Em 19 de outubro de 2016, foi realizado o I Simpósio Temático Arquivos & Educação, dentro das atividades do VII Congresso Nacional de Arquivologia (CNA), em Fortaleza, Ceará. Após o evento, publicamos um livro digital com os trabalhos apresentados.

I Simpósio Temático Arquivos & Educação

Coordenação

Adriana Carvalho Koyama

Ivana Parrela

19 de outubro de 2016, de 13 a 17hs

O conjunto de trabalhos produzidos para debate e apresentação no I Simpósio Temático Arquivos & Educação, realizado como evento paralelo do VII Congresso Nacional de Arquivologia, em Fortaleza (CE), de 17 a 21 de outubro de 2016, foi bastante significativo. O evento fortalece a educação e(m) arquivos como um campo de investigação plural, multidisciplinar e em construção. Abre, ainda, um espaço para o debate sobre essa temática, compreendendo que a educação em arquivos é uma prática, de certo modo, antiga nos arquivos públicos, mas com poucos espaços para reflexão sobre suas experiências, métodos e referenciais teóricos.

A sala esteve lotada durante todo o Simpósio, com a presença de cerca de trinta professores e arquivistas de universidades e arquivos de todas as regiões do país.

Foram apresentados os seguintes trabalhos:

  • ·EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: estudo de caso das experiências educativas realizadas no Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, de Gabriella Diniz Mansur, do Arquivo da Cidade de Belo Horizonte.

  • EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E ACERVOS DIGITAIS: discutindo a preservação da História e Memória Afro-Brasileira, de Francisco Sávio da Silva; Anicleide de Sousa; Josilene Pereira Pacheco, da UFPB.

  • EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: conversando sobre patrimônio e cidadania no Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro, de Tarsila Mancebo-Carneiro; Priscila Ribeiro Gomes; Luiza Angélica Lisboa Pinto, da Unirio.

  • OS ARQUIVOS PÚBLICOS E A SUA DIMENSÃO EDUCACIONAL, de Tiago Braga da Silva, da UFES.

  • USUÁRIOS E ARQUIVOS: problematizando as mediações, de Eliane C. F. Rocha, da UFMG.

  • DIFUSÃO CULTURAL ARQUIVÍSTICA POR MEIO DE JOGOS DIGITAIS EDUCATIVOS, de Fábio L. Andrade, do Museu do Ouro de Sabará.

  • DA CIRCULARIDADE DO CONHECIMENTO: sobre a ação educativa em acervos pessoais, de Elly Rozo Ferrari, do IEB/USP.

  • ENSINO EM ARQUIVOLOGIA: análise dos cursos no estado da Paraíba, de Isaac Newton Cesarino Da Nóbrega Alves, Dulce Elizabeth Lima De Sousa E. Sousa, da UFPB.

  • INTERROGAÇÕES SOBRE EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO EM ARQUIVOS, de Adriana Carvalho Koyama, da Unicamp.

Um único trabalho, entre os inscritos, não foi apresentado por sua autora, por problemas de financiamento: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E A CONSTRUÇÃO DE UMA CULTURA DE ARQUIVO, de Graziele E. Santorum, da UFRGS.

Os trabalhos foram resultado de experiências e pesquisas realizadas por profissionais e pesquisadores em diferentes momentos de formação acadêmica e de experiência profissional. A pluralidade de olhares, objetos de trabalho e métodos nos permite compreender que as fragilidades eventuais de cada um são minimizadas ao percebermos o movimento que o conjunto possibilita para pensarmos a educação nos e pelos arquivos. São contribuições reflexivas de profissionais de arquivo, educadores e professores de Ciência da Informação, debruçando-se sobre o tema, bem como de pesquisas acadêmicas, que, percebidas em perspectiva, expressam diálogos plurais e significativos, tanto em sua amplitude geográfica, colocando em cena experiências de diversas regiões do país, como em suas abordagens, questões, problemas e referenciais teóricos e metodológicos.

Em comum, os autores têm a busca de ampliar as formas de aproximação entre os arquivos e a educação, considerando os acervos em suas potencialidades de diálogo com os sujeitos sociais, na educação formal, não formal e mesmo informal. Em seu conjunto, os trabalhos nos convidaram a refletir sobre grandes desafios da educação em arquivos. Entre eles, a busca pelo reconhecimento da educação como área de conhecimento complexa, com contribuições significativas para a ampliação das possibilidades das abordagens educacionais em arquivos. Destacamos a interrogação sobre perspectivas de educação que ultrapassem práticas escolares prevalecentes, ligadas à racionalidade técnica, instrumentalizadas, e que possam resistir aos apelos sedutores de práticas que se espelham nas mídias para produzir atividades de consumo cultural.

As potencialidades do universo digital para a educação em arquivos são perscrutadas quanto as suas linguagens, conteúdos, desafios e singularidades. A construção de possibilidades de mediação que contribuam para a ampliação da compreensão dos sujeitos sociais quanto às especificidades dos acervos documentais foi investigada de forma multidisciplinar e rigorosa, ampliando as interrogações e possibilidades de avanço nas ações educativas de arquivos online e propondo questões significativas sobre o seu estado da arte atual. Para além dessa perspectiva digital, a mediação é percebida em abordagens de diferentes correntes teóricas e metodológicas, em áreas de conhecimento plurais.

Os movimentos plurais de significação e diálogo com as comunidades, na produção de conhecimentos relativos aos acervos documentais, estenderam-se às experiências e reflexões sobre a educação escolar, ora tomando o espaço da escola como locus de transmissão da cultura, ora como locus de produção de conhecimentos relativos ao passado.

Os trabalhos interrogam-se sobre questões e problemas relativos à formação para e pela educação em arquivos: formação dos profissionais de arquivo, formação dos sujeitos sociais que recorrem aos arquivos, seus usuários (inclusive nas interfaces virtuais), formação das crianças. Questionaram a formação necessária a pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, e, nas universidades, as potencialidades dos acervos documentais nos movimentos formativos voltados à comunidade acadêmica. Indagaram-se sobre as trocas e ressignificações que a circulação social dos acervos potencializa, em especial nas possibilidades abertas pela aproximação a educação popular, e em suas relações com as questões étnico raciais.

São um mosaico de experiências e reflexões singulares que` convidam à aproximação e ao conhecimento sobre as especificidades dos acervos arquivísticos; ao diálogo entre experiências dos sujeitos do conhecimento e patrimônio documental; à análise crítica das práticas monumentalizantes compartilhadas por museus e arquivos em sua expografia. Instigam-nos à consideração dos sujeitos singulares, com suas experiências e memórias, em seus diálogos com os acervos documentais, problematizando o lugar reservado, nas práticas tendencialmente hegemônicas, para seus usuários; à reflexão sobre as relações com a indústria cultural e suas formas de expressão incorporadas pelos arquivos em suas ações de difusão, entre outros temas relevantes que o leitor é convidado a capturar nas contribuições dos autores à temática da educação em arquivos.

Concluindo, provisoriamente, compreendemos esse conjunto como uma colaboração significativa para esse campo de investigação em construção, em suas possibilidades de encontros, tensionados em suas aproximações, deslocamentos e dissonâncias, entre as abordagens plurais, eleitas pelos autores para refletir sobre esse objeto também em construção, que é o das práticas da educação e(m) arquivos.