Land Rover

Textos publicados originalmente no Fórum-TT

Dicas para a compra de um Land Rover SIII (2001)

Título Land Rover Serie III 1972

Sub Título Como comprar

Tema Avaliação

Autor manuel

Sumário Como comprar um Série III. Alguns conselhos para avaliar no que se vai meter.

Última actualização : 29.10.2001 às 15:26

Este guia de compra para um LR Série III foi uma resposta que dei na mailing list do Forum-TT. Está practicamente igual à mensagem enviada, apenas acrescentei/alterei algumas coisas que não me lembrei no momento e que podem ter interesse. O que aqui está dito aplica-se também aos LR SII e SIIA.



At 12:23 10-10-2001 +0100, you wrote:

>Caros amigos

>

>Há por aí alguem que tenha experiência de compra e/ou uso de jipes

>clássicos?


Eu só tenho com o meu. Um SIII de 1973.



>Um amigo meu pretende ir ver um Land Rover Série III 1972 (650 cts.) mas os

>critérios de "avaliação" de um carro destes não devem ser os mesmos que para

>um carro com meia dúzia de anos.

>Será que me poderiam dar uma ajudinha nos critérios que se devem utilizar

>para saber se um carro destes está em boas condições ou não?



Um LR é sempre uma caixinha de surpresas. Principalmente com a idade desse. O preço não me parece caro, mas há muitos factores a ter em conta.


Chapa:

A carroçaria é principalmente em alumínio, logo não tem grandes problemas de ferrugem. O que pode ficar caro é a reparação de batidelas porque o alumínio é mais complicado de trabalhar e não é qualquer chapeiro que faz um bom trabalho. Muitas vezes as reparações passam pela substituição de paineis completos.

O chassis e a chapa que divide o habitáculo do motor são em ferro, logo ganham ferrugem. É muito importante (senão o mais importante) que o chassis esteja em bom estado. É normal ter alguma ferrugem mas não pode ter buracos ou zonas muito corroídas. A chapa que divide o habitáculo do motor ganha normalmente ferrugem acima e por baixo dos pedais, mas normalmente é de fácil reparação. Uma maneira de ver o estado do chassis nas zonas ferrugentas é dar-lhes uma martelada (primeiro convém verificar se o dono não se importa). Não é preciso muita força, mas serve para ver se o bater é sólido como nas zonas sem ferrugem. Um ponto do chassis que normalmente está em mau estado é a última travessa na traseira do carro (a que serve de para-choques). Esta parte é de fácil reparação/substiuição. No meu estava muito mal, embora o resto do chassis estivesse bom. O dono anterior reparou-a sem custos para mim. Disse-me que foi um trabalho, sem pintura, de 10-15c.

A armação das portas também é ferro. No meu estava com um estado de corrosão tão avançado que tive que por portas novas à frente.


Mecânica:

Direcção - É normal/habitual ter alguma folga. Não pode ser exagerada. Por vezes é fácil reparar, noutras implica uma caixa de direcção nova. É tentar seguir o percurso das barras de direcção e tentar localizar onde está a folga. É quase impossível, mesmo num recuperado não ter folga nenhuma, por incrível que pareça. Uma caixa de direcção recondicionada não é muito cara, mandando vir de Inglaterra (40c.).

Caixa de velocidades - Uma reparação de caixa pode ser mais cara que a do motor. Verificar se as mudanças entram todas bem, tanto a subir como a reduzir. A reduzir é possível que arranhe um pouco (a utilização de duplas ajuda), o que não quer dizer que a caixa não esteja em bom estado (para a idade, claro). É importante verificar se as mudanças saltam fora, principalmente a 2ª e 3ª em travagem forte com o motor. É um sintoma típico de desgaste da caixa e acontece muitas vezes. No meu, por vezes, salta a 2ª a travar em redutoras. Em situações complicadas passei a utilizar a 1ª. Há situações em que o que salta é o selector de Altas/Baixas.

Motor - Não deve gastar óleo (muito). É difícil de avaliar, mas é verificar a cor do fumo. Se for azul normalmente é consumo de óleo, mas pode ser problema de afinação de válvulas (não é caro afinar), injectores (mais caro um bocado) ou bomba injectora (bastante caro). Deve também verificar-se se, retirando o tampão de colocação de óleo no motor e acelerando bem, não sai fumo e se o carro não 'sopra'. Verificar também o aquecimento. O indicador não deve subir do meio da escala em algum esforço.

Transmissão - É normal existirem folgas. Notam-se por um 'clonk' ao passar de caixa. Se foram muito grandes podem vir a dar problemas (pelo que se ouve dizer, a longo prazo). No entanto, é normal ter alguma. Mesmo os Defenders e Discoverys com alguma quilometragem (inferior a 100 000 km) têm.

Rótulas da direcção - Não sei se é este o nome, mas são duas bolas grandes cromadas onde as rodas da frente estão ligadas. Se estiverem enferrujadas é mau sinal e pode implicar em algum tempo uma reparação dispendiosa, pois pode significar que essas bolas trabalharam sem valvulina dentro (porque o vedante não veda bem nas zonas ferrugentas). Isso pode significar a existência de danos nos semi-eixos da frente (ou não - depende do dono). Deve ser quase impossível a não existência de alguma corrosão. Se tiverem alguma ferrugem mas o anterior dono foi cuidadoso não deve haver grande problema.


Se calhar não ajudei muito. Só falei dos problemas típicos com os quais aprendemos a viver quando compramos um LR :-). De qualquer modo, já deve dar para ficar com uma ideia do estado do carro. O preço não parece mau. Os Séries recuperados andam sempre por valores superiores a 1000c (e trazem sempre alguns destes problemas como extra :-)).



Manuel Silva

LR SIII 109 1973

mjosilva@mail.telepac.pt

Apreciação de um Land Rover Discovery 300 Tdi usado (2003)

Título Land Rover Discovery 300 Tdi

Sub Título Apreciação após 10 000 Km

Tema Avaliação

Autor manuel

Sumário Apreciação do Land Rover Discovery 300 Tdi de 1994 (3 portas, 7 lugares) depois de percorridos cerca de 10 000 Km.

Última actualização : 3.1.2003 às 11:57

Introdução


Tendo adquirido recentemente (há quase 8 meses) um Land Rover Discovery 300 Tdi (3 portas, 7 lugares) de Dezembro de 1994, resolvi, passados alguns milhares de quilómetros, dar a minha opinião sobre este veículo.

O carro foi comprado em segunda mão com 177000 Km (aproximadamente) e com uma história de manutenção mais ou menos conhecida, sendo que a maior parte das revisões tinham sido efectuadas na JOP - Porto (concessionário Land Rover do Porto).



História do veículo


Pelos quilómetros apresentados, o veículo era muito utilizado não dando a entender ser um carro de fim de semana, logo deveria ser minimamente tratado. Apesar de apresentar alguns riscos na pintura, indicador de que fazia algum TT, não apresentava quaisquer danos ou marcas na parte inferior do carro (apenas uma pequena mossa na tampa da caixa do diferencial dianteiro).

A manutenção teria sido um pouco descuidada, segundo a listagem de revisões da JOP, apresentando algumas falhas relativamente à quilometragem recomendada pelo fabricante para as manutenções periódicas. Mesmo assim teve as visitas regulares à oficina, algumas das quais para trabalhos de chapeiro (sempre coisas pequenas, mas várias vezes – dá a impressão que o anterior dono deu pequenos toques sem gravidade). Pela etiqueta de mudança de óleo que estava no carro (da última vez não tinha sido na JOP), a mudança já estava em falta, já que o recomendado pelo fabricante são mudanças de 10000 em 10000 quilómetros, e a quilometragem já apresentava um valor de 15000 acima do valor anotado na mudança de óleo efectuada.



Primeiro contacto


A primeira impressão ao conduzir o Discovery é que ele é de facto grande. O comportamento é bastante diferente dum carro pequeno, mas apresar disso é muito fácil de manobrar.

Os primeiros quilómetros serviram para avaliar, nas medidas do possível, o estado geral do veículo. Também fiz uma viagem mais ou menos longa (300 Km) em auto-estrada e estrada, sem pausas, a puxar um pouco pelo motor, para ver se se notava algum problema. Aparentemente o estado geral era o esperado para a idade e quilómetros do veículo. Não parecia ter problemas escondidos.

Relativamente à performance do motor verificava-se alguma falta de potência em baixas rotações (abaixo das 1750/1800 rpm) mas a partir daí subia bem de regime atingindo com alguma facilidade uma velocidade de cruzeiro de cerca de 130 Km/h. Também não fazia muito fumo e os consumos rondavam os 10,5 l por 100 Km. Depois de aquecer, o motor mantinha sempre a mesma temperatura e aparentemente não consumia óleo nem líquido do circuito de refrigeração.



Problemas detectados


- Folga na transmissão (o normal para a quilometragem – já vi com menos quilómetros e mais folga).

- Travagem a fugir para o lado esquerdo.

- Barulho metálico na transmissão ou suspensão à frente do lado esquerdo ao arrancar.

- Barulhos no tablier e porta de trás.

- Suporte do banco do passageiro com um apoio partido.

- Regulação em altura dos faróis sem funcionar.

- Fuga de óleo pelos retentores da caixa de velocidades.

- Fuga de óleo pela tampa das válvulas e alguns parafusos da cabeça do motor.

- Fuga de óleo pela junta do Carter.

- Travão de mão com travagem quase nula.

- Fecho centralizado do lado do condutor por vezes não abria.



Revisão Geral


Após os primeiros quilómetros com o carro impunha-se efectuar uma revisão geral para resolver e prevenir problemas. A ideia era ficar com o conhecimento de como o carro estava, resolver os problemas existentes e saber com o que contar no futuro. Assim, e num mecânico independente e experiente em Land Rovers foi feita a seguinte revisão:

- Substituição dos calços dos travões da frente.

- Rectificação dos discos dos travões da frente.

- Substituição dos dois tubos flexíveis dos travões da frente (um deles estava ligeiramente obstruído).

- Substituição da correia de distribuição (kit completo).

- Substituição de todas as outras correias do motor.

- Substituição da polie do ar condicionado (estava rachada).

- Substituição de todos os fluídos.

- Substituição de todos os filtros.

- Reparação do travão de mão.

- Substituição da cruzeta de transmissão de trás (não é bem uma cruzeta mas faz o mesmo efeito).

- Aperto da suspensão.

- Substituição da rótula de suspensão traseira (rótula por cima do diferencial traseiro).

- Substituição das borrachas (sinoblocos) da suspensão traseira.

- Reparação do fecho centralizado do lado do condutor.

- Verificação da junta homocinética esquerda (por causa do barulho metálico referido – nada foi detectado e o barulho continua).

- Afinação da folga das válvulas.

- Substituição dos retentores da caixa de velocidades.

- Substituição de uma ponteira da direcção.

- Limpeza e reparação de uma micro-fuga do radiador.

- Lubrificação do veio de transmissão.

Feita a revisão que me ficou por cerca de 1350 EUR não esperava problemas tão cedo e se tudo corresse normalmente a próxima revisão só seria passados 20000 Km. Quanto à mudança de óleo, o mecânico recomendou de 5000 em 5000 Km (com o que eu concordo embora a recomendação da marca seja de 10000 em 10000 Km). Segundo ele é preferível usar um óleo mais barato e mudar mais vezes do que um que aguente os 10000 Km (de qualquer modo fica sempre mais caro mudar de 5000 em 5000). Assim, em vez do Visco Diesel da BP estou a utilizar o Vanellus C4, também da BP.

Relativamente aos resultados da revisão eles manifestaram-se ao nível das fugas de óleo (as que não foram reparadas não eram significativas – a mais problemática era na caixa de velocidades e até afectou o travão de mão), ao nível da redução da emissão de fumo e ao nível da ligeira melhoria na resposta a baixas rotações (mesmo assim tem muito pouca força abaixo das 1500 rpms, o que aparenta ser normal nestes carros). Os problemas principais que foram detectados também foram praticamente todos resolvidos. Quanto ao barulho metálico que apresentava ao arrancar, não se descobriu o que era, portanto manteve-se na mesma.



Apreciação após 10000 Km


Neste momento já fiz cerca de 10000 Km com o Discovery. Este verão (2002) fui a Marrocos nele e se existia algum problema escondido penso que teria aparecido.

Neste momento, e após esta dezena de milhar de quilómetros, penso que já conheço o carro suficientemente para poder falar mais objectivamente do seu comportamento e fiabilidade.


Conforto e equipamento

Em termos de conforto pode-se considerar um veículo com um nível de conforto bastante razoável.

O balançar da carroçaria nas curvas pode incomodar algumas pessoas um pouco, mas para a generalidade das pessoas é uma característica que passa perfeitamente despercebida. Tirando este pormenor, o nível de conforto é equivalente à maioria dos carros ligeiros. Claro que não o podemos comparar a um Mercedes, BMW e outros veículos afins, que primam pelo conforto, entre outras coisas, mas atendendo a que é um veículo TT e que pode fazer TT sem se estragar, o conforto que apresenta é o adequado.

Um outro pormenor de relevo a este nível é a posição de condução. Apesar de tanto para o condutor como para os restantes passageiros (tanto à frente como atrás) haver bastante espaço disponível e os bancos serem suficientemente confortáveis mesmo para viagens longas, quem vai a conduzir tem a sensação de ter os joelhos um pouco próximos do tablier (pelo menos é uma situação que se passa comigo), principamente o joelho direito. Nada que incomode, mas que no caso de um acidente com alguma violencia pode provocar alguns problemas. Também ainda em relação à posição de condução, o Discovery mantém a tradição Land Rover ao ter os pedais um pouco descentrados para o lado esquerdo, o que já tem levado os mais distraídos e menos habituados a esta marca a procurarem a embraiagem no local do travão.

Relativamente ao equipamento, apesar de não ter coisas que se possam considerar supérfluas, tais como bússolas e termómetros, tem o essencial para não se considerar um veículo demasiado básico a este nível. Assim, e além do habitual, temos o ar condicionado com regulação de temperatura independente para o lado esquerdo e para o direito, o alarme com imobilizador, o fecho centralizado com comando e os travões de disco nas quatro rodas. Como falhas, o ABS e os Airbags.


Comportamento

Ao nível do comportamento em estrada, pode-se considerar razoável, embora muito inferior a um ligeiro "normal", como seria de esperar. É necessário algum cuidado em curvas a "grande" velocidade pois é um veículo que adorna bastante podendo provocar alguma sensação de insegurança. Em auto-estrada mantém facilmente uma velocidade cruzeiro de 130 Km/h, havendo ainda reserva para mais um pouco embora isso se vá reflectir nos consumos.

Quanto à travagem é bastante eficaz, na minha opinião, principalmente se pensarmos que o carro pesa cerca de duas toneladas.

Em TT, e com uns pneus minimamente decentes (eu tenho uns Camac Terra 4x4 – 205R16) comporta-se muito bem, sendo só necessário algum cuidado com a altura ao solo do pára-choques frontal, das embaladeiras (em plástico e que não inspiram grande resistência) e com o angulo de saída traseiro. Obviamente que esta opinião é muito subjectiva e há carros do mesmo segmento com as limitações que referi ainda piores, mas como em TT estou habituado a um Série III...

Relativamente aos consumos pode-se dizer que rondam os 10 litros por 100 Km numa utilização mista, com alguma auto-estrada e TT pelo meio e sem abusar da velocidade. Penso que o que faz subir muito o consumo não é o TT mas sim a auto-estrada a velocidades acima dos 130/140 Km/h. Na viagem a Marrocos (4500 Km aproximadamente) a média de consumo foi de 10.3 litros por cada 100 Km. Acrescento que numa condução económica com pouca auto-estrada e pouco TT é normal o consumo rondar os 9.8 litros.

Quanto à fiabilidade não tenho muito a dizer. Fiz cerca de 10000 Kms com o carro, fui a Marrocos com ele, tem neste momento 187000 Kms e fiz-lhe uma revisão a sério mal o comprei. Desde essa data não voltou ao mecânico (eu fiz-lhe a mudança de óleo e filtro) e não surgiram problemas.



Conclusão


Em suma, estou muito satisfeito apesar de na altura em que o comprei ter tido bastante receio da quilometragem elevada. Como resumo posso dizer que considero o Discovery um veículo TT confortável, económico e fiável, se isso for possível num Land Rover :-) (a verdade é que não deu nenhum problema nos quilómetros em que o tenho). É excelente para viagens, principalmente para locais que possam envolver algum TT, tanto pelas aptidões TT, como pelo espaço disponível para pessoas e bagagens (quem vai no banco de trás parece que está na sala e tem uma mala com uma capacidade muito generosa, bastante acima do habitual) e até pelos consumos moderados que apresenta relativamente a outros veículos do mesmo segmento, o que aliado a um depósito de 89 litros lhe dá uma óptima autonomia.



Manuel Silva

mjosilva@mail.telepac.pt

Dezembro 2002

Land Rover SIII 109 1973

08/03/2003 - Passeio Fórum-TT em Mixões da Serra


09/07/2005 - Passeio Audio-TT na Serra da Cabreira (fotos por PAS)

Land Rover Discovery 300Tdi 1994

20/09/2003 - Andorra

Desde 18/05/2020Atualizado em 18/05/2020