I. Análise de Cenários e Risco

A. Problema do Colapso e Questões Metodológicas

Colapso, do latim collapsus, cum+labi (cair em conjunto), é uma questão formativa central da ciência do risco, que se intersecta com a problemática conceptual das ciências da complexidade e da ciência dos sistemas, nomeadamente, podemos destacar dois pontos centrais:

• A questão central da auto-organização do sistema é uma questão da emergência de um sistema aberto que tenta sobreviver em gestão permanente de trocas com o meio para não colapsar;

• O risco está ligado à luta pela sobrevivência, à vida e morte e à mudança sistémica.

Um ponto central da cibernética e das ciências da complexidade, presente também ao nível da ciência do risco, é o de que não há nenhum sistema imune ao colapso, o qual é abordado enquanto problemática no contexto quer da escola de Bruxelas-Austin, quer da escola de Santa Fé (Gonçalves, 2012). O colapso sintetiza, ao nível dos sistemas, dinâmicas de ruptura (do latim ruptura/rumpere: quebra de estrutura).

Metodologicamente, a questão do colapso é incorporada no contexto da ciência do risco em termos de uma abordagem necessária à construção de cenários e ao desenvolvimento de estratégias potenciadoras de factores de sustentabilidade.

Assim, não se trata do quão provável é ou não o colapso, mas sim acerca de como pode o colapso ocorrer, enquanto não colocarmos esta questão temos a análise de risco incompleta.

Em termos aplicados às organizações e sistemas humanos, a metodologia da análise seguida não se coloca, então, do ponto de vista do indivíduo ou grupo que visa fazer sobreviver o sistema, mas, sim, do indivíduo ou grupo que o visa colapsar. São três as questões de partida a que temos de responder:

• Qual a natureza do sistema que é o alvo da nossa análise? (Definição do objecto central de análise: target).

• Como podemos fazer o sistema colapsar? (Definição da teia UOW : Up to Object Web e dos UOS: Up to Object Scenarios).

• Quais as consequências do colapso? (Definição da teia ATOW: After Object Web e dos ATOS: After Object Scenarios).

Após a resposta a estas questões e após a construção dos cenários de risco extremo, temos uma base de trabalho para a proposta de medidas pré-colapso e de medidas pós-colapso capazes de lidar com os cenários mais extremos e podemos instalar elementos de early warning systems capazes de detectar ameaças e de pôr em prática protocolos de medidas adequadas a diferentes níveis de alerta (verde, amarelo, laranja e vermelho por exemplo).

B. Exemplos de Teias Mórficas na Análise de Risco

As teias mórficas foram introduzidas enquanto noção no seio da matemática, por Gonçalves e Madeira (2009) no artigo "A Systems Theoretical Formal Logic for Category Theory" para o desenvolvimento de uma lógica formal baseada na teoria dos sistemas enquanto suporte fundamental à chamada teoria das categorias (ramo da matemática que lida com sistemas de objectos e morfismos obedecendo a um conjunto de propriedades algébricas em relação à composição de morfismos). A proposta de Gonçalves e Madeira foi então introduzida como base para a investigação acerca dos fundamentos da matemática do risco por Gonçalves (2010).

Conforme argumentado por Gonçalves (2010), a lógica formal não é eficaz para lidar com os fundamentos da matemática do risco enquanto área da matemática que investiga o risco enquanto tal e serve de suporte fundamental à ciência geral do risco. Pois a matemática do risco não pode trabalhar a partir de um quadro de base convencionado que foi formado inicialmente em função da investigação das regras de validade do discurso (lógica clássica). Pelo contrário, a matemática do risco tem de desenvolver um discurso de base a partir de uma linguagem sistémica, situando-se no contexto da base paradigmática da quarta fase de desenvolvimento da cibernética.

A linguagem sistémica introduzida por Gonçalves e Madeira (2009) permite, assim, colmatar a lacuna, servindo de base para trabalhar a matemática do risco a partir de um fundamento sistémico que, de outro modo, não seria possível.

Gonçalves (2012), ilustrou como as teias mórficas podem ser utilizadas em conjugação com a análise estratégica de risco para a construção de cenários definidos de modo dinâmico e complementar em relação à aplicação da teoria dos jogos de estratégia.

Assim, por exemplo, num caso elementar, podemos considerar o problema do risco de colapso civilizacional.

Neste caso, aplicando as mesmas técnicas desenvolvidas em Gonçalves (2010) e Gonçalves (2012) à análise de ligações de risco e utilizando a análise estratégica de risco podemos introduzir múltiplas teias ao nível do desenvolvimento de macrocenários.

As teias seguintes apresentam (sub)targets sempre a amarelo.

Na primeira teia o nó central é o colapso civilizacional e o sistema tem uma organização hipertextual, pois cada nó a amarelo na primeira teia tem outras teias mórficas que lhe estão associadas e que se seguem à teia principal por ordem conforme indicado no início de cada teia. A teia principal tem um nó a azul (geopolítica e exopolítica) que representa o desenvolvimento de possíveis infraestruturas e organizações sistémicas capazes de lidar com os múltiplos factores de colapso indicados.

O nó azul da primeira teia resulta do reconhecimento de que os problemas globais identificados nas restantes teias exigem uma nova abordagem geopolítica, com a necessidade de abordar as estruturas da governance global e de equipá-las em termos políticos, logísticos e científicos para lidar com problemas de nível planetário, com um novo papel a ser crescentemente assumido pelas agências espaciais e pela ONU, dotadas da capacidade para lidar com os problemas globais que extravasam a capacidade decisional de cada Nação e que ameaçam a sustentabilidade civilizacional e ecológica da espécie humana.

A exopolítica, por seu turno, na acepção assumida no exemplo, é considerada como visando lidar com a relação entre a espécie humana e o espaço, nomeadamente com o problema da sustentabilidade da presença humana no espaço e da expansão interplanetária do sistema humano. A este nível, colocam-se novas oportunidades de crescimento e de desenvolvimento de novas estruturas sociais e civilizacionais capazes de fazerem o sistema sobreviver ao processo de transição global para uma civilização de tipo I, com elementos de tipo II (no sentido da escala de Kardashev) processo que, correntemente, está em curso.

A questão que, a este nível se coloca à exopolítica, e que também tem implicações nos problemas geoestratégicos próprios da geopolítica, é a questão de saber que estruturas sociais e de poder são correntemente ameaças a esse crescimento? E que estruturas deverão ser desenvolvidas para assegurar uma capacidade humana para lidar com os riscos de colapso civilizacional e outros que se coloquem.

Assim, problemas centrais que se colocam à exopolítica incluem:

• A necessidade de cooperação entre a espécie humana para lidar com os problemas do planeta e com a transição sustentável da civilização humana para uma civilização do tipo I ou mesmo do tipos II e III (com o desenvolvimento de tecnologia para viagens interestelares);

• Integração social e civilizacional da descoberta de evidência presente ou passada de vida no sistema solar ou em outros sistemas solares;

• Lidar com a possibilidade de contacto com vida alienígena tecnologicamente avançada;

• Lidar com problemas de ameaças imediatas espaciais:

• Mega-tempestades solares;

• Queda de asteróides e/ou de cometas (monitoragem do espaço e da cintura de asteróides).

• Ameaças de doenças vindas do espaço (Andromeda strain scenario).

Qualquer uma das teias apresentadas constitui um ponto de partida de reflexão com a possibilidade de expansão.

Teia Fundamental

Factores Ecológicos e Planetários (também inclui alguns factores geofísicos)

Factores Geofísicos (também inclui alguns factores ecológicos)

Factores Tecno-Científicos

Factores de Conectividade e Electrónicos

Factores Financeiros

Factores Militares (não incluídos já nas teias anteriores)

Referências

Madeira e Gonçalves (2009). A Systems Theoretical Formal Logic for Category Theory. http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1396841.

Gonçalves (2010). Contributos para os fundamentos categoriais da matemática do risco. Tese de Doutoramento http://repositorio.iscte.pt/bitstream/10071/2842/1/TeseCPG.pdf

Gonçalves, C.P. (2012). Risk Governance - A Framework for Risk Science-Based Decision Support Systems,

http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2085482

Casti, John (2012). "X-Events - The Collapse of Everything". Hardcover from William Morrow, an imprint of HarperCollins Publishers.

Chrichton, M. (1969). "The Andromeda Strain". Avon Books, an imprint of HarperCollins Publishers.

Referências dobre a escala de Kardashev:

http://en.wikipedia.org/wiki/Kardashev_scale