PROGRAMAÇÃO

Fevereiro de 2018


Editorial

Quer no começo, quer no fundo, em Fevereiro vem o Entrudo.

No mês das célebres comemorações de Carnaval, o Cineclube Edgar Sardinha e a Associação de Estudantes da Escola Artística António Arroio desenharam uma programação construída em torno de filmes que se situam na transformação entre o realismo e o lirismo, o documental e o poético, reveladores só por isso, mas não só, de irreverência e insubmissão.

A iniciar a programação, destaca-se a projeção do filme recentemente estreado, A Fábrica de Nada (2017), com a presença do realizador Pedro Pinho. Este filme, misto de ensaio e musical, retrata a história de um grupo de operários que tenta salvaguardar os seus postos de trabalho e evitar o encerramento de uma fábrica através de um sistema de autogestão coletiva; como forma de retaliação, enquanto decorrem as negociações para os despedimentos, os patrões obrigam-nos a permanecer nos seus postos, sem nada que fazer. Na segunda quinzena será prestada homenagem ao mestre Jean Vigo, realizador de um realismo mágico singular, sobre o qual Henri Langlois escreveu: «Todos os cineastas procuram o cinema e descobrem-no parcialmente. Vigo é o cinema encarnado em homem.». Será assim projectado o filme Zero em Comportamento (1933), um dos mais célebres do realizador, sobre a insurreição de um grupo de alunos contra o autoritarismo, bem como O Atalante, o primeiro e único filme de longa duração de Vigo, um filme de culto que parece também comungar da ideia de que as máscaras tanto escondem, como revelam.

Convidamos toda a comunidade escolar e amigos a participar nestas sessões. A programação deste mês não seria possível sem o apoio, a dedicação e a generosidade de Pedro Pinho (Terratreme), bem como de Abel Ribeiro Chaves (Bazar do Vídeo), da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema e do Plano Nacional de Cinema, através da sua coordenadora Elsa Mendes. A todos o Cineclube presta pública homenagem.

A FÁBRICA DE NADA

7 de fevereiro, 16h15

ZERO EM COMPORTAMENTO | ZÉRO DE CONDUITE

21 de fevereiro, 16h15

O ATALANTE | L'ATALANTE

28 de fevereiro, 16h15

Notícias

Casa cheia em dia de "double bill"!

No dia 13 de dezembro de 2017, mais de uma centena e meia de espectadores, repartidos em duas sessões, assistiu aos filmes Lourdes Castro - Pelas Sombras, de Catarina Mourão, e O Sol do Marmeleiro, de Víctor Erice. Alunos, ex-alunos, professores, amigos do Cineclube e até encarregados de educação, aceitaram o desafio proposto para o encerramento do 1º período de aulas.

O primeiro filme — Lourdes Castro - Pelas Sombras —, projectado no período da manhã, contou com a presença, em contexto curricular, das turmas P do 10º ano e O, P e Q do 12º ano, orientadas pelos Professores Isabel Rodrigues, Susana Madeira, Rosalina Tique, João Ribeiro e José Leitão, respetivamente. Deslumbrados pelo extraordinário filme em torno da Obra e vida de Lourdes de Castro que tinham acabado de ver, os presentes tiveram ainda a oportunidade de assistir a uma palestra com a realizadora Catarina Mourão, onde foram apresentados vários aspetos do processo de criação e produção do filme. Houve ainda tempo para perguntas e respostas.

Já no período da tarde, a sessão do filme O Sol do Marmeleiro contou com a presença, em contexto curricular, da turma I e P do 12º ano, orientadas pelos Professores Isabel Rodrigues e Manuel Guerra. Também marcou presença a turma Q do 12º ano, orientada pela Professora Teresa Chaby, tendo preparado uma extraordinária declamação de poemas de Fernando Pessoa para o ínicio e final da sessão, o que veio a estabelecer um raccord profundo com o filme de Víctor Erice, centrado na experiência qualitativa de tempo do artista António Lopez que pinta um marmeleiro plantado no seu jardim. A propósito de raccords entre a vida e os filmes, e ainda antes do início da projeção, todos os espectadores foram presenteados com "rebuçados de marmelo", uma dádiva da Professora Rosalina Tique. No final desta segunda projeção seguiram-se várias conversas, como é já habitual, não só sobre o filme acabado de ver, mas também sobre as inevitáveis relações com o filme de Catarina Mourão.

Ante-estreia: «120 Batimentos por Minuto».

No âmbito da parceria estabelecida com a Midas Filmes, um grupo de alunos do curso de Comunicação Audiovisual participou, no passado dia 4 de dezembro, na estreia do filme 120 Batimentos por Minuto, no Cinema UCI El Corte Inglés, em Lisboa. A sessão contou com a apresentação do realizador Robin Campillo. Mais informações sobre este filme aqui.

«Mudar de Vida» encerra mês de novembro.

O dia 27 de novembro de 2017 será lembrado pela participação de vários alunos, professores e amigos do Cineclube na projeção do filme Mudar de Vida (1966), de Paulo Rocha. Além das presenças a título individual, participaram em contexto curricular alunos da turma P do 12º ano, no âmbito da disciplina de Projeto e Tecnologias, orientada pelos Professores Alexandre Almeida e Luís Simões.

A maioria dos presentes assistiu pela primeira vez a este importante marco da História do Cinema português, sobre o qual Paulo Rocha escreveu: «O Mudar de Vida é a minha primeira tentativa de cinema (do Norte). É filmado no Furadouro, Ovar, terra da minha mãe e dos meus avós. A imagem é pesada e monumental, está perto dos japoneses e de algum cinema russo. É tal como Os Verdes Anos coisa de experiência directa, desde criança vivi subjugado pela força daqueles pescadores e daqueles barcos. É o contrário da cultura plástica e literária de Lisboa. Mas está próximo da pintura do Júlio Resende. A colaboração do António Reis nos diálogos foi decisiva para atingir aquele ambiente de violência hierática.».

No final da projeção de excelente qualidade técnica, garantia de Abel Ribeiro Chaves (Bazar do Vídeo), seguiram-se várias conversas, como é já habitual, desde logo sobre as semelhanças e diferenças com Os Verdes Anos.

Olhares atentos em dia de «Os Verdes Anos».

Alunos do 10º, 11º e 12º anos acorreram à sala 301, no dia 22 de novembro, para assistir, a maioria pela primeira vez, ao filme Os Verdes Anos (1963), obra sobre a qual o realizador Paulo Rocha escreveu: «Normalmente estamos habituados a sobrevalorizar a história em relação à 'mise-en-scène'. Nos Verdes Anos tentou-se ir contra isso. O que mais interessava era a relação entre o 'décor' e o personagem, o tratamento da matéria cinematográfica.» (Jornal de Letras e Artes, 6 de maio de 64).

Na primeira projeção realizada este ano letivo fora do horário curricular marcaram também presença alguns professores. Numa novidade de última hora, e a encerrar a sessão, foi ainda projetado Os Verdes Anos - revisitado, curta-metragem realizada em Formação em Contexto de Trabalho por alunos do curso de Comunicação Audiovisual, no ano letivo 2015-16, com a coordenação do Professor José Pina. Este extraordinário registo conta com as intervenções de António Cunha Telles, produtor da longa-metragem, Isabel Ruth, atriz prodígio do cinema português, e Alexandra Barradas, Professora da nossa Escola formada em Arquitetura.

No final da projeção seguiram-se várias conversas. A propósito da personagem de Júlio (Rui Gomes), a professora Rosalina Tique reavivou os versos de Alberto Caeiro: «Que pena que tenho dele! Ele era um camponês / Que andava preso em liberdade pela cidade.».

Enchente em dia de «Greve», de Eisenstein.

Mais de sessenta alunos participaram, no dia 15 de novembro, na sala 301, na projeção do filme Greve (1924), de Sergei Eisenstein, a primeira longa-metragem do realizador. Além dos alunos e ex-alunos que compareceram a título individual, estiveram presentes as turmas Q (11º ano), O e Q (12º ano), acompanhadas pelos Professores Fernando Mouro, João Ribeiro e Susana Madeira.

Nesta sessão, que assinalou a rentrée do Cineclube, todos os presentes puderam ainda experienciar as novas condições de som da sala, asseguradas pelo Professor José Leitão, e a nova tela de projeção de maiores dimensões, resultado da dedicação e engenho dos Professores Carlos Martins e Delfim Ramos, bem como do diretor de som e amigo do Cineclube, Júlio Pereira, que ofereceu o material da tela e se disponibilizou para o colocar/fixar.

Bazar do Vídeo assegura projeção de excelência.

O Cineclube Edgar Sardinha e a empresa Bazar do Vídeo, na pessoa do produtor Abel Ribeiro Chaves, estabeleceram um acordo estratégico que permitirá assegurar meios técnicos para uma projeção de qualidade superior nas sessões previstas para o ano letivo de 2017/2018. Mais informações sobre esta empresa de referência do panorama audiovisual e cinematográfico em www.bazardovideo.biz

Cinema Ideal apoia o Cineclube!

O Cineclube e o Cinema Ideal estabeleceram um protocolo para a oferta regular de lugares em antestreias e/ou sessões especiais aos alunos da Escola Artística António Arroio. Sempre que estas condições se verificarem serão divulgadas através do email cineclube@antonioarroio.edu.pt, estando limitadas naturalmente ao número de convites existentes e à ordem de inscrição.

António Arroio na estreia de «Peregrinação».

No âmbito da parceria estabelecida com o Cinema Ideal, um grupo de alunos do curso de Comunicação Audiovisual participou, no passado dia 1 de novembro, na estreia do filme Peregrinação. A sessão contou com a apresentação do realizador João Botelho. O filme, inspirado na obra literária homónima de Fernão Mendes Pinto, está atualmente em exibição nas salas de cinema. Mais informações em www.ardefilmes.org/peregrinacao/.

Fotografia de Carolina Correia | 11º Q

Acordo com a Midas Filmes.

O Cineclube e a Midas Filmes, na pessoa do diretor Pedro Borges, estabelecem um acordo para a projeção de alguns filmes de produção própria e/ou em catálogo, o que permitirá enriquecer as programações regulares do ano letivo de 2017/2018. Mais informações sobre esta importante produtora e distribuidora nacional em www.midas-filmes.pt

Folhas de sala da Cinemateca!

Desde o ciclo fundador, dedicado à Obra de Pedro Costa, nas sessões do Cineclube são asseguradas folhas de sala a todos os presentes. Os textos são generosamente cedidos pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, organismo nacional que tem por missão a salvaguarda e a divulgação do património cinematográfico. Aos autores dos textos das diferentes folhas de sala e à Cinemateca, o Cineclube Edgar Sardinha manifesta o seu profundo agradecimento.

«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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