Agrotech
Agrotechs são startups e scale-ups que desenvolvem soluções inovadoras para a produção agropecuária, por meio de automação, análise de dados e monitoramento. Com isso, aprimoram processos na agricultura e contribuem para mitigar o desperdício de alimentos e as mudanças climáticas.
COM OS INSIGHTS DE:
Fábio Kestenbaum
Positive Ventures
Vitor Mascarenhas
EDP Ventures
Mônica Blatyta
Solum Capital
Francisco Jardim
SP Ventures
Indicadores Setoriais
MERCADO
O agronegócio é o segundo maior setor do país — representando 27,4% do PIB e 20,1% do total de empregos — e deve ter um crescimento expressivo este ano: 10,9%, segundo o Ipea.
Há 1.703 agrotechs no Brasil, sendo mais proeminentes nos ecossistemas das regiões Sudeste (61,4%) e Sul (25,6%). São Paulo lidera o número de empresas, com 47% do total nacional.
CAPITAL
As agrotechs representam 17% de todo os investimentos em venture capital do Brasil. Por ser um setor ainda no estágio inicial, o funding se concentra em seed (54,2%)
e pré-seed (20,9%).Com a retração nos mercados de venture capital, o funding global no setor caiu de US$ 53,2 bilhões para US$ 29,6 bilhões entre 2021 e 2022. Na América Latina, a queda foi de 39%.
Porém, o Brasil segue como maior mercado da América Latina, com US$ 765 milhões levantados em 2022
(46% do total), em 86 aportes, seguido pela Colômbia e o México. Além disso, 2022 teve crescimento expressivo em alguns segmentos em relação a 2020, como agrifood e e-grocery — 85% e 188%, respectivamente.Especialistas sugerem que há liquidez o suficiente para financiar o setor, via financiamento privado e financiamento público. Estima-se subsídios públicos para agricultura na ordem de $670 bilhões de dólares por ano no mundo. Adicionalmente, estima-se $630 bilhões de dólares de capital privado direcionado a “food systems”.
As soluções do setor de agrotech contribuem diretamente para o avanço dos seguintes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU:
Tendências do setor segundo a Rede Endeavor
1. AUMENTO DA INTEGRAÇÃO DO SETOR COM PROCESSOS SUSTENTÁVEIS E ESG
O setor de agro possui um impacto significativo para as mudanças climáticas, uma das pautas mais relevantes do momento, inclusive para os negócios. A tendência é que os processos de agro integrem cada vez mais soluções sustentáveis e utilizem ESG em seu escopo, tais quais:
Alternativas financeiras desenvolvidas exclusivamente para o agronegócio. Uma tendência observada é o uso de blockchain para reduzir custos de transação, reduzir tempo de pagamento e eliminar possíveis riscos nas transações financeiras.
Otimização da produção, considerando toda a cadeia de suprimentos, com foco em conectar etapas da cadeia produtiva, reduzir ineficiências e desperdícios e, por fim, possibilitar que agricultores monitorem sua produção.
Automatização de processos, com uso de Business Intelligence (BI) e Machine Learning, direcionado a melhorar a eficiência, consistência e sustentabilidade. Esse processo pode ser feito por imagens de satélite, análise de dados (big data), plataformas de gestão e métodos tecnológicos para reduzir riscos de sustentabilidade.
"Agro é um setor resiliente, que cresce há muitas décadas, através de ciência e empreendedorismo. O agro tem valor agregado, complexo industrial de alta tecnologia e biotech upstream e downstream. Não tem como falar de reduzir emissão sem falar do agro, pois é o setor mais exposto à mudança climática.”
FRANCISCO JARDIM, SP VENTURES
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Tecnologias sustentáveis
No Brasil, a agricultura continua a ser intensiva em emissões de gases, especialmente na pecuária. Para evitar que o aumento da produtividade agrícola gere ainda mais emissões e outros impactos ambientais, o setor precisa se engajar numa transição substancial para práticas e tecnologias focadas na proteção florestal e baixo carbono.
Potencial de investimento no setor
Estima-se que US$ 1,9 trilhão serão investidos nos próximos 30 anos para implementar todas as soluções ESG necessárias para a agricultura.
Plano de Transição Ecológica do Governo Federal
O Plano de Transição Ecológica, elaborado pelo Ministério da Fazenda, terá aproximadamente 6 eixos, dentre eles, finanças sustentáveis para criação do mercado regulado de carbono, emissão de títulos soberanos sustentáveis para o setor e a reformulação do Fundo Clima para financiar atividades que envolvem inovação tecnológica e sustentabilidade. Além disso, o governo pretende criar uma taxonomia para negócios e setores com impacto socioambiental para o país. Por fim, o plano deve alterar medidas tributárias e contábeis para estimular o mercado voluntário de carbono.
Plano SAFRA 2023/2024
O Plano Safra 2023/2024 é um programa do Governo Federal para apoiar o setor agropecuário, oferecendo linhas de crédito, incentivos e políticas agrícolas para os produtores rurais, desde os agricultores familiares até os mega produtores.
Esta edição do plano incentiva os sistemas de produção ambientalmente sustentáveis, com redução das taxas de juros para recuperação de pastagens e premiação para os produtores rurais que adotam práticas agropecuárias consideradas mais sustentáveis.
2. SUBSTITUIÇÃO DE ALIMENTOS DE ALTA EMISSÃO POR ALTERNATIVAS BIOTECNOLÓGICAS E FOOD WASTE
A comida está sendo reinventada para ser mais sustentável. Alimentos à base de plantas, carnes cultivadas em laboratório e à base de fermentação, sem insumos de origem animal, são bons exemplos de como a fonte do alimento está sendo redefinida. Essas soluções alimentares, geradas através de biotecnologia, serão cada vez mais demandadas nos próximos anos.
Ao mesmo tempo, negócios voltados para a redução do desperdício de comida (food waste) também encontram cada vez mais espaço no mercado, com alto potencial para reduzir o uso de combustíveis fósseis. Essa é uma ação necessária para reduzir desperdícios pós-produção. Além disso, é necessário promover dietas de baixo carbono, considerando que a produção de certos alimentos (como arroz e carne vermelha) produzem alto nível de carbono e gás metano. Adicionalmente, torna-se essencial a gestão de desperdício de alimentos para que os resíduos não fiquem em aterros sanitários.
Os mercados de crédito de carbono cresceram significativamente nos últimos anos, em conjunto com outros métodos de mensuração de emissões de gás metano, voltados a mensurar e endereçar emissões de desperdício de alimentos.
O mercado de proteínas alternativas deve movimentar de US$ 45 bilhões a US$ 125 bilhões mundialmente nos próximos 20 anos. Se o segmento amadurecer sua capacidade de produção e distribuição, substituirá 30% de todo o consumo de carne até 2050, contribuindo para a redução das emissões e do desmatamento, principalmente em áreas que hoje são utilizadas em pastagens e cultivo de grãos para ração dos animais.
“Uma tendência é o surgimento de negócios voltados para food waste, que trata de uma questão impactante: o desperdício de comida, que é responsável por muita queima de combustível fóssil, e que compõe uma tese dentro da questão climática.”
FABIO KESTENBAUM, POSITIVE VENTURES
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Demanda global por alimentos
A demanda global por alimentos aumentará em 30% até 2050, criando um desafio sem precedentes para a agricultura alcançar a segurança alimentar. O Brasil é um dos mercados mais promissores para atender a esta demanda: é o 4º país com mais hectares de terra (62 mi), o que tem maior concentração de água doce no mundo (15%) e produz anualmente duas safras com alto rendimento.
Já no curto prazo, a disponibilidade de grãos e insumos deve continuar sendo influenciada principalmente pela guerra da Ucrânia.
Mobilização internacional
Em 2022, a COP 27 destacou a necessidade de quebrar silos nos sistemas de agricultura e integrar sistemas financeiros relacionados ao clima. Pagamento para programas voltados ao meio-ambiente é uma solução para monetizar benefícios que incluem mitigação da mudança climática e promoção da biodiversidade.
3. CRESCIMENTO DOS SEGMENTOS DE AGROFLORESTA E REFLORESTAMENTO
A necessidade de sistemas agrícolas que coexistem com árvores e o reflorestamento intencional de áreas desmatadas está impulsionando novos modelos de negócios no setor.
Soluções com integração tecnológica na cadeia de valor do agro, especialmente na parte de geração, estão tornando os sistemas de monitoramento da colheita e do plantio mais baratos e eficientes.
“Mudanças climáticas são um fator para o desenvolvimento do agronegócio sustentável - agclimate techs mostram que produtividade e preservação não são antagônicas, mas sim complementares.”
MÔNICA BLATYA, SOLUM CAPITAL
CENÁRIOS E POLÍTICAS QUE INFLUENCIAM ESSA TENDÊNCIA
Pressão internacional pela conservação de biomas
Há uma crescente pressão internacional em torno da preservação da Amazônia e do Cerrado, biomas que prestam serviços ecossistêmicos vitais ao Brasil, à América do Sul e ao mundo. Estima-se que o impacto da Amazônia atingir um patamar irreversível de desmatamento custará 9,7% do PIB brasileiro nos próximos 30 anos. O governo federal anunciou recentemente o novo PPCDAm — Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal — estabelecendo diretrizes para viabilizar o desmatamento zero até 2030.
Captação por meio do Fundo Amazônia
O fundo recebe doações para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento na Amazônia, no restante do Brasil e em outros países tropicais.
Plano de Reflorestamento do BNDES
Atualmente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estuda implementar um programa de incentivo ao reflorestamento da Amazônia, com o objetivo de zerar as emissões de gases estufa do Brasil. Esse movimento é parte de uma pressão internacional para que bancos de fomento financiem projetos voltados a sustentabilidade.
Exemplos da Rede Endeavor
Agfunder (2022). AgFunder AgriFoodTech Investment Report 2022.
Agfunder (2023). AgFunder AgriFoodTech Investment Report 2023.
Agfunder (2022). Latin America AgriFoodTech Investment Report 2023.
Banco Mundial (2023): Food Security Update.
Ministério da Agricultura e Pecuária (2023). Plano Safra 2023/2024 incentiva sustentabilidade e conta com 13 programas para investimentos
Banco Mundial (2023). Relatório sobre o Clima e Desenvolvimento para o país.
BCG (2022). Brazil Climate Report 2022.
Distrito e Instituto Caldeira (2022). Porcentagem de VC recebido por Agrotechs: Valor obtido com base no total de dólares de 2022 no Brasil (US$ 4,48 bilhões).
Banco Mundial (2022): State and Trends of Carbon Pricing.
Folha de São Paulo (2023). BNDES prepara plano de reflorestamento da Amazônia e fala em zerar emissões do país.
Climate Policy Initiative (2023): Landscape of Climate Finance for Agrifood Systems.
Estadão (2023). Conheça as projeções e tendências do agronegócio para 2023.
Folha de S. Paulo (2023). Lula anuncia plano contra desmatamento na Amazônia em meio a esvaziamento do Meio Ambiente.
Latitud (2022). The LatAm Tech Report 2022.
McKinsey & Company (2021). Cultivated meat: Out of the lab, into the frying pan.
SP Ventures, Homo Ludens e Embrapa (2022). Radar Agtech: mapeamento das scale-ups do setor agro brasileiro.
S&P (2020): How is agriculture impacted by ESG investing?
Valor Econômico (2023). Plano de Transição Ecológica do governo terá seis eixos.