Prólogo
"Avançado Estado de Composição" apresenta-se como um artefacto multidisciplinar que desafia convenções e vai mais além, numa narrativa que não se limita a ser lida ou ouvida, mas verdadeiramente vivida. O Guia Preambular de Navegação, abaixo transcrito ipsis verbis, abre literalmente o livro, como porta de entrada para o universo da obra, oferecendo pistas para explorar e compreender aspectos transversais às suas múltiplas dimensões e camadas. Por isto, aqui se encontra o texto introdutório na íntegra, tal como em "Avançado Estado de Composição".
Cada um dos 16 capítulos é um microcosmos onde canções, poemas e ilustrações dialogam entre si e com o leitor-ouvinte. Mais do que uma descrição, o guia é, além de ficha técnica magnificada, uma proposta cumulativa de entendimento da obra enquanto jornada – íntima, simbólica e coletiva – pelas memórias, pelas homenagens e pela criação artística. É, também, um convite a navegar sem mapas, descobrindo a essência de um percurso único que transcende o tangível para tocar o etéreo.
«Mais do que mera introdução, este guia preambular de navegação propõe-se contextualizar, orientar e fornecer informações essenciais para a compreensão pronta e intuitiva da viagem adiante — itinerário marcado por dezasseis canções de ancoragem, alinhadas singularmente num trajecto que entrelaça os caminhos da música e da poesia. Os circunstancialismos das canções, escritas e compostas pelo autor entre 1996 e 2024, e gravadas entre 2007 e 2024, requerem um mergulho prévio no seu contexto histórico, cultural, criativo e técnico.»
Guia Preambular de Navegação
Vislumbre da Linha do Horizonte
O presente texto serve de bússola para o leitor que afina o azimute e embarca pela primeira vez na jornada deste disco-livro. Mais do que mera introdução, este guia preambular de navegação propõe-se contextualizar, orientar e fornecer informações essenciais para a compreensão pronta e intuitiva da viagem adiante — itinerário marcado por dezasseis canções de ancoragem, alinhadas singularmente num trajecto que entrelaça os caminhos da música e da poesia. Os circunstancialismos das canções, escritas e compostas pelo autor entre 1996 e 2024, e gravadas entre 2007 e 2024, requerem um mergulho prévio no seu contexto histórico, cultural, criativo e técnico. Davi Reis foi, desde 1994, guitarrista, compositor e letrista da banda Baby Jane, que, em boa verdade, não se cindiu formalmente, ainda que se mantenha inactiva desde finais da primeira década do segundo milénio. O autor continuou a compor e a gravar, impelido por um desígnio irreprimível de dar canções ao mundo e, porventura, à banda da sua vida. As gravações caseiras que aqui se alinham, embora cuidadas e briosas quanto possível, foram sempre intentadas como esquissos para algo maior e melhor adiante, que se consubstancia, para já, neste disco-livro, antes que seja tarde demais.
Esta longa introdução, que se apresenta como guia preliminar de apoio à leitura e à audição, considera-se um recurso preparatório para que o leitor explore plena e satisfatoriamente a obra, navegando-a à vista ou astronomicamente, numa expedição de longo curso, em alto mar, ou à cabotagem. É também o momento para especificar detalhes e informações técnicas respeitantes à produção desarticulada, heterogénea e paulatina da obra musical, mas, mais ainda, é uma oportunidade imperativa para creditar e agradecer a todos os Amigos, Irmãos, artistas e músicos que participaram nesta viagem, que a inspiraram e da qual fazem parte indissociável. Em suma, mais do que introduzir ou facultar explicações detalhadas sobre como conhecer, ler, ouvir e interpretar o conteúdo, este texto fornece e estrutura contextos comuns e transversais às canções, constituindo-se também uma ficha técnica magnificada e integradora da multidisciplinaridade do conteúdo.
Cada um dos dezasseis capítulos contém dois textos introdutórios escritos na primeira pessoa — “Memória Descritiva” e “Recensão Autocrítica” —, aos quais invariavelmente se seguem as letras das canções e dois poemas. Nas secções “Memória Descritiva” temos as descrições mais ou menos detalhadas de aspectos objectivos e factuais relativos à composição e à produção de cada uma das canções, como a contextualização espaciotemporal, as colaborações e contribuições, os desafios e as soluções técnicas, e ainda, por vezes, reflexões pessoais e artísticas, ou a revisitação de memórias que compõem cenários e circunstâncias. Por sua vez, nas secções “Recensão Autocrítica” o olhar é mais instrospectivo, debruçando-se sobre a causalidade fatal entre as fontes de inspiração, as vivências pessoais e a criação. Da afectação pessoal e emocional às influências inspiradoras, passando por significados e significantes que o autor entendeu revelar ou interpretar, ou ainda pelo aprofundamento conjuntural e histórico, as recensões autocríticas traduzem-se em visões íntimas dos processos criativos e das motivações por trás de cada canção.
Todos os poemas, letras e canções são da autoria de Davi Reis e foram originalmente publicados no blogue Caderno de Corda e na página ReverbNation do autor. Salvo raríssimas excepções, têm também em comum a música, as temáticas e a música enquanto temática, entretecendo-se intencionalmente numa dança de interconexões multidisciplinares que se complementam. Os poemas e as canções têm também consistentemente em comum a memória e a homenagem, ou, se preferir o estimado leitor, homenagens memoriais, sendo certo que as canções são frequentemente inspiradas por outras canções e livros; que os poemas são inspirados por canções, músicos e literatura, e que muitos foram escritos a ouvir música ou em homenagem declarada e pulsante a músicos caídos que o autor tinha por imortais.
As referências a autores, músicos, bandas, obras e canções são tão variadas que seria descomedido enumerá-las. É, no entanto, fundamental afirmar a intenção de alinhar os capítulos e agrupar as peças numa narrativa mais ampla com segmentos temáticos e a dinâmica própria de um álbum, sendo que alguns poemas foram escritos em memória de músicos, todos eles fonte de inspiração da música do autor; outros foram simplesmente inspirados pela obra de músicos; outros reflectem a preponderância, a dimensão transcendente e a natureza metafísica da música, e muitos foram, por fim, escritos propositadamente para integrar determinado capítulo. A estrutura do índice não obedece assim a uma coerência cronológica, mas conta, à sua maneira, uma história. O facto deste disco-livro estar estruturado por capítulos que correspondem a canções, sendo que cada um deles integra poesia convergente à música, lato sensu, é um dos pontos conceptuais definidores da obra.
Os poemas valem por si mesmos, autonomamente, tal como as canções, mas pretendem contar em eufonia uma história que é, necessariamente em toda a criação, a do autor, deixando simultaneamente um lastro de mensagens que, a seu tempo, poderão ser descobertas. Importa, por isso, demarcar a índole autobiográfica de tanto do que aqui se pode ler e escutar, seja na vertente lírica e poética, seja na faceta narrada em prosa informal, incluindo as notas do autor e as memórias que permeiam os capítulos e os poemas, marcando a trajectória parcial de uma vida, vertida em manifestações artísticas que invariavelmente refletem experiências pessoais, sentimentos e eventos significativos dessa mesma vivência.
Tendo sempre em mente que são as canções que estruturam o livro, ordenando o índice, é também indispensável referir que todas foram gravadas, misturadas e masterizadas pelo autor de modo caseiro com equipamento amador, excepto duas canções ("Mãe" e "A Nova Fé") misturadas e masterizadas por Sebastiano “Bill” Ferranti, que também captou e gravou baterias orgânicas, e os três últimos temas (“Italian Wool”, “Quero Mais” e “Dia Final”), gravados nos estúdios Klínika do Som pelos Baby Jane. Quanto às canções “Mãe” e “A Nova Fé (É a Descrença)”, foram gravadas num processo híbrido pelo autor, com recurso aos gravadores Boss Micro BR e BR-800, e por Sebastiano no seu estúdio caseiro, o que exemplifica os desafios encontrados para equilibrar as limitações técnicas e logísticas com a aspiração por um resultado sonoro coeso e autêntico.
Efectivamente, os primeiros treze temas são resultado de um trabalho maioritariamente solitário e absolutamente amador no qual o autor compôs, escreveu, tocou, cantou, gravou, produziu, misturou e masterizou, registando-se no entanto assinaláveis exceções graças às participações especiais de Amigos e Irmãos seus que, não por acaso, também são músicos que partilharam no passado salas de ensaios, estúdios e palcos. São eles Sebastiano Ferranti (bateria, mistura e masterização em “Mãe” e “A Nova Fé”), Ricardo Tomás (baixo em “A Nova Fé”, “Italian Wool”, “Quero Mais” e “Dia Final”), Mark Cain (saxofone em “Por Aquela Estrada” e “Dia Final”), Nuno “Dino” Rodrigues (coro em “Filho da Minha Vontade — P'ra lá dos Lençóis”), Bernardo “Moisés” Rodrigues (teclas em “Liberdade É Escrever Canções”), Tiago “Modeler” Almeida Pereira (Monotron Delay em “Silêncio — Estamos no Ar”), Tiago “Sir Giant” Rocha (bateria em “Italian Wool”, “Quero Mais” e “Dia Final”), João Carlos Graça (guitarra em “Italian Wool”, “Quero Mais” e “Dia Final”) e, last but not least, Ricardo Pinto (voz em “Italian Wool”, “Quero Mais” e “Dia Final”).
Muito realisticamente, as canções aqui editadas são, excluindo as canções de Baby Jane, todas elas maquetas, ou demos — apontamentos algo elaborados que serviriam antes de mais para capturar e preservar ideias e arranjos de canções que posterior e idealmente seriam regravadas com banda e melhores condições e meios de gravação e produção. Mas a valia que não têm do ponto de vista da profissionalização e dos meios técnicos e tecnológicos disponíveis, têm-na pela genuinidade de um resultado sonoro fiel à execução, à instrumentação e ao processo orgânico aplicado, praticamente sem recurso a software de gravação, edição ou produção. O software gratuito Audacity foi usado apenas para compor elementos não musicais, como captações sonoras de trovoada e chuva em “Canção de Amor (Deriva/Ablução)”. Também Sebastiano utilizou software nas gravações em que colaborou, nomeadamente o ProTools, numa abordagem híbrida entre os seus modelos de trabalho e os do autor.
Quer isto dizer que o que se ouve é o que foi efetivamente tocado em takes únicos, sem copy nem paste, repetidos exaustivamente até que o resultado atingisse o crivo de exigência aceitável para o autor. Trata-se de artesania pura e escrupulosa, com ressalvas para as canções que, por impossibilidades e limitações técnicas e logísticas, foram gravadas com recurso a baterias programadas nos sistemas de gravação digital utilizados, que ainda assim desempenharam um papel crucial na criação e na concretização das canções. Entre o deve e o haver, apesar das insuficiências, foi graças aos ditos sistemas e ao facto de integrarem sequenciadores de bateria que muitas das canções se consumaram com tão parco investimento material ou financeiro.
A canção "Tecto de Abrir", gravada em janeiro de 2008, marcou o início das gravações amadoras, caseiras e a solo de Davi Reis. A utilização do Micro BR, cuja mensagem de marketing o vendia como «o estúdio portátil mais pequeno do mundo», estendeu-se até fevereiro de 2014, culminando com a aquisição do BR-800 e do microfone de condensador largo Golden Age Project FC3, elevando a qualidade das gravações subsequentes. Antes da aquisição do microfone Golden Age, todas as gravações foram feitas sem microfone adequado. Por incrível que pareça, o microfone que, nesse período, capta as vozes e todos os instrumentos acústicos é o microfone embutido do Micro BR, o que demonstra o grau de amadorismo e as limitações técnicas enfrentadas, mas também testemunha o empenho dedicado a superar tais dificuldades de modo a obter canções genuínas com qualidade sonora aceitável. A título de curiosidade, Davi Reis, que trabalhava como jornalista musical em revistas especializadas, comprou em Novembro de 2006 a primeira unidade do Micro BR vendida em Portugal, reservada ainda antes da primeira remessa cruzar a alfândega lusa. Ao sair da loja com o equipamento, acabado de desempacotar da palete, encontrou o seu Amigo, Irmão e companheiro de armas Ricardo Tomás a entrar na loja para também ele comprar algo, talvez cordas de guitarra ou baixo, numa feliz e muito simbólica coincidência.
Assim, no decorrer da criação das canções, Davi Reis recorreu a pelo menos três sistemas de gravação e sequenciação de bateria que marcaram fases distintas do processo de produção musical. As canções concluídas entre 2008 e 2014 foram gravadas com o Micro BR, um gravador digital de bolso com quatro faixas simultâneas de reprodução e 32 pistas virtuais que oferecia a vantagem de ser utilizado autonomamente, como fim em si mesmo, sem recurso a computadores ou processamento externo. Apesar das suas limitações, nomeadamente quanto à qualidade sonora e à diversidade de presets, o equipamento permitiu a Davi Reis programar baterias e gravar de forma prática e eficiente, adaptando-se às restrições do seu ambiente de gravação caseiro e à falta de um espaço adequado para captar uma bateria acústica. O processamento das guitarras, do baixo e das vozes é todo ele Boss, incorporado no gravador. O único pedal usado, frequentemente, aliás, foi o wah Cry Baby costumeiro de Jimi Hendrix, do fabricante Jim Dunlop.
O tempo das gravações finalizadas no Micro BR chegou ao fim em fevereiro de 2014 quando o autor decidiu fazer um upgrade para o BR-800, um gravador de oito pistas com maior capacidade e qualidade sonora, que incluía o software Rhythm Editor para uma programação mais detalhada, ponto a ponto, das baterias. Este sistema permitiu manter a abordagem orgânica desejada, concentrada no desempenho da execução e na autenticidade dos instrumentos, sem necessidade de uso de gadgets ou artimanhas tecnológicas além daquelas já disponíveis numa só unidade de gravação. A transição para o BR-800, que grava até quatro canais simultâneos com efeitos dos processadores Boss GT-10/10B, representou um avanço significativo, mantendo a simplicidade e a portabilidade valorizada pelo autor. O BR-800 integra microfones estéreo superiores ao do Micro BR, mas, com a aquisição do microfone Golden Age Project FC3, não mais se gravaram vozes com recurso a microfones embutidos, adequados apenas para gravação rápida de ideias e guias.
Além dos gravadores, Davi Reis também utilizou posteriormente a unidade de ritmo Boss DR-880 Dr. Rhythm, com sons Roland da série SRX e 20 pads sensíveis ao toque, que proporciona uma vasta biblioteca de sons de bateria e percussão de qualidade superior aos dos referidos sistemas de gravação, com a particularidade de que permite efetivamente tocar bateria através das pads, ou editar os padrões disponíveis, ultrapassando a limitação dos presets. Assim aconteceu apenas na gravação de “Silêncio (Estamos no Ar)”, cuja bateria foi finalmente criada de acordo com o idealizado, sem barreiras à concretização detalhada da representação mental preconcebida. A utilização da unidade DR-880, que executa batidas complexas, únicas e precisas, permitiu superar assim algumas das limitações dos anteriores sequenciadores, oferecendo maior flexibilidade e controlo. A predilecção por equipamentos Boss justifica-se pelo facto de que Davi Reis já usava, no final dos anos noventa, a pedaleira de guitarra Boss GT-3 em concertos ao vivo, o que facilitou a adaptação intuitiva a menus e modelos de operação.
Em suma, estas opções reflectem a preferência do autor pela utilização de hardware que evita o efeito distractivo de software e ecrãs de computador durante um processo necessariamente solitário de composição e gravação que exige foco na execução orgânica da música. Deste modo, e em face das suas próprias dificuldades e insuficiências, Davi Reis priorizou a exploração dos instrumentos e dos arranjos num compromisso trabalhoso com a autenticidade e a integridade artísticas. É, no entanto, certo que a necessidade de adaptação a presets rítmicos moldou irremediavelmente os arranjos das canções gravadas com baterias programadas, influenciando aspectos estruturais da composição e espartilhando amplitudes dinâmicas apenas possíveis com a alma de um baterista. A evidente artificialidade de algumas das baterias obrigou ainda à adaptação da execução e da composição dos arranjos por inelutável premência. Tal foi, no entanto, merecedor da resignação do autor, visto como mal menor, necessário à concretização do objecto artístico com os meios disponíveis.
Tudo isto é tecnicamente relevante, ainda que possa aborrecer alguns leitores. É-o porque o autor assume o diletantismo brioso de um processo amador, verdadeiro e sincero, em proporções paradoxais de idealismo e frugalidade. As referências detalhadas a outros equipamentos e instrumentos utilizados encontram-se mencionados nos textos introdutórios dos respectivos capítulos, oferecendo uma visão completa e contextualizada caso a caso do processo criativo e das ferramentas que moldaram singularmente a obra. A título exemplificativo dos parcos recursos disponíveis, refira-se que o baixo usado na maior parte das canções gravadas em casa do autor é um Rockson PB que custou apenas oitenta euros — talvez o baixo mais barato que o dinheiro podia comprar, com escala larga e dura, pickup split-coil com circuito passivo, corpo em choupo e braço em madeira de bordo, mas com o qual se obteve uma sonoridade muito aceitável, tendo em conta o preço e o facto de que Davi Reis nunca foi baixista nem alguma vez se dedicou demoradamente ao instrumento. Thumbs up ao Rockson.
Contextualizamos, por fim, a inclusão das três últimas faixas do disco-livro e a atribuição dos devidos créditos. Gravadas pelos Baby Jane em 2007, nos estúdios Klínika do Som, em Lisboa, para o EP “História de Um Vinho Azedo”, as canções “Italian Wool”, “Quero Mais” e “Dia Final” têm origem distinta das demais. Os membros da banda, que as gravaram em estúdio, autorizaram e incentivaram a sua inclusão neste disco. Concebidos na segunda metade dos anos noventa, os três temas fizeram parte do reportório de Baby Jane quando a banda se encontrava em plena actividade. Embora as canções sejam da autoria de Davi Reis, é imperativo o reconhecimento dos inestimáveis contributos de Ricardo Pinto (voz), Ricardo Tomás (baixo), João Graça (guitarra), Paulo Amaral e Tiago Rocha (bateria) — este último, nunca tendo pertencido à banda, fez valioso trabalho de estúdio. Não menos importante, a participação do ilustre Amigo Mark Cain, reconhecido saxofonista inglês que integrou a banda Primitive Reason, em duas canções de “História de Um Vinho Azedo” – “Dia Final”, o tema que fecha o disco-livro, e “História de Um Vinho Azedo”, que deu nome ao EP de Baby Jane. Por ser da autoria do Amigo e Irmão João Trigo, “História de Um Vinho Azedo” não integra “Avançado Estado de Composição”. Mark acabaria, no entanto, cerca de três anos depois, por participar também na gravação de uma outra canção aqui incluída, “Por Aquela Estrada”.
O EP, cujo lançamento estava previsto para 2008 com um videoclip de “História de Um Vinho Azedo” realizado pelo reconhecido videasta Tiago Pereira, nunca foi editado devido a impasses e dissensões no seio da banda quanto ao rumo a tomar. Apesar do forte investimento da FIAT, que se assumiu como main sponsor do grupo naquele período pela mão do seu ex-diretor de marketing Sérgio Martins, também ex-manager dos Baby Jane nos anos noventa, que envidou todos os esforços para relançar a banda, e ainda apesar do apoio de outros patrocinadores relevantes como a Chilli Beans, o projeto permaneceu ingloriamente na gaveta. Das seis canções que compunham o EP, três não integram “Avançado Estado de Composição” por serem da autoria de Ricardo Tomás e João Trigo, mas a inclusão das outras três canções não só resgata a memória e o legado da banda, como também presta uma merecida homenagem à sua memorável trajectória. Assim sendo, este disco-livro não apenas celebra as canções de Davi Reis, mas preserva e honra a contribuição artística coletiva que marcou a história dos Baby Jane.
Além das incontornáveis referências aos membros da banda e aos músicos convidados, é igualmente obrigatória e devida, à laia de ficha técnica, a especificação de todos os envolvidos na produção da tríade de canções extirpada do EP dos Baby Jane. Assim sendo, e reportando-nos apenas aos temas mencionados, as segundas vozes são de Ricardo Tomás, Hugo Simões, Ricardo Pinto, João Castro e António Gil, sendo que António Gil contribuiu com pistas de órgão e piano, tendo ainda dirigido a produção, a mistura final e a masterização, também da responsabilidade de Rodrigo Ghira. Carlos Ramon assumiu as sequências de percussão e efeitos. Com pré-mistura de António Gil, Rodrigo Ghira, Carlos Ramon e João Castro, a produção executiva esteve a cargo de João Castro, a produção musical coube a Carlos Ramon e a produção técnica foi assinada por Rodrigo Ghira. A isto soma-se uma menção ao querido Amigo Michael Cavero de Carondelet, que desenvolveu o conceito e o design gráfico do EP, tendo sido também ele o responsável pela capa do segundo livro de poesia de Davi Reis, “Sétima-Feira” (Corpos Editora, 2012).
Finalmente, considera-se relevante a incorporação de uma nota biográfica respeitante aos Baby Jane, banda que se formou em 1994 e que, além do autor e dos membros supracitados, integrou também os músicos e Amigos Rui Pina (baixo), Dálio Calado (baixo), Bruno Tomás (guitarra), Nuno Matias (voz), Rui Lisboa (bateria), António Pereira (bateria) e José Carlos Pereira (voz). Colaboraram ainda com a banda Bernardo Rodrigues, aka “Moisés” (teclas), e Patrícia Martins Navalho (segundas vozes). A banda, que nasceu em pleno fulgor adolescente, num tempo explosivo para o rock nacional e internacional, foi influenciada pelo que de melhor se fez na prolífica década de noventa, apostando em canções pungentes e lírica sincera, com riffs de guitarra ora poderosos, ora melódicos, ambicionando a aproximação às suas referências nacionais e internacionais, situadas num largo espectro entre Pearl Jam e Xutos & Pontapés, ou Jorge Palma e Jimi Hendrix. Os Baby Jane construíram um vasto currículo de mais de duzentos concertos, o que se confirma quando recordado o longínquo interesse da imprensa especializada e das rádios, bem como as conquistas consecutivas até à finalíssima do programa Reis do Estúdio, emitido pela RTP em 1998, ou ainda a participação no histórico Festival RTP da Canção no ano 2000. Foram mais de cinquenta as canções escritas ao longo de um percurso que culminou na gravação do EP “História de Um Vinho Azedo” e que agora, em 2025, vê finalmente três das suas canções chegarem ao público na forma deste objecto artístico — uma realização significativa deste disco-livro, que lhe acrescenta profundidade, uma vez que representa uma parte vital da jornada musical e criativa do autor.
Agradecimentos finais ao editor Ricardo de Pinho Teixeira pela confiança e pelo apoio à edição do terceiro livro de Davi Reis com chancela da Corpos Editora, a Ana Paiva, técnica superior da Câmara Municipal de Coruche que gentilmente procedeu à primeira revisão de textos, e um agradecimento incomensurável ao genial Irmão e pintor Nuno “Corado” Quaresma, Missionário da Arte e do Belo, que ilustrou o livro capítulo a capítulo e concretizou a capa de sonho que o estimado leitor tem nas mãos neste preciso momento. Dito (tudo) isto, aconselha-se, para melhor audição, o uso de headphones, caso não seja possível desfrutar da melhor experiência sonora num sistema áudio digno desse nome. Devem evitar-se telemóveis, portáteis e outros dispositivos que não proporcionam qualidade de escuta. A obra pode e deve ser lida e escutada simultaneamente, sendo obviamente esse o desejo do autor, para uma experiência maximizada que transforme o ouvinte em leitor e o leitor em ouvinte. Ou, melhor ainda, para uma experiência que transforme.
Jeremias Cabrita da Silva, viajante
«A obra pode e deve ser lida e escutada simultaneamente, sendo obviamente esse o desejo do autor, para uma experiência maximizada que transforme o ouvinte em leitor e o leitor em ouvinte. Ou, melhor ainda, para uma experiência que transforme.»
O Guia Preambular de Navegação é apenas o início. Prossiga em intrépida exploração. Conheça o alinhamento de canções e poemas.