Acervo de peças de vidros

Onde encontramos os vidros?

No Módulo 1 aprendemos como é a estrutura de um vidro, mas muitas vezes os materiais vítreos são relacionados a materiais transparentes presentes em nosso dia a dia. Podemos encontrá-los facilmente em janelas de casas e carros, em utensílios domésticos como copos e pratos, nos objetos de decoração como os famosos vitrais e espelhos, luminárias, entre outros. No campo da ciência e tecnologia, podemos encontrar vidros em lentes de microscópios e telescópios, sistemas de geração de energia solar, em monitores e displays em computadores, smartphones e smartwatches, nas vidrarias e equipamentos de laboratório etc.

De fato, os vidros são materiais presentes em quase todos os campos do conhecimento. No entanto, são ainda mais comuns do que imaginamos, de forma que muitas vezes passam completamente despercebidos aos nossos olhos. Você acreditaria se disséssemos que podemos encontrar tipos especiais de vidros sendo utilizados como fertilizantes para plantas, materiais imobilizadores de lixos nucleares e até mesmo como implantes dentários e para regeneração óssea? Incrível, não? Essa gama de aplicações atendidas pelos vidros se deve principalmente pelo fato deste material unir propriedades únicas e versáteis, como alta pureza e assepsia, transparência, diferentes formas, impermeabilidade, além de serem totalmente recicláveis como nenhum outro material.

No entanto, engana-se quem acha que os vidros são uma invenção humana. Na realidade, esses materiais fazem parte da nossa coleção de descobertas. Segundo historiadores, o vidro foi descoberto por acaso há mais de 6000 anos antes de Cristo, quando os fenícios, que desembarcaram na costa da Síria, improvisaram fogões na areia da praia utilizando blocos de salitre. Pois bem, após o aquecimento, os fenícios observaram que um líquido de brilho incandescente escorria da base dos blocos de salitre que estava em contato com a areia, se solidificando rapidamente conforme a noite fria se aproximava. O que os fenícios estavam observando naquele momento era a formação de um vidro! Anos mais tarde foi descoberto que a areia (à base de SiO2, conforme discutido no módulo 1), em contato com os blocos de salitre (à base de KNO3), e possivelmente restos de ossos e conchas (CaO e CaCO3), formavam um líquido viscoso nas altas temperaturas da fogueira que, depois de resfriar, formavam um material rígido, escuro (muita matéria orgânica), cortante e moldável. Seria a primeira constatação da formação de um vidro [1]. No entanto, os vidros nem sempre foram fabricados pelos homens. A ocorrência de vidros naturais é muito conhecida, tais como as obisidianas, que são vidros vulcânicos provenientes do resfriamento do magma ou do derretimento da areia devido ao calor da lava, e que por anos permitiu a confecção de ferramentas de corte para usos domésticos e construção de armas, como pontas de lanças. Além das obsidianas, os fulguritos, relatados no módulo 1, e os impactitos, que são vidros naturais que são fragmentos de meteoritos que têm suas temepraturas elevadas quando entram na atmosfera e impactam o solo (ricos em ferro e níquel). De uma forma geral, os vidros naturais permitiram aos humanos na Idade da Pedra confeccionar ferramentas e utensílios. As características desses vidros naturais, como o brilho, fizeram com que alcançassem altos valores ao longo da história, ao ponto dos egipcios os considerarem como materiais preciosos, sendo encontrados em adornos nas tumbas e nas mascaras mostuárias de outo dos antigos faraós [1,2]. A figura abaixo ilustra os três tipos de vidros naturais [3-5].

Figura 1. Vidros naturais: (a) obsidiana, (b) fulgurito e (c) impactito.

Atualmente, o vidro segue seu caminho de mãos dadas com o desenvolvimento científico e tecnológico. Comercialmente, mais de 95% dos vidros são à base de óxidos, sendo que a maioria é à base de sílica (SiO2), mas suas propriedades podem ser ajustadas composicionalmente dependendo das propriedades e aplicações desejadas. Assim, novos vidros vêm sendo descobertos e tem causado um impacto sem precedentes no desenvolvimento da sociedade moderna, como é o caso das fibras ópticas e lentes de telescópios. Seja nas telecomunicações, na medicina diagnóstica, na microscopia, nos objetos domésticos, na iluminação de precisão, ou na detecção remota e sensoriamento, o vidro está presente cada dia mais no nosso cotidiano [1]. E você, consegue imaginar como os vidros ainda podem mudar as nossas vidas?

AUTORES:

Leonnam Gotardo Merízio,

Thiago Augusto Lodi e

Naiza Vilas Bôas.


REFERÊNCIAS

[1] VARSHNEYA, Arun K.; MAURO, John C.. Fundamentals of Inorganic Glasses. 3ª edição, Elsevier, 2019.

[2] Carolyn Wilke, "A Brief Scientific History of Glass". https://www.smithsonianmag.com/science-nature/a-brief-scientific-history-of-glass-180979117/%20 (acesso em 08 de setembro de 2022).

[3] GeologyIn. Acesso: http://www.geologyin.com/.

[4] "IMPACTITES - GHOSTLY FOOTPRINTS OF ANCIENT METEORITES". Acesso: https://geology.com/meteorites/impactites.shtml.

[5] "Fulgurite: A rare phenomenon". Acesso em: https://www.geoengineer.org/news/fulgurite-a-rare-phenomenon.

[6] "Ancient Glass Blog of The Allaire Collection: GLASS OF THE MIDDLE AGES 5th to 15th CENTURY". Acesso: https://ancientglass.wordpress.com/2018/10/01/glass-of-the-middle-ages-5th-to-14th-century/.

[7] "Egyptian faience". Acesso: https://en.wikipedia.org/wiki/Egyptian_faience.

[8] "Laser Materials and Components". Acesso:https://www.schott.com/en-cz/products/laser-materials-and-components-p1000262.


Publicado em: 04 de julho de 2022.

Última atualização em: 18 de outubro de 2022.