Selos Coroa

O Artista

O desenho e a gravação dos selos coroa das colónias portuguesas é da responsabilidade de Augusto Fernando Gerard, nasceu em Paris em 1796. Veio para Portugal com 20 anos para trabalhar como gravador para as oficinas de joalharia e ourivesaria de Santos Leite.

Fig.1- Augusto Fernando Gerard

Tornou-se um excelente gravador de esmalte e no fim da sua aprendizagem foi trabalhar para um Banco de Lisboa, que mais tarde passou a ser o Banco de Portugal. Para os dois bancos fez os cunhos para a maioria das notas. Isto deu-lhe uma grande reputação, de tal forma que o banco do Porto contratou-o pelo dobro do salário. Ao mesmo tempo, foi convidado para fazer o cunho da moeda de prata de 500 reis de D. Pedro V. Gerard recusou, preferindo abrir o seu próprio negócio na baixa de Lisboa. Ele aceitou, no entanto, muitos trabalhos do governo português. Partilhou desde sempre o seu talento artístico com os principiantes que lhe pediam ajuda.

Dada a sua natural inclinação para a gravura artística, Gerard criou uma justificada fama entre os joalheiros e gravadores da época. Não admira, pois, que o desenho original dos selos tenha uma grande influência pessoal do artista. Como um artista privado, ele fez muitos desenhos e gravuras para a Casa da Moeda, entre os quais estão o cunho de aço dos selos coroa das colónias portuguesas, tipicamente portuguesa, representa uma obra-prima em joalharia e também símbolo da realeza. O seu primeiro desenho foi para a emissão de Angola que mais tarde modificou para Cabo Verde, Macau, Índia, Moçambique, e St. Tomé e Príncipe. Morreu em Lisboa no dia 30 de maio de 1883.

Os selos tipo “Coroa” de Angola

Depois da publicação do Regulamento para a administração dos correios de Angola, por Portaria n.º 63 do Governo Geral publicada no B.O. n.º13 de 27 de março de 1869, é natural que a Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar, que era a entidade a quem competia a distribuição das estampilhas postais tivesse de imediato encomendado à Casa da Moeda em Lisboa.

Foi com grande surpresa que todos receberam, a novidade, quando surgiram os primeiros selos estampados, ao contrário do que acontecia na Metrópole, onde todos os selos apareciam com a efígie real impressa em relevo. A este propósito Carlos George refere "... O desenho adoptado é curioso; porque razão teria ele, como motivo principal, uma corôa real e não a efígie real do monarca, como em todos os selos do continente e todos os das colónias, a seguir a esta primeira emissão? e "... o desenho apesar de ser agradável à vista, não tem nada de especial."

A COROA REAL PORTUGUESA – foi D. Sebastião quem, em Portugal fechou a Coroa Real, que até então se apresentava sempre aberta. É constituída por um círculo de ouro, enriquecido de pedras preciosas, com oito florões parecendo folhas de aipo, realçados de uma pérola, levantados e cobertos de outros tantos diademas carregados de pérolas, e fechados em cima. Ao alto, sobre as pontas que se juntam, um globo de ouro, cruzado com uma cruz plana do mesmo metal.

A primeira emissão de selos da Província de Angola, emitida em 1870, com desenho e gravura de Augusto Fernando Gerard, tipografada em folhas de 28 selos, é constituída pelos seguintes valores: 5 R. (preto), 10 R. (amarelo ou laranja), 20 R. (bistre), 25 R. (carmim), 50 R. (verde) e 100 R. (lilás).

Até 1970 ninguém conhecia a data em que entrou em circulação o selo postal em Angola, no suplemento (1) publicado, Francisco de Castro Sá Furtado de Mendonça (chefe da secção de propaganda e publicidade da Direção e Serviços dos CTTA, concluiu apenas que a circulação do primeiro selo postal em Angola só teria começado a circular no primeiro semestre de 1870.

Em dezembro de 1974, foi publicado no boletim «Selos em Angola» do clube filatélico de Angola, por Carlos Torres de Sousa o edital que introduz o uso das estampilhas a partir do dia 15 de junho de 1870.(2)

Os restantes valores só foram emitidos em 1877:40 R.(azul), 200 R.(laranja) e 300 R. (castanho). Foram utilizados dois cunhos para alguns valores e para os restantes apenas um cunho.

Os denteados são sempre 12½ para as primeiras tiragens entre 1870 e 1874, altura em que foi adquirida pela INCM (1 jan 1875) uma nova máquina de picotar denteados de 13½.

Foram utilizados vários tipos de papéis nas diferentes tiragens, o espesso, o médio e o fino, selos retirados da circulação em maio de 1889.(3)

1870-Papel Espesso

Segundo os catálogos Scott e Simões Ferreira 1977, houve duas tiragens em Angola, uma em 1870 em papel espesso e outra por volta de 1875 em papel médio ou fino. Os valores impressos em papel espesso são os de 5 R., 10 R., 20 R., 25 R., 50 R. e 100 R. com uma variedade carmim rosa, no selo de 25 Reis e outra, violeta-claro, no selo de 100 Reis.

1874-O denteado 14 no selo de 25 Reis

Durante o ano de 1872 uma das duas máquinas de picotar, existentes na Casa da Moeda, avariou-se ou teve que ser alterada e uma nova grade foi montada, talvez de manufatura nacional, a qual não ficou suficientemente perfeita, pelo que o denteado não foi muito utilizado e apenas entre 1872 e 1874.(4)

Esta última informação completa a indicação do catálogo Scott. Assim, entre e 1870 e 1875 temos obrigatoriamente pelo menos três tiragens para o valor de 25 Reis, a primeira em papel liso espesso denteado 12½, a segunda entre 1874 e 1875 denteado 14 e em 1875 em papel liso médio ou fino em denteado 13½. Carlos George (5) também é da opinião que o denteado 14 foi empregado em 1875 ou no ano anterior.

A 1 de junho de 1875 chegou à Casa da Moeda a nova máquina de picotar encomendada à Casa Respaldiza de Bruxelas. O sistema desta nova máquina era ainda em grade e fazia um denteado de 13½.

Folhas completas e Filigranas

Em algumas folhas de 200 e 300 Reis aparece uma filigrana (marca d’água) com o seguinte texto: B.F.K. Rives no denteado 12½.

Estas marcas aparecem na margem superior da folha em duas posições, a normal e invertida. As medidas reais da filigrana BFK Rives em Angola são: 70 mm de comprimento e 8 mm de altura.

Aparecem algumas folhas completas em leilão, sendo as mais comuns as de 100, 200 e 300 reis nos dois denteados, as de 5, 20 e 25 também aparecem com menor frequência nos dois denteados. Nunca vi folhas completas dos selos de 10, 40 e 50 Reis.

As reimpressões de 1885 e 1905

As reimpressões de 1883-85, chamadas do Congresso Postal nada têm a ver com o 3.º Congresso da União Postal Universal. Foi antes um pedido do então Diretor Geral dos Correios ao Diretor Geral da Casa da Moeda em 16 de abril de 1883.[4]

IIImo. E Exmo Snr.

As Administrações dos Correios dos paizes que constituem a União Postal Universal teem, por diversas vezes, instado com esta Direcção Geral para que, a exemplo do que

a maior parte d’ellas já fizeram, se lhes envie uma colecção de estampilhas postaes desde a inauguração d’este systhema de franquia.

Tendo reconhecido que a satisfação d’este pedido é além do cumprimento d’um dever, uma prova do nosso reconhecimento pelas atenções de que somos objecto por parte das Administrações dos correios estrangeiros, muita desejaria aceder a elle.

N’essa conformidade, peço a V. Exa se digne mandar proceder a uma tiragem especial, em papel comum, não gomado, de 500 exemplares de cada um dos tipos de franquia emitidos desde 1853 até à actualidade.

Os exemplares d’esta tiragem cuja urgencia me permito solicitar de V. Exa. Deverão ser entregues mediante os competentes recibos, na 2ª Repartição d’esta Direção Geral para terem o devido destino.

Deus guarde a V. Exa. Direcção Geral dos Correios, 16 de Abril de 1883”

Só a 27 de Janeiro de 1885, o Diretor da Casa da Moeda comunicou a Guilherme Augusto de Barros estarem prontas as reimpressões no seguinte ofício:

«Tenho a honra de remeter a V. Exa. Uma collecção de 500 exemplares de cada um dos typos de franquia emitidos desde 1853 até ao presente, satisfazendo d’este modo o disposto no ofício de V.Exa. datado de 16 de Abril de 1883.»

Foram feitos 500 exemplares em papel comum não gomado distinguindo-se perfeitamente dos originais. Estas reimpressões (fig.15) são claramente caracterizadas pelo papel, branco, leitoso, espesso e sem goma. O respetivo denteado é sempre 13½.

Existem as seguintes variedades:

  • Reimpressões simples;

  • Com traço de 16,5 mm;

  • Com traço de 20 mm.

Carlos George escreveu em [5] o seguinte: "...Estas reimpressões eram feitas em folha de vinte e oito, como os originais. Possuo algumas e tenho visto outras. Além destas folhas possuo um bloco de quatro selos de 50 reis azuis, composto por dois pares horizontais de Macau e Cabo Verde. O superior tem as sobrecargas TIMOR e GUINÈ. São, em todos os sentidos iguais aos outros impressos em folhas de vinte e oito, mas fazem parte, sem dúvida, duma outra emissão. Provavelmente juntaram um cliché de cada colónia, que seriam seis, a que se juntaram mais dois, para os selos da Guiné e Timor. Como as cores eram as mesmas, podia-se fazer isto muito bem. É possível que juntassem três grupos de seis clichés para perfazer as folhas de vinte e oito. Tive também um bloco igual da taxa de 300 reis, mas extraviou-se-me."

Reimpressão de 1905

Estas reimpressões são chamadas do Rei de Espanha.

«De ordem de S. Exa. O Ministro e Secretario d’Estado d’esta Repartição, tenho a honra de rogar a V. Exa. Se digne ordenar que se proceda à reimpressão de sellos e mais formulas de franquia emitidos durante os reinados de D. Maria II e de D. Pedro V».

O Rei de Espanha, Afonso XIII, quando visitou Lisboa em 1903, exprimiu o desejo de possuir uma coleção completa de selos de Portugal e Colónias, foram formadas 168 coleções com 1460 selos de Portugal, Ilhas Adjacentes e Ultramar.

A qualidade do papel é fino, o aspeto da goma, o colorido das tonalidades, aliada ao aspeto geral, identifica as reimpressões relativamente aos originais. O denteado é pontas muito finas e aguçadas. As cores têm pouco brilho, sendo, em geral mortiças com goma amarelada. O papel é baço e ligeiramente amarelado.

Provas/ Reimpressões com sobrecarga

Reimpressões de 1885 com sobrecarga

Existem algumas provas em papel porcelana não denteadas:

· Com “PROVA” pequena horizontal;

· Com “PROVA” pequena oblíqua;

· Com “PROVA” grande;

· Com “Specimem” horizontal, vertical e oblíqua;

· Com “FLOR”.

Reimpressões de 1905 com sobrecarga:

· Com “Specimem” oblíqua.

Falsificações

i-SPIRO

Estas reproduções de má qualidade foram editadas pela firma alemã dos Irmãos Spiro nos anos 1870, possivelmente enquanto os originais ainda estavam em circulação. A firma editava catálogos e até uma revista filatélica onde anunciava as suas reproduções. No entanto, a procura caiu e a produção foi encerrada à volta de 1880.

Spiro baseou-se na primeira emissão de 1870 em que apenas existiam os valores de 5, 10, 20, 25, 50 e 100 reis.

par de selos Spiro

As falsificações de Spiro são bastante grotescas, de desenho rude e muito diferente do original, com margens curtas e sempre obliteradas com um carimbo mudo falso como se pode ver na figura acima. As cores são também diferentes das originais.

-O "G" na palavra "ANGOLA" tem uma forma diferente.

-A linha horizontal sobre o valor não toca no quadro do lado direito ou, em impressões cansadas, não toca em nenhum dos lados

-Os dois «A» de ANGOLA não são iguais, e são completamente diferentes dos «A» dos selos originais.

Falsos Spiros, 1º «A» de Angola

Original, os dois «A» são iguais

-a grega é mais imperfeita e com menos 0,25 mm de espessura.

-a coroa é muito imperfeita, com pérolas mais pequenas e irregulares e variam de selo para selo.

-a cruz da coroa está mal feita e muito diferente do autêntico.

À esquerda falso Spiro e à direita o autêntico.

-Os algarismos que os selos falsos apresentam são diferentes dos autênticos, em particular o algarismo «5» dos selos de 5, 25 e 50 reis, como se mostra na figura:

Falso Spiro, diferenças no algarismo «5»

-O denteado é mal feito e muito irregular, 12 ½, 13, 13 ¼, 13 1/5.

Foram produzidos falsos de todos os valores até 100 Reis.

Falso fournier

(1) Mendonça, F. (1970). Um centenário, «O 1º Centenário do Selo Postal de Angola»-suplemento do boletim dos CTT de Angola, dezembro.

(2)Sousa, C.(1970). «Para a História dos C.T.T. de Angola-Primeiro dia de Circulação do selo postal em Angola», boletim do Clube Filatélico de Angola do ano V, n.º30.

(3) Ferreira, Simões (1977). Portugal (continente e ilhas), colónias e novos países de expressão portuguesa.

(4) Marques, A. H. de Oliveira (1995). História do Selo Postal Português, vol. I, Planeta Editora, Lisboa.

(5) GEORGE, C. (1944). Reimpressões de vários artigos sobre selos de Portugal e Colónias-publicados em periódicos filatélicos portugueses correctos e aumentados, Lisboa, A. Molder.