MatematiQueer
Pesquisa e Extensão em Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática
Pesquisa e Extensão em Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática
Desde 2024 o MatematiQueer promove o evento internacional
Escola de Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática.
O paradigma eurocêntrico que orientou o desenvolvimento das ciências ditas exatas estabeleceu, para além de seus conteúdos disciplinares, determinados ideais em torno daquelas pessoas que estariam aptas a engajar-se neste empreendimento. As características que são usualmente associadas à figura “dO cientista”, e mesmo a dO professor de matemática espelham uma encruzilhada de normas sociais historicamente contingentes. Este profissional é facilmente representado no imaginário popular como um homem branco, cisgênero, heterossexual, cristão, de classe média ou alta, neurotípico e sem deficiências de quaisquer naturezas. Além disso, atributos como razão, inteligência acima da média, persistência na condução das pesquisas e amplo uso de ferramentas matemáticas para produção de conhecimento cooperam para conferir ao cientista o privilégio de “dizer a verdade”. Portanto, os discursos produzidos pelas ciências ditas exatas circulam na sociedade dotados de “efeitos de verdade”, ao mesmo tempo em que estabelecem os critérios para determinar a “certeza” dos discursos produzidos por outras instâncias sociais. Tais estereótipos sobre o que significa “ser cientista” limitam, por sua vez, a forma como as pessoas se relacionam com as diversas áreas científicas, em particular, com a matemática e com a física. Ao longo das últimas décadas temos testemunhado um crescimento significativo de pesquisas denunciando casos de violência sofridos muitas vezes por mulheres, pessoas negras e, mais recentemente, por dissidentes das cis-heteronormas (pessoas LGBT+) quando do estudo de algum ramo dessas ciências ditas exatas. Outras pesquisas têm buscado ainda explicitar como a visão estereotipada dO cientista atua como ficção reguladora responsável por moldar subjetividades e conferir privilégios a determinados corpos em detrimento de outros. É urgente reconhecer essas ciências ditas exatas, a matemática, como produções humanas, histórico-cultural e socialmente situadas, e que espelham as humanidades e intencionalidades políticas de quem as produz. A matemática e áreas afins devem ser “estranhadas” (na perspectiva dos Estudos Queer), assim como as práticas de ensino, para não reproduzir e naturalizar os estereótipos associados a quem se dedica e costuma ter sucesso nelas, desracializando-as, desgenerificando-as e dessexualizando-as, pelo menos. Mais que isso, criando mecanismos de fomento, visibilização e reconhecimento de corpos políticos contra-hegemônicos na produção e recriação dessas áreas a partir da valorização das diferenças.
O texto acima é adaptado do Simpósito Temático 23, "Que corpos podem ocupar as ciências ditas exatas?", proposto pelo Grupo MatematiQueer de Pesqusisa e Extensão no âmbito do XI CINABETH - Congresso Internacional de Diversidade Sexual, Etnicorracial e de Gênero. Na 1ª Escola de Estudos de Gênero e Sexualidades em Educação Matemática (E²GSEM) - evento internacional - estamos particularizando a temática para o campo da Educação Matemática, área que se dedica - em poucas palavras - a compreender processos de produção, de ensino e de aprendizagem de matemática, de modo histórico, político e socioculturamente situado. Na E²GSEM queremos refletir sobre que papeis podem ter meninas e mulheres e pessoas LGBT+ nos campos da Matemática e da Educação Matemática. Queremos discutir sobre representatividade, sobre interseccionalidade, sobre criar ambientes seguros para que essas e outras minorias sociais possam se sentir confortáveis ao escolher essas áreas profissionalmente. Queremos ter a oportunidade de conhecer melhor os campos dos Estudos de Gênero e Sexualidades, dos Feminismos, dos Estudos Queer, das Mulheridades e Masculinidades, das Epistemologias Trans e demais assuntos que se articulem ao escopo do evento. Nos interessa discutir o papel político da (Educação) Matemática, visando uma formação que prepare profissionalmente docentes a planejarem e implementarem aulas de matemática que considerem e valorizem as diferenças, que sejam antidiscriminatórias, em particular, antimachistas, antissexistas, antiLGBT+fóbias, anticapacitistas, antirracistas etc.