Ficha Técnica
Título: Sétima-Feira
Autor: Davi Reis
Género: Poesia
Editora: Corpos Editora
Colecção: O Espelho desta Hora
Nota introdutória: Jorge Palma
Design (capa): Michael Cavero de Carondelet
Fotografia (capa): José Miguel Sardo
Fotografia (contracapa): Carlos Lima
ISBN: 978-989-720-206-3
Depósito Legal: 349699/12
Primeira edição: Outubro de 2012
Número de páginas: 109
Sinopse
"Sétima-Feira" é a segunda incursão poética de Davi Reis, uma obra profundamente reflexiva que explora a dimensão subjectiva do tempo em múltiplas percepções. Estruturado em cinco capítulos — "Primeira-Feira", "Em Trânsito", "Iniciático", "Roma Invertida" e "Funâmbulo" —, o livro convida o leitor a navegar entre o íntimo e o universal, o afã e a introspecção, a certeza e o abismo.
Através de 65 poemas, o autor aborda temas como o amor, a inquietação existencial e a busca de equilíbrio, contrapesando imagens precisas e metáforas complexas. Se "Pôr a Escrita em Noite" inaugurava a sua voz poética, "Sétima-Feira" reafirma-a com maturidade estilística que não renuncia à ousadia e à espontaneidade.
Aqui, o tempo é simultaneamente invenção e transcendência, rasgando silêncios hodiernos e desafiando o leitor a revisitar com audácia e desapego as suas próprias interpretações do efémero e do eterno. A obra pulsa com a coragem de quem escreve para existir e resiste ao esquecimento com a força da palavra. Nota introdutória do músico Jorge Palma.
Autografados
Encomendas de exemplares autografados diretamente ao autor através do e-mail hugofsimoes@gmail.com. Davi Reis aprecia e agradece.
Foto: João Trigo
Nota introdutória manuscrita de Jorge Palma
Aquele abraço em Março de 2003, na cozinha da casa do Jorge em São Bento, após entrevista para o jornal Impress
Beijinho de 4 de Junho de 2010, no Páteo Bagatela, em Lisboa, durante o jantar do 60.º aniversário do Grande Mestre
Análise Crítica
"Sétima-Feira" é uma obra de camadas densas, estruturada em cinco capítulos que articulam, com rigor e Liberdade, a experiência humana face à conceptualização do tempo. Na sua segunda obra poética, Davi Reis constrói um diálogo íntimo entre a transitoriedade das horas, a finitude da vida e a permanência da palavra.
No primeiro capítulo, "Primeira-Feira", o tempo é desconstruído enquanto convenção humana. Poemas como “Se Eu Morrer Antes” e “Replay” trazem reflexões críticas sobre a repetição e o efémero, enquanto “À la Mesure du Temps” traduz a melancolia das horas esvaídas em imagens carregadas de nostalgia. O autor aponta para a impotência humana diante do tempo, enfatizando-o como construção cultural e emocional.
"Em Trânsito", segundo capítulo, incorpora a viagem como metáfora de acção, movimento e volubilidade. Poemas como “Prosema Raiano” e “Um Outro” evocam a ideia de deslocamento físico e psicológico, destacando o caráter fragmentado do quotidiano moderno. A voz poética ora abraça, ora questiona a sua própria alienação, traduzindo sentidos autocríticos de perda e reencontro.
"Iniciático" surge como um espaço de transfiguração simbólica, onde temas como a fé e a dúvida ganham proeminência. Em “Voyant” e “Contrição Transfigurada”, há uma busca por transcendência que não evita o confronto com a fragilidade da crença e a mortalidade. A poesia torna-se, deste modo, um veículo de regeneração e descoberta.
O capítulo "Roma Invertida" revela-se a inversão de "amor", explorando as relações humanas e os seus paradoxos. Em poemas como “Esta Noite Saí” e “Por Ti que Nem Conheço”, o autor desenha os contornos do desejo, da ausência e da efemeridade dos laços, numa dialéctica oscilante entre presença e perda. O amor é desconstruído e reconstruído com delicadeza crua, refletindo a sua intrínseca complexidade.
"Funâmbulo" é o capítulo que encerra a obra, como metáfora do equilíbrio precário e imprevisível da existência. Poemas como “Trapézio” e “Dominó” propõem reflexões sobre a incerteza e a vulnerabilidade, enquanto “Palavras Certas” sublinha o poder e os limites do discurso poético como âncora no caos.
"Sétima-Feira" reafirma a maturidade estética de Davi Reis, consolidando a sua voz como poeta que não teme dialogar com o abismo. A obra convida à releitura e desafia o leitor a transcender as suas próprias sétimas-feiras, buscando no tempo imprevisto pelo calendário não apenas a passagem, mas a permanência. É um livro onde o transitório e o eterno se encontram e debatem, espelhando a inquietude de quem cria algo que subsista à fugacidade e a si mesmo.
Jeremias Cabrita da Silva, viajante
"Descuido a perfídia medíocre dos homens práticos.
Encho-me de evasivas e pretextos fantásticos
e enrodilho-me num meditado impulso:
escrevo sem destino, vou sem rumo em mim,
escrevo avulso"
Foto: João Trigo
"O sol não tem sombra.
Transcendente e humano,
numa hesitação prolongada
entre o som e o sentido,
o criador de Deus,
divino poeta"
Foto: Ricardo Pinto
20 de Outubro de 2012
Lançamento de "Sétima-Feira" na Fábrica Braço de Prata
Fotos de José Frade, João Trigo, Ricardo Tomás e Ricardo Pinto
Paulo Amaral, João Pimenta, Hugo Simões (Davi Reis) e Gustavo Silva reeditaram para "Sétima-Feira" o quarteto que já em 2008 apresentara "Pôr a Escrita em Noite". Foto: José Frade
Casa sobrelotada. Foto: João Trigo
"Pergunta-me porque escrevo e eu digo-te:
porque me sinto acompanhado"
"Nada tenho, senão um dia mais que ontem,
e de nada me valia saber no exato instante
que eram aqueles os bons tempos"
"Palavras certas dizem-se com outra voz,
beijando o ventre, fendendo a bruma, rasgando o cós
que ao mundo trouxe, falante, esta gente"
"Se eu não for ter com o mar
vem o mar ter comigo
inundar a sala de estar
a sala de ser"
"Sem dádiva, a vida encontra-se
no erro das circunstâncias.
Aceitar o karma entrega-nos a um destino
que nada mais é do que cobardia.
A felicidade exige coragem"
"Faço do tempo que tenho pouco quando só queria liberdade;
olhar perdidamente o infinito e esquecer que o amor está em crise,
que a sociedade está em crise, que o trabalho está em crise,
que a vida é uma brisa tão escassa entre a A5 e o IC19 em hora de ponta"
"E quantas manhãs triunfantes em adolescente despertei,
abrindo as janelas de par em par, inspirando a vida, abundante,
com fulgor de quem é rei com o mundo por conquistar"
"Desejar é vital como a dor confirma o estado de estar vivo
- especialmente perante a merditude das coisas,
e “A Merditude das Coisas” é dos melhores títulos de que há memória"
"No silêncio ignoto do meu quarto
posso sempre fotografar as fotografias
com um olhar de plástico
e dizer que são minhas as viagens,
que fui eu quem escreveu
a página branca do Imperador"
"Não há métrica nem ciência na poesia.
Não há decassílabo ou soneto;
pentâmetro jâmbico ou quintilha
que não saiba onde o meta
pela metafórica quilha"
"Em breve pego em ti e vamos estrada fora
esquecer que as coisas têm preço;
montar uma tenda junto à praia
e deixar ir o carro em ponto morto, ir
até que nos tomemos por Homens,
capitães penteados pelo vento"
"Há um mestiço segregado
e uma menina tocada
cada vez que escrevo.
Há um homem traído
e de um velho o último sorriso
cada vez que escrevo"
"Tenho saudade de não saber nunca onde estás, nem quem és”
"Vou onde quiser,
mas quando vou deixo-me ficar
na ideia de ir indo
e deixo de ser eu,
o que ia onde quisesse"
"Portugal Portugal
continua à espera
e uma multa no pára-brisas
não me convence do contrário
Todos enviam cartas
se para exigir dinheiro
Aos credores não falta competência"
"Tu sabes que um sorriso falso nos esmorece,
entretecidos pela aragem quente de Lisboa"
"Não chove há um mês.
Não sei se há um mês há um mês...
O tempo não pede licença para matar
e corta o diamante"
"Se eu morrer antes, sobrevive-me.
Quanto tempo ainda nos resta?"