Costumavas me olhar admirado
Aparecias com uma frequência mais que estranha
Assumias-me como mulher, sem minha permissão
Procuravas em mim algo que te faltava
Mas os dias se passaram
E eu já não tenho mais nada de novo para te oferecer
Então, por que me procuras?
Por que ainda insistes?
Seria melhor pagares um programa
Servires-te noutros belos corpos
Lambuzares-te de fluidos, sem beijar
Satisfazeres-te sem risco, nem compromisso
Para que não sintas o meu ranço
Nem o nojo que vem do gozo
Da pessoa que pensas que não te ama
Fujas de fingir que gostas
Contando os minutos para saíres da cama
Deixando para trás a minha carne usada
Vermelha, trêmula e suada
Procurando água para te banhares
E pasta de dente para aliviares
O gosto do fio de saliva que restou do meu beijo
Melhor é tu passares para o outro lado
Não repartas o pão com mais ninguém
Come do que é dos outros
Esquece essa carne que te provém
Mas, se é disto que tu gostas
Da perversão que é minha profissão
Da mistura de odores do meu cheiro
Da carne amaciada e cansada
Por satisfazer tantos esfomeados iguais a ti
Então vem e te entrega
Enche tua boca com minha volúpia
Toma posse sempre que possas
Reconquista essa terra usurpada
O paraíso úmido do meu ventre
Assume como tua essa puta
E deixa para os outros a dúvida
Do que eu faço de tão especial
Para abrires mão da posse e do ciúme
Compartilhares com tantos outros o que é teu
Seres feliz como mais ninguém
Poema escrito em 10 de novembro de 2015