João 11.1-5, 17-21
Ciclo do Tempo Comum
P. William Felipe Zacarias
Amados irmãos, amadas irmãs,
esse texto bíblico é profundamente humano. Encontramos aqui diversos sentimentos humanos que talvez já tenhamos tido em nossas vidas. Por isso, podem gerar uma identificação quando lemos o texto bíblico com atenção. Esses sentimentos são:
· A enfermidade seguida do falecimento;
· A preocupação de quem está distante, sabendo da doença do ente querido;
· A vivência da saudade e do luto;
· O consolo dos visitantes que vão ao velório dar seu abraço;
· A inconformidade e o sentimento de que Deus não fez nada;
· O sentimento de que Deus estava ausente quando mais precisávamos dele – e se estivesse presente, talvez as coisas não teriam sido como foram.
Sentimentos. Sentimentos humanos. A vivência do luto traz questionamentos. Lidar com a finitude do outro significa precisar encarar a própria finitude – e isso não é fácil. Vivemos constantemente na negação da morte. É fácil, inclusive, esquecermos que ela existe – até precisarmos confrontá-la frente a frente quando alguém que amamos passa por ela e somos lembrados que também a nossa vida neste mundo é finita.
Sentimentos humanos. Mas, então, chega Jesus Cristo – o Deus-Homem, Deus-humano. Quais são os sentimentos de Jesus? Ele que sabe e conhece todas as coisas afirma que essa enfermidade não era para a morte, mas para a glória de Deus. Jesus sabe que a morte de seu amigo Lázaro será uma oportunidade para sinalizar a sua Páscoa – a sua vitória definitiva sobre a morte. A ressurreição de Lázaro seria apenas um “gostinho” daquilo que estava por acontecer.
Qual é o sentimento de Jesus? Quero destacá-lo em dois versículos que não ouvimos na leitura bíblica: João 11.33: “Jesus, vendo [Maria, irmã de Lázaro] chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se”; João 11.38: “Jesus, agitando-se novamente em si mesmo, encaminhou-se para o túmulo; era este uma gruta a cuja entrada tinham posto uma pedra”. Jesus se comoveu; mas também se agitou.
A palavra para “agitar” no grego do Novo Testamento significa “urrar de raiva”. Jesus, na verdade, se encheu de ira contra a morte. Ele tem raiva da morte. Ele odeia a morte. E Jesus se levanta com os punhos cerrados e vai em direção à sepultura de Lázaro como alguém que vai à guerra.
Jesus entrou na sepultura. Para vencer a morte, primeiro ele precisou passar por ela. Após a Sexta-feira Santa, Jesus foi sepultado. Ele está morto. Ele morre para vencer a morte de dentro para fora. Martinho Lutero resumiu essa ação muito bem em seu hino de Páscoa “Christ Lag in Todesbanden” (Cristo estava preso nas amarras da morte):
Foi uma guerra assombrosa
quando a morte e a vida se degladiaram.
A vida alcançou vitória,
ela tragou a morte.
A Escritura anunciou
como uma morte devorou a outra.
A morte virou motivo de escárnio. (OSel 7. p. 522-524).
Quais foram os sentimentos de Jesus? Jesus se encheu de raiva contra a morte. Deus odeia a morte. A morte não faz parte dos planos de Deus. Mas então por que existe a morte? Romanos 6.23 nos responde: “porque o salário do pecado é a morte; mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
A morte é a dimensão de uma realidade humana. Em nossa humanidade, a morte nos separa de pessoas. Contudo, nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (cf. Romanos 8.38). Seus sentimentos são acolhidos no amor de Deus. Sua saudade é acolhida no amor de Deus. Suas perguntas são acolhidas no amor de Deus. Sua inconformidade é acolhida no amor de Deus.
Assim como você, Deus odeia a morte – mas Deus não fugiu dela! Na cruz, Deus, em Jesus, encarou a morte frente a frente. O Cristo crucificado é o Deus que mostra o seu rosto em dor e na dor. Onde está Deus quando pessoas passam por enfermidades? Deus está na cruz! O Deus cristão é o Deus que não foge do sofrimento, mas que aceitou sofrer. Ele é empático ao nosso sofrimento porque sofre conosco.
O crucificado é a revelação do Deus que não foge da dor, da angústia, da doença; o crucificado é a revelação do Deus que sofre tudo aquilo que o ser humano pode sofrer, inclusive a morte. Em nossa dor, angústia e desespero, ele sofre conosco. Ele nos serve misericórdia e o seu amor incondicional. Ali onde há angústia, fraqueza e sofrimento, é bem ali que Deus está!
Não foi apenas um homem que morreu na cruz, mas Deus morreu na cruz! O Deus-Filho morreu na cruz. Na cruz, Deus nos carrega em seus braços. Da cruz, recebemos o abraço do Cristo que nos acolhe em nossa tristeza. Deus nos abraça da cruz. Ele sofre conosco, em nós e por nós.
Receba especialmente hoje o abraço do crucificado. O amor de Deus não nos abandona. Jesus ressuscitou a Lázaro. Depois, o próprio Senhor Jesus foi ressuscitado no dia da Páscoa. Nós temos a esperança da vida eterna. Sigamos nessa esperança, confiantes nas maravilhosas promessas de Deus. O abraço, o carinho e o consolo de Deus estejam com você neste dia.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes, em Cristo Jesus. Amém.