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Cinema na Quarentena

Filme sobre a Grande Depressão – “O Grande Gatsby”

“O Grande Gatsby” é um filme de 2013 baseado na obra de Scott Fitzgerald, um autor americano conhecido pelas suas descrições da “era do Jazz”, que conta com atores como Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Isla Fisher e Elizabeth Debicki. É um drama sobre os “Loucos Anos Vinte” (The Roaring Twenties), que estão vastamente representados ao longo deste.

Resumidamente, o filme acompanha Nick Carraway, um jovem que chega a Nova Iorque em 1922 (em plena época de prosperidade americana), que se torna vizinho de um milionário, conhecido pelas suas festas aparatosas, de quem fica amigo, Jay Gatsby. A história desenrola-se depois à volta do romance proibido deste com a prima de Nick, Daisy, que estava casada com Tom Buchanan, sendo assim Nick atraído para o mundo surreal dos milionários e das suas ilusões.

Este filme está historicamente contextualizado no após I Guerra Mundial nos EUA e na aparente prosperidade deste país, sendo visíveis vários dos aspetos que levaram à crise de 1929 («a Grande Depressão»), como a compra e venda especulativa de ações e o estilo de vida desenfreado que era suportado por dívidas.

Para além disso, está representado a recente emancipação da mulher, principalmente na personagem Jordan Baker, uma mulher independente e atlética, que sentia um poder recentemente obtido, presente nesta nova geração de mulheres. Foi também o tempo das flappers, jovens que usavam muitas joias, plumas, o cabelo curto e dançavam o Charleston (típico desta altura), facilmente observável no filme.

Durante a década de vinte, a produção e venda de automóveis aumentou muitíssimo, tornando-se estes num símbolo social. Os carros também têm uma relevante função no “Grande Gatsby”, quer no interesse do Wilson no carro do Buchanan, quer na tragédia que ocorre enquanto a Daisy conduz o carro de Gatsby.

Em janeiro de 1919, o Congresso dos EUA retificou a 18ª Emenda à Constituição, que proibia a produção, venda ou transporte de bebidas alcoólicas a nível nacional, pois todo o liberalismo e abuso de álcool estava, segundo o governo e elementos conservadores, a destruir famílias e vidas. No entanto, a população continuava à procura desta droga, o que levou à sua distribuição ilegal. Nas festas de Gatsby e nas visitas a Nova Iorque ao longo do filme, observa-se a grande quantidade de álcool ingerida apesar da proibição, e está implícito que o dinheiro que Jay possui se deve a este negócio ilegal, que tem como sócio Meyer Wolfsheim, inspirado em Arnold Rothstein.

Rothstein, que conseguiu o monopólio da prostituição e do jogo, foi um importante participante na era da Tammany Hall, uma organização política que controlava Nova Iorque e garantia a persistência da corrupção, como o contrabando. No filme, Gastby é levado para a vida de crime organizado de Wolfsheim e torna-se muito respeitado e reconhecido, tendo direito a tratamento especial por parte da polícia e participando em almoços prestigiados.

Também é mencionado o escândalo Black Sox, em que, durante a Série Mundial de 1919, oito jogadores da equipa do Chicago White Sox fizeram uma oferta a Joseph Sullivan e a Arnold Rothstein que consistia na perda intencional dos seus jogos, com benefícios monetários (através de apostas) para todos os envolvidos.

Ainda no início do filme, Daisy diz uma frase que me marcou: “I hope she’ll be a fool – that’s the best thing a girl can be in this world, a beautiful little fool” (eu vi o filme em inglês). Ou seja, ela informa Nick que espera que a sua filha seja uma “tola bonita”, como forma de criticar a sociedade do seu tempo, que só dava valor à aparência de uma mulher e não à sua inteligência, mostrando assim o seu desagrado com esta cruel realidade, mas, infelizmente, aceitando-a sem a tentar mudar. Isto sugere que Daisy já teve várias experiências sexistas ao longo da sua vida que contribuíram negativamente para a sua personalidade e visão do mundo. Esta frase tem, assim, um grande valor para mim, pois penso que se pode aplicar à sociedade atual, que, infelizmente, ainda dá muita importância à aparência, apesar de já termos uma população mais informada e educada.

Logo, “O Grande Gatsby” possuiu um grande valor histórico, dando-nos a conhecer a sociedade de Nova Iorque nos “Loucos Anos Vinte”, mas também detém morais que se podem aplicar à atualidade.

Mariana Fernandes