Dentre diversos autores relevantes que contribuíram com as discussões acerca da Educação de Jovens e Adultos (EJA), selecionamos alguns para falarmos um pouco sobre suas trajetórias e contribuições para essa modalidade de ensino. Optamos por organizar seus estudos a partir de três perspectivas: histórica, pedagógica e da educação popular.
Maria Clara Di Pierro graduou-se em Licenciatura em Geografia e fez seu Mestrado e Doutorado em Educação. Atualmente, é professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e atuou na Educação Básica de Jovens e Adultos durante 13 anos.
Além disso, é membro do Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Estado de São Paulo e membro do grupo de pesquisa “Práticas educativas em educação de jovens e adultos, sociabilidades e juventude”, onde desenvolve estudos sobre políticas educacionais, com ênfase nos temas da alfabetização e educação de jovens e adultos, educação do campo e educação popular.
Com diversos artigos publicados relacionados à EJA, os quais podem ser acessados no seguinte link: http://mariaclaradipierro.com.br/artigos/. Inclusive, ao lado de Sérgio Haddad. Realizaram pesquisas sobre a história da EJA, desde a Colônia Império, até os dias atuais. Os referidos autores analisaram as diferentes transformações que a EJA sofreu, quanto à sua oferta, no Brasil, ao longo das décadas. Do nosso ponto de vista, suas pesquisas, contribuíram fortemente para a a compreensão da importância da relação entre educação e trabalho, no âmbito da modalidade de ensino em questão.
Sérgio Haddad graduou-se em Economia e Pedagogia e fez seu Mestrado e Doutorado em História e Sociologia da Educação. Atualmente, é professor visitante no Centro de Estudos Brasileiros na Universidade de Oxford e assessor da Ação Educativa, Professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul. Além disso, tem anos de experiência na EJA.
Foi membro do Conselho Técnico Científico de Educação Básica da CAPES, onde atuou na Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos. E também, participou da Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, do Conselho Técnico-Científico da Educação Básica da Capes.
Possui diversos artigos publicados sobre a perspectiva histórica da EJA que podem ser acessados no Google. E também publicou o livro “O educador: um perfil de Paulo Freire”, o livro conta a trajetória de Paulo Freire e suas contribuições para a educação popular e seu método de alfabetização de pessoas jovens e adultas.
Jaqueline Pereira Ventura graduou-se em Pedagogia e fez Mestrado e Doutorado em Educação. Tem experiência na área de Educação de Jovens e Adultos, atuando principalmente nos seguintes temas: Políticas Públicas de Educação de Jovens e Adultos; Formação docente para a EJA; e, Mundo do Trabalho, Educação Básica e Profissional de jovens e adultos trabalhadores.
Atualmente, é Professora Associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, atua na Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Também é vice líder do Grupo de Pesquisa/CNPq Trabalho e Educação-Neddate e vice líder do Grupo de Pesquisa/CNPq Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores (EJATRAB).
Jaqueline Pereira Ventura desenvolveu e desenvolve diversos projetos que problematizam a oferta da EJA no contexto brasileiro e contribuem fortemente com a formação dos professores que atuam na modalidade.
Como por exemplo, podemos citar seus projeto em andamento, disponíveis em http://sse.sites.uff.br/docentes-efetivos/jaqueline-pereira-ventura/:
A EJA na Escola Pública: um mapeamento dos interesses e das necessidades de professores e estudantes da EJA de uma escola estadual de Niterói/RJ;
Educação de Jovens e Adultos (EJA): teorias e práticas pedagógicas e Adultos de nível médio no estado do Rio de Janeiro: oferta e características;
Educação de Jovens e Adultos Trabalhadores no Brasil: reconstrução histórica à luz da relação trabalho e educação;
Educação de Jovens e Adultos (EJA): teorias e práticas pedagógicas;
Trabalho e Educação de Jovens e Adultos: uma análise crítica da EJA à luz da relação TRABALHO E EDUCAÇÃO.
Jaqueline Moll graduou-se em Pedagogia, fez diversos cursos de Pós-Graduação, dentre eles, o Mestrado e o Doutorado em Educação. Atualmente, é professora Titular da Faculdade de Educação da UFRGS.
Destacamos sua contribuição com a Educação Pública, a partir de sua participação na implementação de dois programas federais: o Mais Educação e o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA.
Como referenciais teóricos voltados para a EJA, veja abaixo:
MOLL, J.; MOURA, D. H. ; ROMAO, J. E. . Programa de Integração da educação profissional com a educação básica na modalidade de jovens e adultos (PROEJA): breves considerações acerca de sua gênese e de seus desafios. In: Edilene Rodrigues da Silva; Rosalba Pessoa de Souza Timoteo; Gilvania Magda Luz de Aquino. (Org.). Educação Profissional na Enfermagem: desafios para a construção do PROEJA. Natal: Editora da URFN, 2010, v. , p. 11-18.
MOLL, J.; FISCHER, Nilton Bueno ; KUENZER, A. Z. . PROEJA e Educação básica. In: Jaqueline Moll. (Org.). Educação Profissional e Tecnológica no Brasil Contemporâneo: desafios, tensões e possibilidades. 1ed.Porto Alegre: ARTMED, 2009, v. , p. 131-138.
HADDAD, Sérgio ; MOLL, J. ; VIVIAN, D. . Institucionalização e criação na EJA: perscrutando caminhos afirmativos no Centro Municipal dos Trabalhadores Paulo Freire em Porto Alegre. In: Sergio Haddad. (Org.). Novos Caminhos em Educação de Jovens e Adultos - EJA - um estudo de ações do poder público em cidades de regiões metropolitanas brasileiras. 1ªed.São Paulo: Editora Global, 2007, v. 1, p. 27-49.
MOLL, J.. Alfabetização de adultos: desafios à razão e ao encantamento. In: Jaqueline Moll. (Org.). Educação de jovens e adultos. 1ed.Porto Alegre: Mediação, 2004, v. 1500, p. 9-17.
MOLL, J.; TITTON, Maria Beatriz Pauperio ; XAVIER, Maria Luiza ; MONTEIRO, M. R. ; MOOJEN, S. S. ; PACHECO, S. M. . A escola pública como espaço para as classes populares: pedagogia da diversidade e reinvenção coletiva do trabalho escolar. In: Jaqueline Moll. (Org.). Múltiplos Alfabetismos: diálogos com a escola pública na formação de professores. 1ed.Porto Alegre: Editora UFRGS, 2005, v. 1, p. 41-79.
MOLL, J.. Da crise da escola e do seu (re) encontro com a vida. In: Graciela Maria R. Quijano. (Org.). Jornada de Educação Popular - Pelo encontro da Escola com a Vida. 1ed.Porto Alegre: Editora UFRGS, 2007, v. , p. 59-76.
REGO, Nelson ; MOLL, J. ; AIGNER, C. . Cidade, Poder Local e Juventude: novos itinerários educativos. In: REGO, Nelson; MOLL, Jaqueline; AIGNER, Carlos. (Org.). Saberes e Práticas na Construção de Sujeitos e Espaços Sociais. 1ªed.Porto Alegre: UFRGS, 2006, v. , p. 45-60.
MOLL, J.. O pensamento de Paulo Freire na perspectiva da cidade educadora. In: Celso Ilgo Henz; Gomercindo Ghiggi. (Org.). Memórias, diálogos e sonhos do educador: homenagem a Balduino Antonio Andreola. Santa Maria: , 2005, v. , p. -.
Ambas, as autoras, apontam para a relação entre discência e docência de forma biunívoca, ou seja, concebem a relação entre professor e aluno, entre ensinar e aprender, a partir da concepção freireana, ou seja, assumindo que os processo de ensinar e aprender são concomitantes e que há uma inevitável intersecção entre eles. Assim como, da nossa percepção, para as referidas autoras, valorizar os aspectos da vida e do mundo do trabalho, são condições necessárias para desenvolver uma prática pedagógica adequada para o público pertencente à essa modalidade de ensino.
Paulo Freire nasceu em 1921 e faleceu em 1997. Foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado até hoje um dos mais notáveis pensadores da história mundial da pedagogia e é também o Patrono da Educação Brasileira.
Sua trajetória de vida e produção acadêmica não pode ser desconsiderada quando se está estudando a EJA.
Nessa perspectiva, sugerimos o acesso às principais obras desse educador brasileiro, às quais podem ser conhecidas através do acesso ao link: http://abre.ai/educapop
E também, desenvolveu um “método de alfabetização”, também reconhecido como Método Paulo Freire”. De acordo com um de seus colaboradores, Carlos Rodrigues Brandão (2008), no verbete “Método Paulo Freire”, do Dicionário Paulo Freire (ISBN 978-85-7526-306-8), o referido autor idealizou um novo projeto integrado de educação, que começava com método de alfabetização e concluía com a proposta de uma universidade popular.
Para saber mais sobre esse método, você pode acessar o seguinte link: http://abre.ai/pfpedagogia
Nos idos dos anos 60, durante o período de regime civil-militar, no Brasil, Paulo Freire foi preso e exilado, durante 15 anos. A frase “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos” nos registros de sua prisão, mostra o porque sua pedagogia foi motivo de perseguição. Seu método apresentava uma forma de educar ligada à vida cotidiana, e consequentemente, política. Ele era contra a “educação bancária”, que colocava o professor como detentor do conhecimento e o aluno apenas como um depositório.
No período de seu exílio, ele visitou diversos países a convite de governos, de universidades, de igrejas de movimentos sociais. Quando retornou ao Brasil, deu aulas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-RS) e também na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De 1988 até 1991, Paulo Freire foi secretário de Educação em São Paulo na gestão de Luiza Erundina.
Para ler mais sobre Paulo Freire acesse:
Licenciado em Psicologia e Psicólogo; Mestre em Antropologia e Doutor em Ciências Sociais. Atualmente é professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), professor colaborador do POSGEO da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e professor visitante da Universidade Estadual de Goiás.
Carlos Rodrigues Brandão é um defensor das ideias de Paulo Freire e é reconhecido pelas discussões sobre a Educação Popular no contexto da educação brasileira. Para o nosso estudo, destacamos a perspectiva adotada por esse teórico acerca da Pesquisa Participante como proposta teórica e metodológica para inserir a pesquisa como instrumento de desenvolvimento da educação escolar. Essa temática pode ser aprofundada no livro:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Repensando a Pesquisa Participante. São Paulo: Brasiliense, 1999.
BRANDÃO, Carlos. Rodrigues; BORGES, Maristela Corrêa . A Pesquisa Participante: um momento da Educação Popular. Revista de Educação Popular, v. 6, p. 51-62, 2007.
Gaudêncio Frigotto graduou-se em Filosofia e Pedagogia. Fez mestrado em Administração de Sistemas Educacionais e Doutorado em Educação: História, Política e Sociedade. Atualmente é professor associado na UERJ e professor Titular (aposentado) em Economia Política da Educação aposentado da UFF. É também, Pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq).
Os estudos de Frigotto são importantes para a compreensão da relação entre trabalho e educação, especialmente em se tratando da educação profissional. Esse autor, dentre outros, compreende o trabalho como um princípio educativo. Segundo Frigotto (2005), Marx já procurava estabelecer a importância do trabalho como criação e reprodução da própria natureza humana. O autor ainda afirma que o trabalho como princípio educativo está relacionado com a ligação homem/natureza, pois é a partir do trabalho que as pessoas transforma.
É preciso que se conheça o que Frigotto (2005) chama de “sentido ontológico do trabalho”, que é apenas a compreensão de que o trabalho faz parte da essência do ser humano, que deve ser uma extensão indispensável do sujeito, do seu caráter.
Essa perspectiva pode ser usada em favor da aprendizagem na EJA, no sentido de fazer com que esses alunos compreendam a amplitude do trabalho como condição da vida humana, indispensável à nossa existência, como “criador e mantenedor da vida humana em suas múltiplas e históricas necessidades e, como decorrência dessa compreensão, princípio educativo” (FRIGOTTO, 2002, p.13, grifo nosso).
É pelo trabalho que os homens transformam a natureza em meios de vida, acumulando conhecimentos. Os sujeitos “criam e recriam, pela ação consciente do trabalho, sua própria existência” (FRIGOTTO, 2002, p.13). Também é com o trabalho que conseguimos nos emancipar, desenvolver as nossas potencialidades e nos socializar.
Algumas obras de referência para ampliar essa discussão no Campo da EJA:
FRIGOTTO, Gaudêncio. A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida. In: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria (orgs.). A experiência do trabalho e a educação básica. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Educação de Jovens e Adultos: questões atuais em cenários de mudanças. In: PAIVA, Jane; OLIVEIRA, Inês Barbosa de. (Orgs.). Educação de Jovens e Adultos. Petrópolis/RJ: DP et Alii, 2009.
FRIGOTTO, Gaudêncio. O trabalho como princípio educativo no projeto de educação integral de trabalhadores. In: COSTA, Hélio da; CONCEIÇÃO, Martinho. Educação Integral e Sistema de Reconhecimento e certificação educacional e profissional. São Paulo: Secretaria Nacional de Formação – CUT, 2005. p. 63-71.
FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. A política de educação profissional no governo Lula: um percurso histórico controvertido. Educação & Sociedade. Campinas, v. 26, n. 92, p. 1087-1113, out. 2005.
Graduada em Pedagogia, Mestra em Educação e Doutora em Educação: História, Política, Sociedade, professora Acácia Zeneida Kuenzer contribuiu com importantes reflexões sobre a relação entre Educação e Trabalho na perspectiva da formação dos estudante da Educação Básica brasileira, as quais qualificaram a docência na EJA na perspectiva da formação do trabalhador, qualidade e universalização do Ensino Médio. A professora Acácia Zeneida Kuenzer contribui fortemente para as discussões relativas à modalidade EJA principalmente porque tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação e Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: educação e trabalho, educação profissional, educação tecnológica, formação de professores, ensino médio integrado e formação inicial e continuada de magistrados e servidores que apoiam a prática jurisdicional.
Destacamos as seguintes publicações:
KUENZER, ACACIA ZENEIDA. Sistema educacional e a formação de trabalhadores: a desqualificação do Ensino Médio Flexível. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 57-66, 2020.
KUENZER, A. Z.; LIMA, H. R. . As relações entre o mundo do trabalho e a escola: a alternância como possibilidade de integração. Educação (UFSM), v. 38, p. 523, 2013.
KUENZER, A. Z.; ABREU, C.B.M ; GOMES, C. M. A. . A articulação entre conhecimento tácito e inovação tecnológica: a função mediadora da educação. Revista Brasileira de Educação, v. 12, p. 1-16, 2007.
KUENZER, A. Z.; GRABOWSKI, G. . Educação profissional:desafios para a construção de um projeto para os que vivem do trabalho. Perspectiva (Florianópolis), v. 24, p. 297-318, 2006.