Da História de Portugal antes do 25 de Abril?
Até então, eu conhecia-a através da matéria que dera na Escola de Ensino Primário e no Ciclo Preparatório. Matéria apenas para decorar. Era proibido sentir e levantar questões. Guardo na memória a sala de aula na pequena escola da aldeia. Sem me aperceber, tudo ali era comandado pelos ideais políticos de um só homem; Salazar. Todas as manhãs, antes do início das aulas, ficávamos de pé, solenemente direitos, para cantar o Hino Nacional. Este ritual obrigatório, estendia-se e fazia-se sentir em toda a nossa educação. Muito mais tarde, viria a entender a presença da enorme cruz, no meio das molduras escuras, com as fotos a preto e branco do Presidente da República e do Presidente do Concelho.
Até ali, Salazar não passara de mais um personagem nas histórias que o meu avô contava. Anos depois compreendi o verdadeiro significado do tom mais baixo que ele usava quando falava do Estado Português. Algumas vezes, em jeito de segredo, dizia para a minha avó: “Fulano falou demais e ninguém mais soube dele.”
A minha entrada no Liceu coincidiu com a chegada da liberdade. Não foi fácil a adaptação.
Mais tarde aprendi que a liberdade não depende apenas de um estado político.
Celeste e Francisco. A junção dos dois foi a ferramenta para aprender letras, arrumar palavras e dar vida a histórias.