Clube de Leitura

Gostas de ler? Este é o teu espaço! Aqui encontrarás sugestões apropriadas para a tua idade. Também poderás partilhar as tuas opiniões sobre os textos lidos, as obras referenciadas... 

Partiremos de um texto poético e lançaremos um tema que estará na base dos livros que recomendaremos para o 2.º CEB, 3.º CEB e Ensino Secundário.

Sugestões de Leitura para o tempo de estudar...


                                 ESCOLA                                   O que significa o rio,                                    a pedra, os lábios da terra                                    que murmuram, de manhã,                                    o acordar da respiração?
                                     O que significa a medida                                      das margens, a cor que                                      desaparece das folhas no                                       lodo de um charco?
                                    O dourado dos ramos na                                     estação seca, as gotas                                     de água na ponta dos                                    cabelos, os muros de hera?
                                   A linha envolve os objetos                                    com a nitidez abstrata                                    dos dedos; traça o sentido                                    que a memória não guardou;
                                    e um fio de versos e verbos                                    canta, no fundo do pátio,                                   no coro de arbustos que                                   o vento confunde com crianças.
                                    A chave das coisas está                                    no equívoco da idade, na                                     sombria abóbada dos meses,                                    no rosto cego das nuvens.          Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas" 

2.º CEB


Pedro Alecrim, de António Mota, é uma história da escola, das brincadeiras, da família e da natureza. Estamos num tempo diferente do presente, talvez como o da infância dos teus avós. O Pedro vai à escola mas também tem que ajudar a família no trabalho do campo.  Nessas tarefas ele aprende muito e faz-nos aprender também.

Ainda assim, tal como tu hoje, também ele se interroga sobre a importância de determinadas matérias que são lecionadas na escola, também ele nem sempre simpatiza com todos os seus professores...

Aqui está um pequeno excerto:

«Terminámos as aulas e começa a confusão. Parecemos carreiras de formigas a correr para dentro das camionetas, quase sempre velhas e a largar fumaradas de óleo queimado.

Não há respeitinho por ninguém, como costuma dizer a D. Judite, a contínua plantada à entrada da escola que, dentro daquele cubículo, me faz lembrar um pássaro numa gaiola com telefone. O que importa é arranjar um lugar sentado. Quem não chega a tempo faz a viagem de regresso a casa de pé..» 



3.º CEB


Os olhos azuis de M. H., de Albertina Seco, é uma história de adolescentes, que se passa na escola. Percorremos o seu espaço  no exterior, mas também dentro das salas de aula. Somos levados a concretizar as tarefas dadas pelos professores, como a entrevista dada pela professora de Português, mas também nos  apercebemos da discriminação entre pares... em que a aparência, o modo como nos vestimos, pode trazer amizades ou antipatias...

É ainda uma história sobre um sonho, pois as últimas palavras de diário de Maria Hortense (M.H.) são «Quero mudar o mundo e já sei como. »

Aqui está um pequeno excerto:

«Na escola todos o conheciam. Era o Fisgas. Quando entrei, no primeiro dia de aulas (antes, eu vivia numa outra zona da cidade) pensei que era nome de cão. Mas rapidamente percebi que se referiam ao homem de olhos azuis que se sentava nos degraus da escada, acompanhado pelo seu amigo fiel.» 



Ensino Secundário


O Nome da Rosa , de Humberto Eco, é um romance de uma escola e de uma aprendizagem bem diferente da nossa na atualidade. Estávamos na Idade Média e o aluno viajava com o seu Mestre, confrontava-se com os problemas e os mistérios da vida, observava-o nessa resolução e dialogava com ele para aprender.

Ora, numa dessas viagens, aluno e mestre chegam a uma abadia isolada. Trata-se de um local maravilhoso, já que possuía uma biblioteca extraordinária onde se  guardavam e copiavam livros importantíssmos da Antiguidade. No entanto, vão-se deparar com uma série de crimes. E, juntos, vão resolvê-los!

« Era assim o meu mestre. Não apenas sabia ler no grande livro da natureza,  mas também o modo como os monges liam os livros das escrituras e pensavam através deles. Dote que, como veremos, haveria de se tornar bastante útil  nos dias que se seguiram. A sua explicação, além disso, pareceu-me naquele momento tão óbvia, que a humilhação de a não ter encontrado por mim foi ultrapassada pelo orgulho de ter então comparticipado nela, e quase me congratulei comigo mesmo pela minha agudeza.»

Sugestões de Leitura para o VERÃO


     Viajar! Perder países!

Viajar! Perder países!

Ser outro constantemente,

Por a alma não ter raízes

De viver de ver somente!


Não pertencer nem a mim!

Ir em frente, ir a seguir

A ausência de ter um fim,

E da ânsia de o conseguir!


Viajar assim é viagem.

Mas faço-o sem ter de meu

Mais que o sonho da passagem.

O resto é só terra e céu.


                        Fernando Pessoa

Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).  - 182

2.º CEB


As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, é uma narrativa de aventuras extraordinárias, em que a personagem principal surge ora como um gigante, em terra de seres minúsculos, ora o oposto. Isto é,  e como diz o próprio Gulliver a dada altura, «nada é grande ou pequeno senão por comparação». Nada é absoluto e tudo é relativo. 

É um romance metáfora, que pode e deve ser lido por adultos, num mundo que recusa a deixar desembarcar nos seus portos famílias que fogem de guerras terríveis.

Mas, para ti, que és ainda tão menino... lê, porque vais viajar para espaços nunca imaginados. E vais divertir-te! Acredita! Aqui está um pequeno excerto:

«Quatro horas após o início da viagem, fui despertado por um acidente ridículo. Estando o veículo parado para repararem uma avaria, dois ou três dos jovens nativos, sentindo a curiosidade de ver o meu aspeto enquanto dormia, subiram para o veículo e avançaram muito cuidadosamente até ao meu rosto. Um deles, um oficial de guarda, decidiu enfiar a extremidade afiada da sua lança na minha narina esquerda, o que me provocou cócegas no nariz como se fosse uma palha e me fez espirrar com violência.» 

3.º CEB


A volta ao mundo em 80 dias , de Júlio Verne, é uma das várias narrativas deste autor do século XIX, que comprovam o facto de ele ser considerado o percursor da literatura de ficção científica. Neste caso, vamos encontrar Phileas Fogg que decide enfrentar um enorme desafio com o seu fiel companheiro, Passepartout. Juntos vão viver aventuras emocionantes, mas também encontrar obstáculos…

«Era um contratempo. Mr. Fogg, a fim de não se afastar do rumo, teve de ferrar as velas e aguentar a pressão do vapor. Contudo, o andamento do navio diminuiu em consequência do estado do mar, cujas imensas ondas se quebravam contra a roda da proa. O navio começou a arfar violentamente, em prejuízo da sua velocidade. O vento degenerou em furacão e já se receava ver chegar o momento em que o Henriqueta não pudesse romper o mar. Ora, se fosse preciso fugir diante do temporal, haveria poucas probabilidades de concluir a viagem no curto prazo de tempo de que se dispunha.» 

E, quando terminares esta leitura, lê também, do mesmo autor, obras, como, 20 000 Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra ou Cinco Semanas em Balão.

Ensino Secundário


A Jangada de Pedra , de José Saramago, é um romance de uma viagem inusitada, já que narra a separação da Península Ibérica do continente europeu, transformando-se numa grande ilha flutuante, movendo-se sem remos nem velas em direção ao Sul do mundo.

Duas mulheres, três homens e um cão viajam pela península, enquanto ela sulca o oceano. Porque o fazem? Que viagem é essa? De que fogem? O que procuram?

« No dia seguinte recomeçaram a viagem. (...) Ontem, depois da última deliberação, traçaram um itinerário, nada de muito rigoroso, só para não avançarem às cegas, primeiro a Tarragona, ir pela costa até Valência, meter para o interior por Albacete, até Córdova, baixar a Sevilha, e finalmente, a menos de oitenta quilómetros, Zufre, lá é que diremos, Aqui vem Roque Lozano, são e salvo regressado da grande aventura sua, pobre foi, pobre voltou, não descobriu Europa nem Eldorado, nem todos os que buscaram encontraram, mas a culpa não é sempre de quem procura, quantas vezes não há riqueza nenhuma onde, por malícia ou ignorância, nos tinham dito que havia, (...).» 

Caso tenhas oportunidade, lê ainda, deste autor, Viagem a Portugal, obra publicada em 1981, e que serviu de inspiração ao recente programa da RTP1, levado a cabo por Fábio Porchat.

2.º Semestre


     ABRIL DE SIM ABRIL DE NÃO

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e o Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
  

                           Manuel Alegre

"Chegar aqui", 1984, in Atlântico, Publicações Dom Quixote, Portugal, 1989


2.º CEB

A vida mágica da Sementinha, de Alves Redol, é um livro que fica para toda a nossa vida. Fala-nos da magia da natureza. Nos tempos que correm, tão vincados pelo digital, é necessário reaprender a viver em contacto com a nossa "Mãe Natureza".

Em abril, a sementinha já não é propriamente uma semente:

«A sementinha olhou à volta, um tanto confusa.

-Depois tive um bico e duas asas como tu...Olha, em seguida foi um tal crescer de asas e rabinhos que fiquei tonta de todo, sem saber o que me aconteceria.

- Mas agora estás linda... toda verde, com flores...»

    Afinal, confirmámos com a tua professora de Português e ainda não tiveste oportunidade de ler esta bela narrativa, por isso, voltamos a repetir esta sugestão. Tens mesmo que analisar com detalhe este livro e participar no nosso site, respondendo aos nossos desafios. 

                           


3.º CEB

Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, merece ser lido várias vezes ao longo de uma vida.

 Quando se é criança, gosta-se pela aventura maravilhosa, num mundo de faz de conta em que os animais se comportam como humanos ... Quando se é adolescente, o primeiro movimento é de repulsa,considerando que já atirámos para trás das costas toda a infância. Mas, se leres com atenção, vais verificar que a Alice que cresce repentinamente ou cujo corpo diminui tanto que é capaz de sentir pavor de um simples coelho, só vem ilustrar as dificuldades que enfrentas na adolescência... ora te veem como criança, ora exigem de ti o adulto.

«"Lá em casa era muito melhor", pensava a pobre Alice, "uma pessoa não estava sempre a crescer ou a encolher e a andar às ordens de ratos e de coelhos. Quase chego a desejar não ter caído por aquela toca de coelho abaixo. No entanto...

(...) Devia-se escrever um livro a meu respeito, lá isso é que se devia!»

Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll, coleção Novis, biblioteca Visão,2000, p. 28

Ensino Secundário

Memorial do Convento, de José Saramago,leva-nos para o século XVIII português sem tirar os pés do nosso tempo. Isto é, Saramago recria a história com a mentalidade contemporânea.

Vais acompanhar duas construções: a do Convento de Mafra e a da passarola  voadora. Vais dececionar-te com a narrativa da vida de princesas e rainhas, afinal tão prisioneiras,  e encantar-te com a história de amor de Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, que sendo tão pobres, conseguem ser livres e voar, num amor infinito, pleno de reciprocidade.

 « Baltasar Mateus, o Sete-Sóis,está calado, apenas olha fixamente Blimunda, e de cada vez que ela o olha a ele sente um aperto na boca do estômago, porque olhos como estes nunca se viram, claros de cinzento, ou verde, ou azul, que com a luz de fora variam ou o pensamento de dentro, e às vezes tornam-se negros noturnos ou brancos brilhantes como lascado carvão de pedra.»

Memorial do Convento, de José Saramago, Editorial Caminho,SA, Lisboa, 1982, p. 51.

Tempo de Primavera

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro in Poemas inconjuntos

2.º CEB

A vida mágica da Sementinha, de Alves Redol, é um livro que fica para toda a nossa vida. Fala-nos da magia da natureza. Nos tempos que correm, tão vincados pelo digital, é necessário reaprender a viver em contacto com a nossa "Mãe Natureza".

«Um bando de cegonhas, a tocar castalholas com os bicos, apareceu no horizonte e aproximou-se. Logo mais atrás, as andorinhas e os pássaros cantaroleiros regressavam do sul, em grandes bandos, enquanto pelos campos se entornavam cores, como se nos bicos da passarada viessem pintores com as suas paletas. E pincelada numa árvore, pincelada num arbusto, transformaram tudo num instante.

Envolvidos por tantas asas, entontecido pela magia daquela Primavera, o Chapim Azul viu-se arrastado para o bosque, cantando também, num trinar de que não se julgava capaz.» 

(pp. 53 e 54 da obra identificada na foto, De Par em Par, Caminho, 2003)

3.º CEB

O rapaz de bronze, de Sophia de Mello Breyner, é uma narrativa em que flores, uma estátua e uma menina convivem de forma mágica e bela. É tudo tão perfeito, que parece impossível. Mas, na infância, no meio da natureza, tudo é possível!...

«O muguet é uma flor escondida. É uma flor pequenina e branca e tem um perfume mais maravilhoso e mais belo do que o perfume dos nardos.     

  Durante o Inverno ela dorme na terra debaixo das folhas secas e desfeitas das árvores. Dorme como se tivesse morrido. Mas na Primavera as suas longas folhas verdes furam a terra e crescem durante alguns dias até terem um palmo de altura. Então muito devagar as folhas vão-se abrindo e mostram à luz maravilhada as campnulas aéreas, brancas e bailarinas da flor do muguet. E o vento da tarde toma em si o perfume do muguet, leva-o consigo, e espalha-o no jardim todo.

Então tudo no jardim estremece e as grandes tílias e os velhos carvalhos e as flores recém-nascidas e as relvas e as borboletas dizem:

- É Primavera! É Primavera!» 

(p. 9 da obra identificada na foto, Edições Salamandra)

Ensino Secundário


Quinta dos Animais, ou também traduzido como "O triunfo dos porcos", de George Orwell, é um livro alegórico que pretende representar a sociedade humana através dos animais da quinta do senhor Jones. Na Primavera iniciam uma revolução para construir um projeto onde todos tenham os mesmos direitos. Mas essa primavera utópica depressa é esquecida!...


«Estava-se nos princípios de março. Ao longo dos três meses seguintes, a atividade secreta intensificou-se. O discurso do Major levara os animais mais inteligentes da quinta a encararem a sua existência sob uma perspetiva completamente nova» 



(p. 19 da obra identificada na foto)

Tempo de Amar


URGENTEMENTE



É urgente o Amor

É urgente um barco no mar.


É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade.

alguns lamentos, muitas espadas.


É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros e a luz,

impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer.



Eugénio de Andrade, As palavras interditas- Até amanhã

22.º CEB

O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, é um livro de todas as idades e de todos os tempos. Vais conhecer a criança mais pura e mais livre de sempre. Uma criança que viaja pelo mundo dos afetos, uma criança que procura o amor:


«(...)- estou à procura de amigos. O que é que significa cativar?

-É uma coisa da qual já muitos se esqueceram - disse a raposa. - Significa criar laços... 

- Criar laços?

- Isso mesmo - disse a raposa. - Para mim, tu ainda não passas de um rapazinho semelhante a cem mil outros rapazinhos. Eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti, eu não passo de uma raposa semelhante a cem mil outras raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Para mim, tu passarás a ser único no mundo. E eu passarei a ser única no mundo para ti...  » 

(p. 81 da obra identificada na foto, Porto Editora, 2015)

3.º CEB

     O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, fala-nos de bichos que são gente. É uma linda história de amor entre uma delicada jovem e um homem maduro. É um amor proibido! E quanto mais proibido, mais apetecido!

«De repente, o amor desperta do seu sono à inesperada visão de um outro ser. Mesmo se já o conhecemos é como se o víssemos pela primeira vez e por isso se diz que foi amor à primeira vista. Assim o amor do Gato Malhado pela Andorinha Sinhá. Quanto ao que se passava no pequeno porém valoroso coração de Sinhá, não esperem que eu explique ou desvende. Não sou tão tolo a ponto de achar-me capaz de entender o coração de uma mulher, quanto mais de uma andorinha. » 

(p.35 da obra identificada na foto)

Ensino Secundário

Folhas Caídas, de Almeida Garrett, é uma coletânea de poemas de amor, à boa maneira romântica. Cada um deles está ligado a um momento concreto da vida do autor e os sentimentos, intensos e avassaladores, são, por vezes, contraditórios:

«Este inferno de amar - como eu amo!

Quem mo pôs aqui n`alma... quem foi?

Esta chama que alenta e consome,

Que é a vida - e que a vida destrói -

Como é que se veio a atear,

Quando - ai quando se há de ela apagar?


Eu não sei, não me lembra: o passado,

A outra vida que dantes vivi

Era um sonho talvez... - foi um sonho -

Em que paz tão serena a dormi!

Oh! que doce era aquele sonhar...

Quem me veio, ai de mim! despertar?


Só me lembra que um dia formoso

Eu passei... dava o sol tanta luz!

E os meus olhos, que vagos giravam,

Em seus olhos ardentes os pus.

Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;

Mas nessa hora a viver comecei... »

(Poema VIII,obra identificada na foto)

1.º Semestre

O Inverno 

Velho, velho, velho

Chegou o Inverno.


Vem de sobretudo,

Vem de cachecol,


O chão onde passa

Parece um lençol.


Esqueceu as luvas

Perto do fogão:


Quando as procurou,

Roubara-as um cão.


Com medo do frio

Encosta-se a nós:


Dai-lhe café quente

Senão perde a voz.


Velho, velho, velho.

Chegou o Inverno.


Eugénio de Andrade, Aquela nuvem e outras 

22.º CEB

Ao leres a Vendedora de fósforos, de Hans Christian Andersen, vais sentir tanto frio, tanto frio... Procura um lugar bem quentinho, se possível junto da tua mãe. É Inverno:

«Fazia um frio terrível, nevava e começava a escurecer. Era a última noite do ano, véspera do Ano Novo. Em meio ao frio e à escuridão, caminhava pela rua uma menina pobre, com a cabeça descoberta e os pés descalços. Ao sair de casa, ela bem que levava consigo um par de chinelos. Mas estes de nada lhe serviram. Eram grandes demais.» 

 (início do conto identificado na foto)

23.º CEB

O livro O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andersen, é para quem gosta de viajar, de conhecer paisagens, cidades, gentes ... A grande viagem do Cavaleiro, que é o protagonista, inicia-se no Inverno e termina, passados dois anos, novamente no Inverno.

«A Dinamarca fica no Norte da Europa. Ali os Invernos são longos e rigorosos com noites muito compridas e dias curtos, pálidos e gelados. A neve cobre a terra e os telhados, os rios gelam, os pássaros emigram para os países do Sul à procura de sol, as árvores perdem as suas folhas. Só os pinheiros continuam verdes no meio das florestas geladas e despidas. Só eles, com os seus ramos cobertos por finas agulhas duras e brilhantes, parecem vivos no meio do grande silêncio imóvel e branco.» 

(início do conto identificado na foto)


Ensino Secundário

O Inverno em Lisboa, de Antonio Muñoz Molina, é um romance que entrelaça uma história de amor com uma intriga policial, ao som do piano e do jazz. 

«Daquela janela, a cidade parecia-lhe outra:resplandecente, escura como a Berlim que durante três anos vira nos sonhos,cercada pela noite sem luzes e pela linha branca do mar. (...)Agora chamava-lhe Lisboa: sempre, muito antes de ir para Berlim, desde que Biralbo a conhecera, Lucrécia tinha vivido no desassossego e na suspeita de que a sua verdadeira vida estava à espera dela noutra cidade e entre pessoas desconhecidas,(...) Agora o nome era Lisboa.»

(Capítulo 8, p. 99, O Inverno em Lisboa, Antonio Muñoz MOLINA, Editorial Notícias, 2004).

Outono

Tarde pintada

Por não sei que pintor.

Nunca vi tanta cor

Tão colorida!

Se é de morte ou de vida,

Não é comigo.

Eu, simplesmente, digo

Que há fantasia

Neste dia,

Que o mundo me parece

Vestido por ciganas adivinhas,

E que gosto de o ver, e me apetece

Ter folhas, como as vinhas.

 

Miguel Torga, Diário X

22.º CEB

3.º CEB

Ensino Secundário