos-de-corte.pdf. Acesso em: 16 mar. 2023.