Tai Chi Chuan

Veio da China e nasceu da observação da luta de um facão e de uma serpente. Chang San Feng, um monge taoísta, viu que toda vez que o falcão atacava, a serpente se esquivava de seu raio de ação, tornando a força agressora inútil. Dessa descoberta nasceu o Tai Chi Chuan, no século XII. É um conjunto de exercícios e movimentos que têm como base a não-reação violenta e o perfeito equilíbrio para dançar diante do agressor. Como a serpente faz com o falcão, como as plantas fazem com o vento.

Para a prática do Tai Chi Chuan os músculos devem estar soltos, relaxados, para facilitar os movimentos. Todos os gestos nascem do baixo ventre (Tan Tien), propagam-se pelos braços e pernas. Sempre com suavidade e muito equilíbrio, leveza, quase uma dança. Há possibilidade de 108 movimentos, mas nem todos os mestres trabalham todos eles. Uns trabalham com 80, outros com os 24 movimentos básicos. Os exercícios têm uma seqüência e podem ser feitos ao ar livre ou em salas espaçosas, e de forma fixa (sem passos) ou móvel (com passos) e livre (os dois tipos). Apesar da leveza e suavidade dos movimentos, o Tai Chi mexe com todos os músculos do corpo. Cada ligamento, cada articulação é trabalhada. A naturalidade dos movimentos depende de uma perfeita e consciente integração de cada parte do corpo. O Tai Chi é muito mais do que um aprendizado de defesa pessoal. É uma filosofia realista de colocação do indivíduo no mundo, como parte do mundo. Estamos todos no mesmo barco: homens, animais, plantas, terra, água, vento. E não nos percebemos como parceiros, mas como inimigos. Mais ainda: brigamos até com nossa própria canoa - nosso corpo, esse desconhecido, coitado, não-assumido, que sofre com todo tipo de pressão e reage se tensionando.

Sem mágica nem truque. Com movimentos suaves, lentos e macios, o Tai Chi propõe um equilíbrio de corpo e cabeça para funcionar como uma força pacifista. Tipo: eu não luto, mas danço com perfeito equilíbrio diante da luta. Eu me esquivo. Quem ataca despende muita energia negativa. O próprio impulso da agressão desestabiliza. Quem percebe isso leva uma vantagem. É como se alguém estivesse fazendo força para abrir uma porta e de repente essa porta fosse aberta pelo lado de dentro. Quem forçava vai cair. Se o agressor não encontra o alvo, perde a estabilidade. É exatamente isso que o Tai Chi propõe: sair do raio de ação do agressor. Como defesa pessoal, por exemplo, o Tai Chi seria um jogo de "você não me pega, só gasta sua energia tentando me alcançar. Apresento meu equilíbrio e minha paciência contra sua força. Não sou de guerra, estou em paz". O Tai Chi usa a suavidade contra a dureza. Usa o movimento como defesa, por isso é tão leve e suave.

O Tai Chi propõe o autoconhecimento e a extrema atenção no eu e no outro como a maior possibilidade de relação. A gente só pode respeitar o outro quando conhece profundamente nossa própria força e vontade, quando se respeita. Aliás, qualquer relação só tem sentido quando é de troca. Ninguém pode apenas dar, nem só receber. Nós somos parte do mundo e é essa a força. Somos únicos. Somos grupo. Singular e plural ao mesmo tempo. O Tai Chi propõe essa percepção. Não é uma luta, não é uma dança, nem um tipo especial de ginástica. É uma filosofia e um trabalho de corpo e espírito que resulta em mais saúde física e mental. Resulta num equilíbrio interno e externo. Melhor ainda: não tem contra-indicação, e pode ser praticado por pessoas de qualquer idade, de 5 a 100 anos, com resultados diferentes, mas sempre positivos. Não exige preparo físico. Serve a fracos e fortes. Ajuda a curar doenças como obesidade, pressão alta, insônia, problemas de coluna. Melhora a circulação, espanta o reumatismo e ainda aumenta a capacidade respiratória, a concentração e retarda o envelhecimento.

Tudo isso sem usar força, sem sofrer. Completamente relaxado e em paz, pode-se trabalhar o corpo e o espírito no pique dos sábios orientais: com paciência e doçura. Isso é o Tai Chi Chuan. Uma pílula de paz neste mundo de guerra.

As 10 regras básicas:

1 - Relaxe todos os músculos, inclusive os do rosto, então assumirá uma expressão serena.

2 - Expulse os pensamentos. Tome consciência apenas dos movimentos do corpo.

3 - Execute os movimentos num ritmo tão lento quanto possível.

4 - Conserve o mesmo ritmo lento, mesmo sentindo vontade de executar alguns movimentos numa velocidade maior.

5 - Respire com calma, pelo nariz.

6 - Cada movimento deve ser fácil de executar. Se não for, é porque algo está errado.

7 - Nunca continue até o fim, conservando sempre uma pequena reserva para o movimento seguinte; pense em yin-yang, onde no plano branco já se vê um ponto preto, e no plano preto, um ponto branco.

8 - Execute cada movimento com cuidado e atenção. Cada detalhe é importante. Faça tudo como se fosse a primeira vez.

9 - Não faça força, cada gesto é leve e macio.

10 - Tai Chi é contínuo do início ao fim. O movimento nunca para completamente, e em nenhum momento há imobilidade.


Além destas regras básicas, existem observações feitas por mestres tentando resumir em sentenças curtas a experiência de muitos anos. Alguns exemplos: "Assim como existe o alto, existe o baixo", "o adiante e o atrás", "à direita e à esquerda". Querendo fazer um movimento para cima, já pense antes em voltar seguindo uma linha para baixo. Se você elimina uma resistência, a causa da resistência se desfaz sozinha e o progresso será veloz. "Os movimentos seguem as mudanças do corpo". "Pense bem: se uma parte do corpo mexer, todas as outras partes também se mexem. Se uma parte está parada, todas as outras estão paradas". "Esteja na tranqüilidade como a montanha, no movimento como o rio". Com a experiência, essas regras e observações vão adquirindo cada vez mais um sentido profundo.