Intersetorialidade

Existem vários bairros que não estão referenciados nas micros noroeste e entendemos que essa discussão e esse georreferenciamento precisará ser feito dentro da Macro Intersetorial e debatido junto aos órgãos centrais da PMC. Também estamos tratando nos coletivos da educação como as secretarias necessitam organizar as divisões administrativas do município de modo que todas as políticas tenham a mesma abrangência territorial.

           A região noroeste chama a atenção pela sua desigualdade social e pela pobreza no território. Houve um crescimento populacional nos últimos anos e os aparelhos públicos distribuídos pelo território não acompanharam esse crescimento, causando uma precarização na garantia dos direitos sociais para essa população pelo aumento de demanda. Em relação aos equipamentos urbanos e o uso social percebe-se que estão dispersos territorialmente, ao passo que as redes identificam a necessidade de pensarmos na pobreza estendida seguindo o corredor da Avenida Jonh Boyd Dunlop até a divisa com os municípios de Monte Mor e Hortolândia.

Nas palavras de Inojosa (2001) “o que se quer, muito mais do que juntar setores, é criar uma nova dinâmica para o aparato governamental, com base territorial e populacional.” Significa superar as cláusulas do conhecimento, o mundo encaixotado, ver a vida cidadã como um conjunto, pensar que os resultados precisam transformar a vida no território na diversidade que possui. Intersetorialidade vai além de reunir serviços para discussão de casos, atendimento de uma mesma família em vários serviços, entre outros formatos em que podemos considerar uma aproximação entre os setores, entende-se aqui a intersetorialidade enquanto princípio, buscando resultados sinérgicos capazes de promover mudança na vida do indivíduo e do coletivo.

A Região Noroeste é um território marcado pelas lutas políticas e sociais na defesa da vida incondicional. Os governos eleitos no processo de redemocratização do País, depois de 24 anos de ditadura militar e, principalmente, nas últimas duas décadas, ora implementam políticas públicas minimalistas de resgate do bem estar social, ora implementam o desmonte dessas mesmas políticas, mostrando claramente a polarização do poder no controle e distribuição das nossas riquezas, como acontece atualmente nos governos eleitos em todos os níveis do estado.

A população do território Noroeste sofre com o desemprego, habitação precária, trabalho e renda relegado a 2º plano, saúde sem remédio, sem exames, sem médicos e toda a estrutura social, garantidora de direitos, totalmente comprometida. O Estado se faz efetivo no território pelas mãos dos servidores públicos de instituições governamentais e organizações da sociedade civil e das pessoas militantes e engajadas nos movimentos e nas lutas.

Da mesma forma que a ciência “retalhou” a natureza e o ser humano em partes, com a justificativa de que a especialização aprofunda o conhecimento, também a ação do governo e das políticas públicas está “retalhada” em setores fechados dentro de seus muros e praticamente sem comunicação entre si: saúde, educação, assistência social, transporte, habitação, etc. Porém, assim como a medicina tem apontado a necessidade de uma visão mais integralizada do ser humano, para as políticas públicas, este olhar mais holístico, menos fragmentário, permite uma visão plural dos problemas e com isso o encaminhamento de propostas mais consistentes, bem como a otimização de recursos que atendam às demandas sociais.

Com a Pandemia pode-se visualizar o agravo da situação da fome, do desemprego e de todos os tipos de situações de vulnerabilidade social. Essa é uma realidade característica no cenário social da região Noroeste. As violações de direitos presentes no território podem ser categorizadas como: inserção precária e informal no mercado de emprego; trabalho infantil; exploração comercial e sexual de crianças e adolescentes; varejo de entorpecentes; violência doméstica e urbana; discriminação sócioterritorial e apartação e isolamento social. Esse quadro faz com que todos os serviços garantidores de direitos voltem a ter uma atenção dobrada para enfrentar o que já entendiam superados nas políticas públicas.

Diante dessa situação, há mais de 20 anos no território da região Noroeste de Campinas, os serviços dos diversos setores da administração pública se encontram regularmente na reunião denominada Intersetorial Macro, com o envolvimento e participação da comunidade, e discutem tanto questões do território, quanto questões mais conjunturais que afetam o desenvolvimento das ações locais. As reuniões de Intersetorial Macro reúnem as discussões das intersetoriais Micro que são conduzidas nas microrregiões, elas identificam e encaminham temas locais e propostas para estas discussões.

A intersetorialidade na região Noroeste é, por um lado, o eixo central de atuação das políticas públicas e sociais; por outro, um grande desafio no cenário contemporâneo de minimização do Estado e limitação de direitos sociais.