Olá! Você já deve ter estudado como escrever um texto usando ideias argumentativas, e lhe foram apresentados vários tipos de argumentação, não é mesmo? O objetivo é que você saiba defender um ponto de vista sobre um tema, sem provocar discussões mais acaloradas ou até brigas.
Nesta segunda lição, você descobrirá que existe uma maneira de formalizar um argumento e, ainda, verificar se é válido, ou não. Nosso objetivo, agora, é organizar os fatos, de maneira a demonstrar que uma tese é consequência dos fatos observados. Mais tarde, usaremos regras para escrever e provar nossa tese por meio de cálculos. Fique tranquilo(a)! Seu cérebro já conhece essas regras, só vamos treiná-lo. Vamos lá?
Já comentei com você sobre a maneira como um advogado raciocina para defender seu cliente e como um médico raciocina para determinar o diagnóstico de um paciente. Da mesma forma, profissionais de várias áreas do conhecimento precisam organizar uma sequência de fatos para provar suas teses e tomar decisões. E onde você se encaixa? Como profissional da computação, deverá ser capaz de desenvolver sistemas especialistas nessas áreas.
O profissional da área de computação deve treinar este procedimento mais caprichosamente. Isso porque ele desenvolverá sistemas e aplicativos capazes de resolver problemas para as pessoas em geral. Além disso, lembraremos que, enquanto programadores, precisaremos dar ordens ao computador.
Você já teve a experiência de ensinar alguém a fazer uma nova tarefa? Pois então, ensinar ao computador é muito mais difícil. O computador não é inteligente, não tem iniciativa ou criatividade. Então, a organização dos fatos e dos comandos que ele deverá executar deve ser feito por você. Muitos sistemas especialistas e até jogos são desenvolvidos usando uma técnica que trabalha com inferência, ou seja, com o uso de argumentos válidos. É por isso que este é o tema da lição de hoje.
Vamos analisar uma situação em que alguns fatos são apresentados e queremos demonstrar que uma afirmação é verdadeira. Considere os fatos:
Quem nasce em Maringá é maringaense.
Simone nasceu em Maringá.
Estas duas afirmações são verdadeiras. A partir destes fatos, é possível afirmar que Simone é maringaense. Assim, é possível acrescentar este novo fato à sequência:
Quem nasce em Maringá é maringaense.
Simone nasceu em Maringá.
Simone é maringaense.
Dentro da lógica matemática, um argumento é uma sequência de afirmações em que a última é sempre a conclusão. Quando partimos de afirmações verdadeiras e chegamos a outra verdade, dizemos que nosso argumento é válido.
É provável que você já conheça o significado de um argumento. Talvez já tenha escutado “seu argumento me convenceu” ou algo parecido. De acordo com Souza (2016), a construção de um argumento consiste em apresentar uma afirmação como consequência de alguns fatos, que são chamadas de premissas.
Um argumento é considerado válido quando, a partir de premissas verdadeiras e da relação que existe entre elas, é possível apresentar uma conclusão também verdadeira.
Talvez, você também já tenha presenciado um diálogo em que alguém diga que “ganhou” a argumentação, ou seja, convenceu outra pessoa sobre sua tese. E, outras vezes, ouviu argumentos não tão convincentes assim. Isso acontece porque, formalmente, um argumento é definido como um conjunto, ou uma lista, de afirmações, que são chamadas de proposições dentro da lógica matemática. Mas, nem sempre a sequência de afirmações, ou proposições, será válida. A lógica oferece uma estrutura matemática para argumentos válidos e os separa daqueles que não são válidos, chamados falácias ou sofismas. Pianezzer (2020) apresenta um exemplo clássico que mostrarei a você:
p1: Todo homem é mortal.
p2: Sócrates é homem.
c: Sócrates é mortal.
O autor dá nomes às afirmações. A primeira chamou de p1 - premissa 1, a segunda denominou p2 -premissa 2, e a última, c -conclusão.
Se a conclusão fosse que Sócrates não é mortal, ainda assim a lista de afirmações (premissas e a conclusão) seria considerada um argumento. Mas, esse argumento poria dúvidas sobre a conclusão ser verdadeira ou não. Portanto, seria uma falácia.
p1: Todo homem é mortal.
p2: Sócrates é homem.
c: Sócrates não é mortal.
Veja outra maneira de escrever um argumento que não é válido:
p1: Todo homem é mortal.
p2: Sócrates é mortal.
c: Sócrates é homem.
A primeira premissa indica que todo homem é mortal, mas a recíproca não é verdadeira, ou seja, não é verdade que todo mortal é homem, já que podem existir outros mortais que não são homens. Por isso, este argumento é falacioso.
Para testar a validade de um argumento, podemos usar uma técnica formal da lógica, que será estudada em outro momento. Também, é possível perceber quando há ambiguidade ou relevância em um argumento falacioso. Pianezzer (2020) aponta como exemplo a propaganda de um creme dental, em que o produto é apresentado como o preferido de nove em cada dez dentistas. É provável que a intenção dos publicitários seja a de defender a tese de que esse creme dental é o melhor do mercado, mas não é possível concluir, com certeza, que a maioria da população aceitará este fato e passará a usar este produto.
Outro exemplo de argumento falacioso é chamado de “falsa causa” por Pianezzer (2020). Isso acontece quando alguns dados verdadeiros sobre duas variáveis são apresentados, mas, na verdade, uma não influencia a outra. O autor mostra um gráfico que apresenta o aumento da temperatura média global ao longo dos anos, mostra, também, que o número de piratas diminuiu no mesmo período. Mas, não é possível concluir que o aquecimento global tenha sido a causa da diminuição dos piratas no mundo.
O problema maior acontece quando, pelo menos, uma das premissas é falsa. Veja o exemplo apresentado por Pianezzer (2020):
p1: Todo animal pode voar.
p2: Porcos são animais.
c: Porcos podem voar.
A forma como analisamos faz com que consideremos este argumento válido, já que a conclusão partiu da relação existente entre as premissas. Portanto, é preciso tomar cuidado com argumentos válidos e, antes de analisar se a conclusão é verdadeira ou não, é preciso ter certeza de que as premissas são verdadeiras.
Pianezzer (2020) define que o argumento correto é aquele que é válido e produz uma conclusão verdadeira. O mesmo autor alerta para o fato de que a lógica matemática estuda argumentos válidos, mas não necessariamente corretos. Então, você precisa estar atento para analisar se as premissas e a conclusão são verdadeiras.
Para formalizar a verificação sobre a validade de um argumento, existem várias regras, chamadas regras de inferência, que serão estudadas em outro momento. Por ora, apresentarei um tipo de regra que usamos sem perceber, no dia a dia. Veja o exemplo:
p1: A parede será azul ou branca.
p2: A parede não será branca.
c: A parede será azul.
Este tipo de argumento é muito utilizado para provar várias conclusões em sistemas especialistas e, também, em jogos digitais. Mais tarde, você descobrirá que existe uma regra chamada silogismo disjuntivo, que generaliza esse tipo de demonstração. Sabendo que existe uma regra assim, você pode criar vários argumentos válidos parecidos. E contarei mais um detalhe: existem várias regras desse tipo, que podem facilitar nosso trabalho. Logo as apresentarei a você.
Nesta segunda lição, estudamos um dos principais temas abordados pela lógica matemática: a validade de argumentos. Vimos que a lógica se preocupa com argumentos válidos pela forma ou pela estrutura, e que não se preocupa em verificar se as premissas e a conclusão são verdadeiras. Essa preocupação ficará sob a responsabilidade do profissional da computação, ou seja, você.
É importante lembrar que as técnicas estudadas serão usadas para o desenvolvimento de sistemas aplicados a outras áreas. O objetivo, normalmente, é oferecer informações úteis para a tomada de decisão. Alguns dos exemplos mais clássicos envolvem o suporte ao raciocínio do advogado para provar que seu cliente está certo, do médico que precisa determinar o diagnóstico do seu paciente e do executivo que precisa tomar decisões para melhorar o desempenho da sua empresa.
Ao desenvolver um sistema ou um aplicativo, você deverá se lembrar de que o seu trabalho é muito importante para que outros profissionais possam tomar as decisões corretas no trabalho deles. Então, estudar a validade dos argumentos e ter certeza de que está produzindo informações verdadeiras, ajudará a realizar seu trabalho de maneira mais eficiente.
SOUZA, J. A. L. de. Lógica Matemática. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016.
PIANEZZER, G.A., Lógica matemática. Curitiba: Contentus, 2020..