Dulcinéa Paraense

Nascida em Belém, em 2 de janeiro de 1918, ela estudou na escola de aplicação Professora Serra Freire (anexa à Escola Normal) e cursou Direito na época em que Francisco Paulo Mendes (1910-1999) – que se tornaria uma espécie de mentor da juventude intelectualizada da capital paraense – ainda era secretário da Faculdade. Dulcinéa ensinou por algum tempo no Colégio Progresso Paraense. Como jornalista, trabalhou na redação de O Estado do Pará e em Terra Imatura, e tinha uma coluna, como crítica de arte, na Folha do Norte. Poemas seus também foram publicados em outras revistas que circulavam na cidade: Guajarina (de Francisco Lopes), A Semana (de Ernestino Sousa Filho), Pará Ilustrado (de Edgar Proença), Brasileis (de Sílvio Meira), todas mensais, com exceção de A Semana. O décimo terceiro número da Terra Imatura (ano 3, dezembro de 1940) estampa uma lista de poetas, com o título de “Poetas modernos da Amazônia”, entre os quais estão Dulcinéa Paraense.

No fim dos anos 1930, em Belém, Dulcinéa Lobato Paraense era conhecida como poeta, declamadora e cantora lírica (ela mesma acompanhava-se ao piano). Conta, com certo orgulho, que estudou canto com Marcelle Guamá (1892-1978). Teve uma juventude cercada de poetas e escritores, no meio do movimento intelectual da Belém daquela época. Em 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fixou residência. Trabalhou no Instituto do Açúcar e do Álcool e, mais tarde, foi Procuradora na Superintendência de Serviço de Previdência Social (SUSERPS), por onde se aposentou. Tendo publicado poemas nas revistas paraenses daquela época, Dulcinéa nunca lançou um livro. O trabalho da poeta é referência entre os modernistas paraenses. Entre os seus mais belos e lembrados poemas estão “O destino do silêncio”, “Símbolo” e “Retrato”.

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Texto "A Voz da noite" apresentado em imagem e sons.

Leia

Aqui vão mais algumas sugestões de leitura:


À hora em que chegares

depõe em meu regaço o peso de teu dia

e espera junto a mim pelo conforto

que a noite há de trazer.


Deixa que minhas mãos

façam penumbra nos teus olhos

e que a cantiga que eu cantar

te envolva e deixe no teu corpo

a lassidão que há

de anteceder teu sono.


Se tua fadiga te devolve à infância

se necessitas tanto de meu colo

para a cabeça repousar

não relutes que eu vele e que te guarde.


Em respeito ao teu dia e ao teu cansaço

nada te exigirei.

Apenas te direi coisas de amor

para que sonhes lindo

e escutes minha voz neste acalanto

longe, mais longe, cada vez mais longe,

ressoando em tua memória e em tua infância.


As mãos

são asas cansadas

de tantos voos sem rumo.


Os pés

são mágoas na estrada

– não deixam sêmen nem flor.


Segui.

Os olhos choraram

resinas de dor amarga.


Os lábios

Não blasfemaram

– chamaram apenas por ti.


Mergulhei

nas águas frias:

o pranto não congelou.


Sequei

o corpo ao relento

– alga sobre areia ardente –


Ficou

o corpo sem seiva

e o pranto continuou.

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