Preconceito contra Gordos

O estigma, o preconceito, a insatisfação com a imagem corporal não são consequências inevitáveis da obesidade mas derivam, em parte, das acepções culturais que enformam a imagem do corpo (ideal). O relatório da OMS evidencia a mudança das estruturas sociais e a influência dos factores culturais. Sucintamente, o período de transição económica alicerçado na industrialização e na economia de troca no mercado global; o sistema alimentar emergente, baseado numa aproximação industrial à agricultura e à produção alimentar, que potenciou a disponibilidade de alimentos; a diminuição do dispêndio energético decorrente da modernização e de outras mudanças sociais, em conexão com um estilo de vida mais sedentário patente nos meios de transporte (motorizados), no local de trabalho (mecanização, robótica, sistemas computorizados), no espaço público (elevadores, portas automáticas), no lar (a panóplia de electrodomésticos); a inserção laboral da mulher que, no âmbito das famílias de dupla carreira, indicia uma menor disponibilidade para a preparação dos alimentos, e a predisposição para as escolhas da comida rápida, do comer fora de casa, dos alimentos pré-cozinhados. Outra das questões, que não é de todo impermeável ao processo de globalização, prende-se com a indústria de fast food e o planeta como um local de hábitos alimentares padronizados.

Vislumbra-se, assim, a aculturação dos hábitos alimentares que, perante um império de tendências homogeneizantes, resvala para o alastramento de um império de gordura. Aliás, a experiência de compra e degustação da comida plástica tornou-se num hábito social, rotineiro e mecânico, que quase adquire um ar de inevitabilidade (Schlosser, 2002). Pelo que, a par de um ambiente obesogénico que promove o sedentarismo e o consumo de alimentos gordos e altamente calóricos, figura uma sociedade que proclama a magreza enquanto ideal-tipo de beleza e a obesofobia.

http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR4616d79249458_1.pdf