cap.15 em diante

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* não entendidas * * * * *

Capítulo 15

1 . Alguns fariseus e escribas de Jerusalém vieram um dia ter com Jesus e lhe disseram:

2 . Por que transgridem teus discípulos a tradição dos antigos? Nem mesmo lavam as mãos antes de comer.

3 . Jesus respondeu-lhes: E vós, por que violais os preceitos de Deus, por causa de vossa tradição?

4 . Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será castigado de morte (Ex 20,12; 21,17).

5 . Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: aquilo com que eu vos poderia assistir, já ofereci a Deus,

6 . esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de vossa tradição, anulais a palavra de Deus.

7 . Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías:

8 . Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim.

9 . Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens (Is 29,13).

10 . Depois, reuniu os assistentes e disse-lhes:

11 . Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem.

12 . Então se aproximaram dele seus discípulos e disseram-lhe: Sabes que os fariseus se escandalizaram com as palavras que ouviram?

13 . Jesus respondeu: Toda planta que meu Pai celeste não plantou será arrancada pela raiz.

14 . Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala.

15 . Tomando então a palavra, Pedro disse: Explica-nos esta parábola.

16 . Jesus respondeu: Sois também vós de tão pouca compreensão?

17 . Não compreendeis que tudo o que entra pela boca vai ao ventre e depois é lançado num lugar secreto?

18 . Ao contrário, aquilo que sai da boca provém do coração, e é isso o que mancha o homem.

19 . Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias.

20 . Eis o que mancha o homem. Comer, porém, sem ter lavado as mãos, isso não mancha o homem.

21 . Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia.

22 . E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio.

23 . Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com seus gritos.

24 . Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.

25 . Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: Senhor, ajuda-me!

26 . Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. _

27 . Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos...

28 . Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada.

29 . Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galiléia. Subiu a uma colina e sentou-se ali.

30 . Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos seus pés e ele os curou,

31 . de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel.

32 . Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: Tenho piedade esta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.

33 . Disseram-lhe os discípulos: De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão?

34 . Pergunta-lhes Jesus: Quantos pães tendes? Sete, e alguns peixinhos, responderam eles.

35 . Mandou, então, a multidão assentar-se no chão,

36 . tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão.

37 . Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos.

38 . Ora, os que se alimentaram foram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.

39 . Jesus então despediu o povo, subiu para a barca e retornou à região de Magadã.

Capítulo 16

1 . Os fariseus e os saduceus achegaram-se a Jesus para submetê-lo à prova e pediram-lhe que lhes mostrasse um milagre do céu.

2 . Ele lhes respondeu: Quando vem a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado.

3 . E de manhã: Hoje haverá tormenta, porque o céu está de um vermelho sombrio.

4 . Hipócritas! Sabeis distinguir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Essa raça perversa e adúltera pede um milagre! Mas não lhe será dado outro sinal senão o de Jonas! Depois, deixando-os, partiu.

5 . Ora, passando para a outra margem do lago, os discípulos haviam esquecido de levar pão.

6 . Jesus disse-lhes: Guardai-vos com cuidado do fermento dos fariseus e dos saduceus.

7 . Eles pensavam: É que não trouxemos pão...

8 . Jesus, penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes: Homens de pouca fé! Por que julgais que vos falei por não terdes pão?

9 . Ainda não compreendeis? Nem vos lembrais dos cinco pães e dos cinco mil homens, e de quantos cestos recolhestes?

10 . Nem dos sete pães para os quatro mil homens e de quantos cestos enchestes?

11 . Por que não compreendeis que não é do pão que eu vos falava, quando vos disse: Guardai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus?

12 . Então entenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus.

13 . Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?

14 . Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas.

15 . Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou?

16 . Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!

17 . Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.

18 . E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

19 . Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.

20 . Depois, ordenou aos seus discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.

21 . Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia.

22 . Pedro então começou a interpelá-lo e protestar nestes termos: Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!

23 . Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!

24 . Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.

25 . Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, recobrá-la-á.

26 . Que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida? Ou que dará um homem em troca de sua vida?...

27 . Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com seus anjos, e então recompensará a cada um segundo suas obras.

28 . Em verdade vos declaro: muitos destes que aqui estão não verão a morte, sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade de seu Reino.

Capítulo 17

1 . Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha.

2 . Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura.

3 . E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele.

4 . Pedro tomou então a palavra e disse-lhe: Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias. Falava ele ainda, quando veio uma nuvem luminosa e os envolveu. E daquela nuvem fez-se ouvir uma voz que dizia: Eis o meu Filho muito amado, em quem pus toda minha afeição; ouvi-o.

6 . Ouvindo esta voz, os discípulos caíram com a face por terra e tiveram medo.

7 . Mas Jesus aproximou-se deles e tocou-os, dizendo: Levantai-vos e não temais.

8 . Eles levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão unicamente Jesus.

9 . E, quando desciam, Jesus lhes fez esta proibição: Não conteis a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.

10 . Em seguida, os discípulos o interrogaram: Por que dizem os escribas que Elias deve voltar primeiro?

11 . Jesus respondeu-lhes: Elias, de fato, deve voltar e restabelecer todas as coisas.

12 . Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do Homem.

13 . Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.

14 . E, quando eles se reuniram ao povo, um homem aproximou-se deles e prostrou-se diante de Jesus,

15 . dizendo: Senhor, tem piedade de meu filho, porque é lunático e sofre muito: ora cai no fogo, ora na água...

16 . Já o apresentei a teus discípulos, mas eles não o puderam curar.

17 . Respondeu Jesus: Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos? Trazei-mo.

18 . Jesus ameaçou o demônio e este saiu do menino, que ficou curado na mesma hora.

19 . Então os discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsar este demônio?

20 . Jesus respondeu-lhes: Por causa de vossa falta de fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível. Quanto a esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum.

21 . Enquanto caminhava pela Galiléia, Jesus lhes disse: O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos homens.

22 . Matá-lo-ão, mas ao terceiro dia ressuscitará. E eles ficaram profundamente aflitos.

23 . Logo que chegaram a Cafarnaum, aqueles que cobravam o imposto da didracma aproximaram-se de Pedro e lhe perguntaram: Teu mestre não paga a didracma?

24 . Paga sim, respondeu Pedro. Mas quando chegaram à casa, Jesus preveniu-o, dizendo: Que te parece, Simão? Os reis da terra, de quem recebem os tributos ou os impostos? De seus filhos ou dos estrangeiros?

25 . Pedro respondeu: Dos estrangeiros. Jesus replicou: Os filhos, então, estão isentos.

26 . Mas não convém escandalizá-los. Vai ao mar, lança o anzol, e ao primeiro peixe que pegares abrirás a boca e encontrarás um estatere. Toma-o e dá-o por mim e por ti.

Capítulo 18

1 . Neste momento os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino dos céus?

2 . Jesus chamou uma criancinha, colocou-a no meio deles e disse:

3 . Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus.

4 . Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus.

5 . E o que recebe em meu nome a um menino como este, é a mim que recebe.

6 . Mas, se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar.

7 . Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai do homem que os causa!

8 . Por isso, se tua mão ou teu pé te fazem cair em pecado, corta-os e lança-os longe de ti: é melhor para ti entrares na vida coxo ou manco que, tendo dois pés e duas mãos, seres lançado no fogo eterno.

9 . Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de ti: é melhor para ti entrares na vida cego de um olho que seres jogado com teus dois olhos no fogo da geena.

10 . Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus.

11 . [Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.]

12 . Que vos parece? Um homem possui cem ovelhas: uma delas se desgarra. Não deixa ele as noventa e nove na montanha, para ir buscar aquela que se desgarrou?

13 . E se a encontra, sente mais júbilo do que pelas noventa e nove que não se desgarraram.

14 . Assim é a vontade de vosso Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos.

15 . Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão.

16 . Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas.

17 . Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano.

18 . Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu.

19 . Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus.

20 . Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.

21 . Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?

22 . Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

23 . Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos.

24 . Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.

25 . Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida.

26 . Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!

27 . Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida.

28 . Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: Paga o que me deves!

29 . O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei!

30 . Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida.

31 . Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado.

32 . Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste.

33 . Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?

34 . E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida.

35 . Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração.

Capítulo 19

1 . Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão.

2 . Uma grande multidão o seguiu e ele curou seus doentes.

3 . Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?

4 . Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse:

5 . Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?

6 . Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.

7 . Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?

8 . Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim.

9 . Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.

10 . Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar!

11 . Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado.

12 . Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda.

13 . Foram-lhe, então, apresentadas algumas criancinhas para que pusesse as mãos sobre elas e orasse por elas. Os discípulos, porém, as afastavam.

14 . Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.

15 . E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.

16 . Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus:

17 . Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.

18 . Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho,

19 . honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.

20 . Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?

21 . Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!

22 . Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.

23 . Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus!

24 . Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.

25 . A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: Quem poderá então salvar-se?

26 . Jesus olhou para eles e disse: Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível.

27 . Pedro então, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?

28 . Respondeu Jesus: Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.

29 . E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.

30 . Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos serão os primeiros.

Capítulo 20

1 . Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha.

2 . Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha.

3 . Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.

4 . Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário.

5 . Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo.

6 . Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada?

7 . Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha.

8 . Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros.

9 . Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário.

10 . Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.

11 . Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:

12 . - Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.

13 . O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário?

14 . Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.

15 . Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?

16 . Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. [ Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos.]

17 . Subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes:

18 . Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte.

19 . E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará.

20 . Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.

21 . Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.

22 . Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe.

23 . De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou.

24 . Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos.

25 . Jesus, porém, os chamou e lhes disse: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.

26 . Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo.

27 . E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo.

28 . Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão.

29 . Ao sair de Jericó, uma grande multidão o seguiu.

30 . Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que Jesus passava, começaram a gritar: Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!

31 . A multidão, porém, os repreendia para que se calassem. Mas eles gritavam ainda mais forte: Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!

32 . Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: Que quereis que eu vos faça?

33 . Senhor, que nossos olhos se abram!

34 . Jesus, cheio de compaixão, tocou-lhes os olhos. Instantaneamente recobraram a vista e puseram-se a segui-lo.

Capítulo 21

1 . Aproximavam-se de Jerusalém. Quando chegaram a Betfagé, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos,

2 . dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte. Encontrareis logo uma jumenta amarrada e com ela seu jumentinho. Desamarrai-os e trazei-mos.

3 . Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei-lhe que o Senhor necessita deles e que ele sem demora os devolverá.

4 . Assim, neste acontecimento, cumpria-se o oráculo do profeta:

5 . Dizei à filha de Sião: Eis que teu rei vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta, num jumentinho, filho da que leva o jugo (Zc 9,9).

6 . Os discípulos foram e executaram a ordem de Jesus.

7 . Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-no montar.

8 . Então a multidão estendia os mantos pelo caminho, cortava ramos de árvores e espalhava-os pela estrada.

9 . E toda aquela multidão, que o precedia e que o seguia, clamava: Hosana ao filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!

10 . Quando ele entrou em Jerusalém, alvoroçou-se toda a cidade, perguntando: Quem é este?

11 . A multidão respondia: É Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia.

12 . Jesus entrou no templo e expulsou dali todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas,

13 . e disse-lhes: Está escrito: Minha casa é uma casa de oração (Is 56,7), mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11)!

14 . Os cegos e os coxos vieram a ele no templo e ele os curou,

15 . com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas que assistiam a seus milagres e ouviam os meninos gritar no templo: Hosana ao filho de Davi!

16 . Disseram-lhe eles: Ouves o que dizem eles? Perfeitamente, respondeu-lhes Jesus. Nunca lestes estas palavras: Da boca dos meninos e das crianças de peito tirastes o vosso louvor (Sl 8,3)?

17 . Depois os deixou e saiu da cidade para hospedar-se em Betânia.

18 . De manhã, voltando à cidade, teve fome.

19 . Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti!

20 . E imediatamente a figueira secou. À vista disto, os discípulos ficaram estupefatos e disseram: Como ficou seca num instante a figueira?!

21 . Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos declaro que, se tiverdes fé e não hesitardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a esta montanha: Levanta-te daí e atira-te ao mar, isso se fará...

22 . Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis.

23 . Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?

24 . Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço.

25 . Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por que não crestes nele?

26 . E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta.

27 . Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.

28 . Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: - Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha.

29 . Respondeu ele: - Não quero. Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi.

30 . Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: - Sim, pai! Mas não foi.

31 . Qual dos dois fez a vontade do pai? O primeiro, responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!

32 . João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.

33 . Ouvi outra parábola: havia um pai de família que plantou uma vinha. Cercou-a com uma sebe, cavou um lagar e edificou uma torre. E, tendo-a arrendado a lavradores, deixou o país.

34 . Vindo o tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para recolher o produto de sua vinha.

35 . Mas os lavradores agarraram os servos, feriram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro.

36 . Enviou outros servos em maior número que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.

37 . Enfim, enviou seu próprio filho, dizendo: Hão de respeitar meu filho.

38 . Os lavradores, porém, vendo o filho, disseram uns aos outros: Eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança!

39 . Lançaram-lhe as mãos, conduziram-no para fora da vinha e o assassinaram.

40 . Pois bem: quando voltar o senhor da vinha, que fará ele àqueles lavradores?

41 . Responderam-lhe: Mandará matar sem piedade aqueles miseráveis e arrendará sua vinha a outros lavradores que lhe pagarão o produto em seu tempo.

42 . Jesus acrescentou: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; isto é obra do Senhor, e é admirável aos nossos olhos (Sl 117,22)?

43 . Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá os frutos dele.

44 . [Aquele que tropeçar nesta pedra, far-se-á em pedaços; e aquele sobre quem ela cair será esmagado.]

45 . Ouvindo isto, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que era deles que Jesus falava.

46 . E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por um profeta.

Capítulo 22

1 . Jesus tornou a falar-lhes por meio de parábolas:

2 . O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho.

3 . Enviou seus servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir.

4 . Enviou outros ainda, dizendo-lhes: Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete; meus bois e meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado. Vinde às bodas!

5 . Mas, sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio.

6 . Outros lançaram mãos de seus servos, insultaram-nos e os mataram.

7 . O rei soube e indignou-se em extremo. Enviou suas tropas, matou aqueles assassinos e incendiou-lhes a cidade.

8 . Disse depois a seus servos: O festim está pronto, mas os convidados não foram dignos.

9 . Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos achardes.

10 . Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a sala do banquete ficou repleta de convidados.

11 . O rei entrou para vê-los e viu ali um homem que não trazia a veste nupcial.

12 . Perguntou-lhe: Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste nupcial? O homem não proferiu palavra alguma.

13 . Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes.

14 . Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos.

15 . Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus nas suas próprias palavras.

16 . Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram: Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens.

17 . Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?

18 . Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me tentais, hipócritas?

19 . Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto! Apresentaram-lhe um denário.

20 . Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição?

21 . De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

22 . Esta resposta encheu-os de admiração e, deixando-o, retiraram-se.

23 . Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressurreição, interrogaram-no:

24 . Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem filhos, seu irmão case-se com a sua viúva e dê-lhe assim uma posteridade (Dt 25,5).

25 . Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão.

26 . O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até o sétimo.

27 . Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher.

28 . Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, uma vez que todos a tiveram?

29 . Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.

30 . Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu.

31 . Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse:

32 . Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6)? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos.

33 . E, ouvindo esta doutrina, as turbas se enchiam de grande admiração.

34 . Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se

35 . e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:

36 . Mestre, qual é o maior mandamento da lei?

37 . Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).

38 . Este é o maior e o primeiro mandamento.

39 . E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).

40 . Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.

41 . Como os fariseus se agrupassem, Jesus interrogou-os:

42 . Que pensais vós de Cristo? De quem é filho? Responderam: De Davi!

43 . Como então, prosseguiu Jesus, Davi, falando sob inspiração do Espírito, chama-o Senhor, dizendo:

44 . O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 109,1)?

45 . Se, pois, Davi o chama Senhor, como é ele seu filho?

46 . Ninguém pôde responder-lhe nada. E, depois daquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo.

Capítulo 23

1 . Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos,disse:

2 . Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.

3 . Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.

4 . Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.

5 . Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos.

6 . Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas.

7 . Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos homens.

8 . Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vós sois todos irmãos.

9 . E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.

10 . Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre, o Cristo.

11 . O maior dentre vós será vosso servo.

12 . Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.

13 . Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.

14 . [Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Devorais as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, sereis castigados com muito maior rigor.]

15 . Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos.

16 . Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: Se alguém jura pelo templo, isto não é nada; mas se jura pelo tesouro do templo, é obrigado pelo seu juramento.

17 . Insensatos, cegos! Qual é o maior: o ouro ou o templo que santifica o ouro?

18 . E dizeis ainda: Se alguém jura pelo altar, não é nada; mas se jura pela oferta que está sobre ele, é obrigado.

19 . Cegos! Qual é o maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta?

20 . Aquele que jura pelo altar, jura ao mesmo tempo por tudo o que está sobre ele.

21 . Aquele que jura pelo templo, jura ao mesmo tempo por aquele que nele habita.

22 . E aquele que jura pelo céu, jura ao mesmo tempo pelo trono de Deus, e por aquele que nele está sentado.

23 . Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante.

24 . Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.

25 . Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança.

26 . Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.

27 . Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.

28 . Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.

29 . Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos

30 . e dizeis: Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas...

31 . Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas.

32 . Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais!

33 . Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?

34 . Vede, eu vos envio profetas, sábios, doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas sinagogas. Persegui-los-eis de cidade em cidade,

35 . para que caia sobre vós todos o sangue inocente derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar.

36 . Em verdade vos digo: todos esses crimes pesam sobre esta raça.

37 . Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste!

38 . Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta.

39 . Porque eu vos digo: já não me vereis de hoje em diante, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor.

Capítulo 24

1 . Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções.

2 . Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.

3 . Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?

4 . Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza.

5 . Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos.

6 . Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim.

7 . Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares.

8 . Tudo isto será apenas o início das dores.

9 . Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações.

10 . Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão.

11 . Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos.

12 . E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará.

13 . Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo.

14 . Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.

15 . Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9,27) - o leitor entenda bem -

16 . então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas.

17 . Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que está em sua casa.

18 . E aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas.

19 . Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem naqueles dias!

20 . Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado;

21 . porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será.

22 . Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.

23 . Então se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais.

24 . Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os escolhidos.

25 . Eis que estais prevenidos.

26 . Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais.

27 . Porque, como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.

28 . Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres.

29 . Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas.

30 . Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade.

31 . Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra.

32 . Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo.

33 . Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do Homem está próximo, à porta.

34 . Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que tudo isto aconteça.

35 . O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.

36 . Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai.

37 . Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.

38 . Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.

39 . E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem.

40 . Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado.

41 . Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada.

42 . Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor.

43 . Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.

44 . Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes.

45 . Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno?

46 . Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim!

47 . Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens.

48 . Mas, se é um mau servo que imagina consigo:

49 . - Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios,

50 . o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe,

51 . e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Capítulo 25

1 . Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo.

2 . Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes.

3 . Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo.

4 . As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas.

5 . Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram.

6 . No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro.

7 . E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas.

8 . As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando.

9 . As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós.

10 . Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta.

11 . Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos!

12 . Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço!

13 . Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

14 . Será também como um homem que, tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens.

15 . A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu.

16 . Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco.

17 . Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois.

18 . Mas, o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.

19 . Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e pediu-lhes contas.

20 . O que recebeu cinco talentos, aproximou-se e apresentou outros cinco: - Senhor, disse-lhe, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei.'

21 . Disse-lhe seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.

22 . O que recebeu dois talentos, adiantou-se também e disse: - Senhor, confiaste-me dois talentos; eis aqui os dois outros que lucrei.

23 . Disse-lhe seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.

24 . Veio, por fim, o que recebeu só um talento: - Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.

25 . Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence.

26 . Respondeu-lhe seu senhor: - Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei.

27 . Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu.

28 . Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.

29 . Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.

30 . E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.

31 . Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.

32 . Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.

33 . Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.

34 . Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,

35 . porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;

36 . nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.

37 . Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?

38 . Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?

39 . Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?

40 . Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.

41 . Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.

42 . Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;

43 . era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.

44 . Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos?

45 . E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.

46 . E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna.

Capítulo 26

1 . Quando Jesus acabou todos esses discursos, disse a seus discípulos:

2 . Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado.

3 . Então os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no pátio do sumo sacerdote, chamado Caifás,

4 . e deliberaram sobre os meios de prender Jesus por astúcia e de o matar.

5 . E diziam: Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver um tumulto entre o povo.

6 . Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.

7 . Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça.

8 . Vendo isto, os discípulos disseram indignados: Para que este desperdício?

9 . Poder-se-ia vender este perfume por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres.

10 . Jesus ouviu-os e disse-lhes: Por que molestais esta mulher? É uma ação boa o que ela me fez.

11 . Pobres vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre me tereis.

12 . Derramando esse perfume em meu corpo, ela o fez em vista da minha sepultura.

13 . Em verdade eu vos digo: em toda parte onde for pregado este Evangelho pelo mundo inteiro, será contado em sua memória o que ela fez.

14 . Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e perguntou-lhes:

15 . Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei. Ajustaram com ele trinta moedas de prata.

16 . E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus.

17 . No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Onde queres que preparemos a ceia pascal?

18 . Respondeu-lhes Jesus: Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos.

19 . Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa.

20 . Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos.

21 . Durante a ceia, disse: Em verdade vos digo: um de vós me há de trair.

22 . Com profunda aflição, cada um começou a perguntar: Sou eu, Senhor?

23 . Respondeu ele: Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me trairá.

24 . O Filho do Homem vai, como dele está escrito. Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido!

25 . Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: Mestre, serei eu? Sim, disse Jesus.

26 . Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo.

27 . Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos,

28 . porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados.

29 . Digo-vos: doravante não beberei mais desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no Reino de meu Pai.

30 . Depois do canto dos Salmos, dirigiram-se eles para o monte das Oliveiras.

31 . Disse-lhes então Jesus: Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas (Zc 13,7).

32 . Mas, depois da minha Ressurreição, eu vos precederei na Galiléia.

33 . Pedro interveio: Mesmo que sejas para todos uma ocasião de queda, para mim jamais o serás.

34 . Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo: nesta noite mesma, antes que o galo cante, três vezes me negarás.

35 . Respondeu-lhe Pedro: Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei! E todos os outros discípulos diziam-lhe o mesmo.

36 . Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar.

37 . E, tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.

38 . Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo.

39 . Adiantou-se um pouco e, prostrando-se com a face por terra, assim rezou: Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres.

40 . Foi ter então com os discípulos e os encontrou dormindo. E disse a Pedro: Então não pudestes vigiar uma hora comigo...

41 . Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.

42 . Afastou-se pela segunda vez e orou, dizendo: Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade!

43 . Voltou ainda e os encontrou novamente dormindo, porque seus olhos estavam pesados.

44 . Deixou-os e foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.

45 . Voltou então para os seus discípulos e disse-lhes: Dormi agora e repousai! Chegou a hora: o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores...

46 . Levantai-vos, vamos! Aquele que me trai está perto daqui.

47 . Jesus ainda falava, quando veio Judas, um dos Doze, e com ele uma multidão de gente armada de espadas e cacetes, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo.

48 . O traidor combinara com eles este sinal: Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o!

49 . Aproximou-se imediatamente de Jesus e disse: Salve, Mestre. E beijou-o.

50 . Disse-lhe Jesus: É, então, para isso que vens aqui? Em seguida, adiantaram-se eles e lançaram mão em Jesus para prendê-lo.

51 . Mas um dos companheiros de Jesus desembainhou a espada e feriu um servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.

52 . Jesus, no entanto, lhe disse: Embainha tua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão.

53 . Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos?

54 . Mas como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim?

55 . Depois, voltando-se para a turba, falou: Saístes armados de espadas e porretes para prender-me, como se eu fosse um malfeitor. Entretanto, todos os dias estava eu sentado entre vós ensinando no templo e não me prendestes.

56 . Mas tudo isto aconteceu porque era necessário que se cumprissem os oráculos dos profetas. Então os discípulos o abandonaram e fugiram.

57 . Os que haviam prendido Jesus levaram-no à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos do povo.

58 . Pedro seguia-o de longe, até o pátio do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se junto aos criados para ver como terminaria aquilo.

59 . Enquanto isso, os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de o levarem à morte.

60 . Mas não o conseguiram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas.

61 . Por fim, apresentaram-se duas testemunhas, que disseram: Este homem disse: Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias.

62 . Levantou-se o sumo sacerdote e lhe perguntou: Nada tens a responder ao que essa gente depõe contra ti?

63 . Jesus, no entanto, permanecia calado. Disse-lhe o sumo sacerdote: Por Deus vivo, conjuro-te que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus?

64 . Jesus respondeu: Sim. Além disso, eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu.

65 . A estas palavras, o sumo sacerdote rasgou suas vestes, exclamando: Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia!

66 . Qual o vosso parecer? Eles responderam: Merece a morte!

67 . Cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas,

68 . dizendo: Adivinha, ó Cristo: quem te bateu?

69 . Enquanto isso, Pedro estava sentado no pátio. Aproximou-se dele uma das servas, dizendo: Também tu estavas com Jesus, o Galileu.

70 . Mas ele negou publicamente, nestes termos: Não sei o que dizes.

71 . Dirigia-se ele para a porta, a fim de sair, quando outra criada o viu e disse aos que lá estavam: Este homem também estava com Jesus de Nazaré.

72 . Pedro, pela segunda vez, negou com juramento: Eu nem conheço tal homem.

73 . Pouco depois, os que ali estavam aproximaram-se de Pedro e disseram: Sim, tu és daqueles; teu modo de falar te dá a conhecer.

74 . Pedro então começou a fazer imprecações, jurando que nem sequer conhecia tal homem. E, neste momento, cantou o galo.

75 . Pedro recordou-se do que Jesus lhe dissera: Antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes. E saindo, chorou amargamente.

Capítulo 27

1 . Chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se em conselho para entregar Jesus à morte.

2 . Ligaram-no e o levaram ao governador Pilatos.

3 . Judas, o traidor, vendo-o então condenado, tomado de remorsos, foi devolver aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos as trinta moedas de prata,

4 . dizendo-lhes: Pequei, entregando o sangue de um justo. Responderam-lhe: Que nos importa? Isto é lá contigo!

5 . Ele jogou então no templo as moedas de prata, saiu e foi enforcar-se.

6 . Os príncipes dos sacerdotes tomaram o dinheiro e disseram: Não é permitido lançá-lo no tesouro sagrado, porque se trata de preço de sangue.

7 . Depois de haverem deliberado, compraram com aquela soma o campo do Oleiro, para que ali se fizesse um cemitério de estrangeiros.

8 . Esta é a razão por que aquele terreno é chamado, ainda hoje, Campo de Sangue.

9 . Assim se cumpriu a profecia do profeta Jeremias: Eles receberam trinta moedas de prata, preço daquele cujo valor foi estimado pelos filhos de Israel;

10 . e deram-no pelo campo do Oleiro, como o Senhor me havia prescrito.

11 . Jesus compareceu diante do governador, que o interrogou: És o rei dos judeus? Sim, respondeu-lhe Jesus.

12 . Ele, porém, nada respondia às acusações dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos.

13 . Perguntou-lhe Pilatos: Não ouves todos os testemunhos que levantam contra ti?

14 . Mas, para grande admiração do governador, não quis responder a nenhuma acusação.

15 . Era costume que o governador soltasse um preso a pedido do povo em cada festa de Páscoa.

16 . Ora, havia naquela ocasião um prisioneiro famoso, chamado Barrabás.

17 . Pilatos dirigiu-se ao povo reunido: Qual quereis que eu vos solte: Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?

18 . (Ele sabia que tinham entregue Jesus por inveja.)

19 . Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer: Nada faças a esse justo. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe diz respeito.

20 . Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo que pedisse a libertação de Barrabás e fizesse morrer Jesus.

21 . O governador tomou então a palavra: Qual dos dois quereis que eu vos solte? Responderam: Barrabás!

22 . Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo? Todos responderam: Seja crucificado!

23 . O governador tornou a perguntar: Mas que mal fez ele? E gritavam ainda mais forte: Seja crucificado!

24 . Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!

25 . E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!

26 . Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e lho entregou para ser crucificado.

27 . Os soldados do governador conduziram Jesus para o pretório e rodearam-no com todo o pelotão.

28 . Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate.

29 . Depois, trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com escárnio: Salve, rei dos judeus!

30 . Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da vara, davam-lhe golpes na cabeça.

31 . Depois de escarnecerem dele, tiraram-lhe o manto e entregaram-lhe as vestes. Em seguida, levaram-no para o crucificar.

32 . Saindo, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a cruz de Jesus.

33 . Chegaram ao lugar chamado Gólgota, isto é, lugar do crânio.

34 . Deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas se recusou a beber.

35 . Depois de o haverem crucificado, dividiram suas vestes entre si, tirando a sorte. Cumpriu-se assim a profecia do profeta: Repartiram entre si minhas vestes e sobre meu manto lançaram a sorte (Sl 21,19).

36 . Sentaram-se e montaram guarda.

37 . Por cima de sua cabeça penduraram um escrito trazendo o motivo de sua crucificação: Este é Jesus, o rei dos judeus.

38 . Ao mesmo tempo foram crucificados com ele dois ladrões, um à sua direita e outro à sua esquerda.

39 . Os que passavam o injuriavam, sacudiam a cabeça e diziam:

40 . Tu, que destróis o templo e o reconstróis em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!

41 . Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dele:

42 . Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele!

43 . Confiou em Deus, Deus o livre agora, se o ama, porque ele disse: Eu sou o Filho de Deus!

44 . E os ladrões, crucificados com ele, também o ultrajavam.

45 . Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas.

46 . Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte: Eli, Eli, lammá sabactáni? - o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

47 . A estas palavras, alguns dos que lá estavam diziam: Ele chama por Elias.

48 . Imediatamente um deles tomou uma esponja, embebeu-a em vinagre e apresentou-lha na ponta de uma vara para que bebesse.

49 . Os outros diziam: Deixa! Vejamos se Elias virá socorrê-lo.

50 . Jesus de novo lançou um grande brado, e entregou a alma.

51 . E eis que o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, a terra tremeu, fenderam-se as rochas.

52 . Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram.

53 . Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas.

54 . O centurião e seus homens que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de tudo o que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor: Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!

55 . Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir.

56 . Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

57 . À tardinha, um homem rico de Arimatéia, chamado José, que era também discípulo de Jesus,

58 . foi procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos cedeu-o.

59 . José tomou o corpo, envolveu-o num lençol branco

60 . e o depositou num sepulcro novo, que tinha mandado talhar para si na rocha. Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora.

61 . Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo.

62 . No dia seguinte - isto é, o dia seguinte ao da Preparação -, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus dirigiram-se todos juntos à casa de Pilatos.

63 . E disseram-lhe: Senhor, nós nos lembramos de que aquele impostor disse, enquanto vivia: Depois de três dias ressuscitarei.

64 . Ordena, pois, que seu sepulcro seja guardado até o terceiro dia. Os seus discípulos poderiam vir roubar o corpo e dizer ao povo: Ressuscitou dos mortos. E esta última impostura seria pior que a primeira.

65 . Respondeu Pilatos: Tendes uma guarda. Ide e guardai-o como o entendeis.

66 . Foram, pois, e asseguraram o sepulcro, selando a pedra e colocando guardas.

Capítulo 28

1 . Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o túmulo.

2 . E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela.

3 . Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve.

4 . Vendo isto, os guardas pensaram que morreriam de pavor.

5 . Mas o anjo disse às mulheres: Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado.

6 . Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou.

7 . Ide depressa e dizei aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos. Ele vos precede na Galiléia. Lá o haveis de rever, eu vo-lo disse.

8 . Elas se afastaram prontamente do túmulo com certo receio, mas ao mesmo tempo com alegria, e correram a dar a boa nova aos discípulos.

9 . Nesse momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: Salve! Aproximaram-se elas e, prostradas diante dele, beijaram-lhe os pés.

10 . Disse-lhes Jesus: Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia, pois é lá que eles me verão.

11 . Enquanto elas voltavam, alguns homens da guarda já estavam na cidade para anunciar o acontecimento aos príncipes dos sacerdotes.

12 . Reuniram-se estes em conselho com os anciãos. Deram aos soldados uma importante soma de dinheiro, ordenando-lhes:

13 . Vós direis que seus discípulos vieram retirá-lo à noite, enquanto dormíeis.

14 . Se o governador vier a sabê-lo, nós o acalmaremos e vos tiraremos de dificuldades.

15 . Os soldados receberam o dinheiro e seguiram suas instruções. E esta versão é ainda hoje espalhada entre os judeus.

16 . Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado.

17 . Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ainda.

18 . Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.

19 . Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

20 . Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.

Leitura da Bíblia Sagrada a partir do Site do Santuário do Divino Pai Eterno - Trindade / Goiás - Brasil