ESCRITAS DE CORRESPONDENTES

GUIMARÃES, Rafael Eisinger; SCHERER, Larissa. A manifestação de um pensamento liminar pampeano no conto “El sur”, de Jorge Luis Borges. Agalia: revista de estudos na Cultura. Santiago da Compostela, nº 112, p. 25-39, segundo semestre de 2015. Disponível em: https://agalia.net/Agalia/112.pdf. Acesso em: 03 nov. 2021.

Teomar Benito Ceretta

             MINHA   SOLIDÃO

 

 

                          Hoje, a noite está mais escura,

                                   as horas custam mais a passar.

                                Hoje, já não vislumbro a brancura

                                   da areia fina na praia do mar.

 

                        Hoje, a brisa não sopra com a frescura

                        que há muito, neste quarto, vinha soprar.

                        Hoje, em meu coração, já não há brandura,

                        só há tristeza e vontade de chorar.

 

                                Sim, hoje tudo para mim é diferente;

                                mas esta mudança que há no meu ser

                                já, por certo, você não a  sente ...

 

                         Sim, você não sente, pode crer,

                         porque você é tão indiferente,

                         já não me ama, e isso me faz sofrer.

 

                               (Porto Alegre-RS, 30.10.1962).

 

 

 

  

 

 

F E L I C I D A D E

        

Inicialmente, devo esclarecer que a felicidade é um estado de espírito ou de alma, através do qual a pessoa se sentirá alegre, tranquila, bem-disposta, saudável, amistosa, etc., e disponível a fazer o bem sem olhar a quem.

         Enfim, reflete bem-estar e despreocupação.

         A pessoa pode ser, ou apenas, estar feliz. Qual a diferença entre ser e estar feliz?

         Por exemplo: receber uma notícia sobre algum fato importante acontecido, te deixa feliz, até que tal fato deixe de ser importante ou já não exista mais. Nesse caso, a pessoa está feliz momentaneamente.

         Agora, se esta pessoa, costumeiramente, ajuda a seu próximo a fazê-lo feliz; promove o bem-estar dos seus familiares, dos amigos, dos conhecidos, enfim, do público em geral, ela é feliz, pois tal felicidade é permanente em sua pessoa e não passageira.

         Para ser feliz alguém deve possuir virtudes; não ter defeitos nem mau comportamento; não causar incômodos, tristezas, prejuízos, nem mal-estar a outrem. Não fazer nada que sua consciência possa desaprovar ou lhe causar vergonha.

         Logo, a angústia, a preocupação, a ira, a falsidade, a inveja, o egoísmo, ou tudo o mais que caracterize um dos pecados capitais, não lhe permitirão ser feliz. Mas, momentânea e ocasionalmente, lhe permitirão estar feliz.

         Então, faça um exame de consciência e, ao final, responda: você é feliz, ou às vezes, está feliz?

 

LCLB 02.03.2021.

 

 

 

 

 

 

F A T A L I D A D E

 

Já dizia um poeta “quantas vezes me viste sem te eu ver, e quantas vezes te vi sem tu me ver”...

O mundo é assim, singelo, mas cruel. Impedindo, muitas vezes, que dois olhares se cruzem e façam acender a chama do amor.

Ora, se me visses quando te vi e se eu te visse quando me viste, por certo nosso destino teria mudado, e esta solidão que hoje me cerca, seria trocada pelo convívio de dois eternos amantes.

Nada é como se deseja, nada vem com facilidade. Tudo é difícil de se ter, tudo só chega atrasado, ou tarde demais.

É a dura lei do universo. Por isso que estou falando em prosa e não em verso.

 

LCLB 22.11.2019

 

  

 

FATALIDADE OU LEI DO RETORNO

 

Longe ou perto.  Agora ou daqui há pouco.... Tudo é questão de momento, isso te asseguro como certo.

Nada acontece por acaso, nada vem sem uma razão. Aquilo que nos é destinado, nos chega sem qualquer explicação.

Ser feliz ou padecer sofrimento, é-nos impingido como prêmio ou castigo, pois apenas colhemos, neste mundo, aquilo que outrora plantamos.

Assim, não há que falar em injustiça divina ou castigo diabólico. Somos os semeadores daquilo que iremos colhendo no desenvolver de nossa existência.

Sem piedade nem clemência.

No meu caso, por exemplo, venho de muito longe, venho de outros tempos. Tenho na memória saudade de algo, não sei bem o quê.

Meus atos de hoje refletem aquilo que já passei. Fui rei ou fui mendigo? Isso eu não sei. Só sei que tenho a alma e a consciência tranquilas, pois meu viver sempre foi límpido como a água de um manancial que brota do fundo da terra.

Tive, com certeza, uma conduta de um ser humano reto, honesto, sério e honrado.

Hoje, assim, posso olhar todos de frente e com altivez, pois nada devo, nada temo, nem hoje nem no meu passado.

LCLB 22.11.2019

 


 

 

ENTRE A CHEGADA E A PARTIDA

Cheguei neste mundo apenas ontem: e amanhã já estarei de partida.

Somente hoje eu estou aqui para conhecer o mundo, para saber de suas belezas, de suas aflições, de seus problemas, de suas maldades, enfim, de tudo que aqui acontece. De bom ou de ruim.

Hoje, apenas hoje...

Ajuda-me a ajudar a salvar parte deste mundo. Ajuda-me a angariar amigos do bem e que estejam dispostos a tirar sua própria camisa para minimizar os males de alguém necessitado.

Vamos em frente...

Amanhã já será muito tarde, ou, como dizia José Ingenieros, o grande pensador ítalo-argentino: “amanhã é mentira piedosa com que se ilude vontades moribundas”.

Então? A vida é o bater de nossos corações.

Vivamos o hoje com nossa pureza de criança, com o amor que Cristo nos mostrou e nos recomendou.

Vamos amar ao próximo como nós mesmos nos amamos. Assim nos será mostrado o caminho da verdade, do amor e da vida. Assim, nós encontraremos o caminho luminoso para o Reino dos Céus.

O hoje é certo, o amanhã só Deus sabe se existirá para mim ou para ti.

Hoje... não amanhã!...

LCLB 25.02.2021.

 

 

                                                                                        SAUDOSA INFÂNCIA

 

Quantos anos já se passaram

Da minha doce e pura infância?

Bons momentos que lá ficaram

E que hoje se perdem na distância.

 

Hoje, já desse tempo muito longe,

Me resta apenas a amarga saudade

Que vem torturar a todo o instante,

Lembrando de onde nasci; a cidade.

 

Cidade onde nasci e me tornei infante.

Me trazendo à lembrança a pouca idade

Quando o que mais queria era ser galante

E conquistar lindas meninas.  Ah mocidade!

 

Lembranças de onde vivi com alegria

Minha feliz e doce mocidade,

Meus amigos leais do dia-a-dia,

Sem preocupações e fora da realidade.

Tudo era motivo de gratidão

Tudo era ali só motivo de prazer,

Tempo que se perdeu na imensidão

E deixou-me só e triste para morrer.

 

LCLB – 21.11.2019.

 

Giana Diesel sebastiany

Fragmentos de Vida

 

Giana Diesel Sebastiany

 

Fragmento 1 – A energia que se renova

Existe um cantinho, bem perto do mar...

É um pedacinho do paraíso ao qual, todos os anos, posso voltar!

Quem descobriu e reservou esse lugar para a nossa família foi o meu pai. Nós dois compartilhamos do mesmo amor por ele.

Quando venho para “nosso cantinho” minha vida parece assumir uma nova face: mais leve, mais tranquila, mais feliz!

Existe uma energia envolta de amor, que se expande do coração dos meus pais! Eles passam o ano todo cuidando, mesmo que de longe, do nosso lugar tão mágico! Assim, sempre que sentimos necessidade, ou simplesmente vontade, só precisamos arrumar as mochilas e seguir para lá...

Caminho todos os dias sentindo o cheiro do mar, o calor do sol, a areia nos pés...

Olho para o mar e suas ondas que levam e trazem a mesma água, mas que nunca é a mesma...

Assim como eu! A mesma de mim volta todos os anos, mas, nunca é a mesma!

Depois de passar uns dias ali, sinto minha energia renovada, vivificando a minha imaginação quando estou distante e só consigo voltar a esse lugar através dela.

Como é bom ter um cantinho especial, uma rota de fuga, um lugar onde o tempo não passa na mesma velocidade do meu dia a dia.

Mais uma vez, estou aqui! Lavando a alma e os pés, no doce vai e vem das ondas!

 

Fragmento 2 – Encarando a adolescência

Ontem me peguei rindo, muito feliz, por ver meu filho adolescente entrando no mar! Fiquei maravilhada por reconhecer um pouco da “normalidade” da minha adolescência na dele.

Fico inquieta com as estranhezas de uma adolescência tão diferente da minha. Primeiro, ele é menino: nem tudo que acontece com ele aconteceu comigo e vice-versa.

Outro fator que nos diferencia muito é que eu cresci com dois irmãos, muitos primos e uma porção de amigos. Meu filho não tem irmãos, mora longe dos primos e, às vezes, parece se relacionar melhor com os amigos virtuais do que com os amigos da escola. Enfim, o mundo é outro...

Tento levar numa boa as “esquisitices” dessa fase, onde qualquer elogio meu pode provocar uma reação negativa! Nessas horas, digo que ele vai se apaixonar por uma pessoa radical, raspar os cabelos e andar enrolado em lençóis...

Não que isso me incomode! Quero que ele, de fato, seja capaz de se apaixonar por pessoas, por lugares, pela vida!

Sonho, como toda a mãe, que ele tenha amigos verdadeiros, capazes de se reconhecerem pelo olhar, pelos gestos (como eu sempre tive). Tenho medo do quanto o “mundo virtual” possa estar “roubando” de suas boas experiências. Experiências que nos fazem crescer...

Também tenho medo de ser saudosista demais (“no meu tempo é que era bom”), pois cada tempo é o tempo que se tem e só ele pode ser vivido, experenciado e resignificado.

Posso contar sobre a minha adolescência ao meu filho (o que, com certeza, ele acha muito chato), mas ele não irá vive-la. Ele viverá o que lhe cabe, como filho único e “hiperconectado”.

Porém, ainda assim, vou continuar insistindo em trazer sua “alma adolescente” para a vida cotidiana (não virtual), onde sofrer, amar, sonhar e se indignar fazem parte do vir a ser!

 

Fragmento 3 – É estranho poder escrever!

É estranho poder escrever sobre as coisas que penso e que fervilham nas curvas do meu cérebro inquieto! Digo que é estranho, porque é possível fugir das amarras da cientificidade e da exigência de escritas bem elaboradas, fruto de pesquisas coerentes e estruturadas.

Sei que também posso fazer isso! Fiz especializações, mestrado, doutorado, várias pesquisas e escrevi artigos científicos.

Entretanto, sou muito mais feliz longe das amarras, num universo paralelo, onde nem sempre a regra é o que importa.

Importa, mesmo, a emoção expressa nas palavras, que vão brotando numa onda criativa e que precisam falar algo para mim mesma, antes de falar aos outros!

Fragmento 4 – Sim, eu sou feliz! Não, a minha vida não é perfeita!

No mês passado, comprei uma camiseta com a frase: Sim, eu sou feliz! Não, a minha vida não é perfeita! Creio que ela me define, nesse momento.

Sou feliz! Algumas vezes mais, outras menos, entretanto, nunca deixo de sê-lo.

A busca frenética pela perfeição nos torna reféns de desejos que podem não ser nossos: o corpo perfeito, o trabalho perfeito (ou melhor, o ócio perfeito), a bolsa perfeita, o cabelo perfeito, as férias perfeitas, o casamento perfeito, a família perfeita, o carro perfeito, a viagem perfeita...

Essa perfeição, enquanto meta, nos aflige e nos faz ignorar a beleza e os desafios do inesperado, do possível, da imperfeição da vida!

Durante anos, quando viajava, era mais uma dessas pessoas que carregam máquinas fotográficas, filmadoras, celulares e toda a parafernália necessária para registrar tudo! Tentando não perder nada da viagem perfeita, por detrás das lentes que prometem eternizar o momento, por vezes me sentia perdendo tudo!

Como é possível encontrar o melhor ângulo da fotografia, durante um “tour” e, ao mesmo tempo, observar as ruas, as casas, os sons, os cheiros e alguns detalhes de imperfeição que tornam os lugares únicos?

Em um determinado momento, decidi viajar mais leve...

Não preciso prestar contas de cada segundo da minha “viagem perfeita” para os outros. Posso torna-la imperfeita e inesquecível para mim. É claro que ainda quero registrar momentos, mas não somente em fotografias. Quero registrá-los em mim, como instantes e lugares aos quais posso voltar em minhas lembranças. Cada um com suas peculiaridades e marcas!

Aproveitar a oportunidade de educar o olhar na imperfeição cotidiana é o que nos ensina a valorizar o que está ao nosso alcance. Assim, a angústia diminui e as conquistas se tornam belas pelo que representam: esforços cotidianos de uma vida imperfeita e inacabada.

Fragmento 5 – A Paz

A paz, que vem da imensidão do mar, não discrimina! Qualquer pessoa pode sentar na areia, olhar o infinito, sentido o som, as cores e o movimento das ondas. No entanto, é preciso que haja uma pequena abertura na armadura que vestimos todos os dias, para sentir, de fato.

É possível falar da paz, mas comunga-la com o universo é diferente...

Requer reconhecer a pequenez e a grandeza da nossa existência. Requer despir-se da arrogância de sermos os “donos da verdade”. Requer conectar-se com as incertezas e não as temer.

Hoje escrevo sentada na areia, diante do mar. O vento agita o meu caderno, o meu cabelo e parece varrer o medo que estou tendo de voltar ao “mundo real”.

Logo o mar vai se tornar uma lembrança, até nosso próximo encontro.

Espero levar comigo o tanto de paz que vim buscar. Espero tê-la estocado por debaixo da armadura que precisará ser vestida nesse mundo real. Mundo, esse, onde as decisões devem ser rápidas, coerentes e bem fundamentadas; onde o dia a dia exige uma organização e uma rotina capaz de nos manter com lucidez e competência, além de uma pitada de alegria (que, no meu caso, é indispensável!).

Sei que a beira da praia continua lá, a minha espera, democrática, livre, pronta para me fazer feliz! Ela não é de ninguém e é de todos que tem o privilégio de apreciá-la!

Fragmento 6 – Elis e eu

Eu quero uma casa no campo

Onde eu possa ficar no tamanho da paz

E tenha somente a certeza

Dos limites do corpo e nada mais...

Eu quero o silêncio das línguas cansadas

Eu quero a esperança de óculos

E meu filho de cuca legal...

Eu quero uma casa no campo

Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé

Onde eu possa plantar meus amigos

Meus discos e livros e nada mais

Sempre que ouço essa música, cantada pela Elis Regina, os versos que destaquei pareciam revelar muito do que traduzo como felicidade. Ficar do tamanho da paz é algo difícil de atingir, mas nos momentos que conseguimos, somos tomados de uma satisfação profunda – comunhão com o universo.

Usufruir do silêncio, ter esperança (mesmo nos momentos difíceis), saber que o filho tem uma cuca legal são verdadeiras riquezas nas nossas vidas.

Eu procuro ver a esperança com óculos que a trazem mais para perto e sonho que o meu filho possa fazer escolhas decentes em sua vida, sem prejudicar os outros e buscando a sua paz.

Querer uma casa no campo eu ainda quero! Mas posso dizer que já conquistei um espaço especial, para viver. Lá eu posso guardar meus amigos (nossas fotografias e lembranças), meus livros e discos (mesmo que a grande maioria transformada em mp3). Quando temos nossos amigos, discos e livros, o que nos falta?

Jamais estamos sozinhos...

Podemos viajar em lembranças, sonhar velhos sonhos, conversar com desconhecidos. Esse é o prazer da leitura!

Cada vez que entro no meu canto, ouço Elis cantando e, mesmo reconhecendo que não é de pau a pique e sapé, é o meu lugar da paz, onde meu mundo se alarga e não encontra horizontes.

Fragmento 7 – E por falar em avós

Hoje estive pensando nos modelos de avós. Nas histórias infantis, elas geralmente são gordinhas, risonhas e fazem coisas gostosas para os netos comerem.

Pois eu tive uma avó assim! Tive, não, tenho! Ela não consegue mais fazer pão enrolado com canela e açúcar, nem geleia de laranja, mas ainda faz carinho na minha cabeça; mesmo que, em algumas vezes, nem lembre muito bem quem eu sou!

Eu, também, tive uma outra avó muito especial! Ela não fazia doces, nem andava pela casa com um avental de cozinha. Porém, todos os dias, chegava em casa e tirava o avental de enfermeira, colocava-o no tanque, tomava um banho e sentava numa poltrona, onde eu me espremia (enquanto deu) para sentar com ela.

Essa vó me ensinou tantas coisas preciosas, que somente agora, olhando para trás, eu consigo dar o devido valor e acabo reconhecendo, em mim, muito dela mesma. Ela me ensinou a "botar o lobo para correr" sempre que fosse necessário ou que eu quisesse. Ela me ensinou, ainda, que os nossos sonhos podem ser conquistados, com trabalho e perseverança. Me disse que as mulheres "podem tanto quanto os homens", mas que somente elas passam pelo fascínio e a dor do parto!

E quantos partos ela acompanhou...

Talvez dez ou doze mil... Muitos afilhados.... Muito trabalho.... Muitos compromissos...

E, tempo para tirar o avental ensanguentado e levar a neta ao colégio, de carro, porque ela não queria caminhar alguns quarteirões!

Minha avó, Hulda Augusta Muller Sebastiany, estaria hoje de aniversário. E, tenho a certezas que, se pudesse, me levaria para dar uma volta de carro. Ela adorava dirigir e dizia que a independência da mulher é ter uma carteira de motorista.

Minha avó também foi vereadora e Presidente da Câmara Municipal de Vereadores, onde todos os outros colegas de casa, eram homens.

Entretanto e, mais importante que tudo para mim, ela foi minha vovó e também fez carinho na minha cabeça! E, a lembrança da mulher forte, decidida e vó, minha vó, permanece comigo todos os dias!

(Escrita no dia de aniversário da minha avó Hulda, quando eu ainda tinha a presença física na minha avó Chica).

Fragmento 8 – Aos meus alunos

12 de abril de 2020.

Meu Querido Aluno

Começo a escrever-lhe pedindo eventuais desculpas pelo tom, por vezes, piegas. Hoje é Páscoa! Para cristãos ou não, diante de tantos desafios mundiais, tempo de reflexão, de transformações e de renascimento.

Para vocês, jovens e esperançosos de um mundo melhor, digo não desistam (eu nunca desisti), embora alguns enalteçam o entusiasmado juvenil e digam que com o tempo se transforma e endurece olhares!

A vida está renascendo em muitos gestos de solidariedade, de empatia e de generosidade, o que nos faz acreditar na humanidade. Estamos todos assustados, desestabilizados, com medo.

Não conhecíamos um mundo com tantos limites, onde países pobres e grandes potências caem de joelhos ante à fragilidade da vida humana!

Temos medo daquilo que não conhecemos e não conseguimos prever! Vocês estão com medo e nós professores também estamos. Queremos acertar, queremos guiá-los, queremos, mais que tudo, nos conectar.

Como diz Pablo Neruda, queremos sem pressa, com calma, tocar as suas almas! Sabíamos fazer isso com nossos olhares atentos, com a observação dos silêncios, das falas e dos gestos de vocês!

Enquanto tentamos desesperadamente aprender a lidar como nossas limitações tecnológicas, estamos desaprendendo e aprendendo, junto com vocês, novos jeitos de sermos educadores.

E, em meio a tantas incertezas, talvez a única com a qual vocês possam lidar é essa: a certeza do quão são importantes para nós; do quanto só nos sentimos completos sabendo que estão conosco; do quanto estamos dispostos a aprender sempre, desde que vocês sejam a nossa motivação e desafio!

Que nessa Páscoa, diferente e especial, possamos “raspar nossas tintas” e “nos pintar de novas cores” (Rubem Alves): cores da honestidade, cores da cooperação, cores da lealdade e do profundo compromisso em aprender sempre!

Apesar dos medos compartilhados, vocês nos sentirão sempre ao lado, procurando provocá-los para que encontrem o melhor de si!

Acreditem em seus professores, assim como acreditamos em vocês. Tudo vai passar! E, quando passar, jamais seremos os mesmos!

Seremos muito melhores, pois estaremos juntos! Feliz Páscoa!

Fragmento 9 – Gratidão 1

Hoje estava lendo o livro das últimas crônicas de Oliver Sacks e refletindo sobre a sabedoria da gratidão. Nos últimos meses de sua vida, tendo a clareza do diagnóstico de uma doença terminal, ao invés do rancor, do sentimento de injustiça, ele cerca seus textos de gratidão.

Gratidão pela vida vivida, pelo amor sentido, pelo trabalho feito, pela partilha e pela certeza de completude e permanência, a partir daqueles com os quais compartilhou seus preciosos momentos: cada um deles e todos eles...

Isso me fez pensar naquelas pessoas que passam uma vida inteira contaminadas pelo sentimento de injustiça perante os percalços com os quais se deparam e, com a vista embaçada pelo rancor, perdem as inúmeras possibilidades de amor, de partilha, de crescimento, enfim, de gratidão para com o que há de mais sagrado: a possibilidade de viver e de sentir!

Enquanto lia Sacks, refletia sobre o quanto eu me sinto grata pela minha vida! Com certeza não sou “Poliana” e também me sinto extremamente afetada pelos acontecimentos diários que nos entristecem e nos fazem questionar a racionalidade humana.

Entretanto, percebo que muito mais agradeço do que alimento o rancor.

Agradeço o amor que sinto pelas pessoas (e a capacidade de senti-lo). Agradeço os momentos de contemplação que a vida me proporciona (aqueles momentos em que, diante de algo tão lindo, perdemos as palavras e transbordamos a alma). Agradeço o trabalho e, com ele, a oportunidade de fazer a diferença (mesmo que pequena) no mundo em que vivo. Agradeço a oportunidade de sentir cheiros, de contemplar o céu, de tocar a grama com os pés descalços, de deixar o vento levar os meus sonhos...

Quando era criança, brincava com uma plantinha (que chamávamos “vovozinha”). Soprava a vovozinha e seus cabelinhos brancos voavam soltos levando beijos e recados a pessoas distantes. Se hoje soprasse uma “vovozinha” pediria que ela levasse, aos quatro cantos do nosso mundo redondo, a minha imensa esperança e gratidão!

Fragmento 10 – Gratidão 2

Gratidão! Terminar o ano com esse sentimento me torna mais leve. Hoje refleti sobre os vários motivos que me fazem sentir-me grata e lembrei dos muitos abraços verdadeiros, recebidos dos amigos! Quanta energia boa! Lembrei dos sorrisos, das escutas, das risadas, da ansiedade compartilhada, da incrível sensação de não estar só! Agradeço ter vivido todos esses momentos, tão verdadeiros, tão cheios de vida que vale a pena ser vivida!

Minha gratidão, também, pelos momentos de medo, de insegurança, de tristeza, de incompreensão. A imperfeição da vida nos ensina sempre e nos faz mais gratos pelo aprendizado do convívio com o outro!

Gratidão pela minha família, pelos meus amigos (de perto e de longe), pelas pessoas que passam pela minha vida todos os dias! Gratidão pelos que sonham comigo e que acreditam que o mundo possa ser melhor! Gratidão pelos que não acreditam e que me fazem trabalhar em dobro!

Nesse ano, lembro de muitas palavras que ouvi nos momentos que precisava, lembro de muito carinho recebido, lembro de muito trabalho partilhado e compartilhado, lembro da alegria da viagem em família, lembro do encontro com pessoas e momentos especiais!

GRATIDÃO! GRATIDÃO! GRATIDÃO!

Assim termino mais um ano e começo o seguinte!

 

GIANA DIESEL SEBASTIANY

Professora universitária, especialista em educação especial, em metodologias do ensino e em gestão hospitalar; mestre em educação e doutora em desenvolvimento regional. Escritora homenageada na Feira do Livro de Sobradinho, como distinção pela escrita de seis livros infantis. Mas quem sou eu? Uma pessoa inquieta, curiosa e feliz! Sou a menina que estudou, do jardim da infância ao quarto ano, na Escola Lindolfo Silva e depois, até o final do Curso Magistério na Escola Copetti, em Sobradinho. Sou a menina que lia todos os livros da Biblioteca Monteiro Lobato. Sou a menina que cresceu incentivada por uma família amorosa e por professoras (es) que acreditavam no poder transformador da educação! Assim como aprendi a gostar de ler, aprendi a gostar de escrever. “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”, já disse Fernando Pessoa. E, enquanto os tiver, quero compartilha-los com outros sonhadores!


Texto do membro Giancarlo Montagner Copelli para o jornal A Vírgula, de Vitória (ES)

a-virgula_#81_19-nov-2023.pdf