Deriva. O objetivo final de qualquer sistema de pulverização é fornecer a deposição ideal dos defensivos agrícolas nas copas-alvo, para controlar eficazmente as pragas e doenças. No entanto, vários relatórios mostraram que uma fração significativa dos produtos químicos liberados se desloca para áreas não-alvo durante as aplicações. A quantidade de tais perdas foi estimada em até 50 a 60%, e a elas chamamos de deriva.
O número de gotas produzidas de um determinado diâmetro, é função do seu tamanho (diâmetro mediano volumétrico, em microns) e do volume da calda de pesticida líquido aplicado, em l/ha, como mostra a equação da Figura abaixo.
Na aplicação de inseticidas, o número de gotas varia 20 a 30 gotas/cm²
Em herbicidas pré-emergentes, n = 20 a 30 gotas/cm²
Em herbicidas pós-emergentes, n = 30 a 40 gotas/cm² e
Em funcididas, n = 50 a 70 gotas/cm².
A Figura abaixo mostra a distância horizontal percorrida pela deriva nas condições indicadas. Observa-se p.ex., que enquanto uma gota com tamanho de DMV = 100 um (diâmetro mediano volumétrico de 100 microns) atinge 15 m de distância, outra de DMV = 10 um chega a percorrer 1.500 m. A linha tracejada vertical define a Distância máxima provável da deriva.
A altura de queda (ou de lançamento) também é muito importante na deriva, como indica a Figura abaixo. Quanto maior for essa altura, maior é o tempo de queda, permitindo que a temperatura reduza o diâmetro das gotas, tornando-as mais suscetíveis ao vento, e até desaparecendo, como mostram as trajetórias das gotas com linhas tracejadas.
Para enfatizar um dos fatores mais importantes na deriva, que é a Velocidade do vento, mostramos os dados climáticos anuais de Elias Fausto - SP, próximo à Campinas e região com grandes canaviais pulverizados com pesticidas. Observe que em nenhum mês a velocidade do vento foi igual aos 10 km/h exigidos por Norma (IN n. 02/08 do MAPA) como a velocidade máxima para pulverizar. Conclusão: o Prefeito baixou um Decreto proibindo a pulverização aérea.
Há 2 tipos de deriva: a) a deriva de partículas e poeira; e b) a deriva de vapor gerado pela volatização do pesticida durante e após a sua aplicação.
Outros consideram: a) exoderiva é a perda do produto fora dos domínios da cultura (área alvo da pulverização); e b) endoderida, a que fica restrita à área objeto da pulverização, atingindo as folhas de baixo do dossel.
O Fator Amsdem é o produto da velocidade do vento (km/h) pela altura do voo (m) e serve para comparar o desempenho da pulverização na hora da aplicação. Um vento de 8 km/h num voo a 3 m do dossel da planta ou do solo, resulta num FA = 8 x 3 = 24 e está dentro da faixa recomendada de FA = 10 a 60.
A estabilidade atmosférica é um dos fatores que mais impactam em condições seguras das aplicações aéreas de pesticidas. Em condições normais, a temperatura do ar diminui com a elevação da altitude. Mas essa situação pode se inverter à noite ou após uma chuva intensa. Esse fenômeno chama-se inversão atmosférica e a camada de ar frio em baixo, impede as neblinas (gotas de pulverização) se depositarem nas culturas após a aplicação aérea.
O grau de estabilidade do ar é calculado pela fórmula mostrada na Figura abaixo, bem como o seu significado numérico.
O tamanho das gotas que serão pulverizadas é uma das primeiras preocupações do técnico responsável pela calibração dos equipamentos. Ela vai depender do alvo (inseto, folhas, etc.), do pesticida (inseticida, fungicida, herbicida, etc.), do adjuvante (se houver), do pulverizador (bicos hidráulicos, atomizadores rotativos, etc.), da altura do voo em que será lançado e das condições atmosféricas. A Figura abaixo mostra, em cima, a importância do tamanho das gotas (indicado pelo Diâmetro Medianao Volumétrico - DMV) na deriva e, na de baixo, indicações do tamanho para cada tipo de aplicação.
O tempo de vida da gota é importante quando ela não está protegida por adjuvantes e é lançada de uma altura que dê tempo da temperatura (elevada) reduzir o seu tamanho, facilitando a ação do vento para aumentar a sua deriva.
Este tempo de vida pode ser estimado pela fórmula de Amsden: t = d²/(80*T), sendo t = tempo de vida (s), d = diâmetro da gota (um) e T = diferença da temperatura entre os termômetros de bulbos seco e úmido (oC), chamada diferença psicrométrica. Assim, uma gota com DMV = 100 um (microns) e diferença psicrométrica = 5oC, viveria (deixa de viver quando evapora totalmente): t = 100²/(80*5) = 25 s (segundos).
Pode-se reduzir a evaporação das gotas, adicionando um produto (chamado aditivo antievaporante ou adjuvante) à calda. Também selecionar (prever) o tamanho das gotas, com a escolha e calibração do pulverizador. Consideram-se gotas finas (mais sujeitas à deriva), aquelas com DMV menor que 100 um ou menor que 150 um (microns), como mostra a Figura abaixo.
Os adjuvantes são produtos químicos ou substâncias adicionadas às formulações de pesticidas, para melhorar a eficácia da aplicação. Eles desempenham vários papeis importantes no processo de pulverização aérea (com aviões) de pesticidas, um dos quais (talvez o mais importante) é proteger as gotas reduzindo a sua evaporação. Alguns dos principais tipos de adjuvantes utilizados incluem: 1 - Espalhantes (ou surfactantes): Eles ajudam a quebrar a tensão superficial da gota, de moso a se espalharem de forma mais uniforme na superfpicie das plantas, melhorando a cobertura das folhas e a absorção dopesticida. 2 - Penetrantes: Ajudam o pesticida a atravessar a cutícula das folhas, tornando-as mais permeáveis e facilitando a sua absorvição. 3 - Umidificantes: Ajudam a manter a umidade das gotas por mais tempo, evitando que evaporem rapidamente antes de atingir a superfície das plantas. 4 - Anti-deriva: Ajudam a reduzir a deriva das gotas para fora do alvo (a plantação que está sendo pulverizada), minimizando o impacto ambiental e melhorando a eficácia da aplicação. 5 - Tamponantes: Eles são usados para ajustar o pH da solução de pulverização, garantindo que o pesticida seja estável e eficaz na faixa de acidez desejada. 6 - Antiespumantes: Quando a pulverização produz muita espuma, eles são usados para controlá-la, evitando problemas de obstrução e garantindo uma distribuição uniforme do pesticida. 7 - Adesivos: Os adjuvantes adesivos ajudam a manter o pesticida nas folhas por mais tempo, aumentando sua aderência à superfície da planta. 8 - Corantes: Podem ser adicionados à mistura, para ajudar os operadores em terra a visualizar as áreas que já foram tratadas.
A escolha dos adjuvantes adequados depende do tipo de pesticida, das condições climáticas, do alvo da pulverização e de outros fatores específicos da aplicação. Seu uso adequado pode melhorar a eficácia da pulverização, reduzir o desperdício e minimizar os riscos ambientais. É importante seguir asecomendações do fabricante do pesticida (leitura atenta do rótulo) e as normas locais do se uso na aplicação aérea.
Reconhecendo o perigo real da intoxicação por agrotóxicos decorrentes da deriva (ou de aplicações fora do alvo por imperícia do piloto, foi criada por Norma uma Zona ou Área Tampão (buffer), que não deve ser pulverizada para proteger as habitações, seus ocupantes, os mananciais de água e culturas sensíveis. A Figura abaixo mostra esse esquema. Há Normas que recomendam que essa distância seja de 250 a 500 m dolimite da área pulverizada.
Em alguns locais uma zona tampão de 5.000 m é recomendada para a aplicação de certos inseticidas organoclorados.
Em pesquisa realizada na Austrália, foi estudada a distância segura para a aplicação de pesticidas com aviões agrícolas, e esta foi definida como 0,1% da dosagem usada no campo. Chegaram a desenvolver uma equação, com dados de depósito em g/m².
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