Manifesto

Rememorar o passado é um ato intrínseco à condição humana. O passado nos ronda a todo segundo. É como se tivéssemos um fantasma a passear conosco, tanto no mundo material quanto nas nossas memórias mais íntimas. O filósofo francês Paul Ricoeur nos lembra que todas as sociedades tiveram seus lugares próprios de memória, capazes de celebrar o passado e de manterem vivas as tradições e os acontecimentos – seja pela oralidade, por monumentos ou por documentos escritos.

Em meio à pandemia da covid-19, que vem transformando nossa forma de viver e tem provocado tantas perdas a milhões de famílias no mundo todo, convidamos a lançar um olhar para um século atrás, quando um outro vírus espalhou-se pelos continentes levando dúvidas, angústia e morte.

A partir do acervo de jornais e revistas do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, recuperamos relatos da imprensa de Porto Alegre em 1918 para observar aspectos da influenza espanhola e cotejar com a experiência que todos vivenciamos nos últimos meses.

Em quatro grandes temas - cidade em quarentena, boatos e fake news, tratamentos e censura -, trilhamos, virtualmente, caminhos entre notícias do passado e da atualidade para nos questionarmos sobre diferenças e semelhanças entre esses dois momentos e como se deu a atuação da imprensa em cada época.

Procuramos desenvolver uma educação patrimonial plural, democrática e emancipadora.

Com Carina Martins Costa, podemos pensar como os objetos (as notícias de jornais) transformam nossos ambientes e as maneiras de pensarmos a sociedade, tendo o museu como um suporte para a comunicação das ideias, a materialidade das coisas e a participação comunitária.

Juntamente com Simone Scifoni, pensamos o patrimônio cultural e a noção de preservação, alertando para o risco de visões ingênuas e da despolitização acerca do debate. Contudo, tendo Átila Tolentino como parâmetro, podemos pensar a educação patrimonial um pouco mais além, levando em conta suas especificidades no ensino de História - derrubando alguns paradigmas sobre a metodologia da educação patrimonial e suas principais ideias (sobretudo no mito que devemos conhecer algo para preservar), possibilitando uma aproximação dos saberes locais e os conhecimentos históricos, até mesmo criando sensações de "estranhamento" nos participantes do projeto (seja pelo choque de realidade, pelas semelhanças e diferenças com o passado ou pelas experiências pessoais).

Ainda, amparados em Nina Simon, priorizamos a reflexão em nosso público a partir das suas próprias escolhas, oportunizando que exerçam seus interesses e discutam as questões.

Este projeto atua também em favor da responsabilidade informativa, lembrando a cada um seu papel enquanto agente de informação, tanto ao buscar suas fontes quanto ao atuar como fonte.

Que as trilhas construídas por cada um a partir do passado ajudem a constituir cidadãos plenos no presente.

Gabriel Barboza

Leandro Brixius