Estudaremos alguns dos principais conceitos e métodos de composição, comuns ao desenho e a outras técnicas de criação visual, que ajudarão, posteriormente, a fundamentar nosso processo de escolhas e tomada de decisões ao elaborar um desenho.
Composição é a essência do processo de criação artística. Todo desenho é, efetivamente, uma composição visual, deliberada ou não, eficaz ou não, agradável ou não. Desenhar é compor, e compor é comunicar uma mensagem.
O estudo de fundamentos de composição visual possibilita que tenhamos maior consciência e intenção ao fazer as escolher que definirão a forma que nosso desenho terá. Podemos "dizer" (visualmente) algo mais próximo daquilo que realmente queremos; convidar o espectador/observador a experienciar sensações e ideias acerca da mensagem que cada desenho carrega.
Alguns dos princípios mais importantes de composição visual são:
Ponto focal
Escala
Equilíbrio
Ênfase
Ritmo
Movimento
Outra diretriz comum para a composição é a regra dos terços: ela orienta a divisão do espaço da imagem em áreas que destacam 4 pontos considerados "favoráveis" à colocação dos elementos de maior interesse à composição. A regra dos terços é uma espécie de derivação simplificada de outro princípio denominado segmentação áurea (sobre o qual não entraremos em detalhes aqui).
A composição não é algo exclusivo do desenho - é um fundamento comum a todas as práticas que envolvem expressão e comunicação visual, incluindo a pintura, a fotografia, o design, a cenografia, a arquitetura etc.
Veja, abaixo, maiores explicações e exemplos visuais sobre os fundamentos básicos de composição.
Duração: 23'05"
Para além dos princípios mencionados anteriormente, existe um que, de tão importante, merece uma seção independente: contraste.
De forma simples, contraste implica diferença. Quando os elementos de uma composição são similares e repetitivos, não há contraste; quando são diferentes entre si, em um aspecto ou mais, pode haver os mais variados níveis e tipos de contraste.
Há diversos modos de utilizarmos contraste em composição: contrastes de forma (por exemplo, círculos X triângulos, ou curvas X retas); contrastes de tamanho (grande X pequeno); contrastes de espessura (grosso X fino) etc.
De todas as formas de contraste, possivelmente, a mais poderosa do ponto de vista da atração do olhar é o contraste de valor (claro X escuro). Usar contrastes de valor é o que permite conferir ênfases mais fortes aos elementos que escolhemos para chamar mais atenção em nossa composição; e, de forma inversa, reduzir o contraste de valor deliberadamente contribui para suavizarmos a atenção sobre uma determinada área, o que favorece que outras partes da imagem chamem mais atenção.
Com o uso do valor tonal e com noções de como a criação de contrastes implica nos resultados obtidos em nossas composições, é possível ter, em nosso repertório criativo, uma série de efeitos visuais interessantes. Áreas com diferentes valores locais, por exemplo, ajudam na organização visual e na criação de ritmo. A perspectiva atmosférica, por sua vez, permite enfatizar a sensação de profundidade dos elementos em uma cena quando há intenção de percepção de distância espacial.
Veja, abaixo, mais detalhes sobre a importância do contraste na composição visual e exemplos de possíveis efeitos visuais com o uso de valores.
Duração: 19'17"
Duração: 17'03"
Para ajudar a criar um maior senso de distância e dimensão ao pensarmos uma composição, podemos planejar sua organização espacial em "planos" de profundidade: primeiro plano (foreground), planos intermediários (middlegrounds), plano de fundo (background). Objetos posicionados em planos mais ao fundo sofrem o efeito da perspectiva atmosférica de forma mais intensa: aparecem esmaecidos, com menos detalhes, valores menos contrastantes. Já objetos posicionados no plano que contém o ponto focal (que pode ser um plano intermediário ou o primeiro plano) se mostram mais nítidos, ricos em detalhes e contrastes tonais mais fortes. É comum que o centro de interesse de uma composição esteja no primeiro plano (foreground), mas outro recurso comum e igualmente eficaz é posicioná-lo em um plano intermediário e reduzir a ênfase do primeiro plano desfocando-o ou reduzindo-o a algo próximo de uma silhueta para utilizá-lo como uma espécie de "moldura" ou "janela".
Comparando as duas ilustrações acima: em "Concurso de fantasias", o centro de interesse, que é a menina vestida de boleto, está posicionado no primeiro plano. Já em "Dry 'n tame", a menina com a ovelha, centro de interesse da composição, estão situadas em um plano intermediário, e os personagens em primeiro plano, com contraste reduzido, atuam como uma espécie de "moldura" que ajuda a direcionar o olhar para o ponto focal.
É essencial haver um momento, dentro do processo criativo, para a exploração de alternativas. Nessa fase, nada é definitivo ainda, as ideias estão em ebulição, e tudo é possibilidade. Por isso, é importante permitir-se flexibilidade suficiente para testar opções de escolha, boas e ruins, antes de se optar por desenvolver algo mais concreto.
No início do processo criativo, alguns minutos de pequenos esboços rápidos visando explorar opções de composição fazem toda a diferença. Esses pequenos rascunhos são popularmente conhecidos como "thumbnails" - literalmente, a palavra se traduz como "unha do dedão", uma alusão ao fato de esses, em geral, serem desenhos feitos em tamanho pequeno. O objetivo dos thumbnails não é que sejam "bem-feitos", mas que comuniquem, de forma clara, as possíveis alternativas de composição que você pode querer seguir.
Ao gerar thumbnails, agilidade e quantidade importam. Em geral, antes de se iniciar um desenho, pode ser útil fazer, pelo menos, de 2 a 4 thumbnails explorando diferentes caminhos para a composição. A meta é não se demorar muito em cada pequeno rascunho - 5 minutos ou menos, em geral, já são o bastante para esboçar cada thumbnail.
Abaixo, você pode ver mais informações e dicas sobre a fase de thumbnails em um processo de desenho.
Duração: 9'01"
Procure 10 imagens (ou mais, se quiser) que "capturem" o seu olhar. Em seguida, analise suas composições à luz dos conceitos estudados nesta aula. Fique à vontade para utilizar qualquer site de busca da sua preferência ou, caso queira, utilize um dos bancos de imagens recomendados abaixo:
Escolha um tema qualquer e pense em uma ideia para um desenho. Com uma ideia definida em mente, crie de 3 a 10 thumbnails experimentando variadas alternativas de composição. Procure aplicar os conhecimentos estudados nesta aula.
Caso precise de ajuda para gerar ideias, acesse um dos sites abaixo (em inglês. Dica: use um tradutor online, se precisar):
Mais uma dica: o mais importante deste exercício vai ser a prática de pensar a composição. Então, não precisa passar muito tempo procurando uma ideia absurda ou se apegar à ideia em si - qualquer ideia visual já pode servir para este exercício.
Quer expandir seus estudos? Aqui vão algumas sugestões de que você pode gostar.
(Vídeo) Autor: Guilherme Freitas / Brush Rush
Achou mais alguma coisa por aí que pode ser útil como material complementar?
Compartilha com o professor: liandroroger@virtual.ufc.br