Editorial



Neste mês de Fevereiro o nosso Cineclube e a disciplina de Português voltam a associar-se e programam um conjunto de obras da nossa cinematografia que exploram diferentes aproximações entre o cinema e a palavra. Depois da memorável edição de 2018, construída em torno da ideia de palavra dita, esta segunda edição procura dar a ver formas distintas de inscrever a palavra escrita no território da imagem e do som.

Em jeito de double bill, no dia 20 de Fevereiro serão exibidas as curtas-metragens A Glória de Fazer Cinema em Portugal (2015), de Manuel Mozos, e Como Fernando Pessoa Salvou Portugal (2018), de Eugène Green. A primeira obra tem como premissa uma carta redigida pelo escritor José Régio a Alberto Serpa, em 1929, manifestando a sua vontade de criar uma produtora de cinema, desfecho que nunca chegou a ser conhecido durante quase noventa anos. Também a recém-estreada curta-metragem de Eugène Green recua até aos anos 20 para apresentar um dos episódios mais célebres da carreira publicitária do heterónimo Álvaro de Campos, autor do célebre slogan «Primeiro estranha-se, depois entranha-se» (1927), criado por ocasião da chegada da Coca-Cola a Portugal.

Dia 21 será projetado Cartas da Guerra, filme de Ivo M. Ferreira que se edifica a partir das cartas escritas pelo alferes médico António Lobo Antunes à mulher grávida, Maria José, que deixara em Lisboa quando foi destacado para uma comissão de serviço em Angola (1971-1973), logo após a conclusão do curso de Medicina. O realizador Ivo M. Ferreira, ex-aluno da António Arroio, estará presente para uma conversa no final da sessão.

Na semana de Carnaval, será exibido, no dia 25, Uma Abelha na Chuva (1971), célebre filme de Fernando Lopes «contra as regras», construído a partir do título homónimo de Carlos Oliveira, e sobre o qual o realizador escreveu:

«(...) a primeira pessoa a quem eu mostrei o filme depois de o ter acabado, foi a ele [Carlos Oliveira] e à Ângela, a sua mulher. Aí o Carlos de Oliveira ficou muito impressionado e disse: “é uma leitura muito bonita do meu livro, mas não é o meu livro” e eu respondi-lhe: “mas isto é um filme não é um livro.” Depois o José Cardoso Pires deu-me uma ajuda ao escrever um texto muito bonito sobre o filme. No fim ele acabou por ficar muito contente, porque entendeu o filme como uma proposta de leitura.»

No dia 26, a encerrar este Ciclo especial será projetado Ramiro (2018), história sobre um alfarrabista que, depois de escrever um livro que se tornou um êxito, entrou em crise de inspiração, e ainda não encontrou forma de passar para a escrita as ideias que tem para uma segunda obra. Tal como na primeira edição, contaremos com a presença do realizador Manuel Mozos para uma conversa no final da sessão!

Convidamos toda a comunidade escolar e amigos a participar nestas sessões. A programação deste mês não seria possível sem a generosidade dos realizadores Ivo M. Ferreira e Manuel Mozos, da produtora O Som e a Fúria (Fabienne Martinot) e das distribuidoras Agência da Curta Metragem (Salette Ramalho) e Alambique (Hugo Lopes e Nuno Gonçalves).

Agradecemos ainda o apoio da amiga do nosso Cineclube, Inês Garcia-Marques, e dos nossos parceiros de sempre: Abel Ribeiro Chaves (Bazar do Vídeo), Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema e Plano Nacional de Cinema, através da sua coordenadora Elsa Mendes. A todos o Cineclube e a disciplina de Português da Escola Artística António Arroio prestam pública homenagem.

AVISO

ALTERAÇÃO AO PROGRAMA


Lamentamos informar que, devido ao encerramento da Escola Artística António Arroio, não é possível realizar a projeção de cinema programada para esta quarta-feira, dia 20 de fevereiro, às 16h15, no Estúdio 213.

A nossa Escola encontra-se encerrada desde as 13h de segunda-feira, dia 18, por motivos técnicos relacionados com irregularidades no abastecimento elétrico que comprometem seriamente o normal funcionamento de todas as atividades.

A sessão com os filmes A GLÓRIA DE FAZER CINEMA EM PORTUGAL, de Manuel Mozos, e COMO FERNANDO PESSOA SALVOU PORTUGAL, de Eugène Green, ficará reagendada para dia 27, quarta-feira, às 16h15, no Estúdio 213.

Agradecemos a compreensão de todos os amigos e espectadores do nosso Cineclube, bem como dos realizadores, produtores e distribuidores que tornaram possível a programação deste mês.

«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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