Mato Grosso do Sul possui uma predominante presença da cultura indígena, com uma população de cerca de 73 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. O estado concentra 56% de todos os indígenas da região centro-oeste, sendo representados em 29 municípios distintos e com grande destaque para as etnias Terena e Guarani Kaiowá, duas das maiores populações indígenas de todo o país.
Há também as etnias Kadiwéu, Kinikinaw, Atikun, Ofaié e Guató. As que se comunicam na sua língua mãe são: Guarani, Terena, Kadwéu, Guató, Ofaié e Kinikinaw.
No censo demográfico da década de 1991/2000, o IBGE declarou um crescimento anual atípico da população indígena nacional. Muitos pesquisadores atribuem esse evento a uma melhoria nas políticas públicas e incentivos governamentais, permitindo que os indígenas buscassem melhores condições de vida e visibilidade social. Desde esse período, o Brasil tem presenciado um fenômeno denominado “etnogênese” ou “reetinização”, o qual as populações indígenas estão assumindo suas antigas tradições depois de terem sido despojados e estigmatizados por pressões políticas, econômicas e religiosas. Dessa forma, independentemente de sua área geográfica, as estatísticas do IBGE de 1991 revelaram que 34,5% dos municípios brasileiros possuíam um indígena autodeclarado e, em 2010, esse número cresceu para 80,5% dos municípios.
Historicamente, os povos indígenas sul-matogrossenses enfrentam diversas adversidades quanto a demarcação de seu território e sua ocupação e, neste período de pandemia, essa situação se agravou. O Conselho Missionário Indigenista (Cimi) tem implementado uma rede de assistência e apoio em conjunto voluntário para esse cenário ser amenizado. Para saber mais sobre esse processo, acesse aqui.
Conforme dados do IBGE de 2010, do total de 73.295 mil habitantes indígenas no Mato Grosso do Sul, cerca de 43 mil são representados pelos Guarani Kaiowá — uma das maiores concentrações nacionais. Entretanto, apesar de seu número elevado, essa etnia não possui uma grande ocupação territorial devido aos impedimentos e adversidades legislativas de demarcação em suas terras. Atualmente, os Guarani e Kaiowá se distribuem em 22 localizações, predominando nas regiões de Dourados, Amambaí e Caarapó.
Tradicionalmente, seu território era muito vasto, contudo, os avanços das colonizações de 1940 e 1990 e a dominância da ideologia ruralista no país causou a expulsão da maioria das famílias de suas terras ocupadas, resultando na vivência em reservas indígenas superpopulosas e outros precários acampamentos.Atualmente, essa etnia é reconhecida pelos conflitos agrários devido a apropriação de suas terras, além de sua situação miserável causada pela desterritorialização e a luta incessante para retornar ao seu tekoha - “o lugar de onde somos o que somos”, onde se desenvolve propriamente o sistema social e estrutural formado por extensas famílias e se vive de acordo com sua organização cultural.
Saiba mais sobre os índios Kaiowá na perspectiva da resistência feminina na luta por seus territórios em: http://www.kaiowamulheressemmedo.com.br/.
Esses povos estão distribuídos por aldeias em uma área que se estende até os rios Apa, Dourados e Ivinhema, ao norte, indo, rumo sul, até a serra de Mbarakaju e os afluentes do rio Jejui, no Paraguai, alcançando aproximadamente 100 Km em sua extensão leste-oeste. Os Kaiowá falam dialetos do idioma guarani que se inclui na família linguística Tupi-Guarani, do tronco linguístico Tupi. Os Guarani-Kaiowá realizam uma economia de subsistência, marcada pela distribuição e redistribuição dos bens produzidos e na qual relações de produção econômica são pautadas por vínculos sociais.
Para saber mais sobre os aspectos que constituem os povos Guarani Kaiowá acesse o relatório completo do programa Povos Indígenas no Brasil.
A etnia Terena é falante da língua Aruak, remanescentes do povo Guaná que viviam nos territórios do Chaco (Paraguai) e Pantanal (Brasil). Sua história é marcada por uma grande luta pela participação nas funções públicas de seu povo, como se pode observar em seu quarto período histórico denominado “Tempo de Despertar”. Neste período, predomina-se a busca dos Guaná por espaços dentro da esfera pública, os quais não seriam mais representados pelos homens não-indígenas, os purútuye.
Com o advento da Guerra do Paraguai (1864-1870), os Terena foram recrutados pelo exército brasileiro para lutarem na defesa das fronteiras, além das numerosas mortes e de doenças como a cólera, esse fato resultou na dispersão desses povos, enfraquecendo seu território e limitando-o. Atualmente, de acordo com dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), eles estão distribuídos nas regiões de Aquidauana, Anastácio, Miranda, Dois Irmãos do Buriti, Nioaque, Sidrolândia e Rochedo. Muitos migraram para a zona urbana das cidades de Miranda, Aquidauana, Nioaque e Campo Grande, algo que vem sendo frequente e ocorrendo de maneira ampla desde 1950.
Os Terena contam com uma população de cerca de 27 mil habitantes, segundo o IBGE e, devido a esse número e seu constante contato com o povo regional, é a etnia com maior presença explícita no estado. Em Campo Grande, é possível ver as mulheres vendendo seus produtos nas ruas, há os cortadores de cana-de-açúcar que periodicamente se deslocam às destilarias para changa, o trabalho temporário nas fazendas e usinas de açúcar e álcool. Eles possuem uma dupla linguagem, a língua nativa Aruak e uma língua de “contato” ou “adoção”, o português. Sua língua materna não é usada para socialização - é uma questão afetiva, no sentido de integrar o indivíduo ao povo. Eles se comunicam em português e se orgulham disso, pois é esse domínio que os permite existir como um povo político e participar ativamente de sua própria administração (saiba mais sobre os aspectos que constituem os povos Terena no relatório completo do programa Povos Indígenas no Brasil)
Devido a Guerra do Paraguai, atualmente os Terena são confinados em Reservas, fator que mudou completamente seu modo de produção, principalmente na agricultura. As práticas de cultivo que anteriormente eram realizadas de forma itinerante, hoje foram modernizadas forçosamente. Os indígenas também se sustentam da pecuária, de trabalhos temporários em fazendas vizinhas, caça, pesca, coleta e trabalho externo nas regiões urbanas.
Conheça mais detalhadamente a realidade dos jovens indígenas Terena e sua comunidade local em: https://readymag.com/u3017679774/1654105/
O artesanato de Mato Grosso do Sul contempla peças feitas de cerâmica, cestarias, argilas, madeira, pele de peixe, osso e chifre de gado, entre outros. Possui uma variedade de estilos impressionante, que varia de acordo com as tradições e povos originários das diferentes regiões do estado. O artesanato indígena, nesse contexto, tem uma representação significativa, com grande expressão nas etnias Kadiwéu e Terena. É por meio da produção artesanal que as principais etnias expressam seus costumes e moldam a cultura sul-mato-grossense.
Saiba também como as etnias são representadas midiaticamente nas pesquisas feitas pelo PPGCom da UFMS:
Cinematografia Indígena: A experiência social sob o foco da cultura Guarani-Kaiowá
Audiovisual Autoral dos Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul: mapeamento e análise