Editorial

Ciclo «O Nós em Palavras» — Homenagem a Pierre-Marie Goulet

Neste último período, o Cineclube e a disciplina de Português voltam a associar-se e a programar obras da nossa cinematografia que exploram diferentes aproximações entre o cinema e a palavra. Depois de «Palavra Dita» (2018), de «Palavra Escrita» (2019), bem como de «O Eu em Palavra — último ciclo desta parceria, programado aquando do despontar da pandemia, em 2020 —, desta feita o mote da programação será «O Nós em Palavras».

Pela forma como nos fazem pressentir a noção de comunidade, bem como pelo modo singular como o canto, a música e a poesia, na sua diversidade, parecem desenvolver um território comum e de encontros, a opção foi evidente: centrar a programação na trilogia «Polifonias – Paci è Saluta, Michel Giacometti» (1998), «Encontros» (2006) e «O Último Porto – Além das Pontes» (2019), de Pierre-Marie Goulet, homenageando deste modo o cineasta recentemente falecido.

Simultaneamente, e justamente pela noção de «nós», afigurou-se crucial realizar uma quarta sessão especial centrada nos frutos d'«Os Filhos de Lumière», associação que desenvolve um trabalho de referência nas áreas da educação e do cinema, e da qual Pierre-Marie Goulet e Teresa Garcia são co-fundadores.

A realizadora Teresa Garcia, a quem o Cineclube e a disciplina de Português da Escola Artística António Arroio agradecem a colaboração e a generosidade para a concretização deste Ciclo, estará presente nas sessões de abertura e de encerramento.

Agradecemos o apoio determinante da Associação «Os Filhos de Lumière», de Abel Ribeiro Chaves e da Bazar do Vídeo garantes de uma projeção de excelência , bem como do Plano Nacional de Cinema, na pessoa da coordenadora Elsa Mendes.




26 ABRIL | 3.ª FEIRA | 10H15 | ESTÚDIO 213

POLIFONIAS - PACI È SALUTA, MICHEL GIACOMETTI (1998) 82’

Pierre-Marie Goulet

Com a participação de Teresa Garcia.




Sinopse

«Michel Giacometti, "O corso que amava Portugal" nasceu em Ajaccio. Em 1959, chega a Portugal, não voltará a partir. Durante trinta anos vai recolher músicas, contos, histórias e poesias, ditados e adágios, receitas de medicina popular... e assim ele devolve a estes homens e mulheres o orgulho por sua própria cultura.

Esse Corso reinventou uma ilha em Portugal, um de um povo, perseguiu uma busca, a das raízes por vezes míticas que todos trazemos no mais fundo de nós mesmos. É neste campo que "Polifonias-Paci è Saluta, Michel Giacometti" dá conta dos sinais deste percurso, interrogando a memória viva dos mais velhos e provocando os encontros que irão testemunhar da vivacidade actual da música tradicional em Portugal e na Córsega .

É caminhando ao encontro dos cantos polifonicos no Alentejo e na Córsega, depois suscitando um encontro entre cantores alentejanos e corsos, que se irá desenhar o percurso de Giacometti, a memória de dois povos e para além disso as nossa próprias buscas de raízes e de identidade, num tempo em que o que se julgava ser um eco de culturas destinadas a morrer, soa afinal como um apelo, uma interrogação sobre o nosso futuro.

Múltiplos caminhos que tecem um filme de estrutura "polifónica", em que ninguém perde a sua identidade, antes a reanima no contacto com o outro. Uma viagem de vários itinerários que se cruzam no tempo e no espaço, seguindo um jogo de ressonâncias e correspondências, tal como as vozes de uma polifonia.»




27 ABR | 4.ª FEIRA | 17H45 | ESTÚDIO 213

ENCONTROS (2006) 105’

Pierre-Marie Goulet




Sinopse

«1957. Um grupo de camponeses e camponesas da aldeia de Peroguarda, no Alentejo, vai cantar ao Porto.

O poeta António Reis, futuro realizador de Trás-os-Montes e Ana, ouve esses cantos em companhia de jovens amigos. Conquistado, António Reis, toma o caminho de Peroguarda, 700 km ao Sul, montado na sua motoreta com um gravador debaixo do braço.

No seu encalço, outros jovens do Porto irão ao Alentejo ao longo dos anos seguintes. Entre eles, Luís Ferreira Alves, Alexandre Alves Costa, José Mário Branco.

1959. Michel Giacometti, o corso que salvou a música tradicional portuguesa, começa uma pesquisa de 30 anos durante a qual recolherá a memória da cultura popular. Não tarda a descobrir a aldeia de Peroguarda onde regressará periodicamente. É lá que, em conformidade com o seu desejo, será enterrado em 1990.

1966. O cineasta Paulo Rocha, um dos realizadores que iniciou o Cinema Novo português com o seu primeiro filme Os Verdes Anos, decide rodar a segunda longa-metragem no Furadouro, situando a história no meio dos pescadores que na infância o haviam fascinado.

1970. No Porto, o jovem poeta Manuel António Pina, e outros jovens aspirantes a poetas escolhem António Reis como referência.

Estas e outras pessoas fazem parte de uma tribo informal cujos membros se reconhecem quando se encontram.»




28 ABR | 5.ª FEIRA | 10H15 | ESTÚDIO 213

O ÚLTIMO PORTO - ALÉM DAS PONTES (2019) 87’

Pierre-Marie Goulet




Sinopse

«Filme de encontros, O Último Porto increve-se na continuidade dos meus dois filmes anteriores Encontros e Polifonias, formando com eles uma espécie de tríptico. Mas, ao propor um encontro entre as culturas portuguesa e turca, vai cruzar com dois filmes que realizei nos anos 70 sobre as cerimónias - o zikhr - nos tekkes de confrarias soufis na Turquia : Mevlevi e Djerrahi.

O Último Porto procurará concretizar em imagens e sons o sentimento de uma analogia subterrânea, - em parte subjectiva - de certos dados topográficos e culturais portugueses e turcos, evocando assim a permanência secreta e silenciosa da cultura muçulmana subjacente á cultura portuguesa.

Ao provocar encontros entre membros destas duas culturas, por intercessão da música, do canto, da poesia e dos lugares, poderá revelar-se o que, para além dos dados históricos, tece os laços entre dois universos aparentemente tão distantes um do outro.

Se historicamente, nada vem fundamentar uma relação directa entre Portugal e a Turquia, é certo contudo que a presença moura marcou profundamente a cultura portuguesa e que a cultura turca à medida que o seu povo avançava desde as estepes da Mongólia em direcção ao Oeste, se impregnou fortemente da cultura árabe e muçulmana, mas também da cultura bizantina.

Por isso, ouvir o ritmo do bendir, o tambor utilizado pelos sufis e os sons do zikhr ressoar sobre as falésias da costa vicentina, lá onde Ibn Quasi, o rei sufi de Mértola, teria instalado o seu tekke (ribat), ouvir o som do ney turco elevar-se na planície alentejana ou acompanhar um poema de Virgínia Dias poderá interrogar-nos sobre os universos humanos e culturais que interagem além das fronteiras do espaço e do tempo, e em que medida ainda o olhar do outro e as partilhas nos enriquecem, reanimando memórias seculares, que longe de qualquer nostalgia, alimentam o nosso presente e o nosso futuro.»




29 ABR | 6.ª FEIRA | 14h30 | ESTÚDIO 213

SESSÃO «OS FILHOS DE LUMIÈRE -

O MUNDO À NOSSA VOLTA»

Com a participação de Teresa Garcia




«Os Filhos de Lumière é o nome de uma associação cultural, vocacionada para a sensibilização ao cinema enquanto forma de expressão artística. Criada no ano 2000 por um grupo de cineastas e amantes de cinema, no âmbito da Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, a nossa associação concebe, organiza e orienta actividades que visam levar crianças e adolescentes nelas envolvidos a apreciar, compreender e criticar as obras que resultam da prática da arte cinematográfica. Sempre foi convicção daqueles que se uniram para fundar esta associação que a melhor maneira de adquirir os saberes que nos propúnhamos construir passava pela aquisição de um saber fazer, ou seja privilegiando uma abordagem prática, um conhecimento decorrente da experimentação.»

«É algo que todos os realizadores têm em comum, creio, este hábito de ter um olho aberto dentro deles e outro no exterior. (...) Eis uma ocupação que nunca me cansa: olhar.».

Michelangelo Antonioni



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