Os dispositivos móveis são uma realidade na vida da maioria das pessoas que conhecemos, e sua utilização, que pode ser para diversão, estudo ou trabalho, é praticamente indispensável. Segundo Lee, Schneider e Schell (2005), podemos definir que as principais características de um dispositivo móvel são: portabilidade, usabilidade, funcionalidade e conectividade. Mas, mesmo com essas características, os dispositivos móveis possuem algumas restrições de recursos de acordo com seu tipo e categoria.
Portanto, o objetivo desta lição é apresentar a você os tipos de dispositivos móveis utilizados e um breve histórico de suas características e suas respectivas restrições, principalmente do ponto de vista dos componentes dos dispositivos, conhecidos como hardware, para que você entenda melhor o ambiente onde criará seus aplicativos.
Você, com certeza, já visitou algum comércio, correto? Mas você sabe como eram feitos os pedidos nesses lugares antes da tecnologia atingir o patamar de hoje? Pode ser que, nos dias atuais, sejam poucos os lugares que se utilizam do que lhe contarei, mas, com certeza, grande parte da história dos estabelecimentos foi preenchida com esse formato.
Antes dos pedidos serem feitos pela internet, geralmente, um revendedor visitava o estabelecimento, levando impresso o estoque disponível atualizado no horário de sua saída da empresa. Ouvia o pedido do cliente e, em outro caderninho, registrava o pedido e já saia para atender outro cliente. Quando surgia a primeira oportunidade de usar um telefone fixo, ele transmitia seus pedidos para a empresa.
O problema é que, na maioria das vezes, tinham itens esgotados no fornecedor, isso porque o estoque era compartilhado com muitos outros revendedores, e não era possível que esses o observassem em tempo real. Além disso, apesar de o estoque ser atualizado com a saída dos produtos, os revendedores carregavam somente a lista impressa.
Se, hoje, você, fosse dono(a) de um comércio, sentiria confiança em comprar neste formato, visto que poderia solicitar o produto, mas não teria certeza de que ele chegaria? Provavelmente, não, mas houve um tempo em que não tinha outra opção!
Então, concorda que o nosso conhecido celular/notebook resolve o problema relatado anteriormente? Os clientes sabem, imediatamente, se o pedido deles será atendido, e os revendedores acabam vendendo mais, porque têm a garantia de que há o produto disponível, além da rapidez com que esse negócio acontece. Sabendo disso, vamos conhecer mais das características e restrições desses dispositivos?
Para o case desta aula, apresentarei um fato que ocorreu com os atendentes do fictício Restaurante e Lanchonete Fome do Saber. Eles foram se queixar para o gerente a respeito de muitos pedidos estarem se perdendo, devido à utilização dos famosos blocos de pedidos colocados em um espeto de ferro na janelinha da cozinha. Essa situação estava deixando não só os atendentes insatisfeitos, mas também grande parte dos clientes, e isso estava impactando, diretamente, no faturamento do restaurante. Sabendo dessas informações, o gerente buscou uma empresa de desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis, a fim de entender como ele poderia digitalizar o sistema de pedidos de seu comércio.
A empresa contratada, então, desenvolveu um aplicativo em que os pedidos eram todos digitalizados de forma rápida; essa forma, os atendentes precisavam somente clicar, com a ponta dos dedos, nas imagens dos produtos, em vez de escrever com papel e caneta. Esse novo formato fez não só com que os pedidos fossem realizados com menos erros, mas também fossem preparados na sequência certa e com muito mais velocidade. Com alguns dias de uso do novo aplicativo, o gerente analisou e descobriu que o tempo de espera do cliente, do momento do pedido até o recebimento em sua mesa, diminuiu pela metade.
Qual é a base desse novo formato para o Restaurante e Lanchonete Fome do Saber? É o uso dos dispositivos móveis, no caso, tablets e celulares, em que cada atendente possui um dispositivo, não tendo necessidade de muito poder computacional, que são a potência e a força e/ou rapidez de um dispositivo. Sendo assim, o atendente faz o login no início de seu turno e, ao realizar um novo pedido, este é impresso em uma pequena impressora, diretamente na cozinha, onde a equipe só o retira da impressora na ordem correta e, perfeitamente, padronizado, acabando de vez com: perdas de “papeizinhos”, incompreensão da letra do atendentes por parte da equipe da cozinha, entre outros acontecimentos comuns.
Com o sucesso do Restaurante e Lanchonete Fome do Saber, você pôde entender e validar como os dispositivos móveis podem contribuir para serviços simples bem perto da sua realidade, como pedidos em um local que vende comida, pedidos feitos pela internet (em redes sociais, por exemplo), entre outros, e não apenas para negócios sofisticados, como bolsa de valores. Eles estão já dentro de nossas vidas, cada vez mais, cedo e com mais utilidades.
Para ser chamado de dispositivo móvel, um dispositivo precisa ter algumas características que estão ligadas à mobilidade. Esta é citada como uma das principais e tem, como resultado, algumas restrições que podemos constatar no dia a dia. Segundo Deitel, Deitel e Deitel (2015), além de ter mobilidade e portabilidade, hoje, um dispositivo deve ser capaz de ser carregado nas mãos para ser considerado portátil. Sendo assim, você verá, agora, as principais características e restrições que temos com relação aos dispositivos móveis.
Lee, Schneider e Schell (2005) descrevem que o termo telefone celular não deve ser mais utilizado para os aparelhos que temos hoje, pois os chamados smartphones são uma evolução do dispositivo citado. Os smartphones já não possuem, hoje, botões físicos, exceto os de ligar, desligar e regular o volume, os demais sempre estão utilizando a tela sensível ao toque, também chamado touchscreen, que é gerado pelo sistema operacional do dispositivo. Estes dispositivos smartphones não só efetuam ligações e enviam mensagens de texto, mas agregam mais funcionalidades, como as que você verá a seguir:
Tela: permite que você tenha, praticamente, o mesmo formato de visualização, ou seja, a mesma experiência de quando utiliza um notebook e/ou um desktop — os antigos computadores de mesa. Você pode somar a essa experiência, ainda, a questão das telas sensíveis ao toque, que aumentam a sua satisfação, usuário(a), em relação à utilização dos dispositivos.
Conexão: hoje, praticamente, você não fica isolado(a) quando tem um dispositivo móvel em mãos. Se não estiver conectado via wi-fi, você pode, com um plano básico móvel, ofertado pelas várias operadoras de telefonia, com preços acessíveis à maioria da população, conectar-se via 3G, 4G, 5G e bluetooth, que são as redes mais utilizadas.
Aplicativos: nos dispositivos mais antigos, você podia executar somente aqueles aplicativos, ou, então, programas, como eram chamados, que vinham instalados de fábricas e variavam de acordo com o modelo e a marca do seu aparelho. Com a chegada dos smartphones e suas lojas de aplicativos, em sua grande maioria gratuitos, você pode escolher quais aplicativos deseja utilizar e quais quer, simplesmente, desinstalar, da mesma forma que você faz nos computadores, levando em consideração alguma restrição no sentido de memória de armazenamento ou de execução, como veremos daqui a pouco.
Câmeras: mesmo com a evolução das câmeras fotográficas para o formato digital, você pode constatar que ficou difícil levar dois dispositivos, sempre que você queria tirar uma fotografia. Dessa forma, os smartphones acabaram por incorporar as câmeras digitais não só para fotografias, mas também para vídeos, com uma qualidade incrível, de dar inveja às antigas câmeras digitais pessoais.
Vale citar que, sempre quando falamos de dispositivos móveis, lembramos dos tablets, que nada mais são do que dispositivos um pouco maiores (aproximadamente, do tamanho de um caderno escolar) que fazem tudo que um smartphone faz, com a exceção de não realizarem ligações por meio de operadores, o que hoje, você, consegue contornar utilizando aplicativos de troca de mensagens, como WhatsApp, Telegram, Skype, entre outros. O maior fator de pouca utilização deles é uma das suas principais características, o tamanho, pois o maior dos smartphones de hoje pode ser levado no bolso, enquanto os tablets necessitam de um pouco mais de espaço para ser transportado.
Segundo Lee, Schneider e Schell (2005), o usuário, para interagir com um dispositivo móvel, precisa levar em consideração algumas característica individuais, como:
Sua força e seu tamanho: imagine uma criança, de três anos. Será que ela consegue carregar, normalmente, um notebook um pouco mais antigo? Quer dizer, os mais pesados? Logicamente, não! Você, no entanto, consegue naturalmente. Isso impacta, diretamente, na usabilidade que o usuário tem com o dispositivo móvel.
Capacidade e conhecimento necessário: com certeza, os dispositivos mais utilizados pela grande população são aqueles mais simples e com maiores usabilidade e experiência do usuário. Se tiver muita dificuldade no aprendizado e na utilização, o usuário o classificará como inútil.
Podemos ressaltar também, segundo Segundo Lee, Schneider e Schell (2005), as características sobre o ambiente em que o dispositivo será utilizado, tais como:
Funcionamento normal: o dispositivo deverá estar de acordo com a necessidade e o formato de trabalho e/ou aplicação do usuário. Este ficará com o dispositivo em pé, durante o dia todo, em uma indústria, avaliando uma linha de produção, ou será que alguém ficará sentado utilizando o dispositivo para ler dados ou tirar algumas fotos?
Condições externas: na utilização pelo usuário, dependendo do motivo de este ter adquirido e/ou escolhido, ele pode passar, frequentemente, por situações externas não favoráveis, como o smartphone de um engenheiro civil, que, a todo momento, em uma obra, pode ser atingido por algo bruto ou, até mesmo, cair.
Você está conhecendo as características de dispositivos móveis com o foco no desenvolvimento de aplicações para eles. Lee, Schneider e Schell (2005) classificam, também, as características de funcionalidade das aplicações desenvolvidas, ressaltando as funcionalidades dependentes e independentes. As independentes são aquelas que independem de recursos do sistema operacional, como: relógio, jogos e calculadora. As funcionalidades dependentes, por sua vez, são aquelas que dependem deles, como: calendário, agenda e e-mail..
No quesito conectividade, tem-se uma classificação com relação às aplicações dependentes e independentes. As independentes chegam ao ponto de não depender até mesmo da conectividade do dispositivo móvel. Para Lee, Schneider e Schell (2005), as aplicações com funcionalidades dependentes podem se classificar em três categorias, em relação à conectividade, em que, primeiramente, a aplicação deve estar sempre conectada a um sistema externo, também chamado back-end (lógica externa e base de dados externa). Também, temos as aplicações que se conectam de forma intermitente, ou seja, quando necessário, esse sistema externo se finaliza-se com a última categoria, que é aquela aplicação móvel que não precisa, em momento algum, estar conectada a um sistema externo.
No que diz respeito às restrições no desenvolvimento para dispositivos móveis, pode-se verificar, ainda, que uma de suas características é o tamanho da tela, em que sua aplicação deverá ter toda uma preparação de design, para que a usabilidade e a experiência do usuário sejam satisfatórias. A essa restrição e/ou características do desenvolvimento móvel se dá o nome de design responsivo. Segundo Silva (2014), o conceito de design responsivo, na sua forma ampla, deve ser entendido como o design capaz de “responder” às características do dispositivo ao qual é servido.
Outro item considerado restrição, no desenvolvimento de aplicações para dispositivos móveis, é a questão de continuidade e/ou suporte de versão, ou seja, a partir de qual versão do sistema operacional, seja Android, seja iOS, sua aplicação dará suporte e funcionará? Você terá que analisar que existem dispositivos mais antigos que não tiveram atualizações de seus sistemas operacionais por outras restrições; então, considerar que seu aplicativo estará disponível para estes dispositivos requererá cuidados com relação às funcionalidades disponíveis.
A última restrição que mostrarei é a restrição com relação à memória. O primeiro tipo de memória armazenamento pode ser interna (disponibilizada pelo próprio aparelho e não pode ser alterada) ou externa (disponibilizada por meio de cartão SD Card, que ajuda na disponibilização de espaço para armazenamento de arquivos, aplicações e dados de aplicações). Essa memória precisa ser levada em conta quando você estiver programando a aplicação e, dependendo do suporte de versão que sua aplicação terá, você precisará “economizar” em tamanho de imagens, recursos, sons etc.
Quando se fala em memória, também temos um último tipo que não é com relação ao armazenamento, e, sim, ao espaço de execução de aplicativos, chamada Memória RAM. Esta é uma memória em tempo de execução, cuja principal característica é somente funcionar com energia, ou seja, desligou o aparelho, ela para de funcionar e, consequentemente, o que estiver sendo executado nela é descartado. Com isso, você precisa levar em conta, no desenvolvimento, quanto de memória sua aplicação consumirá, quando estiver sendo executada, e que o usuário(a), normalmente, não executa uma única aplicação por vez, utilizando o dispositivo móvel.
Agora que você tomou conhecimento das principais características de um dispositivo móvel e das principais restrições que deve levar em conta, eu gostaria de dividir esta seção em duas partes. A primeira com relação a você, no papel de usuário(a) e/ou cliente, que adquirirá um novo dispositivo móvel, e a segunda com relação a você desempenhar o papel de desenvolvedor(a) de uma aplicação para dispositivos móveis.
Primeiro, você, como usuário(a), não levará em consideração o melhor aparelho e as melhores especificações de cada característica, e, sim, a utilidade do dispositivo para você. Você o usará para que? Para marcar o trajeto de suas trilhas de bicicleta? Como GPS, para não se perder no centro da cidade? Ou, simplesmente, para assistir às suas aulas remotas? Assim, para cada uma dessas atividades, reforço que o seu dispositivo móvel teria algumas características específicas que deverão ser levadas em conta. Mas, agora, você também já sabe!
Agora, como desenvolvedor(a) de aplicações para dispositivos móveis, você precisa se preocupar com questões relacionadas às características de funcionalidade de sua aplicação, como:
Qual o tamanho de espaço que a memória ocupará no dispositivo de cada pessoa que efetuar a instalação dela?
Quando a aplicação da memória for executada, a memória RAM do usuário(a) estará sendo muito utilizada?
Como você salvará as informações e os dados que o usuário(a) gravará em sua aplicação?
Na memória interna do dispositivo, irei supor que o usuário(a) tenha cartão de memória com muito espaço?
Será que seria melhor, para o tipo de aplicação que estou desenvolvendo, gravar em um programa externo, para que, caso aconteça algo com o dispositivo, os dados continuem seguros?
DEITEL, P.; DEITEL, H.; DEITEL, A. Android: como programar. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
LEE, V.; SCHNEIDER, H.; SCHELL, R. Aplicações móveis: arquitetura, projeto e desenvolvimento. São Paulo: Pearson, 2005.
SILVA, M. S. Web design responsivo: aprenda a criar sites que se adaptam automaticamente a qualquer dispositivo, desde desktop até telefones celulares. São Paulo: Novatec, 2014.