Registros Pedagógicos
O registro escrito das práticas pedagógicas faz parte do fazer docente e constitui ferramenta importante para a sistematização dos conhecimentos trabalhados e a organização das aulas. Esses documentos permitem acompanhar e qualificar o desenvolvimento do ensino-aprendizagem e, mesmo que de forma rudimentar, fazem parte da instrução escolar desde os primeiros tempos.
No acervo documental relacionado aos registros pedagógicos e mantido pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, encontram-se Mapas Escolares e Livros de Registros de Atas preenchidos pelos professores. As atas apontam assuntos tratados em reuniões de pais, datas comemorativas, exames finais e os resultados, indicando notas ou conceitos de cada aluno.
Na documentação pedagógica, ainda podemos perceber a utilização de cartilhas com o foco na leitura. A maioria delas apresentava "uma lição dedicada ao estudo de uma letra, a família silábica e sentenças curtas, que formavam um pequeno texto. Esse método era considerado simples e eficiente"¹.
"CURSO GRADUADO DE LETRA MANUSCRIPTA". Porto Alegre : Rodolpho José Machado, 1902.Observação: com assinatura de a Ada Chiaradia.
"QUARTO LIVRO DE LEITURA - CURSO SUPERIOR". CARVALHO, Felisberto de. 23ª edição. Rio de Janeiro, RJ : Alves & Cia., 1915.
"QUARTO LIVRO DE LEITURA". Organizado pelos professores da Escola Gratuita São José. 3ª edição. Petrópolis, RJ : Vozes Ltda., 1917.
"PRIMEIRO GUIA DE LEITURA". VIANA, Dulce Kanitz Vicente; MANDRONI, Helena e MARQUES, Orminda Isabel. Rio de Janeiro, RJ : Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1947.
“ ‘O Livro de Lili’ constitue material básico para as primeiras lições de leitura e destina-se às classes de nivel mental forte e médio. Compõe-se de onze historietas que contêm 146 palavras novas, inclusive as variações em gênero e número, as quais foram escolhidas e colhidas do vocabulário infantil.”²
Dentre as atividades propostas por alguns professores, os alunos eram incentivados a procurar palavras com as sílabas estudadas, desenvolvendo um jogo como proposta lúdica.
“Quanto ao método, os professores, de forma generalizada, copiavam o sistema de ensinar de seus mestres. Poucos criavam métodos próprios, pois não tinham de quem aprender. O método de alfabetização, para a maioria dos professores, era o de ‘João de Deus’, que em 1924 / 1925, no governo de Celeste Gobatto, foi adotado como cartilha básica, com o intuito de uniformizar o ensino municipal em todas as escolas da rede. Essa cartilha, chamada “Cartilha Maternal’ de João de Deus, foi utilizada junto com as Noções de Aritmética.
Os estudos sociais e naturais eram trabalhados de forma oral, cabendo aos alunos decorar os conteúdos".¹
"NA ROÇA: CARTILHA RURAL PARA ALFABETIZAÇÃO RÁPIDA". FLEURY, Renato Sêneca. 33ª edição. São Paulo, SP : Comp. Melhoramentos de São Paulo, 1942.
"Na matemática, aprendiam as quatro operações e a solucionar problemas relacionados ao cotidiano familiar. A tabuada deveria ser decorada". ¹
Observação: Samorim Gustavo de Andrade fora chefe da Comissão de Terras e Colonização nos municípios de Santo Antonio da Patrulha e Conceição do Arroio, ambos no Rio Grande do Sul.
PROCESSO SAMORIM: 1º CADERNO – ADDIÇÃO E SUBTRACÇÃO. ANDRADE, Samorim Gustavo de. 1º Caderno. Porto Alegre, RS : Typographia a vapor de W. Rothermund – São Leopoldo, 1908.
Observação: apresenta selo e carimbo postal (datado de dbril de 1935) e dedicatória a Miguel Muratore, Prefeito de Caxias, na capa.
"Nas escolas municipais a língua oficial de ensino era o português. No entanto, a diversidade de dialetos italianos dificultava o entendimento entre professores e alunos. Além de conhecimentos religiosos, aprendiam noções de moral e cívica e valores".¹
"GRAMMATICA ITALIANA PER LE SCUOLE DELLO STATO DI RIO GRANDE DEL SUD (GRAMÁTICA ITALIANA PARA AS ESCOLAS DO RIO GRANDE DO SUL)".1ª edição. Porto Alegre : João Mayer Junior & Comp.1896. Em italiano.
"PICCOLA STORIA SACRA PER LE CLASSI INFERIORI DELLE SCUOLE CATOLICHE (Pequena História Sagrada para as classes mais baixas das escolas católicas)". KNECHT, Dr. F. G.3ª Edição. Friburgo em Brisgovia, Alemanha : B. Herder Libraio Editore Pontificio.1897. Em italiano.
SILLABARIO AD USO DEI FIGLI DEI COLONI ITALIANI DELLA PROVINCIA DI RIO GRANDE DEL SUD PER IMPARARE CONTEMPORANEAMENTE A LEGGERE ED A SCRIVERE (Silabário para crianças das Colônias Italianas da Província do Rio Grande do Sul para aprender ler e escrever ao mesmo tempo). Malan, G. P. [Porto Alegre, RS]: Livraria Americana, Data não identificada.
Ainda que superficiais e modestos, os registros da prática pedagógica da época, possibilitam perceber métodos e conteúdos estudados. Revelam também, maneiras de ser professor; conduzem a uma trama de histórias e memórias sobre as trajetórias de aprendizagem, contadas pelos próprios protagonistas.
Referências
1 DALLA VECCHIA, Marisa V.; HERÉDIA, Vânia B.M.; RAMOS, Felisbela. Retratos de um saber – 100 anos de história da rede municipal de ensino de Caxias do Sul. Porto Alegre: EST, 1998, p.128.
2 FONSECA, Anita. O livro de Lilí: Método Global. Manual da Professora. 5 ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946 p.35
Foto de capa: Montagem com as capas dos livros "MANUSCRITO BRASILEIRO - LEITURA PARA AS CLASSES PRIMÁRIAS" (LIMA, Affonso Guerreiro). 10ª Edição. Porto Alegre, RS : Livraria do Globo, 1932) e "3º LIVRO DE LEITURA - 1 SÉRIE DAS LEITURAS ESCOLHIDAS PARA AS AULAS PRIMÁRIAS" (PINTO, Alfredo Clemente. 40ª edição correta e aumentada. Porto Alegre: Livraria Selbach, 1920).