De acordo com a classificação de FABER-LANGENDOEN et al., (2017), os mangues representam uma formação vegetal contida dentro da subclasse de bosques e florestas tropicais.
Entretanto, Gilmore e Snedaker (1993), subdividiram os mangues em cinco subdivisões diferentes com base no nível de água, na energia das ondas e na salinidade da água intersticial, sendo elas:
florestas de manguezal de borda;
ilhas de manguezal sobrelavadas;
florestas de manguezal fluviais;
florestas de manguezal de bacia;
florestas de manguezal anãs.
A maioria das espécies de manguezais apresenta viviparidade, um processo em que o embrião se desenvolve ainda na árvore-mãe, dando origem a propágulos, em vez de sementes ou frutos. Esse desenvolvimento pode durar vários meses, garantindo maior sucesso no estabelecimento das plantas. Gêneros como Aegiceras, Avicennia, apresentam criptoviviparidade como seu modo de reprodução, em que a germinação e o desenvolvimento do embrião ocorrem ainda na árvore-mãe. Porém, diferentemente da viviparidade, o hipocótilo em crescimento não rompe o pericarpo (HOGARTH, 2015).
Para sobreviver em solos anóxicos e sujeitos à imersão frequente, as plantas de mangue desenvolveram raízes aéreas, como as raízes escora e os pneumatóforos. As raízes escora surgem acima do solo, proporcionando sustentação física e auxiliando na fixação em solos moles, enquanto os pneumatóforos são estruturas especializadas que brotam a partir do solo e funcionam como “pulmões” para garantir a respiração das raízes submersas em ambientes com pouco oxigênio (Kathiresan & Bingham, 2001).
A salinidade é um dos maiores desafios dos manguezais. Para lidar com isso, suas raízes atuam como filtros que excluem grande parte do sal presente na água do mar, impedindo que ele atinja os tecidos internos. Além disso, algumas espécies possuem glândulas especializadas nas folhas que facilitam a excreção do excesso de sal, formando cristais visíveis na superfície foliar (Parida & Jha, 2010).
Por que os manguezais apresentam viviparidade?
As espécies vivíparas de manguezais pertencem a diferentes famílias botânicas, cujos demais representantes não apresentam essa característica. Isso sugere que a viviparidade surgiu de forma independente, por evolução convergente, como resposta a desafios ecológicos semelhantes, e não por descendência comum. A formação de propágulos grandes e autossuficientes provavelmente é uma estratégia adaptativa para favorecer a dispersão e o estabelecimento em ambientes intertidais complexos e instáveis (HOGARTH, 2015).
A família Rhizophoraceae é considerada a única família verdadeiramente exclusiva dos ecossistemas de manguezais, sendo composta por espécies estritamente adaptadas às condições desse ecossistema costeiro. Seus representantes, como os gêneros Rhizophora, Bruguiera e Ceriops, não ocorrem em outros tipos de vegetação natural, estando restritos às áreas de transição entre os ambientes terrestre e marinho, sujeitos à influência das marés (Tomlinson, 1986; Duke, 1992).
O genêro Avicennia é conhecido por incluir algumas das plantas mais comuns dos manguezais de todo o globo (Tomlinson 1986). O gênero apresenta oito espécies: cinco delas ocorrem nos manguezais das zonas tropicais e subtropicais do Velho Mundo e da Australásia, enquanto três delas ocorrem no Novo Mundo (Duke 1991). Apenas Avicennia germinans e A. schaueriana são registradas no Brasil.
Além das espécies arbóreas, há também uma flora associada composta por samambaias, como Acrostichum aureum, ervas halófitas e diversas espécies de macroalgas que colonizam os sedimentos e as raízes das árvores, embora essas não sejam endêmicas do manguezal e sim de ambientes salobros (Hogarth, 2015).
O relatório da IUCN (2010) destacou que cerca de 11 das 70 espécies de plantas de manguezais no mundo estão ameaçadas, principalmente nas regiões do Indo-Pacífico, porém também há registros de pressão significativa na costa atlântica da América do Sul.
Bruguiera hainesi
Criticamente em Perigo (CR)
Rhizophoraceae
Ceriops tagal
Vulnerável (VU)
Rhizophoraceae
Ceriops decandra
Vulnerável (VU)
Rhizophoraceae
Sonneratia griffithii
Em Perigo (EN)
Lythraceae
Avicennia rumphiana
Vulnerável (VU)
Acanthaceae
Rhizophora samoensis
Vulnerável (VU)
Rhizophoraceae
Xylocarpus granatum
Vulnerável (VU)
Meliaceae