Comunicação multilíngue em tempos de crise: lições aprendidas com o Arquivo.pt

Independentemente de serem naturais ou provocadas por seres humanos, as crises (incluído catástrofes e desastres) são difíceis de prever. Contudo, quando acontecem, afetam toda a população residente num território. 

Devido a fluxos migratórios, a população residente em Portugal é cada vez mais multilíngue. Porém, nem todos os migrantes dominam português europeu suficientemente bem para perceber informação vital sobre como proteger a si e aos outros em tempos de crise (por exemplo, onde encontrar o abrigo durante o incêndio, como minimizar a propagação de um vírus, ou que proteção está a ser oferecida pelo governo durante o terramoto). 

Nestas situações, é necessário garantir que informação oficial disponibilizada pelos serviços públicos chega a todos, independentemente do seu domínio do português.


Para ultrapassar a barreira linguística, recorre-se frequentemente à tradução automática (p. ex. Google Tradutor), que assim se torna numa ferramenta crítica de comunicação governamental durante a gestão de crises. 

Contudo, apesar de ser vista como uma tarefa trivial, a tradução automática envolve diversos riscos. Quando utilizada de maneira pouco crítica, poderá levar à fuga de dados confidenciais, bem como à alteração do tom ou do sentido da mensagem (p. ex. ao eliminar a palavra “não”). A tradução automática pode gerar desconfiança em relação à mensagem divulgada e até pouca adesão às medidas vitais, como vacinação, alienando diferentes comunidades e colocando-as em risco.


Por esta razão, para nos prepararmos melhor para futuras crises, e garantir que nenhuma comunidade linguística fique deixada para trás, é essencial considerar as necessidades de comunicação multilíngue da sociedade portuguesa e aprender com as crises passadas. 

Ao não nos prepararmos, estamos a preparar-nos para falhar.

Assim, utilizámos o Arquivo.pt para averiguar quais as lições a tirar da prática da comunicação multilíngue em Portugal realizada pelos serviços públicos durante uma das crises mais recentes, i.e., a pandemia provocada pela covid-19. Para perceber o que correu bem e o que pode ser melhorado, focámo-nos nas diferentes versões de três portais governamentais na área de saúde que disponibilizam informação oficial do governo, nomeadamente: www.sns.gov.pt, www.covid19estamoson.gov.pt e covid19.min-saude.pt.


O nosso trabalho foi norteado por três objetivos centrais: