Dia 23

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"Prestai ouvidos, ó Deus, à minha oração, não vos

furteis à minha súplica; escutai-me e atendei-me. Na minha

angústia agito-me num vaivém, perturbo-me à voz do inimigo.

Palpita-me no peito o coração, invade-me um pavor de morte.

Apoderam-se de mim o terror e o medo, e o pavor me assalta. (...)

Se o inimigo viesse insultar-me, poderia aceitar certamente; se

contra mim investisse o inimigo, poderia, talvez, esconder-me.

Mas és tu, companheiro e amigo, tu, meu íntimo e meu familiar,

com quem tive agradável convívio com o povo, indo à casa de

Deus! (...) Depõe no Senhor os teus cuidados, porque Ele será

teu sustentáculo; não permitirá jamais que vacile o justo".

(Sl 54, 2-5.13-15.2)

O autor do salmo 54 usa algumas expressões que nos são

muito familiares para descrever o estado de sua alma: angústia,

agitação, palpitação, pavor, medo. Se ele vivesse nos dias de hoje,

certamente diríamos que a depressão e o pânico tomaram conta de

seu coração. Se as palavras acima também servem para descrever

o seu estado de espírito, talvez você entenda um pouco a aflição

desse homem ao pedir a Deus que não deixasse de responder às

suas súplicas. Quando a solidão e a angústia parecem dominar, é

difícil até mesmo orar e acreditar que nossos clamores são ouvidos

no céu. Você já viveu dias assim?

Além de partilhar conosco o seu estado de ânimo, o salmista

ainda nos permite compreender o porquê de toda a sua aflição: a

traição de um amigo. Alguém muito querido, confidente, que

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professava a mesma fé e servia ao mesmo Deus, tornou-se motivo

de decepção e ressentimento por uma traição inesperada. Alguém

bastante familiar passou a agredir e perseguir o autor do salmo, ao

ponto de esse nem poder ouvir sua voz sem perturbar-se no íntimo.

E você, já se sentiu traído e perseguido por alguma pessoa de quem

esperava justamente consolo e companheirismo? Já teve por perto

uma pessoa de quem só a voz era motivo de calafrios e nervosismo?

Por fim, o salmista termina sua oração dizendo bonitas

palavras de confiança e coragem ao seu próprio coração: "Lança

sobre o Senhor os teus cuidados! O Senhor é o teu sustento! Ele

jamais permitirá que o justo vacile!". É como se, depois de

apresentar a Deus os sintomas da doença de sua alma, o próprio

salmista reconhecesse que sua cura dependia da entrega de suas

preocupações a Deus. Remoer mágoas no coração não seria

remédio para a dor da traição. Ao contrário, só se refugiando no

Deus fiel é que o coração solitário poderia recobrar a paz para se

reerguer e, certamente, perdoar.

Querido irmão, é comum que em nossos momentos íntimos

com Deus lamentemos nossas fraquezas interiores. É comum também

apresentarmos a Deus os nossos problemas, as decepções com os

que amamos e as injustiças cometidas contra nós. Contudo, nosso

momento de oração não pode se limitar a uma lista de desventuras.

Se podemos começar com palavras de dor e desalento, certamente

não devemos terminar assim. É necessário repetir ao próprio coração

aquilo que disse um dia o salmista: "Deus é meu sustentáculo!

Deponho sobre Ele os meus cuidados e preocupações!". O

remédio para nosso males não é simplesmente falar deles, mas

apresentá-los ao Senhor e permitir que suas mãos poderosas toquem

aquilo que está ferido. As mãos de Deus levam perdão onde antes

só havia ressentimento, aceitação onde só havia decepção e paz

onde só havia medo e depressão. Deixe o Pai alcançar o seu íntimo

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com amor e repita ao seu próprio coração: "Meu Pai sempre escuta

minha oração. Ele será hoje meu sustento e minha fortaleza. Não

vacilarei jamais". Deus tem palavras de consolo e encorajamento

para você nesse dia e quer dizê-las ao mais íntimo do seu coração.

Basta que você esteja disposto a ouvir.

Vamos orar, entregando a Deus nossas preocupações:

Pai amado, tenho falado tanto de meus problemas, de

minhas fraquezas e de tudo aquilo que não tem dado certo, que

acabo me esquecendo de proclamar a Tua vitória em minha vida.

Obrigado, Pai, porque, em Jesus, eu já sou vencedor contigo. O

Senhor bem conhece o meu estado de espírito. Tu sabes, Pai, que

tenho enfrentado um verdadeiro combate contra a depressão, o

pânico, a angústia, e que hoje, mais uma vez, entro nessa batalha.

Em Teu poder, Senhor, declaro que és meu sustentáculo e lanço

sobre Ti os meus cuidados e preocupações. Ergo-me para perdoar,

aceitar e responder o mal com o bem. Em Nome de Jesus, ó Pai,

quero ouvir Tuas santas palavras de vitória para minha vida. Quero

voltar a crer que minhas orações são ouvidas no céu e retornam

para mim em forma de graça e bênção. Obrigado, Senhor, pelo

Teu Espírito Santo que mora em mim e que, nesse dia, vai agir

poderosamente para minha libertação. Por tudo que tens feito em

meu favor, Pai Amado, muito obrigado. Amém.