Início/fim do curso: 11 de junho / 09 de julho (6ª feira)
Horário: 18-21h.
Valor: 50,00. 25,00
Número de vagas: 50.
Local: Zoom (ao vivo) / YouTube (gravação).
Chave Pix: porticojamaisnomeado@gmail.com.
Inscrições: Enviar comprovante da transferência para filosofiadamente3@gmail.com até o dia 10 de junho.
Wittgenstein:
Teoria, Linguagem, Política.
O objetivo deste curso é apresentar o que podemos chamar de "(anti)filosofia de Wittgenstein", focando especialmente no potencial crítico de seus escritos. Deixando de lado a construção hermenêutica "1º Wittgenstein/ 2º Wittgenstein", podemos trabalhar a partir de uma continuidade que se manifesta melhor quando abandonamos a busca por conjuntos de teses e conceitos que permitiriam a identificação de duas fases.
Para isso, passaremos por seus escritos em busca de uma apresentação mais ampla, uma montagem que privilegiará outros elementos de seus textos para construir a continuidade. Um foco maior será dado à dimensão performativa dos textos, às problematizações de Wittgenstein sobre a pertinência e a possibilidade de construção de uma teoria filosófica, às suas relações conflituosas com o ambiente filosófico no qual estava inserido, dentre outras coisas.
As reflexões de Wittgenstein sobre as relações entre teoria, vida e linguagem, ainda que expostas de forma fragmentária e dispersa, permitem extrair isso que foi chamado aqui de "forma de pensar", e parte do curso será voltada a elaborar essa forma - que, mesmo sendo identificada como antifilosófica, não deixa de ser, em outro sentido, filosófica. Isso poderá ser melhor visualizado quando lidarmos com a relação conflituosa que Wittgenstein tinha com certo imaginário filosófico, alvo de parte de seus escritos, e como a construção desse alvo apresenta uma série de problemas: desde a prescrição do "silêncio filosófico" no fim do Tractatus às tentativas de pensar outras formas de fazer filosofia.
De maneira complementar, passaremos por questões que não estão explicitamente presentes nos textos ou que não são elaboradas detalhadamente, usando a forma de pensar presente neles para lidar com questões éticas e políticas atuais. A ideia não é fazer uma interpretação "politizada" dos escritos de Wittgenstein, mas usar o que já está presente neles para construir uma abordagem wittgensteiniana que exceda o círculo vicioso do comentário e da produção de literatura secundária.
Ainda assim, será tomado o cuidado na distinção entre apropriações, interpretações, usos e extensões dos textos, de modo que poderemos pensar também as várias relações com o texto filosófico e os lugares para onde elas nos levam (ou deixam de levar).
Resumos das aulas:
Aula 1: “Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar”.
Como devemos localizar a filosofia em sua relação com outras formas de saber e dizer? Fazer parte de um ambiente filosófico - um espaço de recepção, transmissão e produção do discurso filosófico - é participar de uma forma de imaginar as coisas, ainda que essa participação não se dê igualmente para todas as pessoas. Desde o Tractatus, uma preocupação recorrente que Wittgenstein tinha era com aquilo que filósofos tomavam como pressuposto quando faziam filosofia. Inicialmente, essa postura crítica revela um beco sem saída: se é assim que se faz filosofia, então não há filosofia a ser feita - resta o silêncio. Mas, o que significa "falar" e "calar" aqui, e o que há além de ambos movimentos para a filosofia? Qual é a maneira de fazer filosofia contra a qual se decreta o silêncio e por que Wittgenstein ele mesmo não ficou em silêncio permanente depois do Tractatus?
Aula 2: “Na filosofia, uma pessoa se sente forçada a olhar um conceito de uma determinada maneira”.
Os textos de Wittgenstein são marcados e movidos por uma série de conflitos que podem ser pensados em termos de uma luta contra tentações que corromperiam certa autenticidade. Podemos pensar essas tentações como a força de um imaginário filosófico, que orienta a maneira como lidamos com as mais variadas coisas, incluindo os elementos de um texto percebido e identificado como filosófico. O que veremos nessa aula é como parte dessa força vem da inserção da filosofia em um cenário mais amplo - o de uma civilização orientada pelo desejo de progresso e marcada por uma verticalização que envolve desde o modo como diferentes formas de vida são visualizadas (como no imaginário colonialista) até a hierarquização de linguagens e no interior de uma mesma linguagem (como na produção de um "senso comum"). Ou seja, veremos como Wittgenstein pensa problemas de linguagem como efeitos da "inautenticidade" do mundo dito civilizado.
Aula 3: “O trabalho filosófico consiste em trabalhar sobre si. Na maneira de ver as coisas”.
Wittgenstein usava termos como "doença", "remédio" e falava em métodos filosóficos como "diferentes terapias" quando discutia as relações entre filosofia e vida. Podemos dizer que a terapia wittgensteiniana diz respeito ao modo como as coisas aparecem para nós, sendo um passo inicial na reorganização e reorientação de nossa sensibilidade e nossa imaginação. Vemos isso especialmente no modo como seus escritos funcionam como jogos de imagem que entram em conflito com nossos desejos, expectativas e hábitos mentais - inclusive no que diz respeito ao que queremos do discurso filosófico e esperamos dele. Nesse sentido, Wittgenstein nos deixou uma contribuição crítica tão importante quanto as deixadas pela filosofia política contemporânea.
Aula 4: “Não pense, olhe!”
Podemos pensar a filosofia sem teoria? E uma política sem teoria? Em ambos os casos, o que acompanha a imagem da teoria em termos de expectativas, pressupostos e cadeias de significação? Quando se fala aqui na recusa da teoria, o que está em jogo não é um abandono do pensamento em geral, mas pensar criticamente assuntos como: a relação entre teoria revolucionária e ação revolucionária, a imagem do intelectual e sua relação com seu outro ("povo", "massa" etc.), e as próprias maneiras como o pensamento se organiza para além da teoria. No fim, o problema diz respeito ao modo como aquilo que esperamos que resolva certos problemas (filosóficos, políticos) se relaciona com esses mesmos problemas e com as condições de sua solução.
Aula 5: “A minha imagem do mundo não é algo que tenho pois me convenci de sua precisão”.
Termos como "negacionismo" e "terraplanismo" se tornaram recorrentes nas acusações de nossos dias. Mas, para além da demarcação identitária de um outro a ser combatido por práticas de esclarecimento, o que esses termos e as discussões em que eles aparecem nos mostram? Embora o problema da falsidade e da ignorância apareça sempre relacionado ao conteúdo de crenças sobre algo no mundo, como se tudo que estivesse em jogo fosse o poder de representar ou não a realidade corretamente - algo que, não raramente, leva a uma postura de incredulidade diante do absurdo que é acreditar ou deixar de acreditar em certas coisas. Para encerrar este curso, veremos que as coisas são bem mais complicadas: é preciso considerar certas tendências contemporâneas que denunciamos na organização mais ampla da vida psíquica e social - e o resultado pode não ser tão agradável para a imaginação esclarecida.
Bibliografia.
Investigações Filosóficas
Da certeza
Cultura e Valor
Tractatus Logico-Philosophicus
Observações sobre o "Ramo de Ouro" de Frazer
Conferência sobre ética.