UM MOVIMENTO INVERSO

É sabido que o olhar os artefatos de outras culturas foi um movimento fundante daquilo que hoje consideramos a arte moderna. Várias histórias e pequenos mitos fundadores o atestam: Por exemplo na lendária visita, de um espantado Picasso, ao Museu do Trocadéro no Verão de 1907 onde era apresentada uma coleção de esculturas africanas, pareceu-lhe, a ele, confirmar, num universo maior do que a Europa e que as coleções do Louvre, a validade das suas experiências plásticas que iriam desembocar nessas “Moças de Avinhão” tão difíceis de engolir mesmo para as gargantas mais ousadas... Bem, por este tempo, reinava ainda por Portugal o rei D. Carlos, João Franco instalava a ditadura, os estudantes de Coimbra faziam greve, Malhoa pintava os “bêbados”, Amadeu tinha 20 anos, começavam as campanhas “pacificadoras” em África e o correlativo interesse pela etnologia.

Uma das vertentes fundamentais da arte moderna foi a de captar, digerir, colocar dentro do próprio campo da arte aquilo que era estranho, outro, diferente, inédito, que tivesse o poder de alargar e, por vezes, corroer o conceito tradicional da arte. Mas todo este movimento se faz sobre o pano de fundo de uma tradição, de uma história que pertence à cultura europeia, e este movimento só sobre esse pano de fundo tem sentido. A arte e a cultura moderna não nos preparam para compreender o movimento inverso. Isto é, o movimento daquelas ou daqueles que, provindo de um outro imaginário, de um contacto com outras realidades visuais e plásticas, com outras técnicas artísticas, com outras funções para a arte, com outros hábitos de atenção e categorização, e não negando essa proveniência, procuram na simbiose e na relação com a arte clássica e moderna europeia uma forma de individualizar a sua expressão, recusando o tradicional papel de meros fazedores de etno-bonecos folclóricos, pintados em quadros...ou não, que parece ser o produto que a nossa má consciência bem-pensante está sempre disposta a consentir.

Este é um caminho espinhoso e difícil, que só aqueles que decididamente o percorrem nos poderão mostrar, com o produto do seu trabalho, qual o resultado.

O trabalho de Suzy Bila caminha corajosamente nesse sentido, revelando uma grande abertura para os problemas humanos universais, mas partindo sempre da sua condição concreta, da sua mundividência, do seu ser como pessoa, como mulher, como mãe, como moçambicana, vivendo, trabalhando e estudando, neste momento, noutro país.

A procura da expressão, em cada momento e em cada quadro, a busca insistente da composição e da forma de pintar, ligam-se a um universo imagético e iconográfico transportado pela sua própria cultura e tradição, mas que a vida constantemente transforma e recria. Nesta ligação penso que residem os diversos modos de esperança que esta pintura Transporta.

João Queiroz Ar.co 2000

https://dasculturas.com/2013/10/13/biografia-joao-queiroz/

https://sites.google.com/site/suzybila/home/o-s-sentido-s-do-corpo

"...NAS SUAS MÃOS, AS CORES GANHAM VIDA. FALAM CONTAM-NOS SEGREDOS QUE VÃO NA ALMA DA SUA PROGENITORA.

MARIA SUZETE BILA- SUZY BILA - É UMA DAS MAIS RECENTES INVENÇÕES DO PAIS CULTURAL PARA AS ARTES PLÁSTICAS.

RECENTEMENTE, ARRECADOU RECONHECIMENTO E APLAUSOS PÚBLICOS COM A SUA MAGNÍFICA PARTICIPAÇÃO NO "DESCOBERTAS".

ALIÁS, FOI A ÚNICA RAPARIGA A SER PREMIADA. E PROMETE MAIS CORES!..."

J.SIXPENCE

Jornal domingo a 28 de janeiro 1996 foto:Adriano Murato

"Na sua pintura encontramos a urgência de uma expressão intimista e, em simultâneo, procurando as pertenças comuns e partilhas com essas alteridades várias que se vão cruzando no seu percurso. Caminhando entre o passado e o presente, entre os ecos de uma infância perdida no tempo e recuperada na memória, Suzy Bila constrói a sua obra prenhe de movimento e consciente de uma identidade, gizada entre opostos e, igualmente, entre complementaridades. Surge, pois, esta exposição, reflexo do seu olhar sobre o mundo e ambicionando ultrapassá-lo, fazê-lo crescer, desafiá-lo nas suas fronteiras, dar-lhe novas cores e significados, partindo sempre dessa contemplação tão original e radicada na sua infância".

Cátia Miriam Costa

Junho de 2011