Homenagens

Abaixo, algumas homenagens realizadas, que registram o trabalho dos membros da Academia.

                O PEQUENO PRÍNCIPE ESTÁ DE ANIVERSÁRIO

          Há oitenta anos, a humanidade foi presenteada com a chegada do Pequeno Príncipe. Este ser, que deixou o asteroide B 612, para visitar a Terra, pousou no deserto do Saara e se encontrou com Antoine de Saint-Exupéry, justamente quando, solitário, tentava resolver uma pane no motor do seu avião, sobre uma imensa duna arenosa perdida no meio da África. O estranho personagem entabula uma conversação com o aviador, e desse encontro vai surgir O Pequeno Príncipe, obra máxima de Antoine de Saint-Exupéry, que encanta a todos os que o leem, independente de suas idades. O Pequeno Príncipe, publicado em abril de 1943, nos Estados Unidos, completou 80 anos.  

         Esta obra de extraordinário sucesso, traduzido em diversos idiomas, conquistou o mundo. Presente em centenas de países pelos cinco continentes, é atualmente o segundo livro mais lido, depois da Bíblia Sagrada. Livro de cabeceira, muitos leitores fizeram dele sua leitura preferida. Alguns o consideram uma parábola, outros o tratam como um poema, ou uma narrativa filosófica. O livro traz uma reflexão sobre as relações humanas, que sensibiliza de modo particular o leitor. As diversas personagens que se sucedem na narrativa, de alguma forma, estão ligadas à vida de Saint-Exupéry. Por isso, o livro é considerado uma velada autobiografia do próprio autor.

         O Pequeno Príncipe, representado pela criança, às vezes é visto como um ser ingênuo, outras vezes inteligente, sagaz e, impertinente com suas perguntas, atinge o nível do adulto. Por isso, além de ser um livro para infantes, é também um livro para as pessoas grandes que foram um dia crianças. Percebemos isso na dedicatória que Saint-Exupéry faz a Léon Werth, um dos melhores amigos na França, onde diz:

                                                                “A LÉON WERTH

Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma pessoa grande. Tenho uma desculpa séria: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo no mundo. Tenho uma outra desculpa: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda uma terceira: essa pessoa grande mora na França, e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todas essas desculpas não bastam, eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa já foi. Tosas as pessoas grandes foram um dia crianças. (Mas poucas se lembram disso.) Corrijo, portanto, a dedicatória:

                                                            A LÉON WERTH

                                                 QUANDO ELE ERA PEQUENINO”  

 Léon Werth, seu amigo, simboliza a criança que tem fome, passa frio e necessita de consolo, no implícito cenário da guerra que se alastra na França submetida à bota do invasor nazista. Depois da queda da França, em 1940, Saint-Exupéry vai se exilar em Nova Iorque, onde, na esteira de suas experiências como piloto da Força Aérea Francesa, publica Piloto de Guerra, em 1942.  

 Instalado em plena metrópole, na badalada cidade norte-americana, vai surgir O Pequeno Príncipe. Segundo Alain Vircondelet, escritor e crítico literário francês, os editores americanos sugerem a Saint-Exupéry um novo projeto. Um deles, percebendo que quer onde estivesse, Saint-Exupéry tinha o hábito de rabiscar um garoto sobre papéis, guardanapos, ou mesmo sobre ticket de ingressos, foi quem teve a ideia de encomendar um conto para crianças, tendo em vista as proximidades das festas de Natal. E foi num lance genial que ele criou O Pequeno Príncipe, um livro para crianças e para os adultos que um dia foram crianças.

 

POR TEOMAR BENITO CERETTA, ESPECIAL PARA ACADEMIA CENTRO SERRA DE LETRAS.

Christiane Barbosa para Jari Schirmer.

Jary Imortal - 18/11/13

Lendo recentemente uma pesquisa feita pelo canal Discovery Kids  assustei-me com os números: atualmente mais de 85%  das crianças só deslocam-se de carro e/ou afins e geralmente com a companhia de um adulto. Já 88% dos pais entrevistados disseram que costumavam brincar na rua e 77% deles iam para a escola a pé. Outros tempos... Por medo da violência, nossos filhos andam enclausurados. Por conta da tecnologia, nossos filhos relacionam-se com os amigos por meio de celulares e computadores. Quais alternativas poderiam existir para reverter ou atenuar essa situação?  O que poderia ser feito para  que as crianças de hoje  abandonassem o sedentarismo e  voltassem a correr nos jardins,  a fazer seus próprios brinquedos, a aprender a importância do trabalho em equipe,  a vencer desafios, a sentir o suor escorrendo no rosto e  a vivenciar a deliciosa sensação de tomar um banho de chuva???

Em  1967 Jary Schirmer  já tinha a resposta...Fundou em Sobradinho o Grupo Escoteiros Aimoré, tendo deixado marcas indeléveis em todos aqueles que viveram tão inesquecível experiência. Após  alguns tempo  com as atividades suspensas,  há cerca de dois anos  reacendeu-se, em nossa cidade, a chama do escotismo  para que novas gerações pudessem usufruir de um movimento tão antigo e ao mesmo tempo tão atual e urgente. Logo, uma sociedade que conta com homens com a visão, a sensibilidade e a cultura   do eterno ‘chefe’ Jary não precisa temer as pesquisas porque homens assim revertem as estatísticas. Muito mais do que ter nascido e existido, Jary Schirmer VIVEU plenamente sua rica existência porque marcou , criou, fortaleceu, construiu , ensinou e inspirou, tendo vivido com a lucidez de poucos e a dose de  excentricidade dos gênios até o dia em que a doença o derrubou pela primeira e última vez, em um corpo cuja saúde física e a intelectual confundiam-se.  Afinal, Jary Schirmer era sábio porque era são ou era são porque era sábio?

Foram inúmeras marcas que deixou em nossa comunidade.   Quão orgulhoso sente-se o município de Sobradinho por filho  tão valioso. Ás vésperas da abertura da Feira do Livro, vale ressaltar que era na leitura incessante dos mais diversos temas que Jary Schirmer aprofundava sua cultura e aplacava momentaneamente  o apetite voraz pelo saber. Sua falta será sentida também na Academia Centro Serra de Letras uma vez que em qualquer lugar e a qualquer tempo a ausência de um homem culto e sensível é uma perda irreparável. 

Não se concebe a morte para quem  plantou sementes que por muitos e muitos anos ainda florescerão...Cruzaremos inúmeras vezes ainda  com o ‘professor’ Jary sempre que, em alguma esquina da nossa cidade, nos depararmos com uma das  tantas heranças  deixadas por esse homem de cepa rara. Ironicamente, é justo no momento em que  Jary Schirmer  depara-se com a morte que torna-se definitivamente  imortal no coração de todos nós.

Hélio Scherer para Narciso 24-9-2014


Narciso:

és o inverso

do Narciso grego,

o mais famoso do universo.

Teu apego não é teu ego, 

nem tua beleza exterior.

Tua grandeza 

é o amor, 

a tua bondade,

a tua dignidade 

a tua riqueza

e o teu interior.

Nilo, grandioso como o próprio rio, 

de cujas águas o profeta surgiu

para dizer alto e em bom som:

“este é Narciso Nilo Sebastiany,

não é nenhum Sansão,

mas emergiu de um leito profundo,

e veio a este mundo,

para que você o ame”

Apresentação


Quem de fato conhece Juscelia Teresinha Da Cas Prade? Creio que poucas pessoas têm este privilégio. Aquela guerreira, desde menina, criada lá entre os morros de Lageado da Gringa, em Ibarama, é capaz de se transformar na mais doce criatura quando alguém precisa da sua solidariedade, do seu carinho, da sua ajuda. Aquela mulher que, se necessário for, diz palavras duras, também sabe pronunciar as mais ternas expressões quando o ambiente é acolhedor e o tema é amor. 

A Juscelia, batalhadora no convívio com seus pais e outros 12 irmãos, continuou a zelar por eles quando aos 15 anos partiu para trabalhar e estudar em Santa Maria.  Por longos anos, entre idas e vindas à sua terra, encontrou tempo para ajudar seus familiares e estudar, preparando-se para a vida. Vida de muita luta e sacrifício, enfrentando muitas barreiras, superando quase todas, ultrapassando até mesmo os seus limites e eis que neste transcurso ainda destinou tempo para domar as palavras, aproveitando os momentos de insônia, pelo cansaço e preocupação.

Quem conhecia Juscelia superficialmente, surpreendeu-se com seu lado poético, sua veia artística, sua capacidade de escolher e colocar no lugar certo palavras que tocam a alma da gente. Assim, modestamente, ela lançou seu primeiro livro no Clube Dores, em Santa Maria, e passou a integrar a Associação Santamariense de Letras, hoje Academia. E após um período em que retornou a Ibarama para dedicar-se aos filhos e ao trabalho, Juscelia é convidada a integrar um grupo de escritores da sua região para criar a Academia Centro Serra de Letras. E partiu da autora, a sugestão de ser editada uma coletânea, concretizada através do Livro Vertentes publicado em 2011. Hoje, membro dessa Academia, após um acidente, enquanto todos seus familiares e amigos se preocupavam com a sua recuperação, Juscelia novamente surpreende a todos, aproveitando seus longos dias de repouso, na casa de familiares em Santa Maria, para escrever e reunir seus “guardados” e decide lançar “Nossa casa, nosso cárcere, nossa liberdade”. 

Não vou falar especificamente sobre algum dos textos, pois sei que todos possuem um significado especial para Juscelia. E, no momento, é isso o que importa. Mas garanto que ao ler atentamente este livro, certamente vai conseguir entender e conhecer melhor sua autora. O próprio nome “Nossa casa, nosso cárcere, nossa liberdade” já sugere muita reflexão. 

Desejo-lhe uma boa leitura e que a nossa amiga Juscelia continue surpreendendo positivamente a todos nós, com sua personalidade ímpar e os seus poemas.


Hélio Scherer

Jornalista e escritor - Presidente da Academia Centro Serra de Letras.