Vivendo em Redes - Relato de Encontro

O Encontro Vivendo em Redes, que aconteceu entre os dias 07 e 09 de maio de 2010, em São Lourenço do Sul, foi organizado pelos Tuxáuas PC e Rodrigo Apolinário. O projeto “Rota Digital Sul”, apresentado por PC (Paulo Sergio Barbosa) como proposta de articulação em rede, propõe a realização de encontros que proporcionem a troca de conhecimentos através de oficinas e vivências com foco no re

gistro e difusão da cultura. O projeto Zuando Som, proposto por Rodrigo Apolinário, tem como objetivo reunir uma coletânea de “Histórias Cantadas da Infância dos Mestres Griôs”. Rodrigo Apolinário em conjunto com Rodrigo Prates desenvolvem a pesquisa, o registro e a composição de músicas infantis, que são logo musicadas, e assim que aprovadas pelos mestres, compartilhadas. O encontro deu um passo importante para o fortalecimento e consolidação do trabalho em rede ao reunir diversas ações do Programa Cultura Viva (Tuxuáus, Ação Griô, Mídias Livres, Pontinho e Agente Cultura Viva), e redes sociais que tem olhar especial para a cultura quilombola (Mocambos e CAPA) e coletivos de comunicação (Catarse,Radio Amnesia e Nordeste Livre) que contribuíram com o registro audiovisual das vivências. As trocas de conhecimentos (através das oficinas e rodas de conversas) podem melhorar muito a comunicação e articulação dos projetos junto às suas comunidades. No Encontro Vivendo em Redes, as oficinas propostas e as atividades desenvolvidas durante o evento se completaram de forma bastante interessante e prática. O registro das histórias e músicas dos mestres serviu como material para a oficina de áudio. Nesta oficina, que teve a participação importante de Sérgio Melo, da Rádio Amnésia/Coletivo Nordeste Livre) e de Lucas Alberto (Lucasa) da Associação Software Livre, e apoio da Casa Brasil de Porto Alegre, os oficineiros (Jackson

, Mestre Paraqueda e Paulo Romeu do Odomode Porto Alegre, Pelé do Quilombo Rincão das Almas de São Lourenço do Sul, Joel Sandro do Quilombo Manuel do Rego de Canguçú, Clediane do Ponto de Cultura Musicart de São Lourenço do Sul, Dilermando da Ong Odara de Pelotas, e Themis do Coletivo Catarse de Porto Alegre) conheceram ferramentas livres de edição de áudio que permitem a gravação e edição de músicas produzidas nas comunidades e facilitam a difusão cultural através de rádio web e comunitária, ao mesmo tempo gerando conteúdo de áudio gravado e editado com base nas rodas de música e conversas do encontro.

Também na oficina de fanzine as atividades do próprio encontro serviram como conteúdo para a mídia produzida por um dos grupos, formado por Felipe Bischoff (Ag. Cultura Viva), Margareth Lima, Priscila Couto e Dilermando Freitas (Ação Griô). Outros três fanzines foram desenvolvidos durante a oficina: 1. sobre as atividades do Ponto de Cultura Musicart de São Lourenço do Sul (Joel Santana, Geovana Peter e Débora Moraes); 2. Agricultura Ecológica (Patrícia Pinheiro do Grupo de Agroecologia Uvaia); 3. de divulgação da Festa da Biodiversidade Lisiane (Pipoca) do Grupo Uvaia e Fernandão, Tuxáua, ambos de Porto Alegre. A oficina de fanzine foi proposta pela educadora Vania Pierozan.

Reunidos no encontro, os Griôs presentes tiveram a oportunidade de tirar dúvidas sobre os projetos com a Consultora dos Pontos de Cultura da Região Sul, Ana Paula Stock. Os questionamentos evidenciaram a necessidade de um encontro com as equipes da Ação Griô da região sul, onde Mestr

es e aprendizes possam receber orientações quanto à metodologia e registro da execussão dos projetos. Essa demanda vem se arrastando ao longo de todo o ano passado, já que o único encontro da Ação Griô na Região Sul foi o encontro de Aprendizes em julho de 2009, evento do qual nem todos os aprendizes participaram. Desde então, houve troca de membros de alguns projetos e os mestres Griôs e os Mestres de Tradição Oral não tiveram oportunidade de encontro. Além disso, devido a problemas organizacionais, nenhum mestre da Região Sul participou da Teia 2010 Tambores Digitais em Março deste ano.

Outro ponto importante desta roda de conversa foi a Lei Griô e Lei do Mestre. Com a discussão as diferenças entre as duas leis chegou-se a conclusão que a Lei do Mestre é mais ampla que lei Griô, porém, neste momento é fundamental fortalecer antes o Programa Cultura Viva. Apesar de ter sido feito um grande trabalho de divulgação por parte de alguns aprendizes e mestres, as informações gerais sobre o recolhimento de assinaturas não chega até essas equipes de ação griô, então, juntos decidiram parar este trabalho de coleta de assinaturas até que se reúna maiores detalhes sobre o projeto de Lei Griô. Participaram desta roda Mestre Baptista, Mestre Sirley Amaro, Dilermando Freitas e Priscila Couto de Pelotas, acompanhados das colaboradoras D. Maria e D. Dulce; Mestre Paraqueda, Paulo Romeu e PC do Odomode; Mestre Chico do Na Quebrada, Leandro Antom do Quilombo do Sopapo, Angelita, aprendiz do projeto do Floresta Aurora, os Tuxáuas Sérgio Valentim e Rodrigo Apolinário de Porto Alegre, Fabiane e Preto de São Lourenço do Sul.

A Rede Mocambos Sul também reuniu-se no encontro. Participaram desta conversa os representantes das Comunidades Quilombolas de São Lourenço de Sul (Mestre Ana Centeno e Pelé), de Canguçú (Joel Sandro), representantes do CAPA Preto e Fabiane e do Vale do Ribeira, Paraná (Wilham Barbosa). O convite foi extendido a outras comunidades, porém, nem todas puderam comparecer. Na conversa Mestre Chico fez a apresentação do CAPA a fim de desenvolvermos uma ação conjunta. Combinamos então visita à 11 comunidades (no mes de junho de 2010) a fim de registrar demandas dos quilombolas e apresentar o trabalho da Rede Mocambos. Sara, Integrante do Coletivo Catarse, propôs a construção de um projeto para o edital Rádio Documentário, que seria desenvolvido em seis comunidades com o objetivo de conhecer as vivências nos quilombos. Ficamos de marcar visita às comunidades acompanhados de Mestre Chico e Preto do CAPA. Segundo PC, "o destaque das falas ficaram por parte da combrança da instalação das antenas, visto que as comunidades já encaminharam a documentaçao e adequaçao do espaço físico estão motivadas a utilizar a internet como forma de comunicação entre as comunidades. Outro ponto foi com relação ao suporte para os polos Mocambos".

Os representantes da Rede Mocambos atribuem grande importância à capacitação dos multiplicadores nas comunidades e suporte técnico nos telecentros. Para garantir essa formação e assistência, a idéia é que os Promotores de Inclusão Digital GESAC realizem esse trabalho nas comunidades quilombolas do RS. Houve montagem de uma rádio FM e WEB utilizando-se tecnologias livres, sob orientação de Sérgio Melo da Rádio Amnésia de Olinda, com objetivo de sensibilizar as comunidades a utilizar o rádio como meio da transmissão da oralidade. Como proposta da Rede para o estado foi oferecido suporte técnico para elaboração de projetos de pontos de cultura em comunidades quilombolas da metade sul do RS. Também surgiu a indicação de criação de projeto de Ponto de Cultura em território quilombola que seria a base de articulação da rede no interior do estado. O edital já está sendo elaborado pela FURG e tem previsão de lançamento para o próximo mês. No segundo Encontro da Rede, previsto para o segundo semestre, teremos um panorama do tipo de formação que o núcleo levará para as comunidades. No domingo aconteceu a entrega da semente de Baobá para a comunidade negra de Pelotas, representada por Dilermando da ONG Odara.

A música foi um elemento importante do encontro, começando logo na abertura, quando Mestre Paraqueda, de Porto Alegre, preferiu levar sua saudação ritmada pelo som dos tambores e cantou a música "O que Vovô dizia", de sua autoria. E de maneira emocionante encontraram-se nossos mestres, suas vozes, atabaques (pequeno e médio), cuíca, pandeiros, djambé, xequerês, berimbau, cavaquinho, escaleta, violões, tam tam e muita alegria. E o sopapo do mestre Batista foi levado ao encontro com muito entusiasmo, o Sopapo do projeto Cabobu, precursor da valorização do instrumento, que foi construído pelo Mestre Baptista e doado para a comunidade negra de São Lourenço do Sul pelo Mestre Griô Giba-Giba fica muito bem protegido na Sociedade 15 de Novembro. Mestre Paraqueda, inspirado nestre encontro, está compondo um samba de roda que em breve será apresentado em nossas rodas de samba. Com o registro das imagens do encontro e do áudio será desenvolvido um clipe da música. A experiência do trabalho colaborativo na comunicação vem sendo vivenciada no Sul especialmente nestes encontros. No Teia Sul essa parceria colaborativa resultou na produção do clipe Samba do Griô, finalizado e publicado pelo Coletivo de Comunicação Catarse.

Os quatro Tuxáuas do Rio Grande do Sul tiveram possibilidade de conversar sobre seus projetos e traçar ações conjuntas como atividades na Feira da Biodiversidade que acontece nos dias 20 a 22 em Porto Alegre e a colaboração para projetos de editais que estão sendo apresentados pelo MinC, como o Interações Estéticas. Tuxáua é um termo usado por algumas tribos indíginas para denominar o articulador, que identificava as demandas da tribo e buscava o encaminhamento propondo soluções baseadas nas experiências e conhecimentos da tribo. O Programa Cultura Viva, através da SCC premiou no ano passado projetos que articulam os pontos de cultura em diversos temas. Na região Sul temos projetos que pretendem trabalham temas como Autogestão, Biodiversidade, Quilombolas e Cultura Digital, Ludicidade e Musicalização.

A avaliação do encontro, que reuniu aproximadamente 50 pessoas durante três dias é bastante positiva; os espaços pra discussão e planejamento tiveram tanta importância quanto às atividades práticas através das oficinas. Esse equilíbrio entre atividades de formação, vivências musicais, digitais, debates e planejamentos de ações pode resultar em um formato de encontro dinâmico e proveitoso, onde as trocas de conhecimentos fluem com muita expontaneadade e criatividade.

Texto: Vania Pierozan e Ana Paula Stock