Healthtech
Healthtechs são startups e scale-ups no setor de saúde. Elas atuam, por exemplo, no campo de diagnósticos, tratamentos e bem-estar, com o diferencial de desenvolverem soluções tecnológicas baseadas em dados, como telemedicina, aplicativos móveis, wearables, inteligência artificial e big data.
COM OS INSIGHTS DE:
Fabiana Salles
Dasa
Renato Ferreira Santos
Aggir Ventures
Vitor Asseituno
Sami
Mauro Figueiredo
Investidor
Indicadores Setoriais
MERCADO
O Brasil tem 50 milhões de usuários no setor privado de saúde, com proeminência na faixa de 40 a 44 anos. Com grande envolvimento do governo e alto investimento privado, temos o oitavo maior mercado de saúde no mundo, movimentando 9,2% do PIB.
71,1% da população brasileira ainda depende de atendimento do SUS.
Na América Latina como um todo, os sistemas públicos são mal avaliados pela população e apresentam baixo gasto per capita. Apesar da alta proporção de usuários nos sistemas públicos de saúde, 44% dos gastos com medicamentos no continente são arcados pelos próprios pacientes.
CAPITAL
Health techs levantaram US$ 25,9 bilhões em 2022, cerca de 5,8% do total global em VC, valor menor que o de 2021 (US$ 44 bilhões). Entre os 21 novos unicórnios do setor no mundo, nenhum deles esteve situado na América Latina.
A expectativa é de aumento da verticalização das empresas nos próximos anos. Só em 2021, foram 16 M&As.
As soluções do setor de healthtech contribuem diretamente para o avanço dos seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU:
Tendências do setor segundo a Rede Endeavor
1. COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR EXIGIRÁ ATENDIMENTO FÍSICO E DIGITALIZADO (DIGITAL HEALTH)
Há uma crescente demanda por saúde digital: entre 2019 e 2022, o oferecimento de teleconsultas aumentou de 26% para 45% entre os médicos.
Entretanto, a saúde digital não deve ser 100% remota. Negócios que oferecem a possibilidade de exames presenciais e pontos físicos de atendimento passam maior segurança ao consumidor e devem alcançar um ritmo maior de vendas.
“O mix físico-digital é uma operação cara,
mas que precisa ser feita.”
FABIANA SALLES, DASA
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Digitalização
A digitalização do setor de saúde é uma tendência global, mas que cresce de forma mais acelerada em países de renda alta/média, como Noruega, Alemanha e Dinamarca. Em países da OCDE, em média, os prontuários médicos eletrônicos (EMRs) foram usados em 93% dos consultórios de atenção primária em 2021 versus 65% em países da América Latina e Caribe*. Além disso, a proporção de adultos que fizeram teleconsultas (online ou telefone) nos primeiros países citados aumentou de 30% para 50% entre 2020 e o início de 2021.
*Esses dados surgem da observação da média geral de 24 países da OCDE de 3 países membros da OCDE que fazem parte da América latina e do Caribe.
Regulações no Brasil
No Brasil, também há avanços relevantes no digital health. A telemedicina foi ampliada para profissionais como médicos, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas com a publicação da Lei nº 14.510/22 (Lei da Telessaúde) em dezembro de 2022 e a Resolução CFM nº 2.314/2022. Já a Medida Provisória nº 983/2020 possibilitou a emissão de prescrições eletrônicas para a compra de medicamentos controlados.
O governo planeja que o suporte tecnológico para o Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser elaborado considerando as necessidades e condições específicas de cada região. O uso indiscriminado de ferramentas digitais e da inteligência artificial sem um olhar analítico e crítico pode, em vez de reduzir, “aprofundar iniquidades”.
Desafios de digital health
Os principais desafios em digital health incluem: falta de regulamentação específica para as diferentes autoridades que regem assuntos; proteção de dados; e falta de integração informatizada do sistema público com o privado. A agenda de Open Health, promovida pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), pode ajudar a destravar esses gargalos trazendo maior compartilhamento de informações entre setor público e privado, mas ainda faltam maiores informações sobre seu desenvolvimento.
2. MOBILIDADE, COMO O ATENDIMENTO HOME CARE
O home care, que consiste no tratamento de pacientes em suas próprias residências, pode ser uma alternativa eficiente para prevenir infecções hospitalares e reduzir os custos hospitalares. Em 2020, foram registradas 830 empresas do segmento no Brasil (15% a mais que 2019), com um faturamento anual médio de R$ 10,6 bilhões.
No entanto, o setor ainda enfrenta certa resistência da classe médica devido à falta de protocolos e validação científica para sua adoção, além do receio de possíveis processos judiciais. Os pacientes também enfrentam desafios, como a necessidade de arcar com profissionais de enfermagem em casa, o que pode comprometer a intimidade familiar.
Já as soluções que permitem coletar exames em domicílio apresentam uma oportunidade para diminuir os custos operacionais das operadoras de saúde e hospitais. Embora ainda subutilizada em termos do faturamento, essa abordagem pode representar uma grande oportunidade de avanço no setor de saúde.
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Envelhecimento da população brasileira
A população brasileira e do Brasil e da América Latina estão envelhecendo, o que aumenta a oportunidade de mercado na região.
O Censo 2022 revela que a população brasileira está crescendo na menor velocidade em 150 anos (0,52%), o que indica o fim do boom demográfico e o aumento da população idosa no país.
Já na América Latina, a população com mais de 65 anos deve mais do que dobrar até 2050, representando mais de 18% da população. O aumento da população com mais de 80 anos será de 280% até 2050. Com isso, a proporção de adultos em idade ativa tende a diminuir.
Regulação do home care
O home care é regulado desde 2006 pela Resolução RDC nº 11 da Anvisa. Em março de 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que planos de saúde devem custear os insumos para home care, conforme prescrição médica e limitado ao custo diário em hospital.
3. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA) EM EXAMES E DIAGNÓSTICOS
A escalabilidade da IA pode ser uma solução para melhorar a eficiência dos serviços. Entretanto, ainda são conhecidos poucos casos eficientes com custo acessível, especialmente quando falamos de cuidados a curto prazo. Clínicas pequenas podem hesitar em pagar valores elevados por essas soluções, considerando a dificuldade em substituir concorrentes tradicionais. Portanto, para ampliar a adoção, é necessário tornar a IA mais eficiente.
IA para diagnóstico (Digital Therapeutics): São softwares que entregam uma intervenção terapêutica para prevenir, tratar ou administrar uma doença, com prontuários eletrônicos e sensores biométricos. No contexto de exames e diagnósticos, é essencial entender a proposta de valor, como a redução de custos ou detecção precoce, em relação ao investimento na ferramenta de IA. Notavelmente, a área de exames e diagnósticos oncológicos oferece potencial para economias significativas. Soluções que utilizam a capacidade analítica de IAs no diagnóstico de doenças como o câncer vêm sendo desenvolvidas e aprimoradas, elas possibilitam análises mais precisas de padrões complexos em exames sanguíneos e de imagem, por exemplo. Com o emprego dessa tecnologia, diagnósticos mais rápidos e precisos serão possíveis e pacientes poderão receber tratamento antecipado, com mais eficiência e menos custos.
“A Inteligência Artificial tem que ser 10 vezes mais eficiente, mais segura, e sem custos para tornar o setor mais escalável.”
RENATO FERREIRA DOS SANTOS, AGGIR VENTURES
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Novos usos de IA em health
Há diversas oportunidades para a adoção da IA no setor de saúde, como aprendizado de máquina tradicional, medicina de precisão, redes neurais, processamento de linguagem natural, robôs físicos, chatbots, saúde mental, bem-estar e telemedicina. A combinação de radiônica e deep learning em análises de imagens oncológicas também mostra grande potencial para aumentar a precisão diagnóstica.
Empresas de tecnologia e scale-ups estão sendo diligentes nessa área, desenvolvendo modelos de previsão baseados em big data para alertar os profissionais de saúde sobre condições de alto risco.
Regulação da IA
A União Europeia está na vanguarda, muito próxima de aprovar sua regulação de IA no Parlamento Europeu. As novas regras vão estabelecer obrigações para fornecedores e usuários com base no nível de risco da IA, exigindo avaliação mesmo para sistemas de risco mínimo. Canadá e OCDE estão sendo inspirados por essa regulação.
No Brasil, está em tramitação no Congresso Nacional a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (Ebia), do Ministério da Ciência e Tecnologia, que norteia ações para P&D em Inteligência Artificial, o Projeto de Lei 21/2020, e o Projeto de Lei 2338/23, apresentado pelo Senado, que propõe uma regulação mais abrangente que o PL 21/2020.
4. HEALTHTECHS NICHADAS EM PÚBLICOS ESPECÍFICOS
As healthtechs estão se especializando em públicos específicos visando aumentar o valor ao longo do tempo (LTV) sem envolver conflitos éticos. A existência de mercados ainda não explorados proporciona oportunidades para gerar tração em vendas, tornando esses nichos atraentes para grandes players. Algumas áreas de foco promissoras incluem psiquiatria, reabilitação, transtornos mentais, fertilidade e prevented care. Além disso, sistemas SaaS para empresas, plataformas de busca por médicos e clínicas e software para otimização de fluxos de trabalho estão atraindo consideráveis investimentos no setor.
O mercado de desintermediação, buscando mais eficiência na relação entre operadoras e empresas de planos de saúde, é outra oportunidade.
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Desafios do mercado de saúde do Brasil
Apesar do tamanho do mercado de saúde, o Brasil tem como um dos principais desafios a falta de acesso democrático à medicina personalizada. Em um cenário ainda complexo e fragmentado, health techs tem grande espaço para combater as ineficiências do setor.
Exemplos da Rede Endeavor
Brasil, Ministério da Saúde (2023). Setor fecha 2022 com 50,5 milhões de beneficiários em planos de assistência médica.
CB Insights (2022). State of Digital Health 2022 Report.
CNN (2023). Tecnologia de inteligência artificial identifica sinais precoces de câncer de mama.
Agência Brasil (2022). Pesquisa aponta que 33% dos médicos do país atenderam via teleconsulta.
Folha de São Paulo. (2023). Brasil pode liderar a regulamentação da inteligência artificial.
OCDE (2023). Health at a Glance: Latin America and the Caribbean 2023.
Estadão (2023). Uso da tecnologia na saúde deve ser crítico e personalizado para cada demanda, diz nova secretária.
IBGE (2019). Pesquisa Nacional de Saúde.
IBGE (2023). Censo Demográfico 2022 (dados preliminares).
ICLG (2023). Practical cross-border insights into digital health law.
Latitud (2022). The LatAm Tech Report 2022.
Infomoney (2023). Open Health: plataforma promete criar prontuário único e agilizar a portabilidade entre planos de saúde.
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (2021). Inteligência artificial.
National Center for Biotechnology Information: Davenport, T. e Kalakota, R. (2023). The potential for artificial intelligence in healthcare.
Distrito (2022). Healthtech Report 2022.
Parlamento Europeu (2023). Lei da UE sobre IA: primeira regulamentação de inteligência artificial.
Saúde Business (2021). Atenção domiciliar cresce no Brasil e mostra uma tendência na saúde.
Saúde Digital News (2023). O passo a passo da regulamentação da telessaúde no Brasil.
Superior Tribunal de Justiça (2023). Plano de saúde deve custear insumos indispensáveis na internação domiciliar.