Memorial-Sociedade Musical Democrata fundada 7/SET/1896 Pelotas RS

MEMORIAL SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DEMOCRATA ESPAÇO DE NEGROS E NEGRAS.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTORIA E ANTROPOLOGIA

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

MEMORIAL SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DEMOCRATA

Paulo Sergio Medeiros Barbosa

Pelotas, março de 2006

SUMÁRIO

SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DEMOCRATA----------------------------------------------------------------------------------------------------------------04

VERBETE ---------------------------------------------------------------------------------------05

A FESTA E A POLÍCIA--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------07

A UNIVERSIDADE-------------------------------------------------------------------------------09

A MEMÓRIA É UM CAMPO DE BATALHA. A MEMÓRIA É SEMPRE SOCIAL------------------------------------------------------------------------------------11

A ESCOLA: -------------------------------------------------------------------------------------12

A CARREIRA MILITAR--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------14

O ESPAÇO DA FÁBRICA-------------------------------------------------------------------------14

AS CHARQUEADAS E AS RELAÇÕES DE TRABALHO ESCRAVO----------------------------------------------------------------------------------------------14

O LOCAL ONDE SE PRODUZ O CHARQUE-------------------------------------------------------16

A FORMA DE PRODUÇÃO DO CHARQUE: ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------18

A OUTRA FACE DA HISTÓRIA: O RETORNO Á ESCOLA---------- --------------------------------20

A UNIVERSIDADE DE NOVO-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------22

O NEGRO NAS LEITURAS ----------------------------------------------------------------------24

O MUSEU DA BARONESA: NOVAS DESCOBERTAS ---------------------------------------------------------------------------------------------------------25

ESSA BANDA ME CHAMOU A ATENÇÃO -------------------------------- ------------------------28

O ARQUIVISTA NO TERRENO -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------35

NO FINAL: A OPÇÃO PELO CAMPO DA MEMÓRIA-----------------------------------------------39

MEMORIAL SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DEMOCRATA-----------------------------------------------------------------------------------------------------50

CONCLUSÃO-----------------------------------------------------------------------------------51

Bibliografia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------52

Fotos:

SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DEMOCRATA1

A Sociedade Musical União Democrata – SMUD — teve sua banda tombada no ano de 2004 como Patrimônio Imaterial da cidade de Pelotas e do estado do Rio Grande do Sul ( lei 5095, artigo 21’ inciso ‘V’ e do decreto lei de agosto de 2000).

Idealizada em 1890, pelos músicos Adolfo Jacinto Dias, João Batista Lorena e João Vicente Silva Santos, como uma sociedade musical instrutiva, recreativa e beneficente composta por um numero indeterminado de indivíduos, com distintas nacionalidades, cores e cultos, tem sua fundação em sete de setembro de 1896.

O nome “Democrata”, inspirado pelo espírito católico, sugere a condição de um espaço favorável a arte musical de caráter inter-étnico e distinto em relação àquele representado pelas sociedades musicais da época onde não era permitida a mistura étnica e onde os negros não tinham acesso.

A primeira diretoria da SMUD foi eleita no dia 24 de janeiro de 1897 tendo como componentes: Presidente: Bernardino de Souza Gonçalves; popularizado em Pelotas com o “Armazém As Duas Mil Palmeiras” ( localizado a rua Andrade Neves ); vice presidente: Antonio Duarte Braga; secretário: João Vicente da Silva Santos; tesoureiro: Jerônimo Ribeiro da Silva; procurador: João Baptista Lorena; adjunto de procurador: Adolfo Jacinto Dias; orador: Modesto de Passos Barcelos; arquivistas: Candido Mattos, Marcos Evangelista Cardoso e Lima, Modesto de Passos Barcelo, Otacílio Barcellos, Otávio Cássio dos Santos, Vicente Ferreira Acosta, Zeferino de Menezes além do professor Manoel d’ Oliveira que foi também o organizador e maestro da primeira banda de musica da SMUD.

Em relação à primeira apresentação publica de sua banda musical, realizada no parque Souza Soares, no bairro Fragata, os documentos manuseados assinalam contradições. Na Revista Comemorativa aos 70 anos da SMUD aparece a data de 12 de outubro. No informativo numero 9 encontramos a data de 24 de outubro e também a listagem dos músicos e regentes.O mestre Manoel d’ Oliveira, Adolffo Dias, José Maquinista, Bonifácio, Francisco Macal, Antonio Braga, João Baptista, Jerônimo Ribeiro, Vicente, Candido , J.M Mattos, Angenor e Emílio.

No dia 20 de agosto de 1917 foi publicada no jornal A Federação, exemplar 247,a convocação da primeira assembléia geral da SMUD realizada no dia 25 de outubro de 1917, tendo como ponto de pauta a alteração do estatuto e a nomeação da nova diretoria.

Entre fatos históricos destacamos: A presença de João Simões Lopes Neto no quadro de sócios, em 1900, a recepção ao presidente Afonso Penna no ano de 1906, quando a banda representa oficialmente a cidade de Pelotas, a animação das tardes futebolísticas do clube União nos anos de 1911/1912.

Em 1932 é implementado o Curso Elementar de Musica com funcionamento noturno, de caráter popular, dirigido por Norberto Soares (fundador, diretor, professor e maestro da SMUD) de 1932 a 1977, por onde passaram aproximadamente 4000 alunos. Conhecido internacionalmente — apresentações nos EUA e Alemanha — pelo trabalho desenvolvido com crianças do Exercito da Salvação, bem como, pela sua capacidade de estender o trabalho da SMUD aos mais diversos seguimentos sociais através da musica e do ensinamento, o maestro Norberto Soares também destaca-se pela criação do Jazz Band Democrata, cujos integrantes eram selecionados na escola de musica.

Na década de 60 os músicos jovens e os estudantes de musica da sociedade fundaram o Democrata Atlético Clube( 1962) dedicando- se ao futebol e ao tênis de mesa. Na década de 70 se destacaram-se em festividades das cidades gaúchas de Getúlio Vargas, Flores da Cunha e Erechim.

O imóvel onde esta situada a sede atual, sito rua Major Cícero Góes Monteiro 401, foi adquirido no mês de julho de 1915 na gestão de Carlos André Martins Bohns, comerciante e capitão da guarda nacional, e inaugurado no dia sete de setembro de 1916 por ocasião dos festejos dos 20 anos da fundação da SMUD.

Uma rua estreita, com uma fachada verde e amarela, duas janelas grandes e uma porta de folha dupla. A construção arquitetônica de 1915 possui uma sala de ensaios com 30 cadeiras de madeira dobráveis e alguns suportes de partituras, uma outra sala onde funciona a escola de musica, um mezanino onde são guardados os documentos e instrumentos e um banheiro. Suas paredes guardam a memória de seus presidentes.

A Banda União Democrata possui no seu quadro varias gerações de músicos — representantes da velha guarda musical, jovens músicos iniciantes, crianças, mulheres e familiares. Atualmente realiza apresentações em parques, praças, e nos locais públicos e privados onde são convidados a tocar. A sociedade sobrevive de doações e eventos normalmente produzidos por ela, não mantendo nenhum vinculo formal com o poder publico. A reativação da escola de musica e a ampliação de parcerias estão nos planos da atual diretoria.

A Sociedade Musical União Democrata completou 109 anos em 2006 e constitui a banda civil de formação clássica mais antiga do pais ainda em

funcionamento cujo o repertório reflete o seu comprometimento com a musica popular brasileira.

APRESENTAÇÃO

O verbete anteriormente apresentado foi elaborado para atender a uma solicitação da professora Dra. Beatriz Loner, do Curso de História da UFPel, deverá compor o Dicionário Almanaque da cidade de Pelotas e foi desenvolvido nos anos de 2004 a 2006, sobre documentos encontrados na SMUD — atas, onde procuramos assinalar fatos marcantes da trajetória histórica de seus presidentes.

Aparentemente simples, a confecção dessa síntese é também o resultado de um árduo trabalho de campo onde se observa o percurso de formação de um professor, historiador, pesquisador que excursionou pelo terreno da Memória atravessado pela pergunta sobre os modos como os negros ocupam os espaços urbanos na cidade de Pelotas, onde eles se sobressaem, onde afirmam suas práticas culturais, perguntas que se encontram no ponto de articulação entre a Memória Social e a Memória individual, na medida em que o caminho percorrido é fruto dessa tentativa de articular academicamente uma experiência pessoal de ser negro, com a experiência histórica da escravidão.

Esse é um trabalho de conclusão que apresento ao curso de licenciatura em História da UFPel como requisito para obtenção de meu diploma de professor, e se intitula “Memorial Sociedade Musical União Democrata”.

Para desenvolvê-lo recorro a uma narrativa onde cruzo: experiência de vida — marcada pela presença dos preconceitos lingüísticos, simbólicos, das distinções salariais, das hierarquias institucionais atuando como dispositivos de exclusão social do negro —; as leituras que fiz ao redor de temas como memória, história de Pelotas, cultura popular, música, história do negro; os espaços por mim ocupados — trabalhador, estudante, músico, educador social; a inserção no campo de pesquisa oriundo da organização do arquivo — documentos oficiais, depoimentos orais, fotografias, objetos biográficos; o conseqüente trabalho de intervenção que venho desenvolvendo junto à SMUD como secretário de sua diretoria atual, pesquisador de sua memória, articulador político de suas metas em direção à retomada de sua Escola de Música, a um projeto de inclusão digital, publicidade e material de divulgação e ao estabelecimento de novas parcerias, em especial, aquelas recentemente realizadas, com a UFPel e UCPel.

Meus primeiros passos na direção de uma formação universitária foram marcados por desafios constantes na busca do conhecimento e da afirmação social e pelo interesse nos estudos sobre o negro no RS, não-restritos aos históricos.

Meu trabalho de Conclusão de Curso foi ganhando um trato acadêmico mais significativo enquanto um recorte de objeto de estudo quando cheguei à SMUD para reunir os documentos que contavam a historia dessa centenária sociedade musical.

No trabalho de organização do arquivo foi possível aplicar os conhecimentos e técnicas recebidas durante minha formação em uma prática que aliava esse conhecimento com meus interesses teóricos na historia do negro.

No decorrer do trabalho pude conhecer de perto as pessoas que dirigem a sociedade compartilhando com elas as dificuldades de manutenção e continuidade da SMUD. Nesse processo pude aproximar meus conhecimentos acadêmicos com a experiência da velha guarda tentando juntos mantermos a banda da sociedade em funcionamento, (água, luz). Não fiquei alheio. Faço parte do atual grupo de pessoas que dirigem a entidade.

Elaboramos alguns projetos próprios (festas, rifas, etc.), estabelecemos como meta as parcerias com as universidades e seus pontos de Cultura o que consideramos um grande avanço.

Quanto aos espaços ocupados pelos negros, seus destaques, ascensões sociais o estudo apontou-me surpresas que considero de grande valor acadêmico no sentido de suscitar novos debates, controvérsias, análises, imprimindo movimento ao fazer científico na formação universitária. Uma delas, o fato de que mesmo não encontrando necessariamente o lugar do negro na construção do memorial, encontrei nessa organização uma entidade que já em 1896 defendia entre seus quadros musicais a inter-etnia, o que leva a indagar se não seria esse um fato decisivo na sua manutenção até hoje. O que poderia significar em 1896 uma iniciativa cultural possuir como critério a qualidade musical atrelada a uma função social atribuída à musica que se materializava nas intervenções comunitárias da SMUD?

Das organizações musicais da época é a única ainda em funcionamento. Seu caráter multiétnico, atravessa seus 109 anos de existência e pode ter sido o diferenciador em relação à outras sociedades de cultura única, pautadas na identidade étnica. Houve uma circularidade cultural, ora popular, ora erudita, marcante na história da SMUD. Analisando seu repertório musical no contexto histórico foi possível constatar a presença de elementos da cultura popular no repertório inicial da banda, seguido de um período onde as composições estavam mais voltadas para o erudito (música pela música), depois uma procura pela musica erudita originalmente brasileira, isso no período do nacionalismo. Hoje a banda executa um repertorio popular. Existem questionamentos com relação à qualidade musical, alguns músicos preferem a musica erudita, segundo eles, mais trabalhada e elaborada. Uma das características marcante da SMUD é a circularidade cultural. Estas são algumas questões que foram surgindo no processo de formação do memorial da SMUD e que abrem novos campos de pesquisa. A universidade se foi. Mas cumpriu seu papel. A experiência fica materializada nas ações e práticas sociais enquanto individuo, sujeito histórico e articulador da teoria na pratica. O memorial da SMUD representa um avanço na relação pesquisador x objeto de pesquisa e da inclusão social fazendo valer o tripé Ensino/ Pesquisa / Extensão funções básicas da Universidade.

A UNIVERSIDADE

A memória é um campo de batalha. A memória é sempre social

Desde a minha chegada na universidade até hoje se passaram sete anos. Período marcado por conflitos internos e externos de fundo social, racial, psicológico organizados em torno de um conjunto de fatores que juntos me estimularam a fazer vestibular. Finalmente, depois de três tentativas frustradas, no ano de 1997 ingressei na Universidade Federal de Pelotas como aluno do curso de licenciatura plena em história. — Foi uma festa. — Fiquei muito feliz, e pensei: a partir de agora vai ser mais fácil arranjar um emprego. Sou um negro, e estatisticamente me encontro entre os 2% de negros que integram o quadro estudantil universitário no Brasil.

Procuro relacionar-me com todas as pessoas. Observo o fato de não haver negros no quadro de professores do Instituto de Ciências Humanas. Os negros que encontro fazem parte do quadro de funcionários da limpeza, portaria e vigilância2.

O processo de expansão da educação entre os negros no Brasil remete-nos à figura do Estado. A escola pública universal e gratuita teve algum peso na referida expansão. “Criaram-se os cursos noturnos, pelo Decreto 7.031 de 06 de setembro de 1878. No ano seguinte, a Reforma de ensino primário e secundário instituía a obrigatoriedade do ensino dos sete aos quatorze anos e eliminava a proibição constitucional de escravos freqüentarem escolas públicas3.”

Meus colegas tratam-me bem.

No segundo semestre do curso, uma piada onde a cor da pele é comparada a escuridão da noite, e o duplo sentido coloca o negro em situação constrangedora:

“— Vamos dá uma no escurinho? “

Silêncio na sala. Esquecer o racismo é impossível. Só se eu achar que sou branco. Em seguida, a auto - defesa recorre à linguagem:

“— Não é nada pessoal. — Foi apenas uma comparação.”

Entendo na mesma hora a força do preconceito atuando na universidade, com um agravante. Encontro-me em um espaço de conhecimento que tem como pressuposto de seu registro a escrita e que vem sendo analisado, produzido, socializado na trilha de uma racionalidade dotada de verdade científica.

Fiquei decepcionado ao ser discriminado. Desestimulado por me deparar com uma realidade ainda de exclusão, me afasto do meio acadêmico, meu rendimento diminui, perco a bolsa assistência de alimentação4.

A ESCOLA:

Fui criado na região Oeste da cidade de Pelotas, próxima ao centro urbano. Como ocorre em todos os bairros, uma região carente em infra-estrutura e serviços urbanos.

Começo minha vida escolar em 1977, em plena ditadura militar do Governo Geisel5. Na sala de aula uma rotina me chamava atenção. A reza e o hino nacional. Esses rituais escolares me acompanharam até a quinta série. Estudava numa escola próxima de casa — Escola de primeiro grau incompleto Nossa Senhora Aparecida.

Lá meus colegas e eu aprendemos a História oficial do mundo6. Na rua onde morávamos o cotidiano era marcado por apelidos e xingamentos: “— macaco, — suco de pneu, — cabelo bombril, — nariz de batata, — picolé de pinche, — mancha.” A bola caia no pátio do vizinho: “ — o culpado é aquele negrinho.”

Na escola, eu e meus colegas usávamos uniformes iguais, fornecidos gratuitamente pelo Estado. Perguntava então: “— o que nos diferencia? A cor dos olhos? O cabelo? A ‘’cor da pele?’’

Quando criança, não conseguia entender os motivos do tratamento diferenciado. Em casa, nada era comentado. Passava pela minha cabeça que eu era um burro e que sempre iria “me dar mal”. Tinha medo e vergonha de falar o que eu pensava. É alvo o véu que encobre o racismo das discriminações diárias, acontecimentos corriqueiros. Ele encontra-se em todos os lugares: ruas, escolas, ônibus, rostos, olhares, expressões corpóreas, linguagem, disfarçado nas risadas provocadas pelos apelidos, na repreensão constrangedora aos alunos.

Depois de nove anos de estudo já havia passado por duas escolas públicas. As diferenças eram cada vez maiores, a auto-estima havia acabado, continuava sentindo-me discriminado. Abandonei a escola.

A FESTA E A POLÍCIA

Os amigos mudam, começo a ir a festas, beber, fumar. Sinto-me um adulto. Começo a freqüentar ambientes onde os negros são exceções. Tenho dificuldade em “ficar” com as meninas brancas, visto que era discriminado por ser negro e quanto às meninas negras, procuravam sempre ficar com rapazes brancos. Tento encontrar lugares onde possa me relacionar, começo a freqüentar festas black music de predominância negra, como a boate Xeque-Mate que animava os domingos das 14 às 5 horas. Lá mantenho minhas primeiras experiências amorosas e, assim como no carnaval7, sentia-me mais à vontade pra me manifestar, inclusive corporalmente.

Mas nem tudo são flores. Os policiais consideram jovens negros sempre suspeitos.

“— mão na parede e perna aberta negão.”

“— o que vocês querem na rua essa hora? “

Um chute nos tornozelos e... tapão na orelha “—vão andando pra casa. — se eu encontrar vocês de novo. — vocês vão ver só, vai ser pior.”

A ronda policial da Brigada Militar8 nos espaços urbanos é sempre a expressão do medo para jovens negros. Mesmo sem nada a dever. È sempre sentido assim.

Também para os escravos o espaço urbano apresentava riscos, pois sua vida era disciplinada pelo Código de Posturas do município, desde 1834. Era, por exemplo, preso e condenado a cinqüenta açoites o escravo que fosse encontrado à noite na rua, após o toque de recolher, sem bilhete de seus senhores. Estes deveriam pagar multa de quatro mil réis se o fato ocorresse por negligência sua.

Curiosamente, apesar de toda repressão, uma das características marcantes na formação histórica das bandas militares e municipais é a ampla participação de negros com larga experiência musical em seus quadros. Exemplos disso: o legendário Joaquim José Mendanha (1799-1885), músico militar mineiro, talento musical entre os descendentes africanos, com larga escala na folha de serviços prestados em solo gaúcho, inclusive na Revolução Farroupilha, quando compôs o histórico Hino Rio-Grandense. Em Pelotas9, ainda na metade do século XX, encontravam-se diversos músicos pretos de reconhecido valor que tiveram grande destaque nos círculos musicais da cidade. Entre eles o inesquecível Ten. João Penna. Esse músico brilhou em Pelotas e Porto Alegre. Podemos destacar ainda o Ten. Pedro da Silva Rodrigues; Ten. Normílio Fagundes de Oliveira Junior, mais conhecido pela alcunha de Nizo; Ten. Dionísio Martins de Lima; Lúcio Casimiro da Silva; Normílio Fagundes de Oliveira (pai); Arthur Chagas; Abel Joaquim Caetano e outros. Todos negros que atuaram no quadro de músicos da Sociedade Musical União Democrata. Concluímos, diante do destaque de tais músicos, que também para a SUDM, a Brigada Militar de Pelotas representou durante muitos anos um espaço onde os pelotenses negros, através da música, garantiriam ascensão social e os desdobramentos daí advindos (auxílio médico, pecúlio, etc).

A CARREIRA MILITAR

Aos 15 anos fui trabalhar. Aos 17 anos morre meu pai. Quando completei 18 anos fui para o exército como voluntário. Tinha muitos sonhos. Um deles era ter uma profissão, seguir carreira militar, ajudar minha mãe. Fiz então uma prova no recrutamento e fui selecionado para a 8ªBIMZ Quartel General na COHAB Pestano. No primeiro ano fui indicado ao curso de cabo.

No exército, o salário era compensador. Além disso, tínhamos alimentação, vestuário gratuito, lugar para dormir. O sonho aos poucos foi sendo substituído por um silêncio imposto dia a dia pela hierarquia da caserna, em relação aos comportamentos racistas de meus superiores. Insultos, rebaixamentos morais aos recrutas de modo geral, aos negros em especial.

Não desisti, embora já tivesse claro a força da discriminação e seus dispositivos de dominação em espaços hierarquizados e disciplinadores. Agüentei todas as humilhações. Não tinha a quem recorrer.

No exército existe um pacto de silêncio quanto ao questionamento dos maus tratos. No 9ºBTZ Regimento Tuiuti, onde fiz o curso de cabo, no bairro Fragata, próximo a minha casa, a tropa era composta de vários negros. Pensei: “— aqui quem sabe as coisas possam ser diferentes. ” Estava enganado. Não havia negros nas patentes de oficiais, alguns entre os sargentos e cabos, e uma maioria de soldados.

Não suportei. Depois de dois anos pedi minha baixa.

Comparo minha passagem pelo exército, em menor grau, aos soldados conhecidos como lanceiros negros10, que lutaram no exército dos farroupilhas em troca de suas liberdades. “O negro, além de emprestar sua força de trabalho nas charqueadas, lavouras de trigo ou de linho-cânhamo, estâncias, vilas e cidades, foi um dos sustentáculos militares do Rio Grande desde sua formação.”

O ESPAÇO DA FÁBRICA

Ocupando as funções de auxiliar ou ajudante continuo minha formação em indústrias e fábricas da região. Trabalho braçal; primeiro em um frigorífico de gado, e depois num curtume11 com o couro. Esses locais permitem compreender a história de Pelotas cujo auge econômico encontra-se no período das Charqueadas que tinha o boi como matéria prima.

Numa outra comparação histórica verificamos que o boi continuou sendo por muito tempo depois das charqueadas, um importante setor da economia pelotense12. Cumpri, sem saber, a mesma saga dos trabalhadores escravizados nas Charqueadas, que um dia construíram com o seu trabalho os tijolos, telhas e uma imensa riqueza para poucas famílias pelotenses através da produção do charque.

AS CHARQUEADAS E AS RELAÇÕES DE TRABALHO ESCRAVO.13

“A cidade de Pelotas teve, no processo de urbanização no final do século XVlll , a influência decisiva da riqueza gerada pelo charque, mola propulsora da prosperidade e fixação de homens na região”. (SANTOS, Jornal Alvorada, Pelotas)

O local onde se produz o charque:

“A Charqueada, vasto estabelecimento em que se prepara a carne salgada e secada ao sol, reúne dentro de seus muros o curral, onde se mantém os bois vivos, o matadouro, a salgadeira, edifício de forma oblonga, o secadouro, vasto campo eriçado de estacas entre as quais são esticadas cordas, e as caldeiras, bem como fornos abrigados sob um barracão espaçoso. Toda essa fábrica é dominada por um pequeno platô no qual se ergue o edifício principal habitado pela família inteira do charqueadeiro. O curral é cercado de seis a sete pés de altura mais ou menos, e formado por uma reunião de uma grande quantidade de troncos de árvores plantados uns ao lado de outros e no qual se abre uma entrada fechada por uma porteira. Um pequeno corredor, de doze pés, de comprimento por quatro de largura, une o curral ao matadouro; as cercas construídas da mesma maneira que as do cercado, mais espessas porém e com somente cinco pés de altura, servem de passagem elevada para o negro encarregado de jogar o laço nos chifres do boi que deve ser puxado para o corredor. A outra extremidade do laço, amarrada a uma manivela, força o boi a aproximar-se pouco a pouco do matadouro e a colocar a cabeça no lugar em que deve receber o golpe que o abate.

Já colocado sob o palanque de um guindaste giratório, o animal é suspenso imediatamente e levado para o local onde deve ser escorchada, operação preliminar depois da qual lhe retiram de cada lado e num só pedaço toda a parte carnuda, desde o maxilar até a coxa; essa parte é transportada em seguida para a salgadeira, juntamente com os pedaços muito menores. O resto do boi, semi-descarnado, é reservado a outro destino.

A salgadeira é um rés-do-chão bastante espaçoso, coberto, de forma oblonga, interiormente guarnecido, de cada lado e em todo o comprimento, por dois imensos balcões inclinados sobre os quais se estendem os pedaços de carne a serem salgados. Calhas de madeira aderentes aos balcões recebem as águas de salgação e as conduzem a um pequeno esgoto descoberto, destinado ao escoamento do sangue, um filete de água viva lava continuamente esse pequeno canal que deságua no rio.

Passando pelo barracão das caldeiras, vimos pela primeira vez, negras ocupadas no trabalho das charqueadas; mas aí também deparamos com a carcaça do boi já citado, ainda amarrada à corda que serviria para fazê-lo arrastar até os fornos onde os outros açougueiros o esperavam para acabar de retalhá-lo.

Finalmente, cortado em pedaços, foi o conjunto jogado em água fervendo das caldeiras, a fim de escumarem as gorduras que vem à tona e retirar assim o sebo comum que se vende em pães. Dirigindo-nos para o lado do rio, percorremos o terreno de secagem para onde se leva a carne depois de dois dias de salgação, sendo estendida nas cordas de couro esticadas entre as inúmeras estacas. Dobrando-se em virtude do peso sobre uma corda que a sustente, a carne salgada permanece assim exposta ao sol, até adquirir uma cor branca amarelada. Reduzida então a meio dedo de espessura, e secada até a consistência do couro, é ela empilhada perto do rio sobre estrados de madeira. Essas pirâmides truncadas, recobertas de todos os lados por couros bem secos, servem de pontos de referencia aos navegadores que desejam abastecer-se14.

A forma de produção do charque:

"A carne era salgada com sal seco e posta nos varais. A gordura dos ossos era extraída pela fervura e o sebo das vísceras simplesmente comprimido a frio e colocado em recipientes naturais, como a bexiga e as tripas. A estrutura das charqueadas se alteraria muito pouco em dois séculos: curral de encera, brete de matança preia ou cancha de retalhamento, local de preparo e salga das mantas de carne, varais de secagem, graxeira e área onde os couros eram tratados".

As charqueadas localizavam-se sempre a beira de um arroio ou rio, para facilitar o transporte e depositar os dejetos e restos do boi na água. Essa posição geográfica facilitava sua proteção em virtude de ser longe do litoral. Estes foram um dos motivos que levaram à concentração de charqueadas na região de Pelotas.

A cidade de Pelotas surgiu em decorrência da concentração de Charqueadas ao redor do arroio Pelotas e canal São Gonçalo. O charque era o alimento dos escravos do centro e do nordeste do país, sendo, devido ao grande mercado consumidor, uma mercadoria bastante lucrativa no século XIX. Durante um longo tempo esta foi a principal atividade econômica pelotense. Gerou uma riqueza inigualável para a elite charqueadora, marcante para a história da cidade, que ainda hoje pode ser vista através dos imponentes casarões, da tradição cultural e de tantos outros exemplos que se perpetuam em Pelotas.

Antes da chegada dos portugueses, o território rio-grandense era habitado por indígenas de diversas tribos. Os jesuítas15 criaram as reduções, locais onde catequizavam e tornavam os indígenas mão-de-obra especializada. Quando os portugueses expulsaram os jesuítas, que eram espanhóis, estes migraram para o outro lado do Rio Uruguai e deixaram no lado do Rio Grande uma grande quantidade de gado. A manada reproduziu-se, "formando rebanhos enormes", tendo como conseqüência uma grande população bovina no local em que hoje se encontra Pelotas. Isto atraiu para a região diversas pessoas interessadas no aproveitamento econômico do gado, especialmente os portugueses. 16 Dessa forma, o território foi sendo ocupado. A primeira forma pela qual o gado foi aproveitado foi a preia. "Depois, o estabelecimento da povoação de animais, a estância [...]". Por fim, deu-se a "instalação de estabelecimentos de salga das carnes", também conhecidas como Charqueadas. 17 Os primeiros estabelecimentos de salga de carnes foram formados por volta das décadas de 30 e 40 do século XVIII, quando a coroa portuguesa iniciou as doações de terras, através das sesmarias, e instalou a Comandância Militar do Rio Grande de São Pedro. As concessões territoriais eram feitas, sobretudo, para as lideranças militares.18

O charque de início era produzido artesanalmente. O abate era feito no campo, não havia a preocupação com o aproveitamento do animal abatido e visava garantir o alimento nos intervalos das carneadas, seu uso era restrito ao auto-consumo.

Por volta de 1770, período em que as fronteiras do Estado estavam sendo delimitadas a partir do resultado das disputas entre Portugal e Espanha iniciou a produção de carne salgada com o objetivo da comercialização. Durante mais de duzentos anos não houve interesse, de parte destes países, em relação ao território e a situação gaúcha era de completo abandono19. Entretanto, quando foi descoberta a importância do local sob o ponto de vista militar, político, religioso e econômico, em virtude de sua proximidade com o Rio da Prata20, surgiu o interesse por parte das potências ibéricas de povoar a região. 21

O trabalho escravo nas Charqueadas:

A primeira charqueada pelotense foi fundada em 1780 pelo português José Pinto Martins, que veio para a região sul fugindo de uma forte seca no Ceará, região na qual produzia carne seca (chamada carne de sol). Seus escravos somavam ao todo trinta e quatro, divididos em carneadores, campeiros, salgadores, sebeiros, graxeiros e de “ofícios especiais”, como alfaiate, sapateiro, tafoneiro e hortelão.

A Charqueada se caracterizou pelo uso da mão-de-obra escrava, que não era muito utilizada nas estâncias. Isto porque o trabalho na charqueada era extremamente pesado. Na época de safra, os escravos tinham uma jornada de trabalho que chegava a ultrapassar 16 horas diárias22. Já nos períodos de entre-safra — maio a outubro — eram deslocados para as olarias, na fabricação de telhas e tijolos, e para a construção dos casarões do meio urbano. Havia dois tipos de escravos nas charqueadas: os qualificados e os sem qualificação. Os escravos qualificados eram os que estavam inseridos no processo de produção e no transporte do charque, eram a maioria entre os escravos. Os sem qualificação realizavam todos os outros tipos de serviços. Entre estes se encontravam as mulheres, em número menor do que o de homens, que participavam sobre tudo das atividades domésticas. Havia uma média de oitenta e quatro cativos por charqueada, podendo ocorrer uma leve variação do número de acordo com o período.

Em Pelotas, parte do século XIX caracterizou-se, em termos populacionais, por uma ampla maioria negra. O Passo dos Negros, anteriormente Passo Rico, passou a se chamar assim devido ao comércio de escravos que ali se dava. Local de grande concentração populacional era quase uma aldeia dado o grande número de habitações que lá existiam. A riqueza e a opulência da cidade nesse século foram geradas através da força de trabalho da mão de obra escrava nas charqueadas. Os negros vinham dos mercados centrais do Brasil, eram levados até Rio Grande e depois para as charqueadas de São Francisco de Paula, onde eram submetidos a exaustivos regimes de trabalho, tratados com rigor e violência, o que ocasionava muitas fugas, suicídios, abortos, infanticídios. Outras pequenas resistências também ocorriam no dia a dia das charqueadas: fugas noturnas para encontros amorosos, bailes, jogos de azar e manutenção das tradições culturais e religiosas, pequenos e grandes furtos, sabotagens, confrontos corporais e assassinatos dos senhores, de sua família, dos capatazes e capitães do mato, envenenamentos.

Aparece como expressão importante da resistência escrava também as insurreições e a formação dos quilombos.

Assim, nos mostra o jornal Correio Mercantil em cinco de julho de 188123:

“Assuntos do dia — sem sermos temeratos, sem intenções de espalhar o terror entre os nossos concidadãos, nem fazer ao longe recear pela nossa tranqüilidade podemos afoitamente dizer: — Estamos sobre um vulcão”. Sim, a cidade de Pelotas, a terra da ordem e do progresso, do trabalho e da riqueza, está, infelizmente, ameaçada de uma calamidade, de uma desgraça, que compromete o seu futuro, os seus interesses, a segurança e a honra de suas famílias.

O Senhor Delegado de Polícia deste termo, Major José Joaquim Caldeira, há três dias recebeu denuncia de que se tramava e caminhava em via de rápida realização uma revolta de escravos, combinados os da cidade com os da charqueada, que ao todo podem elevar a perto de 3000.

O charque, cuja produção chegou a alguns momentos a 54.000 cabeças por ano (apesar da média de abate ser de 20.000), determinava as características econômicas da região, a qual inseria-se de forma subordinada ao mercado nacional, visto que o produto foi o principal alimento dos escravos pertencentes às áreas de produção do açúcar e do café, os principais produtos produzidos no país.

Somente a partir do século XIX é que as charqueadas se organizaram como empresas capitalistas, embora ainda com mão-de-obra escrava, tendo havido em 1850 um importante incremento tecnológico com a introdução do vapor. "No início, as charqueadas não passavam de meros telheiros circundados por varejões, sustidos por estacas. O abate fazia-se em pleno campo, espostejando-se as reses pelas articulações. O transporte das mantas de carne salgada era feito por mulas bruaqueiras".

A concorrência dos saladeros do plata contribuiu para o sepultamento do charque gaúcho, todavia, o Rio Grande do Sul, principalmente através de Pelotas, ainda foi o principal produtor nacional até pelo menos 1930, quando correspondia por 80% da produção do país.

O desenvolvimento das charqueada exigiu, paralelamente, a instalação de serviços públicos e, também, de um ambiente de convívio para os charqueadores e seus familiares, que se compreende em casas, igreja, estabelecimentos culturais, e todos os elementos presentes em uma ambientação urbana. Diante de um imenso mercado consumidor, o charque produzido na região gerou uma riqueza inigualável aos charqueadores. Entretanto, a concorrência platina antecipou a morte do charque gaúcho. Apesar disso, a riqueza proporcionada no período ainda pode ser vista, basta verificar a destacada arquitetura dos casarões e a tradição artística e cultural, as quais tornaram Pelotas referência gaúcha e brasileira no que se refere à arte, cultura e patrimônio.

A OUTRA FACE DA HISTÓRIA: O RETORNO Á ESCOLA

Optei por retomar aos estudos. Quando volto a estudar, procuro uma maneira rápida de concluir o 1º grau, a solução que encontro é fazer as provas do exame supletivo da delegacia de ensino.

Tratei logo de fazer minha inscrição. O segundo passo foi procurar um curso supletivo que fosse gratuito, que pudesse me dar uma noção de como seriam as provas. No meu caso, faltavam duas disciplinas a Matemática e a História.

Levei sorte.

Logo nos primeiros dias encontro um curso supletivo preparatório gratuito com duração de seis meses.

Era tudo que eu precisava.

No curso, fui aluno de uma professora de história extraordinária que, com extrema maestria, me fez refletir sobre minha visão histórica a respeito da participação do negro na formação da sociedade brasileira, das idéias de inferioridade histórica que vinham sendo vinculadas nas instituições24 por onde estudei.

Um dia, durante a aula, tomei a iniciativa de perguntar o que ela sabia da história dos negros fora dos livros didáticos?

Ela responde:

“— as coisas não são bem assim.” E continua:

“— Não foram os negros que escreveram a história oficial, mas a classe social dominante, e mesmo na história oficial não poderíamos negar a importância do negro na formação da cultura brasileira. Os livros didáticos mostram apenas um lado da história, o dos vencedores, mas procurando encontramos outras histórias.” Fiquei muito feliz de ouvir essas palavras. Não perdia nenhuma aula25.

Numa aula de história do Brasil Colonial a professora, ao falar da escravidão, apresenta Zumbi dos Palmares26, grande líder negro que pagou com a própria vida ao lutar pela liberdade, assim como outros milhares de negros que resistiram anonimamente à escravidão através das mais variadas estratégias de resistência. Falou ainda dos quilombos27, da sua força política, de como eram organizados, e que mesmo na clandestinidade conseguiam manter relações comerciais com as províncias.

Isso me deixava muito curioso.

Depois disso sempre quis saber de tudo um pouco e, como diria Heródoto "se quero saber, pergunto, interrogo.”.

Comecei a pesquisar por conta própria. Queria compreender o processo histórico da colonização do Brasil, tentando entender como se deu a inserção do negro na sociedade, após a abolição.

Com oito meses de estudo concluí o primeiro grau. Queria seguir a diante nos estudos. O Supletivo foi a alternativa encontrada para recuperar o tempo perdido. Consegui uma bolsa de estudos no Colégio Supletivo Universitário no centro da cidade. Meu tio trabalhava por lá. Nessa escola conheci várias pessoas — professores, funcionários, colegas (‘’uma amiga especial e insubstituível, Lú que partiu tão cedo para o andar de cima) ("nesse momento sou tomado pela dor da ausência e começo a chorar... o exercício de lembrar do passado nos mostra o quanto a nossa memória pode guardar coisas que só vem à tona se provocadas, evocadas...") pessoas que acreditavam no meu potencial e me incentivaram, me estimularam a ingressar numa universidade.

A UNIVERSIDADE DE NOVO

Comecei a militar em movimentos políticos ­ dentro da universidade tão logo me deparei com a discriminação. Para alguns professores, esse envolvimento com as questões “políticas” da universidade pode ser prejudicial ao desempenho acadêmico. A escolha política no meu curso, poderia ser motivo de perseguição por parte de alguns docentes e funcionários.

Em pouco tempo após uma disputada campanha eleitoral28, entrei para a direção do centro acadêmico do curso de história.

A inexistência de uma política estudantil de ação dentro do curso de história — por um lado por limitações estruturais, falta de apoio dos colegas, por intransigências de alguns professores não conseguimos fazer grandes realizações. Isso nos estimulou nos unir com outros grupos e montar uma chapa com representatividade dos mais variados cursos, para nos candidatamos ao Diretório Central de Estudantes da Ufpel.

A chapa DCE para Todos venceu as eleições. Passa a dirigir o DCE.

Nosso plano de lutas tinha como eixos a crítica à política neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e ao sucateamento da universidade publica; a manutenção de direitos adquiridos: transporte gratuito, alimentação, moradia estudantil gratuita e de qualidade. Paralelo a essa luta desenvolvemos uma outra proposta de campanha que visava reunir negros e negras da universidade para discutirem assuntos de interesse comum29 onde muitos questionavam a idéia.

“— para que isso?”

“— não existe racismo na faculdade.”

“— Somos iguais e o que conta é passar no vestibular.”

Tentamos articular os negros pela cor da pele, processo complicado, pois até nossos dias ainda não chegamos a um consenso sobre o que é o ser negro.30

Um dia tive a idéia de pesquisar as origens dos meus antepassados, o que logo se mostrou uma tarefa impossível. Rui Barbosa, no período em que esteve na presidência da república queimou todos os documentos referentes às origens dos africanos trazidos para o Brasil como trabalhadores escravizados.

Na época, eu julgava serem esses trabalhadores escravizados, os meus antepassados.

Hoje, sei que tenho na minha ancestralidade negros vindos do Uruguai, filhos diretos de uma prática de violência contra a mulher no período da escravidão — índios e bugres. Fontes escritas não me dariam subsídios para uma pesquisa. Foi impossível reconstituir minhas origens através de documentos escritos.

Mas, nem diante das dificuldades me abalei.

Continuei pesquisando.

No inicio pensei, como meus colegas, que queria encontrar um tema original de grande relevância histórica. Assim, passei dias e meses pensando sobre o que pesquisaria.

O NEGRO NAS LEITURAS

No decorrer da pesquisa as leituras me fizeram perceber que os autores que escrevem o negro no Brasil da década de 1970 até década de 1990 trazem referências do negro ligado ao econômico e ao bélico, preferindo temas ligados ao escravismo e à escravidão; um exemplo é o livro Casa Grande Senzala31. Outro tema abordado é o negro na economia agro exportadora; os atores se interessam pelo escravismo como importante fonte para entender a sociedade escravista do seu tempo através do seu sistema. Aparecem também outros estudos das formas de resistência, que eram as mais variadas. Até mesmo um aprendizado mais rápido das atividades a serem cumpridas e/ou aprender a nova língua são formas de resistência.

Os autores falam dos quilombos, tema não muito explorado pela falta de documentação. Ultimamente citam como fonte de pesquisa os documentos de inquéritos policiais. Nesses processos por crimes os negros deixam de ser mercadoria comprada a metro e aparecem como sujeitos históricos.32

Procurei dentro da minha pesquisa autores que escrevem a história do negro na cidade de Pelotas. As perguntas eram muitas e as respostas começam a surgir na prática quando fui selecionado como bolsista do Museu da Baronesa.

O MUSEU DA BARONESA: NOVAS DESCOBERTAS

A oportunidade me levou a conhecer a formação do Rio Grande do Sul e de Pelotas em particular, ao lado de outros cinco acadêmicos e cinco acadêmicas do curso de história.

A expografia existente no museu somada à história de Pelotas a qual tínhamos acesso não contemplava todos os cidadãos; o que tínhamos eram as charqueadas, o charque, os prédios, as praças e monumentos, uma história estática e linear, sem conflitos. As discussões do grupo nesse momento foram, principalmente, em busca da representação de outras histórias, que contextualizassem as relações do período, das quais o negro fazia parte enquanto escravo. Essa necessidade foi percebida mais claramente com o decorrer das visitas de pessoas dos mais variados municípios e países que questionavam a falta dessas representações através de perguntas do tipo: “ — Não existiam negros na casa nesse período?” O Museu da Baronesa contemplava apenas os usos e costumes do final do século XIX e início do século XX.

A observação das diferentes reações por parte das crianças negras e brancas das escolas públicas ao perceberem o papel do negro nos espaços da casa nos levou a buscar alternativas na educação não-formal que aproximassem as crianças de outros elementos existentes na casa. Organizamos uma programação que priorizava atividades de teatro (onde os estagiários e bolsistas eram os atores), oficinas de dança afro (grupo Odara), visitações orientadas, aulas de música. Todas essas atividades visavam proporcionar à comunidade não somente um contato com a cultura dos negros, mas com todas as diferenças que pudessem estar presentes no museu.33 Para Marcelo Cunha34 é fundamental compreendermos a constituição das identidades em jogos de afirmações, negações e negociações de valores e a responsabilidade das instituições na propagação de idéias, conceitos e pré-conceitos.

Que ampliem as possibilidades de reflexão sobre a pluralidade cultural e a dinâmica das identidades. Os conflitos existiam apesar de não serem percebidos na expo grafia do museu.

Por acaso e para minha grata surpresa, num dia de limpeza da documentação no Museu da Baronesa, encontro em um recorte de jornal, informações sobre uma sociedade musical fundada em 1886, denominada União Democrata, a primeira banda musical a permitir negros no seu quadro de sócios e executantes no seu estatuto.

Essa descoberta despertou em mim uma série de lembranças relacionadas à música. Sempre quis aprender a tocar um violão. Minha mãe nunca me apoiou na busca desse aprendizado, muito pelo contrário, dizia que música era coisa de malandro e bêbado e que não me daria nenhum futuro. Na minha família a música sempre remeteu à boemia, pois meu avô Aires era músico e morreu na noite, tocando pelos bares.

Mas foi no bloco burlesco “Tigres do Simões” que tive a primeira oportunidade de tocar um instrumento de percussão. Daí em diante me aperfeiçoei nos instrumentos de percussão, descobri sua história, sua importância religiosa e a técnica para confeccioná-los. E teria agora a possibilidade de entrar em contato com um novo universo musical.

ESSA BANDA ME CHAMOU A ATENÇÃO.

Comentei o assunto no trabalho.

A professora Carla Gastaud, diretora do Museu da Baronesa, sabendo do meu interesse pela dita banda comenta: “— é uma pena uma história tão bonita estar sendo perdida, os documentos estão todos extraviados, não há um histórico, o lugar é péssimo. No mesmo local, onde ocorrem os ensaios da banda, composta por uma maioria de senhores da terceira idade, os documentos estão mal acondicionados, precisando ser organizados.”

Não pensei duas vezes e topei o desafio.

Fui conhecer o prédio e os horários de funcionamento.

O ARQUIVISTA NO TERRENO

De inicio não sabia por onde começar.

Não existia uma organização dos documentos. Muita sujeira. A sede em reformas.

Porém, parecia-me importante construir um arquivo que permitisse organizar a documentação tanto administrativa quanto histórica da entidade centenária35.

Começo a fotografar o estado da sede e dos documentos, pensando em ouvir opiniões de meus colegas de trabalho. Talvez juntos pudéssemos ter algumas idéias de como acondicionar os documentos. Fui aconselhado a continuar limpando para depois fazer uma seleção.

Após três semanas de limpeza, encontro entre os documentos o Livro de Sócios, de 1896, em excelente estado. Meu achado mais importante até aqui. Nesse documento encontramos figuras ilustres, como o escritor pelotense João Simões Lopes Netto, bispos, diversos políticos e pessoas das mais variadas profissões.

A rotina do pincel é cansativa. Quase três meses, e ainda tenho muita coisa para pincelar, e ainda sem saber o que fazer com material encontrado.

Ao contrário das fontes que mencionam que a Banda União Democrata foi criada por músicos negros pelotenses36, nenhum documento que encontro mencionava o que eu procurava — os negros que tocaram na banda musical. Sigo meu trabalho de limpeza.

Dias depois, escondida em um fundo falso de um armário datado de 1915, encontro a bandeira original de fundação da SMUD, de 1886. O achado foi motivo de grande festa. Eu, que estava desanimado, no meio daquela poeira toda, sozinho, fiquei muito eufórico. A bandeira encontrada era uma prova viva de que eu poderia ter um papel muito importante nessa entidade. Maior do que até então eu havia imaginado. Fiquei assustado. Tive que parar meu trabalho. Sair pra contar a alguém o fato. O armário estava quase sendo jogado fora. Eu, na curiosidade, resolvi tirar o fundo do armário e a bandeira estava lá, em péssimo estado de conservação, rasgada e mofada. Mas era, para mim, uma relíquia. Apaixonei-me cada vez mais pelo trabalho que vinha realizando. Através da bandeira, considerada um objeto biográfico37, foi possível idealizar a formação de um memorial construído dentro da perspectiva de valorização dos objetos que fizeram parte da trajetória da sociedade musical.

Meses se passaram e eu continuava a limpar, limpar e limpar.

Um dia pedi a ajuda de meus colegas para avançar os trabalhos que andavam muito lentamente. Fizemos um mutirão, realizamos naquele dia um trabalho que eu levaria meses fazendo.

Enquanto o mutirão acontece, sou chamado pelo presidente que se mostra muito satisfeito com trabalho que venho fazendo. Entrega-me uma série de envelopes com documentos que estavam sob sua guarda, entregues a ele por um antigo secretário da sociedade. Nesses envelopes encontravam-se: livros, atas, recortes de jornais, uma edição do 60° aniversário da sociedade, o Informativo n° 9, algumas alterações nos estatutos e fotografias.

Os artigos dos jornais de época, somados as fotografias38 que permaneceram guardadas com antigos sócios, constituem fontes insubstituíveis para a reconstrução histórica da memória da sociedade.

Pensando a fotografia como memória de vida e levando em conta o alerta de Etienne, mergulhamos nas fotografias da sociedade e no seu conteúdo, imaginando as circunstâncias identificadas dentro de uma ordem cronológica.

Na semana seguinte, sou procurado por dois integrantes da diretoria que me propõem participação na nova diretoria como primeiro secretário.

De cara eu aceitei com muito orgulho. A posse seria no dia sete de setembro de 2005, aniversário de 108 anos da entidade.

O trabalho continua. Agora, o material já está preparado para a limpeza dos documentos. Inicio a separação dos documentos por áreas: partituras escritas a mão separadas de partituras impressas, livros atas, estatutos, fotos e quadros das diretorias anteriores. Após a limpeza e catalogação, inicia-se o processo de embalagem e tombamento dos materiais encontrados. Para o trabalho de embalagem juntam-se ao projeto voluntários do Museu da Baronesa, Claudia Tomaschwisk, Marcele Victoria, Viviane S., Caiua Al Alam e a Bibliotecária Eleonara. Recebo uma cópia da chave da sede o que facilita o meu acesso. Levo alguns materiais para casa — atas, estatutos, e projetos. Concomitante, realizo leituras de trabalhos sobre a entidade, mas nada se refere aos negros. Encontro algumas fotos da diretoria. Alguns são negros. Nada sobre essa participação em particular.

Na história de Pelotas temos um fato marcante e motivo de orgulho para “alguns ilustres” pelotenses: a libertação dos trabalhadores escravizados em 1884, que possibilitou mais a distribuição de títulos (Barão dos Três Serros, por exemplo) do que a melhoria da qualidade de vida do “liberto”. Esta liberdade não era plena, estava condicionada a um contrato onde o trabalhador escravizado cumpriria ainda de cinco a sete anos de trabalhos gratuitos ao seu senhor. Mesmo com a abolição, a situação do negro continuou sob dependência econômica dos antigos patrões39. A discriminação racial contra os descendentes de africanos era grande nos finais do século XIX em quase todo o Brasil, inclusive em Pelotas.

Ótimos músicos, executantes de diversos instrumentos, os negros e seus descendentes foram barrados nas portas das nossas sociedades musicais pelo simples motivo de serem pretos ou mulatos. As principais entidades mantenedoras de bandas de música não os admitiam em seus quadros, sendo as mais destacadas Bellini, Santa Cecília, Lira Artística, Portuguesa, União Musical, Nova União e Apolo.

Meu interesse foi sendo conduzido na direção de assinalar a participação da Sociedade Musical União Democrata no processo histórico-cultural da cidade de Pelotas, pois a sociedade, segundo jornal40 da época, foi a primeira sociedade musical permitir negros no seu quadro de sócios.41

Os arquivos documentais da SMUD começaram a ser organizados no ano de 2004. Do manuseio interessado do conjunto de informações diversas, por vezes contraditórias, desencontradas, oriundas dos documentos, atas, fotografias e jornais, objetos biográficos de onde emergiram problemáticas que podem ser resumidas nas seguintes questões: podem os objetos biográficos contarem a história da Sociedade Musical União Democrata através de um memorial que possa ser construído no confronto desses objetos com os dados oriundos de outras fontes de pesquisa; pode a música representar a ascensão social do negro na sociedade pelotense. No mesmo tempo que buscamos reconstruir a trajetória da sociedade musical através dos objetos, pretendemos garantir a preservação da sua história através da sua memória, constituindo-se assim em um patrimônio para pesquisa histórica.

NO FINAL: A OPÇÃO PELO CAMPO DA MEMÓRIA

Pela memória, o passado não só vem à tona das águas presentes, misturando com as percepções imediatas, como também empurra, “desloca” essas últimas, ocupando o espaço da consciência. A memória aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora. (BOSI, 2003, pág. 38)

No campo epistemológico da história escolhemos a memória como método para reconstituição histórica da Sociedade Musical União Democrata. A Sociedade foi constituída em 1896 com o intuito de formar uma orquestra que tivesse na sua formação pessoas de todas as etnias, credos e classes sociais, já que as bandas existentes na época não admitiam entre seus quadros músicos negros. Criou-se um curso elementar prático e teórico de música, sendo, mais tarde, oferecido de forma gratuita à população pelotense. Na medida em que foram sendo identificados e analisados com base em metodologia adequada, os objetos biográficos representaram fonte principal de constituição do acervo. Guardados na sede da sociedade, construída em 1915, os objetos são testemunhas da trajetória da SMUD no decorrer dos seus 109 anos de atividade. Objetos como roupas, fotografias, documentos escritos, relatos orais, partituras, móveis e outros foram importantes para entender o processo histórico de sua constituição.

A bandeira de cor vermelha, em tecido de seda com adornos dourados e cinco instrumentos pintados ao centro foi encontrada em um fundo falso de um armário de 1915 e estava em péssimo estado de conservação. Como objeto biográfico é interpretado conforme a memória dos seus integrantes. Havia dúvidas a respeito da sua originalidade, porém, após uma análise coletiva e a coleta de depoimentos orais, chegou-se ao acordo de que poderia ser a bandeira original (de 1886) de fundação da Sociedade União Democrata.

As roupas dos músicos executantes, como objetos biográficos, no contexto histórico da SMUD, ganharam relevância após a doação feita pelo Sr. Darci, integrante da banda, que trouxe o seu uniforme musical de 1950 para ser exposto na sede junto aos outros objetos. livro de sócios de 1896, com as páginas em perfeitas condições de manuseio, contendo nome, profissão, endereço, cargo e proponente dos sócios onde é possível encontrar informações sobre as profissões, mudanças na arquitetura da cidade, classes sociais, escolaridade, figuras ilustres. Pensando na fotografia como memória de vida e levando em conta o alerta de Etienne que diz que a fotografia tem sinônimo de verdade, mergulhei nas fotografias da sociedade e no seu conteúdo imaginando as circunstâncias identificadas dentro de uma ordem cronológica.

Ao constituirmos o Memorial da Sociedade Musical União Democrata através dos objetos biográficos inicia também o processo de tombamento da Banda da SMUD como patrimônio cultural imaterial da cidade de Pelotas e do Estado do Rio Grande do Sul. Patrimônio imaterial é uma idéia inovadora com um amplo conceito cultural, “que trata dos bens culturais como portadores de referência à identidade da memória dos diversos grupos que compõem a sociedade". O patrimônio cultural é um terreno em construção, fruto resultante de um exercício de poder, ainda que em muitos casos a sua justificativa seja apresentada em nome do perigo da destruição. O tombamento é um ato administrativo realizado com o objetivo de impedir que bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e de valor afetivo para a população, venham a ser destruídos ou descaracterizados, preservando assim a memória coletiva42. O projeto de memorial da SMUD e o tombamento da Banda da SMUD contribuíram para um pensar crítico sobre a atuação cultural no intuito de levar a arte musical a todas as camadas da sociedade, oferecendo instrumentos para o exercício da cidadania. Foram observados aspectos como o diálogo entre o sujeito e os bens culturais, levando em conta a questão da inclusão social.

Memorial Sociedade Musical União Democrata

A “Sociedade Musical União Democrata” — SMUD — teve sua banda tombada no ano de 2004 como bem Imaterial do Patrimônio Cultural da cidade de Pelotas e do Estado do Rio Grande do Sul (Lei 5085 artigo 221 inciso ‘V’ e do decreto federal 3551 de quatro de agosto de 2000). Nessa escrita, construir o Memorial da SMUD torna-se uma questão de comprometimento com a preservação do patrimônio cultural da cidade de Pelotas.

Idealizada em 1890, pelos músicos Adolfo Jacinto Dias, João Batista Lorena e João Vicente Silva Santos, como uma associação instrutiva, recreativa e beneficente composta por um número indeterminado de indivíduos, com distintas nacionalidades, cores e cultos, tem sua fundação em sete de setembro de 1896. As discussões acerca da fundação de tal sociedade existiram desde a década de 1890, mas sua efetivação foi adiada por vários motivos, entre eles a Revolução Federalista (1893/1895).

A Banda União Democrata possui no seu quadro várias gerações de músicos — representantes da Velha-Guarda, jovens iniciantes, crianças, mulheres, familiares. Realiza apresentações em parques, praças, locais públicos e privados onde são convidados a tocar. A Sociedade sobrevive de doações e eventos normalmente promovidos por ela, não mantendo nenhum vínculo formal com o poder público.

Está nos planos da atual diretoria a reativação da sua escola de música. A escola foi implantada em 1932, tinha funcionamento noturno, de caráter popular. Por ela passaram aproximadamente 4.000 alunos. Foi dirigida por Norberto Soares (fundador, diretor, professor e maestro da SMUD), de 1932 a 1977, quando faleceu. Após a morte do maestro a sociedade passou por uma grave crise, chegando a fechar suas portas. O nome “Democrata”, inspirado pelo espírito católico, sugere a constituição de um espaço favorável à arte musical de caráter inter-étnico e distinto em relação àquele representado pelas associações musicais da época onde não era permitida a mistura étnica e onde os negros não tinham acesso. Analisando jornais da época percebemos as manifestações a respeito da necessidade de um espaço onde a discriminação racial não se apresentasse como limitante do desenvolvimento da arte musical.

A construção arquitetônica onde está situada a sede atual foi adquirida em 1915, na gestão do presidente Carlos André Martins Bohns, comerciante e Capitão da Guarda Nacional, e inaugurada no dia 07 de setembro de 1916, por ocasião das festas de comemoração dos 20 anos de fundação da SMUD.

A Sociedade Musical União Democrata que em suas primeiras atividades era formada de três músicos com seus respectivos substitutos. A primeira apresentação foi no dia 12 de setembro de 1896, movimentando com sua música o Baile da Sociedade Recreio dos Artistas, realizado na Biblioteca Pública Pelotense. Nesse evento social os músicos que representaram a sociedade musical eram: O Mestre ( não temos o nome do Mestre) e os músicos Adolfo Dias, João Baptista, João Santos, Cândido Oliveira e Bonifácio Essa foi a primeira formação musical da SMUD. A segunda apresentação da Sociedade Musical foi logo em seguida no dia 20 de setembro 1896 no lindo Parque Souza Soares onde houve a apresentação do terno musical formado por Adolffo Dias, Candido de Oliveira, João Santos, João Baptista, Angenor Santos e Emilio que representaram a SMUD. As primeiras apresentações do terno musical visavam angariar fundos para compra instrumentos a fim de formar a Banda Musical; e logo em seguida comprar um imóvel. O dinheiro viria das apresentações da Banda da SMUD, assim como de doações dos músicos e apoiadores, tudo sendo entregue ao Sr. João Santos.

A primeira apresentação como Banda Musical da Sociedade União Democrata é contraditória. Encontramos duas datas: uma no dia 12 de outubro e outra dia 24 de outubro de 1896 ambas realizadas no mesmo local o Parque Souza Soares, localizado no Bairro Fragata, estando composta no dia 12 de outubro por 14 músicos e regente: O Mestre Manoel d’Oliveira, Adolffo Dias, José Maquinista, Bonifácio, Francisco Macaio, Antonio Braga, João Baptista, Jerônimo Ribeiro, Vicente, Cândido, J.M. Mattos, Angenor, e Emilio.( no documento faltam dois nomes na lista)

A primeira diretoria eleita em Assembléia Geral data do dia 24 de janeiro de 1897 sendo assim formada: presidente: Bernardino de Souza Gonsalves; vice-presidente:Antonio Duarte Braga; secretário: João Vicente da Silva Santos; tesoureiro: Jerônimo Ribeiro da Silva; procurador: João Baptista Lorena; adjunto de Procurador: Adolfo Jacinto Dias; Orador: Modesto de Passos Barcellos; Arquivista: Cândido Mattos, Marcos Evangelista Cardoso, Modesto de Passos Barcelo, Otacílio Barcellos, Otávio Cássio dos Santos, Vicente Ferreira Acosta, Zeferino de Menezes alem do professor Manoel d’Oliveira que foi também o organizador da primeira banda de música da SMUD, mesmo que seu nome não conste em algumas relações de fundadores.

A sede da SMUD desde sua fundação em 1896 ate 1915 a sociedade funcionou em dois prédios alugados na zona da Catedral de Pelotas. De inicio na rua Gonçalves Chaves e depois na Felix da Cunha( fonte informativo 9 ). Encontramos informações de que a Banda União Democrata nasceu Zona do Porto, funcionando no prédio Associação Negra Feliz Esperança onde permaneceu por 10 anos na parte central de Pelotas. ( beatriz loner, revista em historia vol. dez, 2002 ).

A sociedade inicialmente compõe-se de cinco classes de sócios: sócio executante, protetor, honorário, bem feitor e benemérito até 1962 quando passa a ter nove classes de sócios. Criou-se um Montepio logo após que os cofres sociais possuíam seu prédio social, móveis, alfaias etc, um pecúlio socorreria os sócios executantes em caso de doenças, em caso a moléstia, até o dia em que o enfermo possa trabalhar. O sócio executante que por invalidez a juízo da assembléia geral não poder continuar a tocar na banda receberá a diária. Pelo falecimento do sócio executante o montepio concorrerá com a quantia para os seus funerais e as despesas de carro são pagas pelo montepio.

O imóvel foi adquirido em 1913 na gestão do presidente Carlos André Martins Bohns (alem de comerciante era Capitão da Guarda Nacional) no mês julho de 1915. O prédio é centro da cidade na época chamava-se rua 3 de fevereiro 401, hoje rua Major Cícero Góis Monteiro, o prédio precisou passar por alguma reformas sendo inaugurado no dia 07 de setembro de 1916 na ocasião festejaram o os 20 anos da fundação da SMUD.

O nome “Democrata” tem origem na necessidade de existir um espaço musical onde não existisse discriminação de raças, como vinha ocorrendo, nas associações musicais do seu tempo. Constituída na maior parte de afro- descendentes, o que não significou um gueto ou um apartait, mas sim uma mistura de todas as raças, .( fonte:informativo 9 ) uma instituição musical de caráter interétnico em favor da arte.

O primeiro presidente foi o Sr. Bernardino de Souza ( que se popularizou em pelotas com o Armazém “As Dois Mil Palmeiras” localizada a rua Andrade Neves, entre Sete se Setembro e Marechal Floriano) eleito em 24 de Janeiro 1897. O organizador da banda de musica da SMUD foi o Professor Machado d’Oliveira, sendo o primeiro Maestro. Para reger a Banda era necessário que a pessoa indicada fosse de reconhecida competência, era nomeado ou contratado pela diretoria de comum acordo com os sócios executantes.

Segue em lista os nomes e datas dos maestros que passaram pela banda civil mais antiga em funcionamento no Brasil : de 1896 a 1930 passaram pela regência da Banda os maestros: Manuel Machado d’ Oliveira , Ângelo Pio da Cunha, Francisco Guimarães Pereira, José Martins Mascarenhas,Raimundo da Souza Malheiros, Rogério Velásquez, Salustiano José Penteado (permaneceu no cargo de maestro por dez anos) Dimásio Elisàrio Cavalcante,Gastão da silva Ramos Lucio Casemiro da Silva Ramos e Lucio Casemiro da Silva.; de 1930 á 1931 regidas por Francisco Donizetti Pêro; foto diretoria 1930.

Em 1932 a 1977 o maestro Norberto Nogueira Soares (maestro da Banda da SMUD por 45 anos ininterruptos); A banda de musica não resiste à morte do maestro Norberto e fica desativada por anos ate que assumisse em 1979 até 1983 o maestro Azamar Pinto.2001 José Filipe Cavalcante de Aguilar, 2004 Fonseca, 2005/2006Aguilar / seu Zé do trombone.43

A primeira Assembléia geral da SMUD foi realizada em 20 de Agosto de 1917. A presente diretoria era formada por: Carlos André Martins Bohns Presidente. José Leão Vice-presidente. Luiz Francisco de Oliveira Carvalho 1º secretário. Arnaldo Joaquim Farcão Junior 2º secretário. Ladislau Lima Tesoureiro. Octavio Luca Cezar Adjunto. Clarimundo Rosa N. Silva Orador. Aristides Martins Porta bandeira. Lucio da Silva Arquivista.os diretores: João d’Avila Correa, Porfírio Veiga Rodrigues, Cirilho da Conceição Carvalho, Arttur Chagas, João Baptista Porto, Néscio Moraes. Ficando arquivado no cartório á rua Riachuelo, nº 64, um exemplar, sob nº 247, do jornal “A Federação”, do dia vinte e cinco de outubro de mil novecentos e dezessete, em que foi publicado o extrato dos estatutos da sociedade Musical “União Democrata”. Apresentado por Carlos André Martins Bohns, cabe ressaltar que o referido jornal encontra-se guardado de forma adequada no arquivo da Sociedade. Até os dias de hoje passaram pela presidência da diretoria da Sociedade: Bernardino de Souza considerado o presidente- fundador, eleito na primeira assembléia geral 24 de janeiro de 1897;em 1900 o nome que aparece é o de Francisco Guimarães Pereira (também regente).44 Porém, no mesmo ano, o ilustre pelotense João Simões Lopes Neto aceitou convite para ser presidente da diretoria da gestão 1900/1901 toda via não renunciou ao cargo minutos antes de começar a assembléia de posse, mas continuou no fazendo parte do quadro de sócios; 1901/1903 Paulinho Rodrigues reeleito duas vezes; 1904/1909 Carlos Paredes Villar reeleito cinco vezes- no ano de 1906 a Banda da União democrata representa a cidade de Pelotas na recepção do presidente da republica Afonso Pena; 1910-Adolpho Gonçalves Vieira; 1911/1912 João Luis Maisonave; reeleito uma vez neste ano a Banda da União Democrata animava as tardes futebolísticas do Esporte Clube União localizado entre as ruas Gen. Osório, Três de Maio, Marechal Deodoro e Gomes Carneiro- em 1913 Carlos André Martins Bohns reeleito quatro vezes-, inaugurou a sede; em 1918 Manuel Madureira de Castro reeleito duas vezes; 1921– Dr. Floriano Garibalde Botelho reeleito quatro vezes, exercia a profissão de cirurgião dentista da Beneficência Portuguesa, na década de 20 a banda união democrata abriu o desfile do “Tiro de Guerra” desfilava nas ruas Felix da Cunha esquina com a Tiradentes enfrente na época do Ginásio Pelotense, 22 novembro de 1922 foi instada na sede a imagem da Santa Cecília saudada em todo o mundo católico como “Padroeira da Musica” fica sendo a padroeira da entidade; Em 1923 José Nunes da Silva Tavares. Foi reeleito três vezes-; 1927 Luiz Francisco de Oliveira Carvalho reeleito dezoito vezes, profissão industrialista e comerciante, na sua gestão foi criada pelo maestro Norberto Soares o Curso de Musica Elementar de caráter popular, nesse curso muitos alunos formaram-se gratuitamente, sendo durante muito tempo o único local em Pelotas onde se poderia aprender a teoria e a técnica de instrumentos típicos de uma banda musical, no ano de 1930 morre um dos sócios diretores Alarico Alves Valença acadêmico de direito morto na Revolução de 1930; 1932 a sociedade musical União Democrata funda o curso elementar de musica noturno dirigido pelo seu fundador o maestro Norberto Soares.em 1935 morre Jeremias Nogueira Soares sócio desde 1915 e primeiro tesoureiro por 15 anos de 1920 a sua morte; 1946 Romeu Sacco nesse ano a entidade obteve junto à prefeitura isenção do imposto predial urbano no mesmo ano foi criado o Jazz-band Democrata; 1947 Macelino Barnabé por reeleito uma vez-. A partir de 1948 o mandato da diretoria passou para dois anos (biênio) a alteração dos Estatutos da Sociedade Musical União Democrata foi aprovada em assembléia geral, realizada em 14 de junho de 1948; 1950 Adriano Nogueira Soares. Na década de 50 uma crise econômica abalou as atividades da entidade; em 1952 Walter Pereira Mattos renunciou em dezembro do mesmo ano, tendo assumido o seu vice-presidente Domingos Felipe Cascaes Tavares Gravato, proprietário da padaria São João situada na rua 15 de Novembro, esq. Major Cícero; em 1954 Cap. Nelsom Leovegildo Pereira reeleito uma vez morreu em 1957 tendo assumindo seu cargo o vice-presidente Darci Frank que foi reeleito por duas vezes. Em 1956 o velho Montepio é substituído por um seguro de vida coletivo, instalação de telefone na entidade já havia passado 60 anos de fundação e a Banda Democrata acumulava mais de 500 apresentações ; em 1962 Alberto Frederico Bohns, filho do presidente de 1913, na década de 60 os músicos jovens e estudantes de musica da sociedade fundaram o Democrata Atlético Clube, dedicando-se ao futebol e ao tênis de mesa.; 1964 Carlos Henrique Nogueira, atuou como presidente por pouco tempo por motivo de doença, seu vice assumiu as funções Rodolfo Andrade Antunes; 1966 Dr. Hipólito Jesus do Amaral Ribeiro, (atuava na política foi vereador e deputado da assembléia legislativa do estado onde exerceu a liderança do primeiro governo de Ildo Meneguetti) a Banda da Sociedade Musical União Democrata comemora seu septuagésimo aniversario no teatro Sete de Abril ; 1968 Dr. Sérgio Chim dos Santos; 1970 Ten. Francisco de Paula Vargas, faleceu em 1971 assumindo seu cargo seu vice-presidente Conceição Horta Filho; 1972 Darcy Gazulha de Oliveira reeleito uma vez, em 73/74/75 participou com destaque em festividades nas cidades gaúchas de Getulio Vargas, Flores da Cunha, e Erechim em Santa Catarina esteve na cidade de Concórdia em todas as Festivais Regionais que foi logrando sempre os primeiro e segundos lugares; 1976 Prf. Detlev Walter Schultze No ano de 1977 precisamente no dia 24 de julho morre o maestro Norberto Nogueira Soares o qual foi diretor por 45 anos, durante os quais passaram pela União Democrata aproximadamente 4000 alunos; em 1978 a sociedade foi dirigida por uma junta comemorativa presidida por Jose Ignácio Soares que funcionou de 05/12/78 a 01/07/79; 1979 Padre Dr. José Ozi Alvez Fogaça que na época ocupava cargo de vereador na câmara Municipal e era advogado fundador do bloco burlesco Bafo da Onça no bairro Simões Lopes, local da igreja Nossa Senhora Aparecida onde era padre.; 1981 professor e regente Azamar Pinto mandato encerrado a 07 setembro de 1983 nesse mandato a manutenção da banda e do curso elementar de musica ficou seriamente comprometida ocorrendo à desativação. Na intenção manter o prédio e pagar os impostos foi criado nesse ano o conjunto musical “Os Democráticos”, formado por músicos da sociedade; de 1984 até 1992 Homero Ribeiro ficou na presidência;

Em 1993/1995 Orvandil Sebaje; 1996 Luis Carlos Morales; 1998 Orvandil Sebaje, ate o mês agosto do mesmo ano. Em 1998/1999 Luis Carlos Morales; 2000 Edgar Borges; 2001 Adair Dias. No 7 de setembro desse ano foi assinado o convênio de cooperação técnico-cientifica com a universidade federal de Pelotas pelo período de quatro anos.

A Sociedade União Democrata completou 109 anos em 2006 e constitui hoje a banda civil de formação clássica mais antiga do país ainda em funcionamento, cujo repertório reflete o seu comprometimento com a música popular brasileira45.

CONCLUSÃO

O negro, após 118 anos da abolição, encontra-se ainda em situação de desvantagem em termos de representatividade na sociedade. Isso pode ser percebido através da narrativa das minhas próprias memórias enquanto negro. Essa constatação também fica clara na memória da SMUD, objeto do meu estudo. Marcadas pelo preconceito, tanto a minha trajetória através das instituições de ensino quanto a da SMUD pelos espaços musicais, são experiências e tentativas de inserção do negro na sociedade.

Dentro das estruturas sociais em que está inserida a SMUD, as lembranças são retomadas, principalmente, a partir de referências coletivas, diferentes das minhas que são individuais. Porém, a memória social nos aproxima e nos liga. Essa ligação permite compartilhamos uma visão de mundo e nos identificarmos como atores sociais.

Após dois anos de pesquisa tendo a memória como método de reconstrução histórica da Sociedade Musical União Democrata, constituímos um memorial através dos objetos biográficos, documentos escritos e fotografias. Nesse momento pareceu importante formar um arquivo que permitisse organizar a documentação tanto administrativa quanto histórica visando disponibilizar tais documentos para novas pesquisas e até mesmo para consulta popular.

Durante o trabalho verificamos que alguns objetos encontrados nas dependências da SMUD foram de grande importância como ícones de ligação com a trajetória de vida da instituição. No exercício de limpar, registrar e catalogar esses objetos biográficos foram dialogando com os documentos escritos na tentativa de formar um memorial mais completo.

A partir de reconhecimento e reconstrução das lembranças, formou-se em mim um novo olhar a respeito da participação do negro na sociedade pelotense. Diferente do que pensava eu, a SMUD surgiu mais como um espaço musical de convivência inter-étnica do que um espaço especificamente de negros. Essa constatação se deu pela falta de documentos que comprovem a presença efetiva de negros nas atividades iniciais da sociedade e tendo em vista que a escola de música era inicialmente paga, o que inviabilizava a participação de muitos negros. Hoje a União Democrata mantém uma banda de caráter popular e a escola de música é gratuita, o que permite uma inclusão maior.

Pretendo dar continuidade a essa pesquisa, pois existem mais perguntas a serem respondidas e muitos espaços a serem ocupados, tanto pela SMUD quanto por mim, negro e sujeito histórico.

BIBLIOGRAFIA

ABRAMOVAY, Mirian, Drogas nas escolas/ Mary Castro e Mirian Abramovay,/Brasília. UNESCO, coordenação DST/AIDS do Ministério da Saúde, Secretaria dos estados dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, CNPQ, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2002.

ARRIADA, Eduardo. Pelotas - Gênese e Desenvolvimento Urbano (1780-1835). Pelotas: Armazém Literário, 1994.

BARBOSA, Paulo Sérgio Medeiros, Art: Em busca de uma expografia exclusiva. História, Memória E Testemunho – Caderno de Resumos; VIII Anpuh/RS UFPEL, julho de 2004/

Art: Negro Sujeito Histórico.Turismo e Arqueologia: Patrimônio Cultural e Ambiental - Caderno de Resumos; Seminário Internacional, novembro de 2004 /

BERND, Zilá. O negro: Consciência e trabalho/ Zilá Bernd, Margaret M. Bakos – Porto Alegre: Editora Universitária. UFRGS, 1991.

BORDIEU, Pierre Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza Corrêa. Campinas: Papirus, 1996.

BORGES, Edson. Racismo, Preconceito e Intolerância/ Edson Borges, Carlos Alberto Medeiros, Jacques d’Adesky: coordenação Wanderley Loconte. São Paulo: Atual, 2002.

BOSI, Ecléa. O Tempo vivo da Memória: Ensaios de Psicologia Social. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

CARDOSO, HENRIQUE H. - Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. São Paulo: Difel. (Tese de doutorado, PhD thesis). (1977) 2a. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra.

CARRIL, Lourdes. Terra de Negros: herança de quilombos. São Paulo : Scipione, 1997.

CUNHA, Marcelo Nascimento Bernardo da, pesquisa de doutorado Memórias institucionalizadas de culturas afro-brasileiras da PUC/SP, 2004

DORNELLES, João Batista, Art.: Profissões exercidas pelos negros em Pelotas.História em Revista/ UFPEL; Departamento de História e Antropologia. Núcleo de Documentação Histórica. ICH, UFPEL, Pelotas, V.4. setembro de 1994: Pelotas. Editora UFPEL.

Estatuto da igualdade racial, Brasília, 2003.

FONSECA, Cláudia, (org). Fronteiras da Cultura, Horizontes e Territórios da Antropologia na América Latina. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1993.

GOMES, Flavio dos Santos. Experiências Atlânticas: ensaios e pesquisas sobre a escravidão e o pós-emancipação do Brasil/Passo Fundo: UPF 2003.

GUTIERREZ, Ester. Negros, Charqueadas & Olarias. Um estudo sobre o espaço pelotense. 2ª edição. Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 2001

História Oral - Revista da Associação Brasileira de História Oral. São Paulo: Prol Editora Gráfica, n° 1, junho de 1998.

Horizontes Antropológicos/ UFRGS. ITCH. PPG em Antropologia Social. Ano 1 (1995). Porto Alegre: PPGAS, 1998./ FERRETI, Sérgio F., Art: Sincretismo afro-brasileiro e resistência cultural.

LONER, Beatriz Ana. Art. Pelotas se diverte: clubes recreativos e culturais do século XIX. História em Revista/ Núcleo de Documentação Histórica. ICH, UFPEL, Pelotas, V.8 dezembro de 2002.

________________.Art. 1887: a revolta que oficialmente não houve ou de como abolicionistas se tornaram zeladores da ordem escravocrata. História em Revista/ Núcleo de Documentação Histórica. ICH, UFPEL, Pelotas, V.3 novembro de 1999

_________________.Construção de classe: operários de Pelotas e Rio Grande (1988-1930). Pelotas. UFPel. Editora Universitária: Unitrabalho, 2001. (467 p)

MACHADO, Maria Helena, Crime e Escravidão. São Paulo: Brasiliense, 1987.

MAGALHÃES, Mário Osório. História e Tradições da Cidade de Pelotas. 3ª edição. Pelotas: Armazém Literário, 1999.

_____________________Opulência e Cultura na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). 2ª edição. Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 1993.

MARCON, Telmo. Memória, História e Cultura. Chapecó: Argos, 2003.

MARSICO, Dílson – Escravidão e Resistência: Quilombo na Serra de Tapes. Cadernos do ISP/UFPEL, Instituto de Sociologia e Política nº 10, junho de 1997, Pelotas.

__________________________. “Os negros e a resistência contra a escravidão” Fazendo História — Coleção Documentos — nº 1 —. Pelotas, junho de 1994. 2º ed.

MAUCH, Cláudia. Ordem Pública E Moralidade: Imprensa e Policiamento Urbano em Porto Alegre na década de 1890. / Cláudia Mauch. – Santa Cruz do Sul: EDUNISC/ANPUH-RS, 2004.

MELLO, Marco Antônio Lírio de. Reviras, Batuques E Carnavais; A cultura de esistência dos escravos em Pelotas: Editora Universitária UFPEL, 1994.

MORAES, Carlos Dante. Figuras e Ciclos da História Rio-Grandense. Porto Alegre: Editora Globo, 1959.

PESAVENTO, Sandra. A Emergência dos Subalternos. Porto Alegre: Ed. UFRGS/FAPERGS, 1989. NNB

________________ História do Rio Grande do Sul: 4ª ed., Porto Alegre, Mercado Aberto, 1985.

PELLANDA e PELLANDA. Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Levy / org. Nize Maria Campos Pellanda e Eduardo Campos Pellanda. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2000.

QUEVEDO, Júlio. Rio Grande do Sul - Aspectos da História. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1994.

ROMÃO,Jeruze. História da Educação do Negro e outras histórias/Organização:. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.- Brasília: Ministério da Educação, Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2005.

SAMAIN Etienne, Fotografia e Memória; reconstituição por meio da fotografia. São Paulo: Editora Hucitec/CNPq,1998S

SANTOS, José Antônio dos. Raiou a alvorada: intelectuais negros e imprensa, Pelotas (1907 – 1957). Pelotas: Ed. Universitária, 2003.

STALLYBRASS, Peter. O Casaco de Marx: roupas, memórias, dor: tradução de Tomaz Tadeu da Silva – 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

THOMPSON, David. Pequena História do Mundo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.

MAIO, Chor Marcos & VENTURA, Ricardo( organizadores) Raça, Ciência e Sociedade, Rio de Janeiro: Ed. Fio Cruz / Centro Cultural Banco do Brasil, 1996. 252pp

http://www.ufpel.tche.br/pelotas/simoeslopes.html#top

http://www.comciencia.br. GAGNEBIN, Jeanne Marie. Memória, história, testemunho

http://www.espacoacademico.com.br/ revista espaço acadêmico-Ano –ll N°13- Junho e 2002- mensal-ISSN 1519.6186. ROMANO, Marcelo Henrique Tragtenberg Um olhar de branco sobre ações afirmativas

http://www.espacoacademico.com.br/ revista espaço acadêmico-Ano –ll N°30- novembro e 2002- mensal-ISSN 1519.6186. Alforria Curricular através da Lei 10.639 ARAUJO & CARDOSO, Joel de e Patrycia de Resende

www. Saber. usp.br. RIBEIRO, Maria Solange Pereira. O Romper do Silêncio: história e memória na trajetória escolar e profissional dos docentes afrodescendentes das Universidades Públicas do Estado de São Paulo

www.arquivonacional.gov.br/crapp_site/defalt.asp

1 Dados históricos retirados do Informativo n. 9 e Atas da SMUD). Verbete escrito por Paulo Sergio Medeiros Barbosa, 2006).

2 Dados do PNAD/IBGE (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio/de 1992 a 1999) indicam que o salário médio do negro é metade do salário do branco. Um ano a mais de escolaridade faz branco ganhar mais do que o negro (ver Folha de São Paulo de 05/04/2001). Estamos diante de um “apartheid” social disfarçado.

3 Sobre o negro na educação ver História da Educação do Negro e Outras Histórias

4 O programa de apoio e assistência estudantil (e transporte – que um dia já foi gratuito) existe em Pelotas a moradia e alimentação gratuita para os mais carentes, isso representa para muitos estudantes a condição essencial de acesso ao ensino superior, resistindo às políticas neoliberais que eximem o estado de repassar verbas para a educação superior.

5 “Registrou-se, em maio de 1978, a primeira greve de operários metalúrgicos desde 1964, em São Bernardo do Campo, salientando-se, na ocasião, a liderança de Luís Inácio da Silva, o Lula, presidente do sindicato da categoria.” Em 31 de dezembro deste mesmo ano, o presidente Geisel revogou o AI-5, restaurando a democracia no país.

6 “História Nacional e História local são sutil e intrinsecamente relacionadas e entrelaçadas, e o estudo de uma geralmente ilumina a outra. Entretanto uma coleção de histórias locais não pode construir uma história nacional, porque a história de uma nação é algo diferente de um mero agregado de histórias das suas várias partes.

7 “A festa carnavalesca, enquanto um ritual de passagem, chama a atenção do pesquisador interessado pelo universo das manifestações culturais porque nela se aglutinam pessoas, grupos sociais e mesmo a multidão, que ganham visibilidade própria e que se diferenciam da rotina do dia-a-dia. Marcado pelo signo da diferença, a festa durante o carnaval é caracterizada pela mudança de comportamento e de sentido para as práticas sociais.’ ( Mello, Marco Antonio Lírio de, 1994, pág. 61)

8.“A polícia, tal como a conhecemos hoje, é, em linhas gerais, uma instituição historicamente nova. Surge com a sociedade burguesa e sua ética do trabalho. Abolida a Escravidão e instalada a República o Estado parece incorporar a tarefa de ordenar comportamentos e espaços. Na década de 1890 a polícia é instituição privilegiada para observação dos projetos e práticas de ordenação e moralização do espaço público” (Mauch, Claúdia, 2004, p.30). Conforme o Marco Antonio Lírio de Mello, Pelotas foi a primeira cidade do estado a fazer a solicitação de autorização para criar a polícia particular.

9 Informativo n° 9 de setembro de 1996.

10Sobre os lanceiros negros e sua participação na Revolução Farroupilha ver BERND, Zilá. O negro: Consciência e trabalho/ Zilá Bernd, Margaret M. Bakos – Porto Alegre: Editora Universitária. UFRGS, 1991. (págs. 67/68)

11 Sobre frigoríficos e curtumes em Pelotas e Rio Grande do Sul ver PESAVENTO, Sandra Jatahy. História do Rio Grande do Sul: 4ª ed., Porto Alegre, Mercado Aberto, 1985. (págs. 71 a 76)

12 O Frigorífico Rio-Grandense, “inaugurado auspiciosamente em setembro de 1917 em Pelotas, revelou-se carente de capitais. Sem condições de operar em larga escala, em inícios de 1921 foi vendido à uma firma inglesa Westey Brothers que, posteriormente, o poria a funcionar com o nome Frigorífico Anglo.” Hoje, depois de vários anos abandonado, a UFPel comprou o prédio do frigorífico Anglo para novas instalações da universidade, que de certa forma contribui muito para a movimentação do comércio (setor terciário).

13 Textos organizados pela equipe do Museu da Baronesa (Carla Gastaud, Artur Peixoto, Cláudia Tomaschewsk e Débora Clásen) em 2001.

14 DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e História do Brasil. 2 volumes. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1978, p. 327-328.

15 Estes mais tarde fundarão as Missões.

16 Ver QUEVEDO, Júlio. Rio Grande do Sul - Aspectos da História. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1994.

17 GUTIERREZ, Ester. Negros, Charqueadas & Olarias. Um estudo sobre o espaço pelotense. 2ª edição. Pelotas: Editora Universitária/UFPel, 2001.

18 “Nesta época viviam aqui alguns moradores, a maioria fugidos da colônia de Sacramento e da Vila do Rio Grande, após a invasão espanhola de 1763. Eles haviam se apossado de terrenos sobrevivendo de forma precária sem garantias gobvernamentais de posse da terra.” ( Cadernos de Educação Patrimonial de autoria de Beatriz Zechlinski e Carla Gaustaud, não publicado, 2004)

19 Cf. Moraes, Carlos D. Colônia de Sacramento e Rio Grande de São Pedro.

20 O Rio da Prata era famoso pelas lendas indígenas como sendo um caminho até um grande veio de prata.

21 Cf. Quevedo, Júlio. Rio Grande do Sul - Aspectos da História. Porto Alegre, Martins Livreiros, 1994.

22 PESAVENTO, Sandra. A Emergência dos Subalternos. p. 22.

23 Correio Mercantil. Pelotas, cinco de junho de 1881. Citado em: MELLO, Marco Antônio Lírio de. Fazendo História — Coleção Documentos — nº 1 — “Os negros e a resistência contra a escravidão”. Pelotas, junho de 1994. 2º ed.

24 Sobre a escola se apresenta para os jovens como um instrumento para o exercício da cidadania na medida em que funciona como um dos passaportes de entrada e aceitação na sociedade e como de uma possível vida melhor.. Entretanto, ressaltam ainda, que a escola também é um dos mecanismos por meio do qual se operam a exclusão e a seleção social.” (texto do livro Drogas nas Escolas de Mari Castro e Miriam Abramovay, pg.326.

25 Pierre Bordieu, no IV capítulo dos Escritos da Educação, afirma que “o rendimento escolar da ação escolar depende do capital cultural previamente investido pela família e que o rendimento econômico e social do certificado escolar depende do capital social também herdado - que pode ser colocado a seu serviço.”

26 Ver Oliveira, Silveira. Educação e Ações Afirmativas: entre a justiça simbólica e a justiça econômica, Brasília, INEP/MEC, 2003.

27 “Os quilombos eram tradicionalmente agrupamentos formados por escravos fugidos, em locais isolados e de difícil acesso. Atualmente, o termo passou a designar terras habitadas por negros e originadas de doações de antigos senhores, de fazendas abandonadas com escravos, com terras da igreja e com o decreto da abolição, terras doadas a ex-escravos.” (Carril, 2001, pg. 10). Não encontramos, apesar dos registros na historiografia, registros literários sobre a ação quilombola no Rio Grande do Sul. Entre os quilombos encontramos Do Negro Lucas na Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande (1833), em Pelotas (1835) e os quilombos de Rio Pardo (1848) e o de Barba Negra (1829). (ver Bernd, 1991, pg. 13).

28 No ano de 1999, nos organizamos em torno do PC do B, da UJS com o intuito de formar uma chapa e romper com a hegemonia do PT, que há cinco anos dirigia o Centro Acadêmico. Período de perdas de direitos estudantis, o que nos levou a reunir um grupo composto por 32 pessoas com representação de todos os cursos da universidade. Mais tarde, já na direção do DCE, me questiono sobre a hierarquia existente no partido e a promoção política que alguns quadros alcançavam através de coligações que não levavam em conta a ideologia da organização. Vem o rompimento com o PC do B.

29 A lei 3.198/00O que instituiu o projeto de cotas tem como base as experiências feitas pelos países que convivem com o racismo como Inglaterra, Canadá, Índia, Alemanha, Austrália, Malásia, entre outros. Em 2003, do total de universitários brasileiros 97% são brancos, sobre 2% de negros e 1% de descendentes orientais. Sobre 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% deles são negros. Sobre 53 milhões que vivem na pobreza, 63% deles são negros. (Henriques, 2001 in Educação e Ações Afirmativas) Em 2006, depois de alguns anos na universidade, andando pelos mesmos corredores consigo observar um maior número de negros e negras, inclusive um ou dois professores que circulam pelo meio acadêmico. Porém, a desigualdade ainda é evidente demais para passar despercebida. Muitas das pessoas com as quais convivo se posicionaram contra a aprovação da lei, talvez por não conhecerem de perto a exclusão.

30 Ver em Maggie, Yvone. Aqueles a quem foi negada a cor do dia: as categorias de cor e raça na cultura brasileira. In: MAIO, Marcos (org). Raça, Ciência e Sociedade. Rio de janeiro: Ed. Fio Cruz, 1995.

31 Costa, Emília Vioti da. Da democracia à república: movimentos decisivos. São Paulo: Revista de Ciências Humanas, 1979.

32 Ver All-Alan, Caiuá.

33 Um exemplo claro que nos chamou atenção era a organização dos negros em entidades, associações, clubes buscando arrecadar fundos para compra de cartas de alforrias. Após a Lei Áurea o negro continuava buscando ocupar cada vez mais os espaços urbanos. Tendo a música, os negros buscavam espaço nas sociedades musicais da época. Os negros excelentes, músicos, especialistas em instrumento de percussão; bateristas são barrados nos clubes musicais existentes na cidade pelo fato de serem negros.

34 CUNHA, Marcelo Nascimento Bernardo da, pesquisa de doutorado Memórias institucionalizadas de culturas afro-brasileiras da PUC/SP, 2004.)

35 Para Reis, desde o aparecimento da escrita o homem sentiu a necessidade de conservar seus registros para outros tempos. “Os arquivos constituem desde sempre a memória das instituições e das pessoas, e existem desde que o Homem fixou por escrito as suas relações como ser social”. (Reis, Luís, 2004)

36 Loner, Beatriz Ana. Construção de classe: operários de Pelotas e Rio Grande (1988-1930)

37 São chamados de objetos biográfico, pois “envelhecem com o possuidor e se incorporam á sua vida: o relógio de família, o álbum de fotografias, a medalha do esportista, a mascara do etnólogo, o mapa mundi do viajante. Cada objeto representa uma experiência vivida... (Bosi, Ecléa, 2003, pg. 25)

38 . “Fotografia é memória e com ela se confunde”. (SAMAIN, Etienne, 1998, pg.42)

39 “Em maio de 1888, ainda haverá vários escravizados na cidade de Pelotas e milhares de contratados . A festa da abolição contará com cerca de 3000 negros a comemorar sua liberdade realizada quase um mês depois. (LONER, Beatriz. 1887: a revolta que oficialmente não houve ou de como abolicionistas se tornaram zeladores da ordem escravocrata . História em Revista/ Núcleo de Documentação Histórica. ICH, UFPEL, Pelotas, V.3 novembro de 1997.

40 Jornal A Federação de 1917, que se encontra arquivado na sede da SMUD.

41 E ”vale a pena lembrar que entre as entidades musicais, a discriminação racial nunca foi tão forte quanto em relação a outras entidades”. LONER, Beatriz Ana. Art. Pelotas se diverte: clubes recreativos e culturais do século XIX. História em Revista/ Núcleo de Documentação Histórica. ICH, UFPEL, Pelotas, V.8 dezembro de 2002. (pág. 62)

42 Definições do Ministério da Cultura, 2005.

43 ( fontes: estatutos da SMUD as disposição para consulta no arquivo do acervo de sua sede).

44 ( fonte : informativo 9)

45 Dados históricos retirados das Atas da SMUD e do Informativo nº. 9.