O meu livro preferido...

   O livro preferido depende, muito provavelmente, da idade e da experiência de vida que temos quando o lemos. Também, por isso, é difícil escolher apenas um, outros marcam-nos noutros tempos da nossa vida. Mas, mesmo assim, há sempre um, aquele que queremos saber onde está guardado e relembramos na memória a sua capa. Aquele que quando recordamos ficamos a pensar o que nos ensinou ou por que motivo nos cativou. No meu caso, foi o livro de José Mauro de Vasconcelos “Rosinha, minha Canoa”. Dele respirei emoção e fantasia, ri e chorei e percebi que a dolorosa realidade, a todo o custo nos quer transformar em desumanos… enquanto, a todo o custo, lutamos para sermos mais solidários, humanos e simples. O autor foi o melhor apresentador do seu livro quando na primeira página li em Explicação: “Foi preciso que chegasse aos quarenta anos para perder todo o terror de minha ternura a derramar por minhas mãos que queimam de carinho (quase sempre sem ter ninguém para o receber) a simplicidade deste meu livro. Leia-o quem quiser.”. Sorte minha que o li aos 25. Assim acompanhei Zé Orocó e a sua cúmplice e amiga canoa, desde a natureza pura e virgem até ao hospício e à natureza humana. Última parte que afasto sempre da minha memória…


Orlanda Maria Carvalho Simões (Coordenadora da Educação Pré-Escolar do Agrupamento de Escolas de Sever do Vouga)

Em miúda ouvia dizer "É preciso ter cuidado com o que dizemos, atenção que  o senhor Zé e o senhor Manel são “bufos” ( informadores da PIDE)".

    A vida num Sopro, de José Rodrigues dos Santos, é um romance que se passa no tempo da ditadura. Relata o amor entre dois jovens, o Luís e a Amélia,  que tem a oposição da mãe da Amélia. Se por um lado é uma história de amor, repleta de atribulações, por outro lado é um relato do que é um regime ditatorial, especialmente o modo de atuação da Polícia Política (PIDE).  O  que me fascinou, porque ouvia em pequena, mas desconhecia os pormenores, foi o modo como o autor descreve a  forma  de atuação dos  informadores da PVDE, infiltrados em todos os lugares e espaços, tanto nas universidades como nos cafés e lugares das aldeias mais interiores, a maneira como traíam os seus amigos.


Maria da Graça Amador, (Chefe de Serviços de Administração Escolar do Agrupamento de Escolas de Sever do Vouga)

Identificar “O meu livro preferido…” não é tarefa fácil, pois as razões a equacionar que ditam a escolha são imensas. Poderá ser uma contradição, mas o livro que “saltou” à memória foi o que demorei mais tempo a ler, pela sua complexidade na forma como a autora escreve e pelas pesquisas que foram necessárias fazer para compreensão dos contextos geográfico, religioso, cultural e social onde se passa a narrativa. “O Deus das Pequenas Coisas”, de Arundhati Roy, passa-se na Índia, onde a sociedade é determinada pela existência de sistemas de castas, mas onde a amizade e o amor ultrapassam qualquer lei criada por divindades perdidas no tempo.
“Uma meia dúzia de horas pode afetar uma vida inteira”. É uma história familiar, envolvente, de contrastes entre a amizade, a pureza e a inocência das crianças protagonistas e o preconceito, os ressentimentos, a maldade e as frustrações dos adultos.
Em contraste, há uma essência humorística textual, em que as personagens (crianças), com o seu caráter sonhador, carinhoso e divertido, desafiam os leitores mais resistentes."



Graça Fernandes, (Coordenadora do 1.º CEB do Agrupamento de Escolas de Sever do Vouga)

O meu livro preferido é “After” da Anna Todd, e que faz parte de uma coleção de cinco livros. Assim, apaixonei-me não só pelo o primeiro livro, mas também por toda a saga.

After” conta-nos a história de Tessa e Hardin. Hardin, como não podia deixar de ser, tem mau feitio, é bruto e arrogante. A Tessa é frágil, sensível “certinha”. Aparentemente não têm nada a ver um com o outro, mas lá no fundo, são almas gêmeas.

  Foi esta saga que me fez apaixonar e viciar pela leitura. Devorei os livros em pouquíssimo tempo e quando os terminei senti-me tão vazia que não sabia o que fazer à vida. Não demorei muito tempo a perceber que conseguiria preencher esse vazio com outros livros.

Tenho a certeza de que já li livros com histórias mais empolgantes e que me puseram a refletir muito mais que “After”, mas, apesar de tudo, por mais livros que leia, “After” terá sempre um lugar especial no meu coração. Foram estes cinco livros que me demonstraram pela primeira vez o quão bom é ler, o quão incrível é quando conseguimos mergulhar numa história e esquecer tudo à nossa volta. O quão bonito é quando nos permitimos sentir.


Camila Pereira (Presidente da Associação de Estudantes da Escola Básica e Secundária de Sever do Vouga)

“DE PROFUNDIS, Valsa Lenta” de José Cardoso Pires 

            A leitura do livro “DE PROFUNDIS (1), Valsa Lenta” levou-me a fazer uma autorreflexão sobre a volatilidade da natureza humana, mas também, sobre a sua capacidade de regeneração, quando um imprevisto acidente vascular cerebral interrompeu a vida normal, por algum tempo, do autor do livro.

       Perde-se a memória e, sem presente e sem referências do passado, tudo se apaga no subconsciente, desligando-o (autor) da realidade objetiva e de sentimentos.  

      O autor questiona se nesse estádio sem consciência plena o seu ser, a que chama “Outro”, não estaria a caminhar para a loucura, uma vez que o tempo não é tempo e o espaço onde vive é uma “penumbra isquémica” cerebral (2).

      Mas a recuperação acontece e o autor renasce para uma nova vida e, assim também, o seu génio criativo que o levou a escrever este livro dois anos depois. Retomadas as suas capacidades, desde a fala consciente aos valores da grafia, o autor recuperou a consciência da felicidade em que, para si, a música é um privilégio na festa da vida.

 

(1Do latim “das profundezas”

(2) Designação científica dada pelo Prof. João Lobo Antunes na carta ao amigo/prefácio do livro, a um AVC numa área do cérebro chamada zona de penumbra, onde a isquemia é incompleta.


António Figueiredo (Presidente do Conselho Geral do AESV)

Ter irmãos mais velhos, assim como o universo de alguns dos seus amigos, permitiu-me o acesso precoce a livros que, de outra forma, à data, ter-me-ia sido vedado! Ler era, é (e, penso, continuará a ser) terapêutico! O mundo fica em suspenso e eu parto numa viagem com uma certeza absoluta de que sairei da mesma fisicamente incólume, mas emocional e intelectualmente mais rica! 

Viagem ao mundo da droga, de Charles Duchaussois, é um dos livros que mais me marcou – não tenho um livro preferido, tenho alguns livros particularmente marcantes, que o foram certamente por terem sido lidos naquele momento! De Marselha ao Líbano, de Istambul a Bagdad, de Bombaim a Benares, por mar, a pé, ou de carro, ao mesmo tempo que conhecemos mundo, somos conduzidos a paragens de horror, numa descida ou subida aos infernos, juntamente com Charles. Verdadeiramente arrebatador, cruel e duro – retrato da ténue fronteira entre a vulnerabilidade e a determinação – é uma lição de vida!

Aos 14 anos, este livro fez por mim o que nem sempre o nosso melhor amigo consegue, muito menos o pai ou a mãe ou o irmão mais velho! 


 Céu Bastos (Subdiretora do AESV)

O meu livro preferido na minha adolescência … não foi apenas um, mas uma trilogia de uma autora portuguesa, Odette de Saint-Maurice, intitulada As meninas do andar de cima, que retratava a vida do casal Abegorim e das suas quatro filhas (Lili, a mais velha, de 24 anos, a altiva; Mirita, a inquieta; Rita, a rebelde; Rosarinho, a meiga) e que viviam no andar de cima da família Macedo. Foram três livros que me foram oferecidos em 1978 e que me conquistaram naquela idade (13 anos), pois as peripécias das meninas do 4.º andar, a atmosfera de raparigas com personalidades e problemas distintos, as experiências, os preconceitos, as brigas, as dúvidas, as festas, os namoros, as traições, o começar de novo vieram ao encontro da minha entrada na adolescência, e fizeram-me viver intensamente a vida daquelas irmãs, onde a Rosarinho foi a personagem que mais significado teve para mim, pois era uma Rosarinho, tal como eu. Seguiram-se outros livros da mesma autora, que marcaram uma alteração no meu percurso enquanto leitora, já que antes tinha “devorado” a coleção da Enid Blyton de Os Cinco, que foram os livros de referência da minha infância e tempos de escola “primária” em que eu e o meu irmãos juntávamos todos os tostões que nos davam para comprarmos, a meias, mais livros dessa coleção que adorávamos. Ainda hoje guardo essa coleção de livros bem velhinhos, mas bem conservados, e que datam de 1974 e que me trazem boas recordações da minha infância.

                                                                    Rosário Tavares (Diretora do AESV)