RELATÓRIO EXPEDIÇÃO PORE - PICO DA NEBLINA JULHO/AGOSTO 1986
INTRODUÇÃO - O Pico da Neblina, ponto culminante do Brasil (3.014m), se lo caliza no extremo norte do Amazonas, fronteira com a Venezuela. A região que pelo homem. cerca ainda é muito pouco explorada pouco conhecida. E habitada somente por Indios da Nação Yanomami e assim mesmo estes se limitam às terras de menor altitude deixando as montanhas completamente intocadas. A ideia de empreender uma expedição ao Pico da Neblina nasceu de Jean Philippe Boubli, já há alguns anos, ficando esta em latên- cia até 1985 quando primeira tentativa de realização de uma expe dição foi feita. Dificuldades com transportes impediram que os ob jetivos se cumprissem. Integrando este empreendimento contou-se com Jean Philippe Boubli e Alberto Julius Alves Wainstein.
No ano seguinte novo grupo foi constituído para a realização da expedição, então designada "Expedição Poré". Os participantes, agora em número de seis, relacionam-se: Jean Philippe Boubli (Res- ponsável), Alberto Julius Alves Wainstein, Rodrigo Studart Correa, Guilhermo Manoel Couto, Carlos Eduardo Moreira da Silva Campos, Wal ter Mastrocola Aiello. O nome da expedição, "Pore", foi retirado do vocabulario Yanomami e quer dizer espíritos, visões. Para os Yanomami do grupo Corolaxitaris, é no Pico da Neblina que ficam os "Pores.
OBJETIVO - A expedição teve como meta principal alcançar o Pico da Nebli na à pë a partir da Missão Salesiana de Maturaca registrando todo o percurso fotograficamente para torná-lo conhecido. Foi objetivo também o reconhecimento da área para a verifica- ção da possibilidade da elaboração e posterior execução de um pro- jeto de pesquisa relacionado com a ecologia da região.
INTEGRANTES - Jean Philippe Boubli, 20 anos, brasileiro, estudante de me- dicina da Universidade de Brasília;
Alberto Julius Alves Wainstein, 20 anos, brasileiro, estu dante de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
Rodrigo Studart Correa, 21 anos, brasileiro, estudante ciências biológicas da Universidade de Brasília; de
Guilhermo Manuel Couto, 21 anos, Uruguaio, estudante de en- genharia elétrica da Universidade de Brasília;
Carlos Eduardo Moreira da Silva Campos, 22 anos, brasileiro, estudante de agronomia da Universidade de Brasília;
Walter Mastrocola Aiello, 22 anos, brasileiro, estudante de ciências biológicas da Universidade de Brasília.
ACESSO - O ponto de partida para iniciar-se a caminhada até o Pico da Neblina é a Missão Salesiana de Maturacá, distante deste uns 25 Km em linha reta. O acesso à Maturacă se da por avião da Força Aérea. Brasileira ou então por barco a partir do Km 80 da Br-307 (Perime- tral Norte em construção), chamado de Frente Sul. Neste local, à base do Morro dos Seis Lagos, passa o Igarapé Zá Mirim onde se co- meça a viagem de barco. O za Mirim deságua no Rio za Grande que por sua vez deságua no Rio Cauaburi, o qual se sobes até encontrar a Foz do Canal Maturaca onde se entra até alcançar a Missão. São Gabriel da Cachoeira é a cidade mais próxima de Maturacá e o acesso até al se faz por avião ou barco, a partir de Manaus.
Saida para o Pico no dia 29/07/86 da Missao Salesiana de Maturaca
Chegada de vola a Maturaca na tarde do dia 06/08/86
CRONOLOGIA DOS FATOS MAIS IMPORTANTES - 13/07/86 Partida de Brasília Chegada à Manaus - 17/07/86 Partida de Manaus por via fluvial - 24/07/86 Chegada a São Gabriel da Cachoeira - 25/07/86 Partida de São Gabriel da Cachoeira - 27/07/86 Chegada à Missão Salesiana de Maturacá - 29/07/86 Partida para o Pico da Neblina - 03/08/86 Atingido o Pico da Neblina (15 hrs) - 06/06/86 Chegada à Missão Salesiana de Maturacá - 13/08/86 Chegada à Brasília.
A CAMINHADA - A caminhada constituiu-se em 9 dias, ida e volta, andando uma média de 7 horas/dia. Saindo-se sempre às 8 horas da manhã, paran do-se às 12 horas para almoço e às 17 horas para armar acampamento. Para guiar-nos foram designados 3 guias Indios que já haviam estado lá: Vítor, Plácido e Júlio.
Com o intuito de economizar-se um dia de caminhada na ida, u- tilizou-se um barco, cedido pelo Padre Carlos Galli da Missão Sale siana de Naturacă, para subir o Rio Cauaburi até a desembocadora do Igarapé Tucano. A subida da Serra foi iniciada apenas no terceiro dia de cami nhada, a partir do acampamento Tucano. Neste ponto dois integran tes do Grupo, Carlos Eduardo Moreira da Silva Campos e Walter Mas- trocola Aiello, decidiram regressar à Maturacă por motivos de saű- de, e levaram um dos guias consigo Júlio. O trecho percorrido neste dia é constituído de subidas longas e Ingremes intercaladas de descidas. Não há agua até quase o fi nal do percurso exceto por um pequeno córrego encontrado às 12 ho- ras. No final do dia (17,30 horas) o acampamento é feito num lo cal designado "Palmito" pela comissão demarcadora de limites que af esteve na década de 60. Este local situa-se próximo ao Igarapé Cuiabixi, afluente do Tucano.
No quarto dia segue-se por uma mata a princípio hem plana, a- parecendo logo depois algumas subidas. ås 13 horas chega-se a um local onde a trilha torna-se difusa e difícil de se reencontrar Acampamento do Anderson. Foi colocada por nós uma seta em uma ár- vore indicando o caminho certo. O acampamento, neste dia, foi feito próximo a um riachinho de onde se tem a primeira visão Pico da Neblina. No quinto dia atravessa-se em mata plana, com abundância pteridófitas, até atingir-se o sopé da montanha aonde está o co. de Pi- A subida é bem ingreme e por volta das 16,00 horas atingi se o final da trilha, o acampamento foi feito num local um pouco abaixo. No sexto dia prosseguiu-se abrindo a trilha a partir do local onde esta havia terminado. A vegetação aí é formada por um tipo de cana bastante fechada de uns 3 metros de altura. As 5 horas atingiu-se um local próximo à base do Pico de onde foi impossível posseguir. pedição Poré que então regressou à Maturacá. Findada aí a ex-
DISCUSSÃO - A trilha existente até o Pico da Neblina foi feita basicamen- te pelos índios e, portanto bem pouco yizível para olhos não trei- nados. Por essa razão é indispensável o acompanhante de um índio que já tenha estado lá. A temperatura só começa a baixar a partir do acampamento Palmito. de No acampamento mais próximo ao Pico pudemos registrar u- ma temperatura de 149c pela manhã. A época das chuvas nesta região é de junho à agosto, mas ape- sar disso só pegamos três chuvas durante os nove dias de caminhada. A expedição atingiu a base do Pico da Neblina pelo lado leste porém teve que regressar daí devido à falta de equipamento adequa- do, pouca disponibilidade de tempo (já eram 15 horas) e resistên cia dos índios em permanecerem mais um dia para nova tentativa.
CONCLUSÃO - A área do Pico da Neblina ainda permanece bastante isolada principalmente devido às dificuldades de acesso e restrições fei- tas pelos índios de Maturacã a pessoas não autorizadas pela FUNAI. Devido a este isolamento, permanece inteiramente intocada preser vando todas as suas espécies nativas. Por este motivo seria de grande interesse serem feitos levantamentos principalmente no que diz respeito a Fauna e Flora que poderão apresentar espécimes ain- da não classificadas pelo homem.
14/07/86 Segunda-feira
Após varios dias de espera em Brasilia por burocracias (FUNAI, Varig) chegamos a Manaus Domingo passado (ontem). Fomos para a base aerea numa kombi arrumada pelo tenente zozino (amigo do manga). Ficamos hospedados no cassino dos oficiais ($100.00). Hoje pela manha, eu, Feto, Walter e Tupa fomos buscar o soro antiofidico na reitoria. Dai, eu e Feto fomos a FUNAI e os outros retornaram a base aerea para refrigerar o soro. A tarde, eu e feto fomos ao CMA falar com o General Siqueira – nao conseguimos nada. Neste tempo, Manga, Didu , Tupa e Walter foram a cidade comprar balas 22 e depois foram ao Porto de são Raimundo tentar achar barcos. Descobriram que havia um barco saindo no dia seguinte mas o dono não estava. Nos encontramos na base às 7:40 horas e daí eu feto e Tupa resolvemos ir ao Porto ver se encontrávamos o barqueiro é combinávamos o preço. Chegamos em são Raimundo às 9:00 e encontramos o Antônio Moraes, dono do Deusa do Rio Negro. Depois de chorar muito conseguimos um preço de 2,200.00 cruzados para os 6 sem comida. Neste dia pegamos 8 ônibus o calor estava demais e o céu muito azul sem o menor sinal de chuva .
Foto 1 - Jean escrevendo este diario a luz de velas na trilha para o Pico da Neblina.
Foto 2 - Mochila 'Montanha e Trilha' confeccionada por Sergio Beck especialmente para essa expedicao. Mapa do RADAM Brasil da area do Pico da Neblina e pacotes de comida desidratada da Nutirmental.
16/07/86
Finalmente embarcamos para São Gabriel da Cachoeira no barco Deusa do Rio Negro do seu Antônio Moraes. O dia de ontem foi todo ocupado nos preparativos desta viagem. Saímos da base aérea ontem de manhã numa kombi de ar-condicionado que nos deixou perto da casa do doutor Alfredo Loureiro onde deixamos as mochilas e partimos para o centro. Compramos redes e outros suprimentos. Por volta das 5:00 fomos a pé da casa do Alfredo até o Porto onde esperamos a chegada do seu Antônio para podermos entrar no barco. Por volta das 10:00 embarcamos no deusa do rio Negro e armamos as redes. Os passageiros praticamente éramos só nós mesmo. As 3:00 do dia 16 o barco saiu mas logo atracou no fundo dum bar 1 hora depois onde tocavam forró insistente. Foto 3 - Tupa acomodado em sua rede por cima de um carregamento de biscoitos.
Foto 4 - Feto, Walter, Didu, Tupa e Manga chegando no porto de Sao Raimundo no final do dia
Foto 5 - antiga Alfandega de Manaus vista do nosso barco
Foto 6 - Bairro da Compensa em Manaus
Foto 7 - Palafita tupica do Bairro da Compensa
Foto 8 - Deque principal do nosso barco
17/08/86
Estamos finalmente navegando no rio Negro. Após o dia inteiro ancorados no bairro da compensa em Manaus, zarpamos rumo a São Gabriel! Este bairro é habitado por gente mais humilde e ha música o dia inteiro e noite também. Conhecemos um carpinteiro que viaja no nosso barco natural de Manaus e que já morou em Barcelos e que conta da forma de vida do Amazonas. Conta da Fartura existente e afirma agradecer a Deus ter nascido no Amazonas e já estar adaptado a esta forma de vida. Contou do sabor das caças e até da criação do pium que segundo ele nasce da flor das árvores do pium. Tivemos 2 chuvas bem fortes antes da saída o que nos obrigou cobrir com plástico em volta das nossas redes. Está uma manhã ensolaráda e estamos navegando em 2 barcos atracados um no outro. Toda a tripulação a bordo é muito simpática. Para passar o tempo, ontem à tarde ficamos pescando usando um pedaço de carne de isca. Conseguimos pescar muitos bagres pequenos até que 2 acidentes ocorreram: Dido furou Manga com um peixe na mão o feto me furou com outro na barriga. A viagem está prevista para levar 8 dias pois vamos encontrar com uma balsa Rio Acima e daí passaremos para ela; é provável que não levemos nosso objetivos a termo por não termos dinheiro suficiente e também tempo disponível, pelo menos estamos todos muito animados ainda. Estamos exatamente agora passando pelo arquipélago das Anavilhanas.
19:00hrs - Passamos pela margem mais a direita das Anavilhanas. Este arquipélago é formado por várias ilhas de tamanhos variados e que nesta época do ano se encontra completamente inundadas. O rio Negro até agora apresentou inúmeras ilhas o que impede que se veja sempre suas margens. O dia inteiro foi de sol apresentando um calor muito grande no meio do dia hoje está previsto mudarmos de barco pois o que estamos seguirá para um seringal.
Pela manhã o barco passou por cima de uma cobra marrom que estava nadando no Rio. A previsão até aqui é de 5 dias para chegar. Ainda não usamos comida da nutrimental e todo mundo ainda animado a subir o pico. Conversando com o piloteiro do motor ficamos sabendo das belezas que nos aguardam subindo o rio Negro que segundo ele é região de Serra e toda a Serra é bonita. Um outro tripulante o Getúlio falou até impressionado que ‘um cara do sul falou que a Serra da neblina é mais alta que as de lá do sul’. Falando de economia o pilotei rua firma ser o Amazonas uma região muito rica mas que o amazonense não sabe enriquecer. Que o japonês chega aqui e num instante faz Fortuna. E falando em japonês ele faz questão de lembrar da esperteza do japonês em construir as coisas e comparando cita o exemplo do Barco que estamos viajando e que ainda está em obras de construção com um carpinteiro há 2 meses a bordo só fazendo acabamentos.
Getúlio fala já ter andado toda essa região incluindo Colômbia Venezuela. Conta ter ido sozinho de canoa levando 15 calças 15 shorts e tantas cuecas e uma faca até uma tribo de índio na qual estes lhe pediram tudo ele ficou sem nada mas os indios passaram a simpatiza- lô bastante. Ele nos diz também a ver ouro por aí o que é confirmado por muitos justificando a pergunta que sempre nos fazem: vocês vão lá garimpar? Até aqui a água do rio Negro apresenta se mais Clara devido ao Rio Branco desaguar pouco acima. Neste barco que estamos navegando seu Antônio leva todo tipo de mercadoria básica: cartuchos, sabão, combustível, biscoito etc, para vender em São Gabriel.
Foto 9 - um carpinteiro que estava finalizando o barco durante a viagem.
Foto 10 - parada em um sitio acima das Anavilhanas (Walter, Feto e Manga)
Foto 11 - Tartarugas compradas no sitio de um cliente do Seu Antonio Moraes, dono do nosso barco.
Foto 12 - Nosso barco atracando a balsa de bujoes de gas com Walter, Tupa e Didu mais um passageiro.
19/07/86
Ontem por volta de 1 hora o nosso barco parou no seringal do Antônio e aí dormimos. No dia seguinte atracamos com a balsa neste seringal. Aí tinha um cara vendendo um tanto de tartaruga tatu o peixe. Seu Antônio tratou de comprar alguns e pediu pressa que era para o fiscal do ibdf não chegar. Continuamos então a subir o Rio agora com os 2 barcos do início da viagem a balsa com carregamento de bujão de gás o rebocador e um casco de barco. Um pouco mais acima o barco Deusa do Rio Negro soltou-se e seguiu seu destino pilotada por Antonio Morais. A nossa velocidade é muito baixa e prevêem que chegaremos a São Gabriel só daqui a 5 ou 6 dias. Já estamos começando a acostumar com a vida dentro do barco. Nossa comida não é muito nutritiva mas vai dando pra viver. Ontem passamos pela desembocadura do Rio Branco. É impressionante como a água do rio Negro fica realmente preta acima deste ponto. A cheia do Rio parece estar bem grande pois as árvores aparecem com a metade emcoberta. Por esse motivo se torna mais difícil ver os animais sendo que até agora só vimos papagaios Araras tucanos e um bando de macacos que não deu para identificar. Quase todas as pessoas que estão no nosso barco são garimpeiros indo tentar a sorte no garimpo de São Gabriel. É interessante notar o que nos contam de lá. Segundo eles se mata por qualquer coisa. Uma garrafa de cachaça custa 4 g de ouro e por aí vai. Esta região da Amazônia o rio Negro ao que parece é bem salutar. Não há muita malária. Isto talvez se deva ao fato de que ainda há muito pouco derrubada e baixo índice populacional. Segundo o relato de um dos passageiros a malária vem do veneno que o tronco de árvores Derrubadas soltam na água e o indivíduo que bebe daquela água contrai a doença. Nosso barco só possui 2 pilotos portanto à noite temos que parar o barco para que eles descansem o que atrasa ainda mais a viagem. Ontem por volta das 3:00 passamos pela Vila de Moura para descarregar 50 bujões de gás Dentre outras coisas. Esta cidade ao que parece já existe desde 1700 e se assim o é pouco evoluiu pois é constituída de poucas casas uma Igrejinha estilo colonial uma escola e outras coisas que não tive a oportunidade de conhecer. Viajando por estas paragens não consigo esconder que meu grande desejo é que toda a bacia do rio Negro pudesse ser transformada numa imensa reserva etno ecológica. As noites até agora tem sido bastante estreladas e com lua quarto crescente iluminando bastante o céu.
Foto 13 - Vila de Moura e um carregamento de piaçava.
Foto 14 - Pracinha de Moura (Walter, Feto, Manga, Jean)
Foto 15 - Luar iluminando o Rio Negro a noite.
20/07/86
amanhecemos o dia ancorados em Barcelos a essa cidade nós chegamos ontem por volta das 5:00 da tarde. Barcelos era a antiga capital do Amazonas e tem 250 anos de idade. Uma cidade pequena que possui várias casas de alvenaria e uma igreja bem a beira do Rio. Ao que parece os padres daqui salesianos são pouco conservadores. Atrás da igreja há um colégio dos padres de primeiro grau até grande e que possui 2000 alunos. Neste colégio conhecemos um padre de nome Guido Moura italiano de Milão que mora aqui há muitos anos e nos contou várias coisas daqui. Segundo ele era quase todo mundo em Barcelos foi seu aluno. Quando lhe perguntei sobre a malária ele dizia que antigamente era muito ruim e morria gente fácil não só tinha malária como de outras coisas mas segundo ele apesar de nós não gostarmos foi graças aos americanos que hoje não há quase mais mortes por essas causas de (DDT e outras drogas). Guido Moura fez questão de mostrar todo o colégio para mim feto e Walter diz ele que uma das maiores riquezas daqui é a piaçava é uma cidade bem tranquila. Um fato interessante que aconteceu é que de tanto andar no barco perdemos a noção de dias. Convencidos que ontem era sexta-feira fomos à farmácia perguntar onde poderíamos ligar. O cara informou que aos sábados e domingo só até o meio-dia. Despreocupados então achamos que tudo estava bem já que era sexta. Surpreso o cara da farmácia mostrou a folhinha para confirmarmos que era sábado e não sexta! Depois de darmos uma volta pela cidade paramos num bar para assistir o Jornal Nacional. Em frente a este lugar comemos uns peixes pacu assados na grelha numa barraquinha. Um dos garimpeiros que estava no barco e que IA ficar em Barcelos nos convidou para conhecer os forrós daqui. E lá fomos nós ver qual era. O lugar era um Barracão com uma luz negra e uma verde. A maioria do pessoal e é de roupa branca para fazer contraste com a luz negra. O ingresso custava 5 cruzeiros. As músicas que tocavam em sua maioria era um tipo de forró misturado com rumba e sabe lá o quê e que parece ser a música mais popular por aqui. Mas como não poderia deixar de ser numa cidade aonde o televisão já chegou tocava Madonna Ultraje A Rigor etc. O nome do lugar era sombra da noite talvez pela luz negra. O esquema da dança que é o seguinte ficam os homens de um lado e as mulheres do outro. Quando a música começa o Cavalheiro retira sua dama a dançar. Assim que a música cessa cada qual vai para o seu lado e o salão se esvazia de novo. Do lado de fora Valter e feto conversavam com um cara que caçava animais de todos os tipos para vender em lote para vários lugares. Depois fomos para o barco dormir. Após sairmos de Barcelos paramos uns 100 m adiante onde o barco ficou parado por um bom tempo. Nós passamos a navegar então. O dia foi igual a todos os outros. O pôr do sol for dos mais belos até agora e quando a noite veio a água ficou bem calma parecendo uma lâmina dágua refletindo nas estrelas. Estava claro devido à lua cheia. A viagem pelo rio Negro é sem dúvida mais bonita que pelo Amazonas primeiro pelo grande número de ilhas o que nos faz viajar sempre rente a mata ainda mais agora que está cheio.
Foto 16 - Luar no Rio Negro
Foto 17 - Nossa balsa de bujões de Gas! Didu lavando roupa na proa.
Foto 18 - Garimpeiro 'cabeludo' indo para Barcelos
21/07/86
Hoje passamos em uma pequena Vila com umas 6 casas e uma escola onde supostamente deixaríamos os 2 barcos que estão atracados na balsa porém após uma espera o que já virou rotina tivemos que prosseguir pois falaram que deveria deixar o barco mais à frente. Neste chegou à noite e paramos perto de 2 casas freguesa de seu Antônio. Daí saíram 2 Canoas cheias de tartarugas cabeçudos para trocar com mercadorias a bordo sandália shorts etc. O preço varia 20 a 40 cruzados pelo tamanho. Ao que parece a caça a tartaruga é frequente por aqui. Este e outros fatores podem sem dúvida contribuir para desaparecimento dessa espécie: mas seria correto e viável proibir esse tipo de atividade? É difícil para um povo que tem o extrativismo como tradição secular aceitar uma lei que vem de um órgão federal impedindo a caça a este réptil ao mesmo tempo impossível a fiscalização do IBDF para o cumprimento de tais leis. Este é o Brasil! Só para situar o momento lembro que estou escrevendo às 9:50 da cozinha do barco popa olhando o luar refletindo-se nas ondas deixadas no rio Negro pelo barco.
Foto 19 - pequena vila no Rio Negro.
Foto 20 - Habitacao tipica do Rio Negro na Vila onde paramos
Foto 21 - 'Tipiti' ou espremedor de mandioca na Vila onde paramos
Foto 22- Noite no barco. Tupa, Manga, Walter e Feto
Foto 23 - O "Sombra", clube de forro de Barcelos
Foto 24- Tomando banho de balde na proa da balsa
Foto 25 - Jean segurando um filhote de jaguatirica proximo a Barcelos
23/07/86
Ainda estamos navegando no rio Negro. Esta noite o barco não parou. Seu Emílio o piloto decidiu viajar à noite pois tanto nós como ele próprio já estamos cansados de tanta demora. Agora já nos encontramos bem próximos a São Gabriel. Esta noite passamos pela desembocadura do rio cauaburi de forma que ninguém pode ver. Aqui para cima do Rio a correnteza fica maior o que lentefica o barco. Os 2 barcos que se encontravam presos a balsa Deixaram nos na madrugada de ontem o que aumenta um pouco a velocidade da balsa. Ontem à tarde passamos em Santa Isabel do rio Negro para descarregar bujões de gás. É uma cidade pequena e tranquila. Segundo um passageiro que subiu em Santa Isabel e Edson Gabriel essa cidade está igualzinha a quando ele estava lá há 10 anos atrás. Diferentemente de Rondônia as cidades aqui são seculares e sempre pequenas e estáveis. Em Rondônia as cidades têm poucos anos e apresentam um crescimento estrondoso. Ontem passamos pela desembocadura do Rio marauiá. É um Rio de águas brancas como o é o Rio cauauri. Nas ilhas por onde passamos e explica seu Emílio ha seringais e casas que na época da seca é habitada por seringueiros porém agora nas cheias as casas estão debaixo da água como podemos ver algumas e as pessoas estão na Terra firme. Já é bem notável a mudança do clima aqui. Desde antes de ontem as chuvas já são mais frequentes.
Foto 26 - Medio Rio Negro proximo a Santa Isabel, pequenas serras ja começam a aparecer
Foto 27 - Feto em meio a mercadorias a serem embarcadas (farinha e Piaçava)
Foto 28 - Didu fazendo fotos
Figura 29 - Serra da Bela Adormecida
24/07/86
Finalmente chegamos a São Gabriel da Cachoeira nesta manhã! A noite passada passamos próximo a umas corredeiras. Na madrugada de hoje passamos por elas e ancoramos em Camanaus visto que é impossível prosseguir para cima até São Gabriel devido a que o Rio é muito encachoeirado. A comida nesta viagem de barco tem sido bem pobre até que começamos a entrar na nutrimental antes de ontem e melhorou pelo menos na quantidade. Ontem vimos as primeiras Colinas e serras, infelizmente só eu fiquei entusiasmado com a visão de serras tão altas quanto as da Serra do mar em plena Amazônia. E o melhor de tudo é que Nada tocado ainda. Confesso ter tido a sensação de chegar no Rio de Janeiro na época dos descobrimentos. Foi possível ver A Bela Adormecida ao longe e o morro Marie a visão para mim é indescritível mas garanto que para os outros nada demais havia ali! Ao chegar em Camanaus eu sozinho peguei carona num caminhão pipa até São Gabriel 23 km onde cheguei 40 minutos depois. O tempo estava bem frio e chuvoso o que me desanimou bastante a ir ao pico. Ao chegar à cidade fui direto à Funai. A cidade é pequena com uma igreja e a prelazia no alto de frente à praça. Não há quase pessoas na rua. O rio Negro é bem Estreito aqui e com Fortes corredeiras. A cidade se situa à margem esquerda do rio Negro. Do outro lado à esquerda vê-se A Bela Adormecida. Na Funai conversei com o chefe e quase não tive soluções para como chegar a maturacá.
Depois conversando aos poucos com um funcionário antigo já a 16 anos fomos encontrando várias soluções. Rodamos toda a cidade encontramos barcos para alugar por 3000 cruzados e outras soluções muito enroladas que nunca chegavam a lugar nenhum. Já começava a perder a paciência quando voltando à Funai encontrei o topa que avisava que todos tinham conseguido carona numa picape. Seguir para a praia com Lourival da Silva para continuar procurando barcos. Encontramos com o Borges que tem uma casa na beira da praia. Este nos deu a opção de passar um Rádio Brasil rádio mesmo para os índios de maturacá Daniel o tuxaua mandarem um barco nos esperar. Este é um sujeito que segundo o Manga é de escorpião pois é o tipo que vai atrás de tudo que quer isso porque com o aumento da gasolina o posto fechou para só reabrir no dia seguinte com preço novo o cara insatisfeito foi reclamar com o major e conseguiu reabrir o posto. Com isso ficaria faltando o caminhão para a chamada frente sul. Frente sul é o local de construção da BR 307 pelo quinto BEC. Nossa intenção era descer do caminhão no Igarapé e a mirim onde encontraremos o barco à beira do morro dos 6 lagos. Voltando da praia encontramos o Manga e o topa em frente à prelazia com todas as mochilas. Eles todos tinham conseguido carona numa picape da farmácia. As coisas quando parecem estar arrumadas aparecia um problema. Já começava a desistir de tanta chateação. Afinal esta foi uma das viagens mais cheias de aborrecimento trabalho e chateação. Neste mesmo lugar logo chegaram o feto Dido e Walter. Daí fomos deixar as mochilas na Funai aonde estão até agora 10 horas e 45 e fomos almoçar no restaurante rio Negro.
Convidamos o seu Lorival que então almoçou conosco. Terminado o rancho fomos eu e Manga no bec tentar o caminhão. O Bec fica perto da cidade dando para ir a pé pela margem do Rio. Chegando lá procuramos o major Soeiro que é o chefão das coisas para pedir o transporte. Fomos logo recebidos com um não. Depois de um bom papo e aliás, para se entender que com ‘reco’ metido o Manga é expert, conseguimos um caminhão que sai para frente sul amanhã às 2:00 da tarde. Agora faltava confirmar um barco. Voltamos a Funai. Para piorar surgiu outro problema. O nosso prazo venceria a primeiro de agosto e na hora que eu IA mostrar que a expedição da autorização tinha sido em 15 de julho estava escrito 15 de janeiro no ofício. Fiquei surpreso sem sem argumentos para pedir um aumento do prazo. Ao menos o delegado mandou um rádio para Manaus para consultar se poderia ampliar o nosso prazo. Para confirmar as desventuras outro funcionário da Funai que estava ao lado falou que o único jeito era com ele ‘se coubesse’ na segunda-feira. Essa ‘se coubesse’ era mais um não gentil. Quando já estava quase tudo meio perdido apareceu na Funai um índio Yanomami o Júlio. Este está indo para maturacá amanhã com uma canoa deles. Após eu expor a situação ele concordou em nos levar até lá se déssemos a gasolina. Além disso ele iria no caminhão do Beck até a frente sul conosco. Os índios para buscarmos sai de maturacá hoje à noite e chega no ya mirim amanhã de madrugada. A previsão é chegarmos em maturacá domingo. Tomara que agora as coisas estejam certas! De do feto e Walter foram arrumar gasolina e galão para levarmos. Segundo os índios precisávamos de 200 l e 5 l de óleo 2 tempos para ir e voltar para maturacá e ainda subir até o Tucano no motor 15 HP é um barco grande. Feto também arrumou uma picape para nos pegar e levar até o Bec por 50 cruzados. Depois de tanta Batalha eu eu topa fomos tirar umas fotos do pôr do sol na Serra. Logo voltamos e fomos tomar todos juntos com a enfermeira da Funai Lúcia uma cerveja na praça da cidade. Até aí não tínhamos arrumado lugar para ficar. Vamos então para o antigo projeto Rondon que agora é da comara.
Estamos aqui agora 11 e meia da noite. O sargento que atendeu a gente foi muito grosso mas para variar o papo do Manga colou. No meio da tarde o tempo abriu e ficamos mais animados parece que o verão está chegando. Hoje segundo dizem foi o primeiro dia de sol na cidade. Na comara nossa diversão era ver as lagartixas pegarem mariposas na janela. Mas o nosso maior azar foi que ontem saiu um búfalo lá para maturaca! Depois dessa descrição cronológica devo deixar algumas impressões. Terca Manaus peguei o caminhão para São Gabriel com 3 caras e fomos conversando. A estrada era mais ou menos e com muita Areia nas margens. Quando desci em frente ao hospital a impressão que tive é que estavam todos me observando. Eu de commander chapéu do Bec e pasta na mão cara nova devia mesmo chamar a atenção! Depois de muito procurar cheguei na Funai e o Lourival me mandou esperar e eu fiquei preocupado em arrumar a picape para o pessoal. O delegado estava conversando com o pastor americano que já está aqui há uns 30 anos. Depois que conheci todos na Funai perceber que sem autorização da Funai de Brasília nem adiantava que não deixavam ir, isso é muito bom. Agora o mais interessante notar a Alegria que todos ficamos quando o Júlio e ano mami nos deixou ir mas é claro que todos nós reprimimos a Alegria para não ficar bobo. O Júlio estava com mais 2 índios que também vão. O barco em que vimos já IA partir para Manaus em uns 4 dias. O Lorival da Funai me falou que a vida dele era o rio Negro e que deste Rio conhecia tudo inclusive o canal que desemboca no Orinoco. Segundo Lúcia a enfermeira a população de São Gabriel vem regredindo muito de 5000 habitantes passou a 3000.
25/07/86
Hoje começa realmente a expedição poré após tantas atribulações! Estamos em São Gabriel da Cachoeira rumo a maturacá com tudo certo. Saímos da Funai até o quinto Beck e de lá de caminhão até a frente sul pegaram um barco pelo IA mirim levando 200 l de gasolina para um motor 15 HPS até OEA grande balaio e daí cai no Cauaburi o qual subiremos até maturacá. Pela manhã preparamos todas as mochilas na Funai. O delegado preparou o nosso ofício para levarmos. Combinámos com o Júlio e seus companheiros 3 índios de irmos juntos até o Beck na picape que fretta mozi por incrível que pareça o mais fácil até aqui foi a condução de São Gabriel até maturacá com o qual levamos só um dia. Depois de tudo pronto a bagagem era enorme e fomos em 2 caminhões do Bec. Saímos por volta das 2:15 da tarde eu feto Walter Dido e 2 vídeos fomos num caminhão fechado enquanto os outros foram com os galões em outro caminhão. Cruza mozi a linha do Equador e por volta das 5:00 da tarde estavam à margem do Rio e ya mirim. Logo que chegamos um garimpeiro veio armado apontando. Veio reclamar de uma voadeira que os índios haviam tomado dele. Montamos então as barracas e fotografamos com os nomes Melitta para a propaganda. O dia estava lindíssimo com o céu completamente azul o que nos deixou surpresos. Em seguida fomos ver se avistava mozi humor dos seus lagos. O melhor lugar para tal era a casa do garimpeiro mencionado antes. Era o baiano. Conversamos muito com ele eu e Manga e ele nos deu sua versão da história da voadeira. Ao que parece os índios pegaram a voadeira e prometeram pagar mas como até agora não pagaram ele quer então passagem livre pelo cauaburi para garimpar. Essa passagem livre é porque os índios quando um garimpeiro sobe pegam tudo dele para impedir que prossiga. Este baiano garimpeiro do Rio Maia e segundo ele ajuda bastante o grupo do Maia que é muito carente.
Foto 30 - Preparando o material para partir para a Frente Sul na Comara
Foto 31 - Jean e Feto organizando as mochilas na FUNAI antes da partida para a Frnte Sul
Com a noite chegamos voltamos ao acampamento onde iniciamos o jantar em 2 fogueiras acesas os índios arrumaram carne de porco e farinha da qual compartilhamos primeiro. Depois cozinhamos nutrimental arroz e cenoura e macarrão dividimos tudo. Voltando um pouco vale a pena ressaltar que ao chegarmos o barco que nos vamos estava afundado a propósito para não levarem. Tivemos que esvazia lo com 2 Panelas nossas. O motor que nos levaria não estava nos esperando. Parece que ele estava mais acima talvez receoso do garimpeiro. Após jantarmos começamos a conversar com o Júlio sobre coisas da gente dele. Os habitantes de maturacá são do grupo Corollaxitari. Ao conversamos ele chamou a atenção para o grito de uma jararaca na mata jamais poderíamos acreditar que é uma cobra cantasse daquela forma. Continuando a conversar descobrimos que por é significa fantasma se não Deus e que o Deus maior deles é o trovão em Inharum. O pico da neblina é a morada dos pajés que já morreram. O Sol e a Lua não parecem ter grande importância. Eu perguntei a ele se ainda haviam guerras. P ele me falou que desde 1963 não há mais conflitos e que guerra deles é coisa de 1 dia só. O que existe é muito intercâmbio entre as tribos inclusive da Venezuela momento em que produtos são trocados. Maturacá é o grupo mais ao sul. Perguntando sobre a agricultura soubemos que antigamente era o milho a batata pupunha cará banana. Não havia mandioca tendo sido esta traduzida mais tarde pelos padres. Fomos então dormir.
26/07/86
A noite passada não foi das mais agradáveis. Ficamos nós 6 no inglu os outros 5 índios no outro. Choveu a noite toda e devido ao aperto começou a molhar dentro. Ninguém dormiu quase. Amanheceu chovendo. Nem tomamos café e fomos carregando o barco. Não sei como coube tanta coisa. Saímos no ya mirim para encontrar o motor. No caminho Júlio apontava o Mato dizendo ouvir algum bicho. Eu não ouvia nada. Ate que apareceu um macaco caiarara que não pudemos matar pois a 22 estava entupida perdemos também um Mutum. Continuamos a Remo até parar num Barracão onde fizemos nutrimental. Lá encontramos uma frutinha chamada cubiu que segundo Julio não é muito apreciada. Ela é um pouco amarga. Depois de um tempo prosseguimos a Remo. O Sol agora já era forte e eu começava a preocupar-me com a demora do motor 15 HP descendo de maturaca. Após algum tempo ouvimos o motor chegando. Os ânimos se elevaram. Era uma voadeira chegando cheia de garimpeiros e índios de maturacá. Pegamos o motor e começamos a subir. Logo acima encontramos o ya e descemos é um Rio maior este.
Foto 31 - Carregando o material no barco na Frente Sul
Figure 32 - descendo o Ia Mirim
Figure 33 - Decendo o Ia Mirim a remo em busca do motor de 15HP. Tupa na frente, Angelo Yanomami no remo.
Foto 34 - Embarcando na Frente Sul
Foto 35 - Encontro com o barco que vinha de Maturaca com nosso motor de 15 HP
Foto 36. - Finalmente rumo a Maturaca com o nosso motor 15 HP
Foto 34 - No barracão do Baiano no Ia, acendendo fogo e preparando para passar a noite
Foto 35 - Angelo preparando um peixe no Barracao do Baiano na ida para Maturaca
Quando estávamos no Barracão ouvimos os gritos do macaco zog zog preto da cara branca que segundo julho estava sendo perseguido por uma harpia. Os macacos que tem aqui são uacari, cairára, Quatá Guariba e outros. O tão falado baiano é um garimpeiro protestante que tem a ideia de fazer uma missão no Rio Maia com campo de pouso e tudo. Todos acham graça disso. Um pouco mais abaixo no próprio Rio e a encontrámos um sítio onde moravam uma tribo do mesmo grupo de maturacá era lá que estava a voadeira de metal quando chegamos havia umas mulheres e crianças extraindo o suco do açaí. Subimos então a margem e fomos até as casas acompanhando de um dos índios que estava conosco. Que que feto tentou fotografar tudo mas todos correram. Pelo menos consegui fotografar um menino com um cachorrinho. O índio que estava conosco começou a conversar com um outro numa casa até que este último me chamou para perto e perguntou você IA ao pico da neblina. Só isso. Não entendi direito. Kt saímos então e deixamos 2 galões de combustível lá. Um pouco mais à frente chegamos a Foz do Rio e a e finalmente entramos no Cauaburi. Estamos cada vez mais próximos ao pico. Navegamos até 6 horas quando paramos num local onde ele sempre acampam. Armamos nossas redes em andares com uma lona cobrindo 3. Este local é próximo a uma Lagoa. O Júlio e os outros tentaram pescar algo sem muito sucesso. Para variar fizemos nossa nutrimental que para 6 pessoas tem tem servido à 11. Os índios parecem gostar da comida mas nunca dispensam a farinha. Armação das redes deu muito trabalho. Era a nossa primeira experiência. Eu acho que os índios se divertiram com a nossa inexperiência.
27/07/86
Dormi mos bem esta noite e acordamos às 4:00 da manhã para dar tempo de chegar logo na missão. Desarmamos o acampamento e saímos. Apesar de sair much tão cedo os índios não se importam em atrasar para caçar e almoçar. Matamos um cujo bem que estava em cima de um açaí. Júlio deu um tiro de 22 e entramos no Mato para pegá-lo. Mais adiante paramos no acampamento deles para Sara caça e aproveitamos para pescar num Lago que havia mais adentro. Júlio pescou 2 grandes Piranhas com as vísceras do cujo bem. A chuva nos acompanhou por toda a tarde. Pelo caminho fomos vendo aparecer as serras. Jordão, Padre (o pico da neblina não vimos devido às nuvens e só há um local onde é visível) e outros todos. Pelas 6 horas saímos do Rio cauaburi e entramos no maturacá que por ser de águas negras formam um ‘encontro das águas’. Estamos em maturacá meia hora depois eu e Manga descemos na frente para falar com o padre enquanto os outros e eu descarregando. O primeiro que encontramos foi o pai do tal stanislaw para o qual tínhamos uma carta do coronel Fregapani. Uma Índia nos acompanhou até a missão. O nosso primeiro contato com o padre foi estranho. Um pouco ríspido talvez. Eu e Manga ficamos na nossa e voltamos para chamar os outros uma vez que nos foi dado um quarto.
Armamos nossas redes is começamos a conversar com o padre Carlos Galli. É uma pessoa sábia adiantadíssima e muito alegre se é que posso julgar isto. Conversamos com um senhor que tem 90 anos uma saúde de ferro é técnico agrícola. A missão foi fundada em 1954 pelos salesianos e só com começou a funcionar em 1957. O padre Carlos está há 50 e tantos anos no Brasil mas nem por isso aceita se naturalizar. Para ele isto é traição. Depois de arrumadas as redes um farto jantar nos aguardava. Ficamos até sem graça de tão boa acolhida. Enquanto jantávamos o padre lhes contava as coisas daqui. Creio que não exista pessoa que conheça tão bem os Yanomami. No dia seguinte fomos acordados para o café e ficamos conversando sobre coisas interessantíssimas a mesa pirâmides etc. No café chegaram o Joaquim tuchaua e Daniel tuchaua e tomar um café conosco. Eles sempre fazem isso. Depois de levantarmos Julio apareceu e foi nos mostrar a aldeia. Vimos várias casas farinhadas e havia um pajé pintado e com droga no nariz escorrendo. Fazendo orações. Tiramos várias fotos e voltamos à missão. Almoçamos e iniciamos as arrumações. Eu e Manga fomos até a aldeia combinar com o Júlio a saída. Ficou decidido pelo tuxaua que iria conosco plácido (40 e tantos anos de idade) e Victor que foi com o exército. Júlio também acabou indo conosco. Arrumamos um barco com André. Fizemos a noite comida nutrimental procurar OE cenoura para o padre experimentar.
29/07/86
Acordamos às 5:30 da manhã para ajeitar tudo. Saímos às 8:00 da manhã. Pegamos o Cauaburi e fomos subindo. Passamos várias serras como Serra do Gavião e Maia. Chegamos até a Foz do Tucano às 2:00 da tarde. Desembarcamos e começamos a cozinhar. Não choveu nada. O Sol brilha. Almoçamos arroz e cenoura André comeu conosco às 3:30 da tarde começamos a andar a mata era bem limpa. Um pouco de subidas e descidas Walter torceu o pé na estrada do barranco de quem sai do Tucano. Feto com pinchado e furúnculo também veio. Pelo caminho encontramos um bando de Cujubim Júlio acertou 2. Era o nosso jantar. Paramos às 4:30 da tarde. Começamos a armar acampamento e só paramos às 5 e 50 da tarde enquanto Victor emplastro preparavam os Cujubim Júlio IA pescar o tempo está sempre bom tivemos só uma pequena chuva. Passageira. Estamos armando as redes no esquema de 2 a 2 em uma lona só. Fizemos o jantar nutrimental 2 Cujubim e uma piranha. Não comi piranha pois eles dizem que ajuda a inflamar.
30/07/86
acordamos às 6:30 da manhã. Desarmamos tudo tomamos café e saímos às 8 da manhã. Caminhamos em mata plana e limpa. Walter caiu sobre o ombro e vai voltar. No caminho Júlio matou 3 Quatis que será nosso almoço. Chegamos ao Tucano às 11 e 50 da manhã onde vamos acampar para amanhã começar a subida o dia todo sem água até o cuiabichi. Um pouco mais tarde Dido disse ter encontrado uma bolha de sangue no pé e acabou desistindo de ir junto como o Walter. Júlio então ficou Combinado de voltar até maturacá a pé com eles. Previsto levou um dia. Neste dia mataram o macaco com atá que foi moqueado à noite. Feto Walter e Dido ficaram esticando as peles de quati. Tomamos banho no Rio Tucano que é de água claríssima. Júlio apanhou uns peixinhos que comemos depois de assar dentro da folha. Vetor e Plácido quase desistiram de ir quando souberam que julho IA voltar fomos então dormir após o jantar. Antes porém tivemos que reformular toda nutrimental vejo que agora éramos 6.
31/07/86
acordamos às 6:00 da manhã para sair. Começamos a arrumar tudo mas só saímos às 8:00 da manhã. Nos despedimos dos 3 e rumamos ao Pico. Logo de cara pintou uma subida enorme. Feto se desesperou e quis voltar quando soube que ficaria acampado no Mato caso não aguentasse. Acabamos convencendo ele que não conseguiria alcançar o julho. Continuamos andando bem. Paramos para almoçar às 11:00 da manhã. Comemos nutrimental. Para isso fomos buscar água bem embaixo. Saímos a meio-dia e 10. Andamos bem e o tempo parecia bem bom. Porém logo após veio a chuva que parecia forte lá fora mas na mata era normal. No princípio de uma subida Manga teve um leve lipotímia e caiu no chão sem a aguentar nada. Mandou o meu que tinha para dentro e ficou uns 10 minutos para se recuperar. Após essa novela prosseguimos numa caminhada muito puxada. Subindo e descendo morro contornando barrancos muito escorregadios. A mata aqui é muito aberta parece um salão. De trechos em trechos fechava devido a algum pau que caia. Passamos por um acampamento de garimpeiro que para nossa grande sorte tinha um pacote de sal. Já que não tínhamos mais sal pegamos. Há uma trilha que só enxerga todo o tempo. Depois de muito andar chegamos ao acampamento chamado palmito pela comissão de limites. Chegamos às 5:30 da tarde montamos acampamento. Estávamos exauridos de todas as nossas forças. Eu acho que nunca fiquei tão cansado em toda a minha vida. Logo após o jantar fomos dormir.
01/08/86
acordamos às 6:30 da manhã. Começamos a tomar café e arrumar tudo para sair. Tomamos nutrilacs mais reforçados um para cada um! Começamos a andar às 8:00 da manhã. A mata a princípio era plana e bem aberta. O céu estava limpíssimo. Este foi o dia de se perder. Toda hora Victor parab falava perdeu a trilha. Logo achava novamente o caminho. Porém por volta de meio-dia e meio 1 hora perdemos feiamente a trilha. Vetor não conseguia achar e já pensava em voltar falando que Milton outro indiano mami voltou dali pois não achou. Nós 4 ficamos no acampamento do Anderson uma pessoa que tentou ir onde havia escrita uma data de 1/03/86! Marcamos a nossa data também. Enquanto esperávamos fomos cozinhando o almoço. Começamos a pensar na possibilidade de os índios não voltarem e ficarmos perdidos. Pensamos em como derrubar a mata e colocar nossa lona no alto das árvores para um helicóptero nos achar. Porém nossa descrença foi injustas às 2:30 da tarde os 2 Victor e Plácido voltaram dizendo ter achado a trilha. Nosso ânimo voltou. Nós pusemos novamente a andar às 3:00 da tarde depois que os 2 comeram. A mata agora começa a ficar bem úmida e mais rala. A bastante pteridófitas. Há muita lama mas também muitos riachinhos de água Cristalina e encaixoueirada. A mata que lembra a mata Atlântica do Rio de Janeiro. Animais não vimos nenhum até agora.
A caminhada hoje foi muito cheia de subidas e passagens por barrancos úmidos e escorregadios. A Marta é muito bonita. O tempo todo temos que nos apoiar em pausa e raízes. O dia foi tão cansativo como ontem devido ao grande tempo parados quando perdemos a trilha. Quando deu 5 e meia da tarde decidimos então parar para dormir no primeiro lugar mais plano que achamos. Armamos acampamento. Está previsto chegarmos ao Planalto amanhã. Um 100 m antes do acampamento cruzamos um riacho onde Plácido me mostrou o pico da neblina. Foi a minha primeira visão deste. Os outros não viram pois eu e up laço era os últimos da fila. O que mais me questiona até agora é qual a razão dos indios nos guiarem tão prontamente e dispostamente ao pico? Dinheiro não é e tampouco materiais. A coisa se processa do seguinte modo. Estávamos a mesa com o padre o tuxaua e Daniel. O padre falou para o tuxaua arrumar uns guias para nós e foi o bastante. No mesmo dia estavam designados os 2 melhores guias para nós e sem pedir nada em troca tivemos que fornecer quase tudo para os 2 índios irem conosco pois eles não tem nada. Cobertores casacos e tênis foi necessário. Vitor levou umas espingarda 16 para caçar Mutum. Até agora não vimos nada de Mutum neste momento que estou escrevendo está 19°C. Vitor hoje me fez lembrar de Derzu Sala. Com suas feições asiáticas, mochila e espingarda olhando o Mato! O nosso diálogo com os índios é bem difícil pois eles falam muito pouco português. São pessoas bem ingénuas para nós e boas. Plasto já tem seus 40 e poucos anos evito está beirando os 40. Mesmo assim a disposição deles é bem grande.
02/08/86
Acordamos cedo mas saímos às 8:00 da manhã para variar. Começamos a andar em uma mata plana e muito húmida parece aquelas de filme de floresta encantada. As árvores cheias de briófitas e muitas pteridófitas pelo chão. Tiramos algumas fotos. Paramos num acampamento para que Victor e Plácido procura sem a trilha. É previsto chegar ao Planalto hoje. Os 2 guias demorarão um pouco a chegar. Enquanto eles ficamos batendo umas fotos num Riachinho perto. Quando os 2 chegaram caiu um temporal e portanto tivemos que esperar a chuva passar para subirmos. Por volta de uma e meia da tarde começamos a subir após o almoço. A subida era bem íngreme e úmida. Vemos fezes de anta. Subimos quase o dia todo às 4:00 da tarde perdemos a trilha. Eu manguei feto ficamos esperando enquanto os outros foram atrás do caminho. Começamos já gelar de frio. Não tendo achado a trilha a 5 horas da tarde voltamos para acampar em algum lugar que fosse mais ou menos plano. Por volta das 6 da tarde achamos um plano e armamos acampamento. Estávamos todos desanimados com a possibilidade de não chegarmos ao pico. Jantamos e fomos dormir bem preocupados. O frio começou a incomodar. Plácido e vetor queriam voltar. Depois de muito papo conseguimos convencê-los de tentar achar a trilha. Fez muito frio.
03/08/86
esta noite todos nós sonhamos com o pico. Amanheceu um dia de muito sol. Tomamos nosso nutri laquê e saímos para procurar a trilha. Começamos a abrir a trilha mais ou menos 8 horas da manhã. Vetor foi a frente com facão e Manga atrás. A mata começava a ficar muito fechada e era uma vegetação provida com bambu e bem intrincada. O chão não era firme e os Tombos eram frequentes. Tudo estava encharcado a inclinação era grande. Começamos a subir o lado leste do pico. Cada vez ficava mais difícil. Victor cansou e quis voltar. Mangue então assumiu o facão e foi na frente não dando tempo dos índios desistirem. Per volta das 3 da tarde chegamos a um paredão que era impossível continuar. Desanimados então abrimos a Bandeira do Brasil no lugar mais alto que chegamos e tiramos foto. Erramos o caminho. Nós chegamos pela face leste e atingimos o sopé do pico de onde é bem difícil subir. Ficamos todos bem desiludidos depois queremos atingir o Planalto e o Marco da Fronteira. Voltamos então. De qualquer forma achamos que a viagem valeu até aí. Descemos nossa trilha aberta e levou 1 hora e meia de caminhada. Chegamos acampamento e fizemos o almoço e ô jantar tudo junto. Chegamos a mais ou −100 metros do topo. Quem sabe outra vez chegaremos? Dormíamos esta noite no mesmo local da noite anterior porém bem desanimados.
04/08/86
Acordamos cedo mas ninguém teve aquele ânimo para levantar e sair. Os índios ficaram fazendo barulho para ver se nos acordavam. Amanheceu frio porém um dia bonito. Mais uma vez desarmamos acampamento procedimento que já estava se tornando um tanto chato e prosseguimos a descida. Os 2 guias estavam radiante por voltar e queriam imprimir um ritmo rápido para chegar logo. Foi uma descida bem puxada e só fomos parar para acampar no acampamento do sal. Chegamos aí exaustos por volta das 5:30 da tarde.
5/08/86
Desarmamos acampamento e pegamos um pique até o Tucano onde chegamos a uma e meia da tarde. Logo na saída do acampamento do sal há uma das últimas sub donas de volta. O cansaço era algo já integrante da expedição desde o início mas o que começava agora a tornar-se presente era o cansaço psicológico a paranoia de andar sem parar sem ver o Sol e nunca chegar. A moça moça no Tucano e após um leve Descanso prosseguimos a caminhada vencendo um trecho que sem dúvida foi dos mais marcantes já era selva baixa cheia de motes e pôssas se poss e raisis igarapés e mata fechada. Passamos pela clareira do helicóptero da expedição do exército do ano passado e por vários outros acampamentos. O Mato havia tomado tudo já vegetação secundária. Aí vimos o céu novamente vimos várias resquícios do exército. Armamos nosso acampamento em qualquer lugar à beira de um Igarapé às 6 da tarde. Foi uma noite bem ruim devido à quantidade de mosquitos apesar de rede com filó de selva e também ao desgaste psicológico. Dormi quase no chão pois minha rede cedeu e não tive coragem de sair dela e arrumar. Já fazia calor aí. A perna do feto era algo de dar pena. Aquele enorme furúnculo querendo cicatrizar e vários outros começando a aparecer. Nós outros todos estávamos bem. A minha roupa nunca era trocada. Eu usava uma para dormir e uma calça e camisa de Manga Comprida para dar todo dia. Pela manhã eu secava essas roupas do dia anterior na fogueira. Perdi 16 queimada assim. Manga topa e feto faziam mesmo. Os índios sempre também com a mesma roupa. Plástico com short que eu dei xadrez e o tênis do topa E Victor de cueca com o tênis dos feto e mochila marrom do feto. Esta noite demorei a dormir e sonhei com pão não sei por quê. Era previsto chegar à maturacá no outro dia o nosso consolo. Talvez essa noitinha tem sido os momentos mais desanimadores da viagem que agonia!
06/08/86
Marcamos de acordar cedo para ir mas quem disse que alguém teve coragem de levantar. Os índios fizeram o barulho que puderam. Até lavaram as Panelas eu fui o último a levantar. Os pés da gente já começavam anão aos aceitar os calçados. Dei meu meião molhado para o plasto e botei um novo. Meu pé merecia! Secamos as roupas e saímos pelo menos com a satisfação de não mais ter que armar acampamento. Aquela noite estaríamos com o padre na missão. Saímos um pouco tarde e após uns 40 minutos de caminhada Victor descobre uns queixadas pela trilha. Pergunta se carregaríamos o bicho caso ele matasse. Manga se sente na obrigação de concordar. Todos nós sentamos gelamos. Já pensou carregar um queixada da onde estávamos até maturarca? Seria quase impossível. Fizemos aquela torcida para que o tiro fosse errado! Para nossa Felicidade 2 tiros foram dados e ambos fracassaram. Perdemos nessa coisa quase 1 hora e meia. Plácido então percebendo nossa aflição para ir logo nem esperou o Victor e abriu na frente em passos quase de corrida e nos mandou segui-lo para recuperar o tempo. Rendemos bem porém foi puxado. Passamos por uns posts lindíssimos. Planicie mozi com árvores mais finas e altas é a trilha bem delimitada. Foi um dos lugares mais belos que estivemos. É pena que há paranoide voltar logo nos impediu de curtir qualquer dessas coisas. Cruza mozi vários igarapés. Por volta da hora do almoço quando as capacidades físicas já haviam se exaurido e só restava a força da t terminação mental paramos à beira do Igarapé te água completamente vermelha. Aí que vetor nos alcançou. Feto já senti a sua perna bastante. A moça mozi prosseguimos agora com mais calma. E sou o cão passamos por mais bosques naquele estilo quer dizer o caminho era agora quase toda assim só mudando quando chegava perto de águas Igarapé. O cansaço era enorme e a agonia de ver Mato passar por baixo e pular tronco tropeça e Cipó e raízes era constante. Topa dizia que quando tropeçava em algo a vontade era de pegar uma bazuca e explodir a floresta! No fundo era esse humor geral. A toda hora perguntávamos imatura cara estava longe como se isso fosse diminuir a distância. Nunca entendi a mozi as respostas dos índios. Passamos por vários acampamentos dos índios de maturacá até que por volta de 3 horas da tarde cruzamos 14 índios vindos de maturacá que estavam atrás de uma Vara de porcos que estava passando por aí. Os nossos guias trocaram palavras com eles e pegaram fumo para botar na boca para dar energia e matar a fome. Prosseguimos a caminhada. O cansaço era tal que vez por outra nos desligávamos do andar e voávamos longe com a imaginação. De repente quando dávamos por nós ali estávamos andando. O silêncio foi completo. Ninguém eu conversava com ninguém. Confesso q tive do medo de entrar em paranoia. Chegamos a maturacá às 5:00 da tarde. Os índios ficaram na aldeia e nós após algumas fotos no pátio da aldeia seguimos para a missão. Que satisfação ver rever tudo daquilo! Encontramos de do e Walter gordinhos e queimadinho e logo após o padre. Que Felicidade. Graças a Deus tudo correr bem estávamos todos ali. O padre que sabe das coisas na hora nos serviu um café com leite e bolachas o qual comemos uma voracidade e contentamento fora do normal. Ninguém tolerava mais a nutrimental! No jantar desta noite seu Teotônio nos congratulou com um discurso muitíssimo Belo o qual tenho guardado. Ficamos muito honrados com tal. Iríamos voltar de avião na sexta-feira para quarta mas o mesmo fora cancelado. Nossa sorte foi que seu André dono do motor e barco da ambição iria baixar no dia seguinte para pegar sua esposa dona Cleonice enfermeira e etc do padre na frente sul. Ela o avisou através da Rádio Brasil Amazonas. Gostaria de ficar mais mas não dava. Conversamos bastante com o padre explica mozi que não foi possível chegar ao Planalto depois os índios haviam errado o caminho. Mas diz ele que os índios erram o caminho de propósito e com medo que cheguem até o pico da neblina morada dos poré. É de fato um caso interessante e de se levar em conta. Realmente os índios se encontravam bem amedrontados na subida. Que dizer então do fato de sumir 2 facões aí também? Para eles pode ter sido algum sinal.
0708/86
Neste dia acordamos cedo NS para descer o Rio até a frente sul. Plácido e vetor aparecerão para te receber receber suas coisas. Demos quase tudo que tínhamos. Lasto parecia ter gostado muito de mim pois me abraçou bastante. Tomamos café e partimos em 2 barcos. Viajamos o dia inteiro e no final da tarde antes de uma chuva que cairia paramos num acampamento de palha para passar a noite antes de chegar aí já no Rio e a passamos pela aldeia do Mateus e pegamos uma carne de anta para jantar. Não que não tivéssemos comida pois o padre havia nos dado bastante para a viagem.
08/08/86
Grande sul com a péssima notícia de que não havia caminhões do Beck até segunda-feira era sexta. Vamos na casa do baiano que estava em São Gabriel. Estávamos desanimados até que apareceu um caminhão extra do Beck queria trabalhar na área. Falamos com o motorista e conseguimos carona para as 5:00. Neste meio tempo ficamos conversando com um garimpeiro sobre humor dos seus lagos que parece bem interessante. Conta ele haverem lagos de cores diferentes e um deles a de agua fervente. Às 4:30 veio o caminhão carregado de Terra e nos levou em cima desta. Assim que saímos desabou um temporal daqueles e que transformou tudo em lama. Mas a frente trocamos de caminhão quilômetros 50 e seguimos com vários soldados atrás voltou a chover tudo ficou ensopado. Chegamos a São Gabriel dormimos na comara para ver se embarcávamos no búfalo que partiria no dia seguinte.
09, 10, 11/08/86
Tentativas em São Gabriel para voltar. Só fomos conseguir numb e motor da Paranapanema depois de muitas grosserias dos milicos da fab. Este piloto botou 9 no avião para 8 e sem notar. Eu manguei topa fomos feto havia ido pouco antes na taba e Walter e dido ficaram em São Gabriel. Quando estávamos perto de Barcelos é que o piloto no tom que estava com 9 então falou que deixaria um em Barcelos. Ficamos desesperados uma vez que todo nosso dinheiro havia sido deixado para os 2 em São Gabriel. O piloto acabou desistindo da ideia e nos levou até Manaus sendo que no aeroporto topa teve que se esconder no avião e descer lá no hangar para que ninguém pudesse multar o avião. Voltamos a Brasília de de a primeira classe graças à ajuda dos osm o amigo do pai do Manga. Chegamos dia 12 eu feto e topa!
Concluindo a viagem posso dizer que valeu de grande experiência. Afinal estivemos em uma região que em tudo lembra o velho Oeste. Garimpeiros pistoleiros e etc até índios. É uma cidade bastante bonita que possui altas Montanhas por perto que lembram o sudeste do Brasil as pessoas que estão lá tem como objetivo a Riqueza fácil. Tudo é difícil devido à escassez de transporte que consistia em apenas barcos e aviões. Plantar e criar ninguém quer. Em termos de salubridade é esta uma região privilegiadíssima. Não há malária exceto no maia. Os vídeos aqui também se sustentam do garimpo. Para isso tem respaldo da Funai em detrimento dos garimpeiros brancos. Branco que não garimpa em Terra de índio sem ser conviderado pois leva chumbo! O padre sabe profundamente das coisas dos ianomâmis. O importante para ele é a etmologia da palavra como sempre repete. É através daí que se compreende os índios inclusive sua origem. Ele nos mostra as palavras e noman me pois fala existiam esse idioma e aponta radicais comuns com línguas orientais. Nos conta que as palavras nesse idioma expressam o significado do objeto. Ele compara as serras da região da neblina inclusive com as muralhas da China isolando essa tribo da civilização. O padre Carlos nós falou também da unidade humana inicial e com centro numa importante pirâmide egípcia na qual está a arca da Aliança. Nos falava da comunicação pela Atlântida com a América e dos vestígios egípcios na Serra de Roraima. Nos conta também da tradição do dilúvio eu também existente entre os Yanomami e da crença do equivalente a arca de Noé na Serra de Roraima. Este padre sabe muito sobre índio e tem a ideia certa na minha a concepção de como interagir com esses povos. Não tenta como muitos outros pregar Deus e o evangelho o que é infrutífero. Como ele mesmo dizia índio não sabe o que é Deus não adianta pensar que eles têm as nossos moldes ideológicos “o segredo para se descobrir as coisas é etimologia da palavra”. Ele sempre fala que o homem busca novamente a sua unidade e para tal nos aconcelhia a estudar muito. Ele diz: ‘o homem foi feito para pensar e não pular por aí’. Roldão arqueólogo já esteve pelo pico com o Victor índio atrás de rele q não sei bem do quê. Uma coisa interessante lembra padre Carlos é que todos os índios do rio Negro inclusive para histórico possuem hieróglifos. No rio Negro há vários locais onde se acham inscrições rupestres. Luciano mamis são os únicos que não possuem qualquer expressão nesse sentido. Porém é para eles é as Almas e outras forças sobrenaturais que habitam as matas e os perturbam a noite. Não são visíveis e só aparecem para uma pessoa como nos conta as duras penas Victor. Curupira é um personagem existente para estes povos apesar de não ser um poré. Quanto aos mortos a interessante o tratamento que levam. O falecido é queimado numa fogueira e seus restos pó são postos em uma sopa para que todos da tribo tomem em cerimônia. No dia que voltamos do pico o filho do tuxaua havia falecido era uma doença congênita e no dia seguinte já havia sido processado a moda dele. Os pajé sem carregam das curas de maneiras rudes com panca da etc. O padre diz ter que interferir várias vezes para não deixar estes espancamentos piorarem o doente. O padre Carlos sempre dá remédios para os índios. Dido teve a oportunidade de provar a é pena porque ele foi administrada pelo pajé. Só que segundo ele não pode aproveitar devido a paranoia de estar sozinho e ficar receoso com os índios. Aldeia em maturacá era toda constituída de casas de Barro dispostas em círculo como é um autêntico xa Bono. A casa do tuxaua tem teto de zinco Joaquim. Outro chau é da outra aldeia é o Daniel é admirado por sua calma.
De qualquer forma tuxaua é chefe mas não é ditador. A grande Liberdade entre eles. Já houve um Sério conflito entre as 2 tribos de maturarca. Todos os índios chegaram a se pintar para a guerra. O padre que foi o negociador da paz até que conseguiu evitar morte. A volta das amizades aconteceu com festa. A morte para os Yanomami é algo que deve ser esquecido se alguém pronunciar o nome de um morto trouxe assombrações e muitas vezes esses indivíduos são mortos. Quando nascem os índios tem um animal correspondentes a eles na floresta. O que acontece com um acontece com o outro parece que ainda há tribos não contatadas mas que através de Contatos múltiplos e visitas a outras tribos conseguem as mercadorias que precisam como facões facas Panelas etc Tribos da Venezuela vem até maturar k trocar missanga por outras coisas. A língua Yanomami não tem nada a ver com as línguas dos outros grupos da região como os Tucano. Esta viagem foi interessante por mudar a minha ideia sobre grupos indígenas. Eu pensava nessas sociedades como algo estáticos intocáveis e até perfeitas agora encarou como um povo uma nação como qualquer país do mundo com sua língua própria e costumes. Se a civilização entra é algo irremediável e se formos ver talvez algo egoísta de nossa parte esconder deles as facilidades da civilização como simples facão. A cultura deles não será por isso perdida. Outros fatores os quais não me acho no nível para discutir podem ser responsáveis pelo total colapso dessas culturas. Um aspecto interessante a ser discutido porém é o real benefício disse entregar espingardas e balas. É certo que esses indivíduos sempre viveram dependentes da caça. E já tradição profundamente arraigada. No tempo de arco e flecha as dificuldades eram maiores e portanto mais tempo era dedicado à caça. Por outro lado o semi nomadismo proporcionava sempre novas áreas ricas em casa e tempo para a recuperação das antigas áreas atualmente com a limitação das terras que com o uso de espingardas de cartuchos os chamados animais estão reduzidos aos poucos até área pode ser exaurida. Isto se este tipo de exploração é realmente prejudicial à fauna. É impressionante como os índios encaram o animal como comida mesmo. Apesar de tudo a Amazônia desta região não parece muito bondosa em recursos alimentares e nunca foi. Há pouca fruta e caça. Talvez devido ao isolamento das serras. Para o padre estas eras tem muito ouro. Porém o lugar onde tem mais ouro talvez de todo o Brasil é o Rio Tucano em suas Cabeceiras locais por onde passamos ainda é inexplorado. Esta região é algo realmente fora desse mundo ou talvez realmente seja o verdadeiro mundo e eu estivesse fora dele.