Introdução à Literatura
Trovadorismo
Trata-se da “escola literária” característica dos tempos do feudalismo, que aconteceu na Idade Média – entre a queda do império romano e o surgimento do renascimento. O trovadorismo vem nos mostrar todo o contexto histórico, social, artístico e cultural deste período que tanto marcou a literatura.
Contexto histórico e social
O trovadorismo desenvolveu-se dentro do feudalismo, que era um sistema econômico onde praticamente não havia comércio ou uso de moeda. Existia o Senhor Feudal, ou suserano, que era dono de uma grande quantidade de terras, e então ele sedia alguns metros quadrados para homens que se tornavam seus servos, ou vassalos. Estes homens trabalhavam nas terras do suserano para conseguir sustento próprio e proteção contra invasores germânicos – que na época invadiam a Europa com muita frequência – e em troca prometiam dar uma parte e suas produções para o sustento do senhor.
Contexto cultural
Durante a Idade Média, tudo era baseado no teocentrismo, a teoria de que Deus é o centro de todas as coisas. Tendo isso em vista, tudo era controlado pela igreja católica, que detinha todo o poder tanto político, como econômico. O clero costumava ser representado acima dos senhores feudais nas pirâmides sociais da época. Consequentemente, toda a cultura, literatura e arte foram influenciadas e inspiradas pela religião. Na época, o homem colocava-se totalmente à mercê da vontade de Deus, assim como todos os outros fenômenos naturais. Se algo acontecia, fosse bom ou ruim, eles acreditavam ser a decisão de Deus.
Contexto artístico
Na arquitetura, todas as obras estavam voltadas para construção de igrejas, catedrais, capelas e mosteiros. Variava-se entre o estilo gótico e romântico. Nas pinturas e esculturas da época, não podia ser diferente, tudo focava a temática religiosa, apresentando Jesus, Maria ou algum santo como o centro da obra de arte.
E na literatura as coisas não eram muito diferentes. As únicas pessoas da época que sabiam ler eram membros do clero, e por isso, a maioria das obras literárias produzidas nesta época eram cantigas para exaltar e glorificar a Deus. Mas também foi nessa época que aconteceram as cruzadas, onde vários homens foram lutar em nome da igreja no intuito de “recuperar a terra santa”. Então foram feitas também muitas cantigas de amor, inspiradas no sofrimento dos cavaleiros que eram obrigados a deixar suas mulheres. Outras poucas obras literárias narravam o costume da sociedade da época. Sendo assim, a obra literária do trovadorismo pode ser subdividida em:
Cantigas líricas
De amor
De amigo
Cantigas satíricas
De escárnio
De maldizer
Principais obras e autores
De amor
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e – ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós
De amigo
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(…)
D. Dinis
De escárnio
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!…
João Garcia de Guilhade
De maldizer
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!…
Pero Garcia Burgalês
Humanismo
O Humanismo é o nome dado a uma corrente filosófica e artística que surgiu no século XV na Europa. Na literatura, ele representou o período de transição (escola literária) entre o Trovadorismo e o Classicismo, bem como da Idade Média para a Idade Moderna.
Note que o termo “Humanismo” abriga diversas concepções. No geral, corresponde ao conjunto de valores filosóficos, morais e estéticos que focam no ser humano, daí surge seu nome. Do latim, o termo humanus significa “humano”.
Trata-se de uma ciência que permitiu ao homem compreender melhor o mundo e o próprio ser. Isso ocorreu durante o período do Renascimento Cultural.
Características do Humanismo
As principais características do Humanismo são:
Racionalidade
Antropocentrismo
Cientificismo
Modelo Clássico
Valorização do corpo humano e das emoções
Busca da beleza e perfeição
Humanismo em Portugal
O marco inicial do humanismo literário português foi a nomeação de Fernão Lopes para cronista-mor da Torre do Tombo, em 1418.
O movimento com foco na prosa, poesia e teatro, terminou com a chegada do poeta Sá de Miranda da Itália em 1527.
Isso porque ele trouxe inspirações literárias baseadas na nova medida chamada de “dolce stil nuevo” (Doce estilo novo). Esse fato permitiu o início do classicismo como escola literária.
Autores e Obras
O teatro popular, a poesia palaciana e a crônica histórica foram os gêneros mais explorados durante o período do humanismo em Portugal.
Gil Vicente (1465-1536) foi considerado o pai do teatro português, escrevendo “Autos” e “Farsas”, dos quais se destacam:
Auto da Visitação (1502)
O Velho da Horta (1512)
Auto da Barca do Inferno (1516)
Farsa de Inês Pereira (1523)
Fernão Lopes (1390-1460) foi o maior representante da prosa historiográfica humanista, além de fundador da historiografia portuguesa. De suas obras merecem destque:
Crônica de El-Rei D. Pedro I
Crônica de El-Rei D. Fernando
Crônica de El-Rei D. João I
Com destaque para a poesia palaciana, Garcia de Resende (1470-1536) foi o maior representante com sua obra Cancioneiro Geral (1516).
Classicismo
O Classicismo corresponde a um movimento artístico cultural que ocorreu durante o período do Renascimento (a partir do século XV) na Europa. O nome do movimento que marca o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, faz referência aos modelos clássicos (greco-romano).
No campo da literatura, Classicismo é o nome dado aos estilos literários que vigoravam no século XVI, na época do Renascimento. Por isso, a produção desse período também é chamada de Literatura Renascentista.
Contexto Histórico
Na idade Média, período que durou dez séculos (V ao XV), o principal atributo da sociedade era a religião.
Esse momento esteve marcado pelo teocentrismo, cujo lema eram os dogmas e preceitos da Igreja Católica, que cada vez mais adquiria fiéis.
Assim, pessoas que estivessem contra ou questionassem esses dogmas, eram excomungados, além de sofrer alijamento da sociedade, ou em último caso, a morte.
O humanismo, que surgiu a partir do século XV na Europa, começou a questionar diversas questões uma vez que o cientificismo despontava.
Muitos estudiosos foram capazes de propor novas formas de análise do mundo e da vida, que estivessem além do divino. Ou seja, apresentavam questões baseadas na racionalidade humana e no antropocentrismo (homem no centro do mundo).
Esse momento esteve marcado por grandes transformações e descobertas históricas:
as Grandes Navegações;
a Reforma Protestante (que levou a uma crise religiosa) encabeçada por Martinho Lutero;
a invenção da Imprensa pelo alemão Gutenberg;
o fim do sistema feudal (início do capitalismo);
o cientificismo de Copérnico e Galileu.
Foi nesse contexto que as pessoas buscavam novas expressões artísticas pautadas no equilíbrio clássico.
Assim, surgiu o renascimento cultural, período de grandes transformações artísticas, culturais, políticas e que espalhou-se por todo o continente europeu.
Classicismo em Portugal
Em Portugal, o Classicismo compreende o período literário do século XVI (entre 1537 e 1580). O marco inicial do movimento foi a chegada do poeta Francisco Sá de Miranda à Portugal.
Ali, ele se inspirou no humanismo italiano, trazendo uma nova forma de poesia: o “dolce stil nuevo” (Doce estilo novo).
Esse novo modelo estava baseado na forma fixa do soneto (2 quartetos e 2 tercetos), nos versos decassílabos e na oitava rima.
Além de Sá de Miranda merecem destaque os escritores portugueses classicistas:
Bernardim Ribeiro (1482-1552), com sua novela “Menina e Moça” (1554);
António Ferreira (1528-1569), com sua tragédia “A Castro” (1587).
No entanto, foi a partir de Luís de Camões, um dos maiores poetas portugueses e da literatura mundial, que a literatura portuguesa ganha notoriedade.
Sua grande obra "Os Lusíadas” (1572), é uma epopeia classicista onde ele narra a viagem de Vasco da Gama às Índias. Ela foi escrita em 10 cantos e está composta de 8816 versos decassílabos em oitava rima distribuídos em 1120 estrofes.
O Classicismo em Portugal permaneceu até 1580. Esse é o ano da morte de Camões e também da União das Coroas Ibéricas, aliança estabelecida até 1640 entre Espanha e Portugal.
Obs: No Brasil, esse período literário ficou conhecido como Quinhentismo.
Características do Classicismo
As principais características do classicismo são:
Antiguidade clássica
Antropocentrismo
Humanismo
Universalismo
Racionalismo
Cientificismo
Paganismo
Objetividade
Equilíbrio
Harmonia
Rigor formal
Mitologia greco-romana
Ideal platônico e de beleza
Principais autores e suas obras
Decerto que na literatura portuguesa o autor que recebe destaque é Luís Vaz de Camões, com sua obra “Os Lusíadas” (1542). Já na Espanha, Miguel de Cervantes (1547-1616) com sua obra mais notável “Dom Quixote” (1605).
Destacam-se também os escritores humanistas italianos:
Dante Alighieri 1265-1321), com sua obra mais popular “A Divina Comédia” (1555);
Francesco Petrarca (1304-1374), pai do humanismo e inventor do soneto;
Giovanni Boccacio (1313-1375), com sua obra Magma “Decamerão” (1348 e 1353).
Jogos
Agora vamos testar seus conhecimentos sobre o assunto? Convide seu professor e amigos!
Vídeos
Experimente ouvir as cantigas de amigo como na época dos grandes romances palacianos.
Aproveite a experiência de ouvir, na íntegra, uma grande obra de Gil Vicente: O auto da barca do inferno.
De maneira lúdica, se divirta com essa adaptação do texto de Gil Vicente: A Farsa de Inês Pereira.
O Nome da Rosa aborda a realidade vivida na Idade Média. Aproveite!
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