Washingon Luiz

Washington Luiz

Espaçosas avenidas, belos jardins, praças de esportes, estabelecimentos comerciais e de ensino, água encanada, energia elétrica, meios de transportes modernos, magnífica estação ferroviária de embarque e desembarque de passageiros, aeroporto, grandes armazéns e depósitos de cereais e mercadorias. Localizada no sapê de uma colina, banhada por um ribeirão caudaloso rico em peixes, ideal para a prática de esportes náuticos e para o lazer. Circundada por áreas verdes proporcionando a seus habitantes a sensação de estar em meio a uma floresta. Na sua área central, construções comerciais, elevadas residências e uma admirável catedral ao estilo da existente na capital federal do país. Tudo isso contribuía para tornar a cidade atraente acolhedora e de futuro promissor. Essas são as características de uma cidade que não existiu. Se construída localizaria, em linha reta, a doze quilômetros da cidade de Mirante do Paranapanema, no extremo sul deste município. A cidade de chamaria PRESIDENTE WASHINGTON LUIZ.

UM PLANO AMBICIOSO

Quem vendeu a idéia dessa cidade planejada foi do Sr. Reinaldo Máster no final da década de 1950. Ele era morador de Diamante do Norte – PR, cidade qual também foi o seu fundador. Foi também fundador de Ivinhema-MS., e co-fundador da cidade de Matinhos, localizada no litoral do Estado do Paraná. Era uma criatura sonhadora e competente, que não obstante ter falecido com apenas cinqüenta e quatro anos de idade, proporcionou a seus descendentes o acesso a uma apreciável riqueza.

Com a anunciada chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana – Ramal de Dourados em sua fazenda em 1959, quando ali, pelo projeto da ferrovia em execução, seria construída uma estação. Avaliou o Sr. Reinaldo que seria um prodigioso momento de se montar um negócio especulativo para ganhar dinheiro fácil vendendo uma idéia de um futuro promissor, ou seja, comercializar lotes e chácaras buscando a constituição de um grande centro urbano ao lado de um moderno meio de transporte. O estímulo para o comprador interessado nessa "parceria" seria o compromisso da colonizadora responsável em realizar toda a infra-estrutura necessária para proporcionar um bom retorno financeiro ao capital investido. Como podemos constatar em várias plantas, a cidade seria servida com água encanada, escola e por energia produzida numa hidrelétrica ali bem perto mesmo, no Ribeirão Pirapozinho.

O empreendimento imobiliário ficou à cargo da Cia. Melhoramentos e Colonização Ltda. - SOMECO, cujo escritório localizava-se em Presidente Prudente.

"A gente tinha que acreditar que aquele projeto iria dar certo, pois o trem era o que de melhor podia existir naquela época". (Arlindo Ferreira Sobrinho, 72). Assim como o Sr. Arlindo, muitos viram no projeto uma excelente oportunidade de ganhar dinheiro fácil, comprando lotes baratos para depois com a chegada das melhorias, vendê-los por um valor expressivo. A divulgação nos meios de comunicação, foi bem realizada em toda a região, incluindo oeste paulista, norte do Paraná e Mato Grosso do Sul. Com o pagamento facilitado em vários anos, despertou o interesse de muitos compradores, principalmente do Estado do Paraná. Muitos chegaram a comprar vários lotes de uma só vez pensando em vendê-los no futuro auferindo grandes lucros. Todos os lotes mediam 12 x 24 m e seria de face norte-sul, não existindo, segundo a propaganda, o problema do "Sol da Tarde" nas habitações. Os compradores tinham também a opção da aquisição de chácaras que se localizavam próximo ao ribeirão. Aproximadamente oitenta chácaras e mil lotes foram colocados à venda e quase todos negociados, segundo o Sr. Arlindo.

COMEÇA A DESCONFIANÇA

Com o passar dos anos as benfeitorias prometidas pela colonizadora não se concretizaram; e tendo os compradores de lotes e chácaras, aguardado os investimentos um pelo "outro" para ver suas posses valorizadas, em poucos anos o negócio ficou desacreditado. Muitos compradores não saldaram mais do que duas ou três prestações referentes às suas compras e num efêmero espaço de tempo o sonho da cidade planejada e alvissareira virou um grande pesadelo. Tudo se resumiu num modesto povoado onde um arranjo geográfico sem conexão com o seu município e região, postergaram-lhe o esquecimento e o isolamento.

Com a decadência da ferrovia e o declínio da cultura do algodão, o patrimônio acabou desaparecendo.(A cidade não desapareceu porque nem chegou a existir). Em meados da década de 1960, o patrimônio chegou a contar com uma estação de trem, trinta casas residenciais, três botecos, uma pensão, uma escola, um açougue e uma igreja de alvenaria que logo foi demolida a mando do administrador da fazenda. Ali próximo foi construída uma capela de madeira, mas segundo Dona Maria, esposa do Sr. Arlindo, um forte vendaval logo se encarregou de deitá-la ao chão.

O patrimônio acabou levando o nome da cidade projetada. Em suas casas simples acabaram morando famílias de arrendatários de terras do fazendeiro. Eles plantaram algodão e amendoim até o final da década de 1960, mas em função das pragas e solo fraco, acabaram transformando tudo em pastagens para o fazendeiro. Eram cento e cinqüenta alqueires disponíveis para a agricultura e cada família arrendava entre dois a cinco alqueires. Sua fazenda totalizava cerca de 350 alqueires, somando-se todas as propriedades, segundo fontes orais.

O Sr. Arlindo chegou na fazenda em 1958, trabalhou por quarenta anos até ser assentado com oito alqueires de terra, quando há poucos anos a propriedade foi objeto de reforma agrária. A área constitui presentemente o assentamento Washington Luiz somando-se dezesseis famílias assentadas em cento e cinqüenta alqueires. Recentemente, segundo o Sr. Gérson Ferreira, 31, apareceram antigos compradores, com plantas nas mãos procurando a localização de seus lotes.

"No fim ali não deu foi nada", arrematou Dona Maria,73.

Assim foi mais um plano arrogante de especulação imobiliária no Pontal do Paranapanema.