Fintech
Fintechs desenvolvem novas soluções para operações financeiras, em uma gama de serviços que abrangem pagamentos digitais, empréstimos peer-to-peer, gestão de investimentos, blockchain, seguros, entre outros, impulsionando a inclusão bancária.
COM OS INSIGHTS DE:
Lucas Vargas
Nomad
Ben Gleason
Kamino
Edson Santos
Colink
Fernando Fontes
CERC
Mario Mello
Safra
Indicadores Setoriais
MERCADO
Há 188,3 milhões de bancarizados no Brasil (+14% entre 2019 e 2021).
73% da população brasileira possui internet banking, à frente de muitos países da América Latina, como Chile, Argentina, Colômbia, México e Peru.
Os desbancarizados são 16% da população adulta no Brasil. 53% dos profissionais do mercado veem que esta é uma área próspera de atuação.
CAPITAL
Entre 2021 e 2022, o funding das fintechs despencou de US$ 4,1 bilhões para US$ 2,3 bilhões.
Porém, o setor tem se mostrado resiliente. Ele se manteve como o maior receptor de dólares na América Latina, representando 29% de todo o VC de 2022. Além disso, 2023 tem sido mais promissor para a região do que o restante do mundo. Fintechs latino americanas arrecadaram US$ 500 milhões no Q2 de 2023, 150% a mais que o Q1, em 69 aportes. Enquanto isso, no cenário global, houve queda de 75% nos dólares entre o Q1 e Q2.
Com menos capital disponível, o M&A no setor deve aumentar: M&A para o mercado de fintech B2C chegou a uma-alta histórica de 26 aportes em 2021. A tendência é que o movimento de consolidação continue ou até se intensifique.
As soluções do setor de fintechs contribuem diretamente para o avanço dos seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU:
Tendências do setor segundo a Rede Endeavor
1. NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO A PARTIR DE NOVAS REGULAÇÕES
Com o início e evolução de iniciativas regulatórias como o PIX, Drex (nome do Real Digital), Open Finance, simplificação de licenças, sandbox e a abertura do mercado de recebíveis, muitas soluções inovadoras estão nascendo e prosperando.
O Brasil é pioneiro em algumas dessas regulações e inovações. O PIX para pessoa física, está em estágio relevante, mas ainda estamos observando essa curva de adoção no B2B, e aguardando novas aplicações como parcelado.
No Open Banking, agora Open Finance, ainda há arestas no acesso dos dados que podem ser aprimorados.
Os sandboxes possibilitam que fintechs criem soluções com novas tecnologias como blockchain, inteligência artificial e data analytics. Já foram três programas desde 2019: BCB, CVM e SUSEP. Porém, mais da metade das fintechs não pretende participar de algum sandbox regulatório ou não tem conhecimento sobre o assunto, o que indica que ainda falta melhor divulgação sobre o tema.
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Integração entre plataformas
O Banco Central sinalizou uma integração entre Pix, Open Finance e Drex para promover mais eficiência e segurança nas transações, mas ainda sem definir datas para a operação.
PIX
PIX já é o meio de pagamento mais utilizado, com volume de transações que supera cartões de crédito, débito e boleto, contribuindo para a inclusão digital. O BCB continuará adicionando features ao PIX, como parcelamento, saque e cross-border, criando funcionalidades parecidas com a de um cartão de crédito. Novas formas de pagamento, como NFC, Bluetooth, RFID e reconhecimento facial devem ser incluídas.
Ademais, uma das próximas fases do sistema PIX é a oferta de crédito, sendo conectada com o Open Finance. O objetivo do Banco Central é que novas formas de financiamento sejam criadas por meio dessa intermediação.
O Pix Automático, como está sendo denominado pelo Banco Central, vai permitir a realização de pagamentos correntes com autorização prévia
Sistema Financeiro Aberto (Open Finance)
É o novo termo usado pelo BCB para se referir ao Open Banking. Dividido em etapas, a Fase III, iniciada em 2022, permitiu o lançamento de produtos como third-party app (pagamento diretamente da conta do consumidor sem a necessidade do mesmo sair do aplicativo). A Fase IV, a ser implementada em 2023, expandirá o compartilhamento de dados de produtos de investimento, seguros, câmbio, previdência, entre outros:
Open Investment: informações sobre produtos e serviços de investimento, como ações, fundos de investimento, títulos e outros ativos, permitindo comparação de portfólio entre as instituições participantes.
Open Insurance: informações sobre apólices, prêmios e sinistros.
Previdência privada e ao câmbio: compartilhamento de dados sobre produtos, tarifas, e taxas de câmbio praticadas.
Moeda digital brasileira
O Drex terá enfoque na programabilidade por meio do blockchain, incluindo tokens lastreados em Depósitos Bancários à Vista tokenizados, moedas eletrônicas e até Títulos Públicos Federais tokenizados. Está atualmente em fase de testes de privacidade e programabilidade com 14 instituições e consórcios. O lançamento para a população está previsto para o fim de 2024.
Duplicatas eletrônicas
A duplicata é um título de crédito emitido pelo fornecedor de bens e serviços (sacador) contra o comprador desses bens e serviços (sacado). Recentemente, o Banco Central promulgou o aprimoramento da regulamentação das duplicatas escriturais, ou eletrônicas. O processo de implementação será feito em etapas, mas o mercado tem parecer favorável à medida, em especial por aumentar a segurança jurídica, beneficiando PMEs, além do potencial de até R$ 15 trilhões por ano nesses títulos de crédito.
2. INFRAESTRUTURA DESENVOLVIDA
Recentemente, tivemos um movimento de desenvolvimento de infraestrutura para o mercado de fintech. Se antes muitas soluções tinham que ser construídas in-house, hoje em muitos casos não é mais necessário. Isso possibilita que a estratégia de “go-to-market” seja para empresas do setor.
Oportunidades para o setor “Office of the CFO”, com facilitação de processos para contadores, engenheiros e times de finanças. Muitas fintechs em early stage estão tentando simplificar o fluxo entre fontes de dados díspares e planejamento financeiro (ERP finance).
Infraestrutura fintech padrão atendendo às necessidades de empresas de criptomoedas e Web 3.0. Novas soluções para questões relacionadas à KYC (Know Your Customer), serviços bancários e pagamentos devem surgir.
Evolução do Open Banking para Open Finance e, eventualmente, Open Data (ver tendência 1)
Os principais destaques são em BaaS, lending marketplaces e outros negócios intensivos em capital e que têm alta sensitividade para o momento de mercado.
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Aumento de serviços financeiros oferecidos por empresas não bancárias como Apple e Walmart, API-ificação geral e novas FinOps (engenharia de nuvem).
Adoção acelerada de serviços financeiros embutidos em marketplaces, plataformas e empresas SaaS verticais.
3. NOVOS MODELOS DE CRÉDITO (LENDING) E BANKING DEVIDO AO CENÁRIO DE JUROS E INFLAÇÃO
O primeiro trimestre de 2023 apresentou queda de dólares vestidos em todos os estágios de Venture Capital nos mercados globais. Neste cenário, fintechs podem contribuir para a diminuição no gap de financiamento de negócios early stage, com avaliações de histórico financeiro e garantias menos restritivas.
A desintermediação da oferta de produtos financeiros dos bancos tradicionais vem fomentando a criação de novos modelos de negócio. Com a ampliação do Embedded Finance (conjunto de serviços financeiros), as mudanças do setor de BaaS (Bank as a Service) são intrínsecas na jornada de transformação do setor bancário.
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Cenário Macroeconômico
Cenário de juros altos no Brasil: A taxa de juros caiu para 13,25% (redução de 0,5p.p) em agosto. A previsão do mercado é que os juros cheguem a 11,75% até o fim de 2023, segundo o Banco Central. Apesar da previsão de juros estarem mais otimistas devido à deflação (o mercado financeiro reduziu pela 5ª semana consecutiva a estimativa da inflação para 2023 em junho), a previsão Selic de 2026 permanece em 8,75%, o que indica alto custo de crédito no longo prazo.
4. DIGITALIZAÇÃO DA JORNADA DE PAGAMENTOS B2B
Embedded Finance (conjunto de serviços financeiros), como serviços de gestão financeira, além de soluções para intermediação dos pagamentos (emissão de boletos, antecipação de recebíveis, gestão de caixa, conta investimento, empréstimos e outros produtos).
Complementação ao sistema do PIX na digitalização do consumo.
Consumer fintechs, com vantagens de aquisição sustentáveis a longo prazo.
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Tamanho do mercado e Oportunidade de Expansão
O mercado de pagamentos B2B deve subir de US$ 120 para US$ 200 trilhões em 2028. No mundo, 80% dos pagamentos de faturas de pequenos negócios são feitos manualmente e apenas 10% são feitos online, o que abre oportunidade de mercado para as fintechs.
Oportunidade de expansão: Na América Latina, segundo o Gartner, apenas 6% das empresas utilizam automação em seus processos financeiros e a maioria delas têm pouco limite para transações com cartões de crédito (de ticket médio alto).
Instituições globais continuam a simplificar operações em moeda estrangeira, como FSB e BIS. O BIS, através do projeto Nexus (em fase de testes), pretende integrar países com sistemas de pagamentos semelhantes ao Pix. O Banco Central pretende liberar os protocolos do Pix para que outros governos o copiem gratuitamente.
O Brasil tem compradores com fluxos de pagamentos lentos para o vendedor (após emissão de nota fiscal; após entrega do serviço ou produto; após 30, 60 ou 90 dias, etc), e fraudes atrelados à complexidade do sistema de notas fiscais a depender do segmento da empresa.
Unbundling de licenças
O processo de obter licenças como SCD, SEP e IP ficou mais ágil. A possibilidade de empresas que não são IFs usarem licenças de terceiros para oferecer soluções financeiras pode acelerar a adoção do embedded finance.
Gargalos no acesso a crédito
As pequenas e médias empresas (PMEs) na América Latina sofrem com uma lacuna de financiamento de cerca de US$ 1,2 trilhão. Com o aumento das transações de comércio eletrônico B2B, as soluções BNPL (buy now, pay later) devem crescer. Um dos fatores que impulsionam essa solução é o crescimento do e-commerce na região.
Exemplos da Rede Endeavor
a16z (2022). Foundations for Successful Fintech Infrastructure (and Several Tradeoffs to Consider).
Accel (2022). Prepared Mind: The fintech infrastructure landscape and four predictions for the future.
Apex Hatchers (2023). Fintech Lending: A Game-Changer for scale-up Financing in India.
Atlantico (2022). Latin America Digital Transformation Report 2022.
Banco Central (2023). Focus: 01 de setembro de 2023.
BIS Innovation Hub (2023). Nexus Overview.
comSore (2021). Top 10 Countries by Online Banking Penetration.
Banco Central (2023). Live BC #14: PIX - como ele mudou e continuará mudando nossa vida?
Contxto (2023). Fintech in LatAm and the Caribbean attracted US$ 500 million in funding in Q2 of 2023.
Deloitte (2022). Embedded Finance e a disruptura dos serviços financeiros.
Finsiders (2022). A nova (e multi-trilionária) fronteira das fintechs de pagamento B2B.
InfoMoney (2023). BC planeja integrar Pix, Open Finance e Real Digital no Brasil: entenda os benefícios disso.
LatAm Intersect PR e Fintech Nexus (2023). Relatório sobre Fintechs da América Latina.
PwC e ABFintechs (2022). Fintech Deep Dive 2022.
TechCrunch e CB Insights (2023). State of Fintech Q2 report.
Latitud (2022). The LatAm Tech Report 2022.
Valor Econômico (2023). BC dá passo inicial para a duplicata eletrônica.
Startups (2023). Investimentos em startups brasileiras caem pela metade em 2022.