Literatura, oralidade e memória coletiva se encontram nos dias 14 e 15 de novembro, com juventudes, mestres griôs, escritores e a comunidade recontando a história do Sertão dos Tocós.
Nos dias 14 e 15 de novembro de 2025, Conceição do Coité (BA) recebe a primeira edição da FLICoité – Festa Literária de Conceição do Coité. Com o tema 'Sertão dos Tocós: A História do Lado de Cá', o evento valoriza narrativas locais, negras, indígenas, resgata memórias silenciadas e dá visibilidade aos saberes tradicionais, com expectativa de mobilizar cerca de 10 mil pessoas da região.
Com atividades presenciais espalhadas entre a Praça da Babilônia, um espaço público central e tradicional de encontro na cidade, escolas do campo que representam a educação rural e comunitária, bibliotecas e espaços comunitários que funcionam como guardiãs do saber local, dedicado à preservação da história e cultura regional, a FLICoité é resultado de uma construção coletiva que visa criar possibilidades e redes entre crianças, juventudes, griôs, artistas, educadores e agentes culturais.
A programação se estrutura em quatro grandes espaços articulados: a Tenda Martinha, dedicada a debates sobre identidade, memória e liberdade, homenageia Martinha Maria de Jesus, mulher negra que viveu o processo de escravização e pós-escravização, uma trajetória que inspira reflexões profundas sobre gênero, raça e resistência histórica de mulheres negras no interior da Bahia; o Palco João Banha, celebra a oralidade e a musicalidade popular do sertão, evocando a essência do artista camponês que mobilizava sua comunidade por meio do samba e do reisado; a FLICoitézinha, voltada para a literatura infantil e juvenil, estimulando o gosto pela leitura e oralidade desde a infância e a Quem quiser que pegue: a história do lado de cá, espaço que resgata a memória do Território do Sisal, valorizando as vozes negras e indígenas que ecoam há gerações. Reúne debates sobre autoria, combate ao racismo na educação, decolonialidade e lançamentos de livros selecionados via edital.
Keu Silva - Idealizadora da FLICoité
De acordo com Keu Silva, uma das idealizadoras da festa, residente do Povoado de Nova América em Conceição do Coité, produtora cultural, poetisa, educomunicadora e ativista:
"O legado principal da FliCoité é o da gente é não só poder contar nossas histórias, mas também revisitar, esmiuçar aquilo que não é contado nos livros, não é evidenciado nos eventos tradicionais da cidade, em que muitas vezes são silenciadas as vozes nossas mais velhas e velhos, as comunidades rurais, os bairros periféricos. É provocar leitores e leitoras, juventudes e toda a população a buscar nossas histórias e acessar as leituras possíveis para potencializar nossas narrativas."
Presenças confirmadas, como Carla Akotirene (intelectual e feminista negra), Ailton Krenak (líder indígena e escritor), Miudinho Passarinho Filho (repentista popular da região), e Lilian Almeida (professora e escritora), somam-se a autores locais, como Raiane Cordeiro (pedagoga e pesquisadora), que ressalta:
"Estar na primeira edição da FLICoité, sendo uma das representantes da escrita do município e do território de identidade do Sisal é, para mim, um espaço de afirmação da literatura, da oralidade, da arte e da força do nosso território. É um gesto de pertencimento e de celebração."
A escritora afirma que a escrita e a oralidade mantêm viva a memória do povo do território como forma de preservação histórica, dando continuidade às vozes de quem veio antes, potencializando o presente e o futuro. A ideia central do evento é ativar processos de escuta, formação de leitores, escritores e da comunidade, com foco na construção e fortalecimento de redes para a costura de memórias coletivas. As atividades se desdobram em mesas literárias, atrações culturais, rodas de conversa, oficinas, exposições, feiras e culinárias.
A Flicoité se firma enquanto espaço vivo dos encontros, pertencimento e celebração que também é marcada pelo território sertanejo, que nasce e resiste fora dos grandes centros, com forte influência da cultura negra e índígena. A festa reafirma que escrever e fazer arte nos interiores, também é compor parte da história literária do país. A troca de experiências, permite o reconhecimento e a inspiração mútua, no poder das vivências que também merecem ser narradas, publicadas, celebradas.
A Festa Literária é marco e promessa de continuidade da valorização da cultura local, para fortalecimento cultural da disputa de narrativas sobre os imaginários do sertão. "Escrevivência é a escrita que vem do corpo, já dizia a escritora Conceição Evaristo. Convidamos o povo Coiteense a ocupar as ruas para compartilhar culturas, educação e literaturas. Em breve serão anunciadas novidades para o segundo semestre.
Este projeto foi contemplado no Edital de Apoio às Festas, Feiras e Festivais Literários (no 01/2024), por meio do Programa Bahia Literária, com o apoio do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Educação e da Secretaria de Cultura, via Fundação Pedro Calmon. O projeto conta ainda com o apoio cultural do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB), vinculado à Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por meio da Rádio Educadora FM e da TVE Bahia e parcerias da Universidade Estadual da Bahia – UNEB, Organização Comunitária Revolution Reggae e Prefeitura de Conceição do Coité.
SERVIÇO FLICoité - Festa Literária de Conceição do Coité
14 e 15 de novembro de 2025
Locais: Praça da Babilônia
Mais informações: Instagram: @flicoite / [https://sites.google.com/view/flicoite ]
Contatos: flicoitecomunicacao@gmail.com