2.03.2010
http://www.liturgiadashoras.org/oficiodasleituras/2terca_quaresma.html
Segunda leitura
Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo
(Ps 140,4-6:CCL 40,2028-2029)
(Séc.V)
A paixão de todo o corpo de Cristo
Senhor, eu clamo por vós, socorrei-me sem demora (Sl 140,1). Isto todos nós podemos dizer.
Não sou eu que digo, é o Cristo total que diz. Contudo, estas palavras foram ditas especialmente
em nome do Corpo, porque, quando Cristo estava neste mundo, orou como homem; orou ao Pai
em nome do Corpo; e enquanto orava, gotas de sangue caíram de todo o seu corpo. Assim está
escrito no Evangelho: Jesus rezava com mais insistência e seu suor tornou-se como gotas de
sangue (Lc 22,44). Que significa este derramamento de sangue de todo o seu corpo, senão a
paixão dos mártires de toda a Igreja?
Senhor, eu clamo por vós, socorrei-me sem demora. Quando eu grito, escutai minha voz! (Sl
140,1). Julgavas ter acabado de vez o teu clamor ao dizer: eu clamo por vós. Clamaste, mas não
julgues que já estejas em segurança. Se findou a tribulação, findou também o clamor; mas se a
tribulação da Igreja e do Corpo de Cristo continua até o fim dos tempos, não só devemos dizer:
eu clamo por vós, socorrei-me sem demora; mas: Quando eu grito, escutai minha voz!
Minha oração suba a vós como incenso, e minhas mãos, como oferta da tarde (Sl 140,2).
Todo cristão sabe que esta expressão continua a ser atribuída à própria Cabeça. Porque, na
verdade, foi ao cair da tarde daquele dia, que o Senhor, voluntariamente, entregou na cruz sua
vida, para retomá-la em seguida. Também aqui estávamos representados. Com efeito, o que
estava suspenso na cruz foi o que ele assumiu da nossa natureza. Como seria possível que o Pai
rejeitasse e abandonasse algum momento seu Filho Unigênito, sendo ambos um só Deus?
Contudo, cravando nossa frágil natureza na cruz, onde o nosso homem velho, como diz o
Apóstolo, foi crucificado com Cristo (Rm 6,6), clamou com a voz da nossa humanidade: Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21,2).
Eis, portanto, o verdadeiro sacrifício vespertino: a paixão do Senhor, a cruz do Senhor, a
oblação da vítima salvadora, o holocausto agradável a Deus. Esse sacrifício vespertino, ele o
converteu, por sua ressurreição, em oferenda da manhã. Assim, a oração que se eleva, com toda
pureza, de um coração fiel, é como o incenso que sobe do altar sagrado. Não há aroma mais
agradável a Deus: possam todos os fiéis oferecê-lo ao Senhor.
Por isso, o nosso homem velho – são palavras do Apóstolo – foi crucificado com Cristo, para
que seja destruído o corpo do pecado, de maneira a não mais servirmos ao pecado (Rm 6,6).