O entendimento de forma geral é que as ações de sustentabilidade geram custos altos, entretanto ainda é lenta a percepção de que os custos das consequências do não investimento em ações preventivas e melhorias de gestão é ainda maior. A responsabilidade de um gestor de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde - Responsabilidade Social (QSMS-RS) e Sustentabilidade vai além das ações internas, principalmente, ao analisar o valor da imagem de uma empresa e o quanto ela pode ser desgastada diante de um grande acidente ambiental, ou perante os altos custos de afastamento de trabalhadores por acidentes de trabalho, ou, ainda, pelo prejuízo financeiro pela falta de qualidade dos produtos entregues ao mercado.
Ao pontuar a gestão da saúde e segurança do trabalhador, temos que associar aos custos das ocorrências a percepção e a influência destas aos demais colaboradores não envolvidos e suas consequências psicológicas. Acidentes de trabalho podem ser fatais ou causar mutilações e, quando acontece, o fator psicológico dos colaboradores é afetado bem como toda a sua produção.
É fundamental que o gestor de QSMS-RS não se deixe levar pela complacência e abra exceções em diferentes casos. O controle das exceções em uma atividade com 200 ou 2000 colaboradores acaba por tornar-se insustentável, principalmente, quando prazos e metas não são atingidos. Não é que o gestor deva ser a pessoa mais amada ou mais odiada, mas deve ser a mais consciente e cumprir o que lhe foi delegado pela organização, principalmente no que diz respeito à proteção da vida e do meio ambiente. Essa é sua função, e abrir exceções é não cumprir a função adequadamente, quebrar as regras que garantem o bom andamento dos trabalhos e implantação da cultura de segurança e sustentabilidade na empresa.
Roche (2017) relata um acidente de vazamento de H2s - sulfeto de hidrogênio ou gás sulfídrico, também chamado de assassino silencioso, por não apresentar odor e ser altamente inflamável, considerado um dos mais temidos agentes de riscos encontrados em alguns campos de petróleo.
Em um final de semana, a manutenção de uma empresa identificou defeito em uma válvula em uma estação transferência de produto e, a equipe que estava deixando o turno decidiu verificar sem autorização de permissão de trabalho, devido à pressa em sair. Não houve preparação, uso de EPI e conhecimento dos procedimentos de segurança a serem aplicados à ocorrência e, ainda com a liberação do gestor de segurança que “só dessa vez”, autorizou a verificação sem o cumprimento dos procedimentos padrões.
Ao chegarem ao local, o primeiro trabalhador desceu em um espaço confinado para verificação do problema da válvula e desmaiou. Na intenção de resgatar o companheiro, desceram o segundo, o terceiro e assim sucessivamente até o quinto membro da equipe, sem sucesso. Ninguém deu o alerta e, somente após o quinto homem ter descido, o ultimo membro assistindo à situação, não desceu e chamou a emergência.
A equipe de resgate não tinha treinamento para esse tipo de ocorrência, mas muito boa vontade em ajudar. O regaste do único homem com vida foi feito com máscaras, entretanto, ao retirá-lo do espaço confinado lhe deram água o que resultou numa reação ácida na garganta do indivíduo que também faleceu. Destaca-se que a mistura H20+H2s =ÁCIDO e nunca poderia ter acontecido. Os acontecimentos foram esclarecidos por meio da investigação do acidente, que também detectou que a válvula com defeito já tinha dado problemas antes e o pessoal da manutenção não colocou o problema no rol de prioridades ficando para depois.
Procedimentos e normas de segurança devem ser redigidos. Pessoas morrem, sofrem mutilações, ou outras danos por falta de procedimentos claros, treinamentos e conhecimentos das normas de segurança, principalmente, de suas especificidades.
Diante do fato, chamamos atenção para a reflexão: Quanto vale uma vida humana? Quanto custou este acidente à imagem da empresa? O quanto as nossas ações ou omissões podem interferir ou mesmo ser agente causador de um acidente? Qual o seu nível de responsabilidade nas ocorrências do seu ambiente de trabalho? Você poderia alterar resultados ruins ou contribuir para melhorar ainda mais os bons?
REFERÊNCIAS
ROCHE, Roberto. Complacência mata! 2017. Disponível em: <https://sustentahabilidade.com.br/complacencia-mata/>. Acesso em: 24 abr. 2023.
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Você aprofundou ainda mais seus estudos!