EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL | ESPELHOS E VÉUS

30 Junho a 31de Julho de 1999

Suzy, jovem pintora Moçambicana, nascida em 1974, em Maputo, expõe desde 1992. Nesta sua amostragem individual, no novo espaço Fala - só, em Lisboa, reúne obras datadas de 1996-97-98. Numa imediata relação com África, ressalta o expressionismo orgânico e antropomórfico, de forte tensão dramática. Numa grande tela de 1996, a cor matérica arduamente espatulada ou, como diz a pintora, trabalhada à faca, assume valores de exasperante informalismo e impulsivo ritmo expansivo.

Mais controladas são as composições rosas e avermelhadas de 1997, de formas arredondadas e sensuais.”Até que a morte nos separe”, 1997, é uma composição bem dominada, de sóbria expressividade. Um enigmático e inquietante quadro verde de1997, também trabalhado à espátula ou à faca, representa um objecto volumétrico (trouxa de roupa que se transporta ao ombro em longas caminhadas, exprimindo a experiências dolorosas das grandes distancias percorridas a pé.

Sobre o suporte duro (madeira) de três portas de grandes dimensões (200cmx70cm), de 1998, estão representados alongados e verticais corpos nus, abraçados, pifados com tons escuros de verdes, azuis, violáceos e sombrios castanhos avermelhados, realçados com subtis brancos luminosos, dando-nos a sugestão de relevos. Estas três obras, intituladas “casal”, “família” e “ciosas da vida”, Evidenciam uma sensualidade nocturna, Próxima da orgia, de soturna vibração cromática.

Em tons mais claros, com pinceladas curtas e repetitivas, Suzy explora valores luminosos e espaciais, em duas telas verdes, Abtratizantes, “Aurora” e “segunda vida”,!998. A cor dominante – o verde – conjuga-se com tons azuis, violáceos, amarelos ocres e esbranquiçados.

Numa perspectiva global, a pintura da Suzy não abdica da natureza impulsiva do seu expressionismo vigoroso. Faz-nos pensar no carácter escultórico desta pintura. A tactilidade da matéria áspera e as superfícies lisas de volumes arredondados e sensuais é uma característica da arte africana, tradicionalmente ligada à escultura biomórfica e ao culto do objecto mágico e/ou utilitário, por vezes, realçado com cores vivas, concebido para fins ritualistas ou para ser inserido no uso quotidiano.

Tanto quanto me apercebe, a realidade africana, sendo excessivamente próxima e contagiante, não deixa de exercer um terrível fascínio.

A arte neo-expressionista de Suzy Bila reflecte também essa condição mágica.

Abril de 1999

Eurico Gonçalves

A arte neo-expressionista de Suzy Bila reflete também essa condição mágica